quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Mário Lisboa entrevista... Cristina Areia

Olá. A próxima entrevista é com a atriz Cristina Areia. Filha do ator Carlos Areia, desde muito cedo que se interessou pela representação e desde aí desenvolveu um percurso que passa essencialmente pelo teatro e pela televisão (onde entrou em produções como "Isto É o Agildo" (RTP), "Os Lobos" (RTP), "Ajuste de Contas" (RTP), "O Prédio do Vasco" (TVI), "Doce Fugitiva" (TVI), "Camilo-O Presidente" (SIC) e "Liberdade 21" (RTP) tendo sido capa da edição portuguesa da revista Playboy em 2009 e além da representação também é professora estando a lecionar na escola F.A.M.E-Fábrica de Artistas e recentemente participou na 9ª temporada da série "Morangos com Açúcar" (TVI) e atualmente participa no espetáculo "Mendes.come" que é protagonizado por Fernando Mendes e foi criado a propósito dos 30 anos de carreira do próprio celebrados em 2010 estando em digressão desde aí e atualmente está em cena no Teatro Municipal de Portimão todos os dias às 22h00 até ao próximo dia 26 de Agosto. Esta entrevista foi feita no passado dia 13 de Maio no Teatro Sá da Bandeira no Porto na altura em que o espetáculo "Mendes.come" estava em cena no Teatro Sá da Bandeira.

M.L: Como é que está a correr o espetáculo “Mendes.come”?
C.A: Muito bem. Apesar de as pessoas agora com a chamada crise irem menos ao teatro, porque as pessoas quando cortam primeiro é nas coisas que não são bens essenciais. Apesar disso, as pessoas têm vindo muito ao teatro, ainda ontem estivemos esgotados. Obviamente que isso deve muito ao Fernando (Mendes), porque o Fernando é um fenómeno de popularidade e tem um programa diário na RTP (“O Preço Certo”) e as pessoas têm muito carinho por ele e têm curiosidade em vê-lo no teatro e depois é bom perceber que no final, as pessoas acabam por gostar muito do espetáculo. Isso é muito giro.

M.L: Quais são os próximos locais que o espetáculo vai passar?
C.A: Agora vamos estar aqui até ao primeiro fim-de-semana de Junho, mas entretanto vamos a Paris fazer um espetáculo único no Olympia e depois a seguir temos alguns espetáculos em várias cidades do país e depois em Agosto vamos estar um mês inteiro na cidade de Portimão, no Teatro (Municipal) de Portimão. Vamos lá estar todos os dias no mês de Agosto.

M.L: Como é que surgiu este espetáculo?
C.A: Fizemos um espetáculo anterior também com o Fernando Mendes, com a mesma equipa e depois tivemos a necessidade de fazer um espetáculo novo, porque havia pedidos para voltarmos outra vez às mesmas cidades, aos mesmos sítios, às mesmas festas e então fizemos um espetáculo novo para as pessoas poderem ver uma coisa diferente. Digamos que o Fernando gosta muito de trabalhar com as pessoas da confiança dele e quando gosta de trabalhar com as pessoas não gosta muito de mudar e isso é muito bom para os artistas que trabalham com ele. Sentem uma grande confiança, é uma coisa rara nos tempos que correm. É muito difícil encontrarmos estabilidade e com ele isso acontece.

M.L: Como é trabalhar com o Fernando Mendes?
C.A: É trabalhar com um amigo de longa data. É difícil distinguir as duas coisas, porque nós somos amigos há muitos anos, mas é uma pessoa muito divertida, muito bem-disposta, sempre encara a vida de uma forma positiva, mas a trabalhar é muito profissional nos bastidores, antes de entrar, gosta que tudo esteja no seu lugar, que as luzes estejam bem, que os microfones estejam corretos, que o som esteja bem… Preocupa-se com tudo, se temos tudo certinho, se precisamos de alguma coisa… É muito profissional, é muito bom trabalhar com ele.

M.L: “Mendes.come” foi criado a propósito dos 30 anos de carreira do Fernando Mendes celebrados em 2010. Como classifica este espetáculo?
C.A: Este espetáculo é exatamente por isso: por comemorar a carreira do Fernando. Passa um bocadinho pelos pontos altos da carreira dele e digamos que nós fazemos um pouco de todos os sketches que fizeram o maior sucesso na carreira do Fernando e alguns por coincidência também são os que fizeram maior sucesso com o pai dele (Vítor Mendes), porque alguns foram feitos pelo pai dele, quando o pai era vivo. Alguns que o pai fez com muito sucesso no teatro e o Fernando agora volta a repeti-los e portanto é um espetáculo que tem o melhor dos melhores dos sketches e no fundo é passar um bocado pela história profissional do Fernando. É muito giro.

M.L: Recentemente participou na 9ª temporada da série “Morangos com Açúcar” (TVI), onde interpretou a personagem Isabel Garcia. Que balanço faz da sua participação na série?
C.A: Foi muito giro também. Foi uma outra experiência diferente desta, porque é televisão já para começar e trabalhar com muita gente nova que está agora a começar a ter o sonho de ser ator. O ambiente é excelente, os profissionais que fazem os “Morangos com Açúcar” (eu estou a falar da equipa técnica) é uma equipa que já fazem aquele formato há 9 anos, portanto sabem perfeitamente o que é que estão a fazer. Isso dá muito segurança. E por outro lado tem também aquele sangue novo, de ter muita gente nova e muito profissional, porque os atores ali não começavam assim do nada, tinham primeiro que fazer um workshop, um curso para perceberem como é que trabalham com as câmaras, como é que representam com naturalidade, etc. Foi muito giro, é um ambiente muito bom, fizeram-se muitas amizades ali.

M.L: “Morangos com Açúcar” foi cancelada ao fim de quase 10 anos de exibição. Como vê o percurso que a série fez até ser cancelada?
C.A: Eu penso que a série é cancelada, porque faz sentido, porque as coisas têm uma evolução natural, as coisas evoluem e é preciso renovar e se calhar para aquele espaço horário era preciso uma coisa diferente, uma coisa que acompanhasse o que se faz noutros canais de televisão estrangeiros (não sei, estou um bocadinho a tentar adivinhar, mas penso que tem um bocadinho a ver com isso). A evolução foi excelente no sentido em que retirou-se o que não era tão bom e tentou-se melhorar as coisas. Por exemplo, eu noto que os primeiros “Morangos…” eram engraçados, muito inocentes, mas depois arriscaram-se outras coisas e depois às vezes tocavam-se em assuntos que eu não sei se eram os mais adequados aos jovens e cada vez a série se tornou mais pedagógica no sentido em que por exemplo passavam bons exemplos nos últimos “Morangos…”, nas últimas temporadas. Por exemplo, as personagens não fumavam, bebiam com moderação, tinham cuidado com a linguagem, tentavam passar mensagens ambientalistas, mensagens de humanidade, de cooperação, de ajuda aos animais e isso tornou-se muito interessante e não deixou de ser cool na mesma. Eu acho que isso fui muito giro de observar.

M.L: Como é que surgiu o interesse pela representação?
C.A: O interesse pela representação não surgiu, o interesse pela representação digamos que já estava na minha família. O meu pai (Carlos Areia) era ator, sempre foi ator e eu cresci um bocadinho no meio teatral e portanto era quase inevitável para mim gostar de teatro, gostar das artes, porque vivia nos palcos ou nos bastidores ou nos teatros e portanto foi uma coisa que foi acontecendo naturalmente. Se bem que na minha adolescência tinha ali uma fase em que achava que não queria ser atriz e não queria estar ligada ao teatro, mas há coisas que parecem que já estão escritas.

M.L: Durante o seu percurso como atriz fez teatro e televisão, mas pouco cinema. Gostava de ter trabalhado mais nesse género?
C.A: Muito mais. Se pudesse sim, gostava muito de fazer cinema. Gosto muito de ver cinema, sou apaixonada por cinema e gostava muitíssimo de fazer cinema. Não tem surgido a oportunidade, talvez é um meio um pouco distante talvez do meu apesar de ser tudo na mesma área, mas estou sempre aberta a fazer cinema. Por acaso, é mesmo uma área que eu gostava de desenvolver mais.

M.L: Um dos seus trabalhos mais marcantes em televisão foi a telenovela “Ajuste de Contas” (RTP), onde interpretou a personagem Cristina. Que recordações leva desse trabalho?
C.A: Sobretudo, as recordações que levo desse trabalho tem mais a ver se calhar com a parte humana, com os colegas com quem contracenei, de ter contracenado com o Sr. (Raul) Solnado por exemplo, de ter conhecido pessoas como o João Perry e estar integrada na indústria das telenovelas é fascinante também e depois fiz grandes amizades que lá duraram até hoje, portanto fui uma fase muito interessante da minha vida profissional.

M.L: Como vê atualmente o teatro e a ficção nacional?
C.A: O teatro e a ficção são duas coisas um pouco diferentes, embora estejam ligadas, porque muitas vezes os atores de ficção fazem teatro e vice-versa hoje mais do que nunca. Mas as duas neste momento estão um bocadinho em crise, todas as áreas estão em crise. O cinema é o que está pior, porque o cinema neste momento não tem qualquer subsídio, foram cortados a 100%. Mas mesmo na televisão, as coisas estão complicadas, porque a crise chega a todo o lado. Agora o que eu acho é que as pessoas muitas vezes mesmo que gostem muito de fazer teatro devem fazer televisão, porque a televisão chega mais depressa e a mais pessoas e para além disso fazer televisão é muito interessante para um ator, porque é preciso reagir de uma forma muito rápida. Às vezes é: hoje fazemos 20 textos e temos já hoje à noite, estamos cansados, mas temos que estudar 30 textos para amanhã e temos que conseguir fazê-lo com o melhor que conseguimos e dentro do cansaço e isso torna-nos atores com muita rapidez. O teatro, eu gosto mais, porque há mais tempo para se desenvolver uma personagem, para se desenvolver a peça, para se desenvolver tudo e tem outra coisa muito boa que é pode-se usar muito mais a espontaneidade no momento e eu acho que isso é fascinante no teatro.

M.L: Gostava de ter feito uma carreira internacional?
C.A: Não é uma coisa que me preocupe muito, porque eu já fico feliz de ser atriz no meu país e até já consegui chegar um pouco mais longe do que eu alguma vez imaginaria, porque por exemplo nunca imaginaria que as pessoas me reconheceriam na rua. Isso nunca me passou pela cabeça, porque eu só queria fazer teatro e nem estava à espera disso, isso não me fascina muito. Portanto já cheguei um pouco longe e sei que isso é fruto das pessoas gostarem do meu trabalho. Agora o ser internacional: se acontecesse, claro era ótimo.

M.L: Como lida com o público que acompanha a sua carreira há vários anos?
C.A: Eu gosto de estar muito próxima deles, das pessoas que compõe o meu trabalho e uma das razões para eu ter Facebook é para me poder aproximar um pouco mais das pessoas e fiquei ainda muito surpreendida, quando as pessoas dizem que me conhecem de vários trabalhos. Acho natural que as pessoas se lembrem do último, porque as pessoas têm má memória, o público tem má memória nesse sentido. Mas depois fico muito contente, quando as pessoas dizem que acompanham o meu trabalho, tenho muito apreço pelas pessoas que reparam em mim.

M.L: Além da representação também é professora estando a lecionar na escola F.A.M.E-Fábrica de Artistas. Que balanço faz da sua atividade como professora?
C.A: Eu acho que continuo a aprender também como professora. Gosto muito de fazer isso, acho que tenho realmente algum talento para ensinar e sinto que os meus alunos estão diferentes, quando terminam o curso que é aprenderam alguma coisa. Isso dá-me um enorme gosto, por acaso dá. Eu gosto de partilhar a minha experiência com eles e gosto de lhe dar instrumentos para eles poderem terminar bons atores profissionais e respeitadores da nossa profissão.

M.L: Em 2009 foi capa da edição portuguesa da revista Playboy. Como foi a experiência de ser capa de uma revista masculina?
C.A: Foi uma experiência um bocadinho avassaladora. Talvez seja a melhor palavra, porque é um trabalho que não está bem dentro da área do que eu estou habituada a fazer, mas eu encarei aquele trabalho como um trabalho de atriz também. Foi assim que eu consegui encarar aquilo de uma forma um pouco mais natural para mim, mais fácil para mim. Acabou por ser uma experiência positiva, porque apercebi que era capaz de ultrapassar essa barreira, esse limite. Trabalhei com excelentes profissionais, um grande fotógrafo e no fundo foi como de passar pela experiência de ser uma modelo num dia. Foi um bocado isso.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
C.A: Neste momento não tenho muitos projetos a não ser continuar os que já tenho ou seja continuar a fazer espetáculos com o Fernando, temos alguns projetos até ao fim do Verão e continuar a dar alguns cursos de representação na área da escola F.A.M.E, onde eu estou integrada. Neste momento é só isso.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
C.A: Não tenho muitas mesmo, não consigo me lembrar de apenas uma. Gostava muito ainda de fazer pelo menos uma peça de (William) Shakespeare que eu gosto muito, gostava de fazer uma longa-metragem que nunca fiz, gostava de fazer um curso de representação nos Estados Unidos, porque eu gosto sempre de aprender. Tantas coisas que eu queria fazer, muitas… ML

Sem comentários:

Enviar um comentário