domingo, 18 de novembro de 2012

Mário Lisboa entrevista... Pedro Lamares

Olá. A próxima entrevista é com o ator Pedro Lamares. Natural do Porto, interessou-se verdadeiramente pela representação aos 19 anos (antes interessava-se mais pela poesia e pela música) tendo desenvolvido um percurso que passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão (onde entrou em produções como "Dei-te Quase Tudo" (TVI), "Paixões Proibidas" (RTP/TV Bandeirantes), "Deixa-me Amar" (TVI), "Casos da Vida" (TVI), "Olhos nos Olhos" (TVI), "Sentimentos" (TVI) e "República" (RTP) e além da representação também foi professor tendo lecionado Expressão Dramática no Colégio do Sardão em Oliveira do Douro entre 2004 e 2006 e brevemente vai estar em cena no Teatro do Bolhão no Porto com o espetáculo de poesia "O Fraseador" da qual também é o autor e que vai estar em exibição entre 5 e 16 de Dezembro. Esta entrevista foi feita no dia 27 de Janeiro de 2011 no Centro Multimeios de Espinho na altura em que o entrevistado passou por lá a propósito da longa-metragem "Filme do Desassossego" de João Botelho que é baseada no "Livro do Desassossego" de Fernando Pessoa da qual participou e que estava em digressão na altura.

M.L: Como é que surgiu o convite para integrar o elenco do “Filme do Desassossego”? 
P.L: Foi um telefonema, chegou à minha agente essa coisa, alguém falou de mim e o João Botelho viu uns vídeos de mim a eu dizer Fernando Pessoa na Internet, no Centro Cultural de Belém e entraram em contato comigo, eu fui conhece-lo e ele fui ver o que é que se sentia e tal… Foi assim uma coisa muito rápida.


M.L: Que balanço faz deste trabalho?
P.L: Eu faço dois diferentes: faço do meu trabalho pessoal no filme que é um balanço de crescimento, de aprendizagem num papel muito pequenino, mas que para mim foi muito importante para fazer parte do filme do João que eu admiro tanto. Depois faço um outro balanço do filme propriamente dito independentemente de mim, que eu acho uma obra extraordinária honestamente. Eu sei que não fica nada bem dizer estas coisas de um trabalho, onde nós participamos, mas eu enquanto espectador é um filme que me impressiona muito.

M.L: Como foi trabalhar com João Botelho?
P.L: Foi ótimo. O João trabalha religiosamente, ele tem um respeito pelo cinema… eu gosto muito da energia dele, gosto muito da visão que ele tem de cinema.

M.L: Como classifica este projeto?
P.L: Eu acho que é um hino à palavra portuguesa, por ser um filme de fato sobre uma das obras daquele que para mim é o grande poeta português de sempre. Acho que é uma obra de referência do cinema contemporâneo português… É profundamente (eu acho) cinema português… Português no sentido de ter uma identidade portuguesa, de fato muito vincada quer ao nível da palavra, quer ao nível da Lisboa que é mostrada nos hábitos, nos ritmos… Eu acho que é um filme profundamente português.

M.L: Recentemente protagonizou a mini-série “República” (RTP), onde interpretou Carlos que se apaixona por uma mulher da alta sociedade interpretada por Helena Costa e que se torna numa das pessoas que implanta a República em Portugal. Como correu este trabalho?
P.L: Acho que correu bem. Foi um trabalho muito duro de se fazer, foi muito intenso, foi feito em muito pouco tempo (em muito menos tempo do que era preciso para se fazer aquilo), com cuidado necessário. Portanto, foi um trabalho duro, mas com uma equipa ótima, é uma equipa de cinema (não era uma equipa de televisão, mas de cinema), muito rodada… O realizador que é o Jorge Paixão da Costa que é um realizador de cinema e de televisão, uma pessoa com muita escola e que sabe muito bem do que está a fazer… Foi porreiro, eu gostei da personagem (o Carlos), foi divertido, foi engraçado, foi forte, foi um trabalho pesado e eu acho que correu bem. Achei o resultado bem.

M.L: “República” foi uma das mini-séries criadas pela RTP a propósito de celebrar o centenário da República. Como vê esta iniciativa por parte do canal?
P.L: Vejo como uma coisa muito importante. Porque tem a ver com o orgulho nacional: nós chegamos aos EUA e eles fazem filmes por tudo e por nada sobre a sua História, nós temos momentos tão marcantes na nossa História, nós temos o 25 de Abril, uma revolução que muda o estado de um país inteiro matando duas pessoas por engano, temos a revolução da Implantação da República que é uma revolução ganha por equívoco, da retirada dos alemães e eu acho que nós temos que começar a contar as nossas histórias e portanto acho que uma função de um canal público (Serviço Público de Televisão) é investir para contar a nossa História ao nosso povo. Portanto, acho uma iniciativa notável honestamente, acho mesmo importante independentemente de eu estar ou não estar no projeto.

M.L: Quando é que se interessou pela representação?
P.L: Só comecei a interessar-me verdadeiramente pela representação aos 19 anos. Até aí interessava-me pela poesia e pela música, não exatamente no teatro.

M.L: Fez teatro, cinema e televisão. Qual destes géneros que lhe dá mais prazer em fazer?
P.L: Espetáculos. Eu gosto muito de fazer espetáculos, eu gosto muito de palco. Gosto muito de cinema também. É difícil de escolher entre esses dois. A televisão não é exatamente e entre o cinema e o teatro é difícil de escolher e eu tenho um fascínio enorme pelo palco. Na televisão aprendi imenso, mas não é de longe o que me dá mais prazer.

M.L: Qual foi o trabalho num destes géneros que o marcou, durante o seu percurso como ator?
P.L: Há dois ou três que me marcaram. Houve uma ópera que eu fiz no Coliseu do Porto e que depois fui fazer para Itália. Aquilo marcou-me imenso, na altura em que eu fazia uma personagem sem texto, uma personagem muda que era o Mercador, que eu adorei fazer esse trabalho. Em cinema, foi este filme, o “Filme do Desassossego” e toda esta experiência e uma digressão que eu estou a ter com o filme… Porque eu trabalho em várias áreas não é difícil destacar uma coisa só… Em poesia, há um projeto que para mim é muito especial que é o projeto Coincidência que é com o Álvaro Teixeira Lopes, que é um projeto de piano, poesia e imagem, que eu adoro e me marca imenso. Em teatro, talvez a minha primeira peça profissional que foi o “Tio Vânia” dirigida pelo Rogério de Carvalho.

M.L: Desde “Dei-te Quase Tudo” (TVI) que é uma presença regular nas telenovelas. Este é um género televisivo que gosta muito de fazer?
P.L: Não muito. Eu fiz 5 telenovelas, já não faço há um ano agora (a última telenovela em que o entrevistado participou até agora foi “Sentimentos” que foi exibida na TVI entre 2009 e 2010). Não é um género televisivo que eu procuro muito, não é mesmo. Agora, foi um género que foi muito importante para mim para me dar trabalho, durante um tempo e que foi muito importante para me ensinar a lidar com câmara, para me ensinar a resposta rápida que a televisão exige, para me ensinar um outro código de trabalho que foi muito importante para mim. Agora, não é uma paixão que eu tenha propriamente, embora haja coisas em televisão que eu gosto como as séries que são feitas com mais tempo. As telenovelas são feitas com grande rapidez. É muito industrial, é muito difícil.

M.L: Como lida com a carga horária, quando grava uma telenovela?
P.L: Mal. São muitas horas de trabalho por dia e depois chegas ao fim do dia e vais para casa e tens 20 cenas para decorar para o dia seguinte, pouquíssimas horas para dormir. É muito duro, é um trabalho muito duro mesmo. As pessoas só passarem por lá é que sabem.

M.L: Um dos seus trabalhos mais marcantes em televisão foi a telenovela “Paixões Proibidas” (RTP/TV Bandeirantes), onde interpretou a personagem Mateus. Que recordações guarda desse trabalho?
P.L: Fortíssimas e muito boas. Foi um trabalho violentíssimo, muito duro de se fazer, foi um dos trabalhos mais duros que eu fiz na vida (acho eu). Foi muito duro estarmos retirados, durante tanto tempo, trabalharmos com condições muito complicadas, muito precárias, mas para mim a experiência de vida no Brasil valia a pena todo este fim. Impressionante, mudou-me completamente. É um país que mexe muito comigo. Foi muito bom, a experiência de poder estar a viver no Rio de Janeiro, durante aquele tempo e de criar vínculos tão fortes com aquelas pessoas…

M.L: Como vê atualmente o teatro e a ficção nacional?
P.L: Vejo o teatro não estando em grande proliferação em termos de quantidade. Acho que se está a fazer muito bom teatro em Portugal. Eu aconselho muito uma coisa: vejam o Teatro Meridional. O Meridional é uma grande referência para mim, do estado do Teatro em Portugal ou seja de se fazer sem grandes meios, sem grandes orçamentos, mas de se fazer muito bem, com muito cuidado, com muito teatro no sentido mais puro da palavra, de construção de trabalho de equipa, de soluções, de encontrar soluções que não sejam tecnológicas, que sejam soluções humanas, soluções simples e que funcionam muitíssimo bem.

M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
P.L: Sim, de alguma forma. Por exemplo, eu não tenho uma ambição de Hollywood, eu não tenho mesmo. Mas por exemplo eu adorei trabalhar no Brasil, adoraria voltar a trabalhar no Brasil. Gostei muito de estar a fazer a ópera em Itália, já estive a fazer uma coisa de poesia em Bruxelas que gostei imenso… Eu gosto muito de viajar, eu adoro viajar e eu adoro trabalhar, portanto eu consigo juntar as duas coisas ao mesmo tempo…

M.L: Qual foi a figura da representação que o marcou, durante o seu percurso como ator?
P.L: Várias. Houve muitos americanos (claro), europeus, etc… Houve o Robert DeNiro, o Al Pacino, o John Malkovich, o Anthony Hopkins… foram figuras que me marcaram muito… há muitos portugueses também… há uma geração de mulheres que eu adoro que é a Natália Luíza, a Maria João Luís, a Luísa Cruz… eu digo que é a geração das “Luísas” e das “Luís” (que é a Maria João Luís)… que são atrizes extraordinárias… eu tenho muitas referências… tenho atores da minha geração como o Filipe Duarte, o Nuno Lopes que são ótimos.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
P.L: Viajar no Oriente e viajar em África.

M.L: Se não fosse o Pedro Lamares, qual era o ator que gostava de ter sido?
P.L: Não faço a mínima ideia. O fato de eu os achar muito bons atores não quer dizer que eu quero ser eles, porque muitas vezes eu os acho extraordinários como atores, mas não ambiciono a vida que eles levam. Eu gosto muito da minha vida aqui, eu gosto muito da minha família, eu acho que não queria ter sido outra pessoa, eu acho que gosto desta.ML

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