domingo, 22 de julho de 2012

Mário Lisboa entrevista... Patrícia Adão Marques

Olá. A próxima entrevista é com a atriz Patrícia Adão Marques. Interessou-se pela representação, quando tinha 14 anos ao ver televisão e depois de ver as telenovelas tentava imitar cenas, mas também reações, sensações e respostas de personagens e começou a achar que também era capaz de fazer isso e desde aí desenvolveu um percurso que passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão fazendo parte do elenco residente e da direção do Teatro Independente de Oeiras desde 1997 e 2007 respetivamente e recentemente participou no noticiário satírico "Inimigo Público" que é exibido no Canal Q e apresentado por Joana Cruz tendo também uma edição em formato imprensa no jornal Público. Esta entrevista foi feita por via email no passado dia 21 de Novembro na altura em que a entrevistada estava em Nova Iorque nos Estados Unidos para aprender uma técnica chamada Michael Chekhov's Technique.

M.L: Como é que surgiu o interesse pela representação?
P.A.M: O meu interesse pela representação surgiu por volta dos 14 anos ao ver televisão. Via as novelas e ia para o quarto tentar imitar cenas. Reações, sensações, respostas de personagens e comecei a achar que também era capaz.

M.L: Fez teatro, cinema e televisão. Qual destes géneros que lhe dá mais gosto em fazer?
P.A.M: Eu tenho trabalhado sobretudo em Teatro e esta é sem dúvida, a área que mais me preenche a todos os níveis. Sou sortuda por ter tido sempre bastante trabalho em Teatro. No entanto, adoraria fazer Cinema. Aquilo que fiz tanto em Cinema como em Televisão foram pequenas participações. Sobretudo nesta fase da minha vida quero muito fazer ficção em TV e quero mesmo muito fazer Cinema. É pena que em Portugal seja tão difícil entrar no restrito mundo do Cinema.

M.L: Qual foi o trabalho num destes géneros que a marcou, durante o seu percurso como atriz?
P.A.M: Houve alguns trabalhos que me marcaram muito por diferentes razões. Um trabalho simples sem orçamento e sem grandes pretensões, mas que me marcou profundamente: foi “Afixação Proibida”, um espetáculo sobre o movimento surrealista português. Foi a reunião de vários fatores extremamente felizes: a equipa, os textos, poemas maravilhosos de autores surrealistas portugueses genialmente compilados por Frederico Corado que também dirigiu o projeto de uma forma sublime, a ida à Casa das Mudas na Madeira com este espetáculo, com estas pessoas naquela altura. Foi tudo especial. Outra peça que amei fazer por outras razões foi “Agora Eu Era”, um espetáculo sem palavras, só ação para menores de 6 anos em que tive a felicidade de participar com a Companhia de Teatro do Chapitô. Chegar às crianças através de referências gestuais foi uma experiência arrebatadora. E por fim, tenho de referir “Sexo? Sim, Obrigada” de Dario Fo que estreei com a minha amiga e colega atriz Rita Frazão no Teatro Independente de Oeiras no ano passado (2010) sob brilhante direção de Carlos D'Almeida Ribeiro. Aqui foi o desafio de sermos apenas duas atrizes, uma hora e meia em palco sem parar e também o tema, porque foi extremamente gratificante o desafio de falar de sexo de uma forma elegante e divertida! Este trabalho fez-me sentir mais madura a nível pessoal, mas também artístico.

M.L: Desde há vários anos que faz parte do elenco residente e da direção do Teatro Independente de Oeiras. Que balanço faz do tempo em que está na companhia?
P.A.M: Eu estou na Companhia há 16 anos como atriz e faço parte da Direção desde 2007. No entanto, estive afastada alguns anos pelo meio por razões profissionais incompatibilizantes. Mas é nesta Companhia que tenho as minhas melhores recordações sendo a principal, a minha estreia como atriz em 1997 e também os meus melhores amigos. Sinto-me realmente felizarda por poder juntar as duas melhores coisas que um ser humano pode desejar: trabalhar naquilo que mais gosta com as pessoas que mais gosta... Ah! E perto de casa.... acho que não preciso dizer mais nada...

M.L: Qual foi o momento que a marcou, durante o seu percurso como atriz?
P.A.M: Todos os meus passos têm sido em frente nesta minha profissão. Infelizmente neste país anda-se muito devagar, mas o importante é continuar a andar! O momento mais marcante está a acontecer agora, porque finalmente tive coragem de vir para fora de Portugal. Estou em Nova Iorque desde Setembro e ficarei até Dezembro a aprender uma nova técnica (Michael Chekhov's Technique) e é impressionante como todo um novo mundo de oportunidades se abre, quando damos espaço para que isso aconteça.

M.L: Como vê atualmente o teatro e a ficção nacional?
P.A.M: Eu acho que há melhor ficção, melhor cinema e melhores atores em Portugal, apesar de muitos estarem "escondidos" no Teatro. O problema é que ninguém se interessa em conhece-los e eles ou vão continuando "escondidos" no Teatro ou mudam de país... E quando digo "escondidos" no Teatro, não é necessariamente uma coisa má. Como já referi, o Teatro para mim é tudo. Mas tenho pena que por vezes atores tão bons passem despercebidos do grande público apenas, porque as pessoas não vão ao Teatro e acham que só quem aparece na Televisão é que é ator (quando muitas vezes a verdade é bem diferente...) e os realizadores e produtores também não os conhecem, porque não querem saber e quando fazem "castings" são fictícios, porque os elencos estão já escolhidos...

M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
P.A.M: Gostava. Mas apenas, porque o meu país não me abre as portas que deveria abrir e não presta atenção ao que tem cá dentro. É o sistema português que nos expulsa. E isso entristece-me profundamente.

M.L: Quais são os atores em Portugal com quem gostava de trabalhar no futuro?
P.A.M: Pedro Diogo, Carla Chambel, Vitor D'Andrade, Pedro Giestas, Ruben Garcia, Ana Palma, Rita Lello, Carla Galvão. Nem sei, há tantos!

M.L: Qual foi a personalidade da representação que a marcou, durante o seu percurso como atriz?
P.A.M: Marcou-me muito o tempo que estive no Teatro A Barraca e tudo o que aprendi com a Maria do Céu Guerra, o João D'Ávila e o Hélder Costa. Mas tento beber o mais possível de todas as pessoas com quem trabalho. Toda a gente tem algo para ensinar e isso é maravilhoso.

M.L: Recentemente fez 31 anos (a entrevistada fez 32 anos no passado dia 13 de Junho). Como é que se sente ao chegar a esta idade?
P.A.M: Sinto-me bem e feliz. Dizem que a vida começa aos 30... e eu começo a acreditar que sim!

M.L: Que balanço faz da sua carreira?
P.A.M: O balanço é positivo, mas quero mais e melhor! Por isso vim para Nova Iorque...

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
P.A.M: Não faço ideia! Acho que vou fazer uma peça no início do ano, mas não tenho certezas de nada! O que é ótimo, está tudo em aberto.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
P.A.M: Saltar de pára-quedas, aprender a patinar e andar de cavalo... Ah! Teatro? Shakespeare, “A Fera Amansada” de preferência... e mais um ou dois clássicos... Cinema, claro e uma telenovela para saber como é já agora...

M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da sua vida?
P.A.M: Algumas coisas, mas não posso dizer tudo, senão ficam todos a saber tanto como eu...

M.L: Se não fosse a Patrícia Adão Marques, qual era a atriz que gostava de ter sido?
P.A.M: Audrey Hepburn ou então a Nicole Kidman, mas antes do botox... e sem casar com o Tom Cruise ou a Penélope Cruz pela garra latina que ela tem! Mas o melhor mesmo é ser a Patrícia Adão Marques e construir o meu próprio percurso sem imitar ninguém.ML

Sem comentários:

Enviar um comentário