domingo, 31 de março de 2013

Mário Lisboa entrevista... Sinde Filipe

Olá. A próxima entrevista é com o actor Sinde Filipe. Pai do músico Laurent Filipe, interessou-se pela representação, quando, pela primeira vez, pisou um palco a sério, perante um público a sério no C.I.T.A.C. (Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra), da qual é um dos seus fundadores e desde aí tem desenvolvido um longo percurso como actor que passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão (onde entrou em produções como "Antônio Maria" (TV Manchete), "Os Lobos" (RTP), "A Lenda da Garça" (RTP), "Ajuste de Contas" (RTP), "Olhos de Água" (TVI), "O Olhar da Serpente" (SIC), "Amanhecer" (TVI), "Ninguém como Tu" (TVI), "Fala-me de Amor" (TVI), "Resistirei" (SIC), "Pai à Força" (RTP), "Sentimentos" (TVI) e "Laços de Sangue" (SIC), sendo um dos actores mais respeitados do panorama artístico português e além da representação também têm experiência como realizador e recentemente participou na telenovela "Mundo ao Contrário" que vai estrear brevemente na TVI e vai participar na peça "O Preço" de Arthur Miller, com encenação de João Lourenço e vai estrear brevemente no Teatro Aberto. Esta entrevista foi feita por via email no passado dia 29 de Janeiro.
(A entrevista não foi convertida sob o novo Acordo Ortográfico.)

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
S.F: Quando, no C.I.T.A.C. (Círculo de Iniciação Teatral da Academia de Coimbra)do qual sou co-fundador, pela primeira vez, pisei um palco a sério, perante um público a sério.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto actor?
S.F: Inicialmente, o teatro francês, pois fiz a minha formação em Paris e Estrasburgo. No entanto, sempre tentei (e tento!) captar aquilo que de melhor descubro em outros intérpretes. Gosto de admirar e de aprender com quem possa ensinar-me. Houve, por exemplo, um actor soviético (Nikolai Tcherkassov) que durante muitos anos constituiu, para mim, uma verdadeira obsessão. Jamais alguém no mundo poderá igualar o seu genial D. Quixote!

M.L: Faz teatro, cinema e televisão. Qual destes géneros que lhe dá mais gosto de fazer?
S.F: Cada um obriga, a uma técnica específica, mas em todos eles, existe sempre o prazer de representar.

M.L: Qual foi o trabalho num destes géneros que o marcou, durante o seu percurso como actor?
S.F: Eventualmente, o “Pedro, o Cru” de António Patrício.

M.L: Já fez telenovelas. Este é o género televisivo que mais gosta de fazer?
S.F: As telenovelas (já fiz cerca de 26 ou 27) têm sido o meu ganha-pão, além de me darem uma popularidade invejável e inalcançável de outro modo. Por isso lhes estou grato. Considero, de resto, que são uma excelente escola para o actor.

M.L: Como lida com a carga horária, quando grava uma telenovela?
S.F: Lido, como deverá lidar qualquer profissional responsável, desde que a entidade produtora não abuse e respeite as cláusulas contratuais…

M.L: Um dos seus trabalhos mais marcantes em televisão foi a telenovela “Os Lobos” que foi exibida na RTP entre 1998/99, da qual interpretou a personagem Lourenço Lobo. Que recordações guarda desse trabalho?
S.F: Trabalho duro. Houve um dia em que gravei 36 cenas. Um recorde...

M.L: “Os Lobos” é da autoria de Francisco Nicholson, com quem voltou a trabalhar depois nas telenovelas “Ajuste de Contas” da RTP e “O Olhar da Serpente” da SIC. Como foi trabalhar com ele?
S.F: Praticamente nunca o vi, durante as gravações. Dele apenas me chegavam os textos...

M.L: Qual foi o momento que mais o marcou, durante o seu percurso como actor?
S.F: Todos os momentos são importantes, quando levamos o trabalho a sério.

M.L: Como vê actualmente o teatro e a ficção nacional?
S.F: Com a apreensão de quem assiste, impotente, ao frio estrangulamento de que estão a ser objecto, a Arte e a Cultura em Portugal.

M.L: Já trabalhou no estrangeiro. Gostava de ter ficado lá?
S.F: Ninguém gosta de estar fora da sua terra. Eu regressei, porque acreditei num Portugal melhor. Infelizmente enganei-me. O barro continua o mesmo e não presta. Os sucessivos (des) governos fizeram fenecer a esperança.

M.L: É pai do músico Laurent Filipe. Como vê o percurso que o seu filho tem feito até agora?
S.F: O Laurent é outra vítima da mediocridade nacional. Excelente músico de jazz e compositor, licenciado por uma das mais prestigiadas universidades norte-americanas, com uma pós-graduação e um excelente currículo, foi preciso aparecer no “Ídolos” (SIC) para que dessem por ele…

M.L: Também tem experiência como realizador. Gostava de, um dia, voltar à realização?
S.F: Gostaria. Mas... ainda há cinema em Portugal?!

M.L: Qual foi a pessoa que o marcou, durante o seu percurso como actor?
S.F: Jorge Listopad.

M.L: Em 2011, Portugal conquistou o seu segundo Emmy com a telenovela da SIC “Laços de Sangue”, da qual participou. Como vê este reconhecimento internacional?
S.F: É sempre agradável, claro.

M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
S.F: Que pense, pense, pense... se benza três vezes e tenha presente a célebre frase de Goethe. Escreveu ele: “Gostaria que o palco fosse tão fino como a corda de um equilibrista, para que nenhum néscio ousasse pisá-lo!”.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até agora como actor?
S.F: O sabor (amargo) pela frustração de não me ter sido dada a oportunidade para representar muitas personagens de que ainda continuo “grávido”...

M.L: Quais são os seus próximos projectos?
S.F: Tenho pronto a estrear “As Mãos de Eurídice”, o célebre e difícil monólogo do Pedro Bloch. Entretanto, acabo de ser convidado pelo João Lourenço para participar na próxima peça do Teatro Aberto: “O Preço” de Arthur Miller.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
S.F: Sei lá... São tantas que seria ocioso enumera-las.ML

quarta-feira, 27 de março de 2013

Brevemente...

Entrevista com... Sinde Filipe (Ator)

Mário Lisboa entrevista... Ana Mafalda

Olá. A próxima entrevista é com a atriz Ana Mafalda. Desde muito cedo que se interessou pelas Artes em geral, tendo-se estreado na representação aos 14 anos, ao protagonizar uma peça da sua autoria e foi aí que percebeu que a representação era o seu caminho e desde aí tem desenvolvido um percurso como atriz que passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão (onde entrou em produções como "Anjo Selvagem" (TVI), "O Último Beijo" (TVI), "Bons Vizinhos" (TVI), "Baía das Mulheres" (TVI), "Olhos nos Olhos" (TVI), "Anjo Meu" (TVI) e "Rosa Fogo" (SIC) e tem o Cinema como a sua grande paixão e recentemente foi nomeada para os Prémios Shortcutz Lisboa na categoria de Melhor Atriz pela curta-metragem "(In) Sanidade" de Isabel Pina. Esta entrevista foi feita por via email no passado dia 9 de Fevereiro.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
A.M: Desde pequena que tinha inclinação para as Artes em geral, dançava Ballet, cantava, pintava, escrevia e estava sempre a improvisar cenas para a minha família e amigos. Curiosamente, foi através do meu gosto pela escrita que o Teatro se cruzou no meu caminho por volta dos 14 anos. Houve um concurso de Poesia na minha escola, no qual participei e ganhei uma Menção Honrosa. Pouco tempo depois, por insistência do meu professor de Português, escrevi uma peça de teatro que acabou por ser selecionada para a “1ª Mostra de Teatro nas Escolas de Sintra”. Ele criou um grupo de teatro na escola e convidou-me a fazer parte do mesmo. Como era um pouco tímida, achei que era uma maneira de poder ultrapassar a minha timidez e aceitei o desafio. Acabei por fazer a protagonista da minha própria peça e estreámos no Teatro Carlos Manuel, em Sintra (atualmente Centro Cultural Olga Cadaval). Quando acabei a peça, estava completamente rendida e apaixonada pelas “tábuas” e percebi que era isso que queria fazer para o resto da minha vida.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
A.M: São inúmeras, depende em concreto ao que se refere… As minhas influências e referências podem ir desde géneros cinematográficos, a métodos, a Escolas, a Autores, a Realizadores, a Atores, até à pessoa que encontro no café ou no Metro. Gosto de fazer da rua, o meu “Observatório” e a maior parte das vezes procuro determinados locais e pessoas, onde possa ir buscar características específicas ou comportamentos para dar corpo e voz a uma personagem.

M.L: Faz teatro, cinema e televisão. Qual destes géneros que lhe dá mais gosto de fazer?
A.M: Estamos a falar de linguagens e registos totalmente díspares. Eu amo a sensação e emoção do palco, mas também amo Cinema, embora nesta vertente seja ainda uma estreante. Sou uma cinéfila e como tal, a minha grande paixão é e sempre foi o Cinema. A televisão é um registo diferente que também me agrada e no qual tenho vindo a trabalhar com maior incidência, porque as oportunidades assim têm surgido.

M.L: Qual foi o trabalho num destes géneros que a marcou, durante o seu percurso como atriz?
A.M: Na verdade, todos me marcaram, não há nada que faça que não fique cravejado nas minhas memórias e emoções, mas destaco o "(In) Sanidade" como o mais forte em termos de personagem.

M.L: Já fez telenovelas. Este é o género televisivo que mais gosta de fazer?
A.M: Acima de tudo, o importante para mim é trabalhar e ganhar experiência, independentemente do género, mas a minha preferência é claramente o Cinema. No Cinema, há mais tempo para a construção de uma personagem, porque sabemos, onde ela começa e acaba, há uma interioridade distinta e uma intensidade e linguagem própria, há um cuidado estético maior e os timings de rodagem são diferentes. Nas telenovelas, tudo é uma incógnita, por vezes ainda estão a escrever para as personagens, quando já estamos no ar e nem nós sabemos o que vai acontecer com a nossa personagem ou se morremos no episódio seguinte. Por outro lado, tem o fator surpresa associado e obriga-nos a uma maior maleabilidade no que concerne à adaptação do ator em termos de representação.

M.L: Como lida com a carga horária, quando grava uma telenovela?
A.M: Lido bem, embora o ritmo de produção e gravação de uma novela seja alucinante, sou o género de pessoa que lida serenamente com pressão, como tal, não me assusta, mas o que fiz em telenovelas foi sempre como elenco adicional. Logo, a carga horária é muito diferente da do elenco fixo. No entanto, se me surgisse uma oportunidade para elenco fixo julgo que adaptar-me-ia tranquilamente.

M.L: Como vê atualmente o teatro e a ficção nacional?
A.M: Vejo com olhos de espectadora, vendo um pouco de tudo, sem resistências a géneros ou registos, gosto de ver tudo o que já se fez e tudo o que atualmente se faz. O Teatro e o Cinema Português estão vivos e recomendam-se. Quando vejo as salas cheias, independentemente de fazer ou não parte dos projetos, sinto uma sensação de felicidade absolutamente indescritível. Curiosamente, no último ano, foram estas as áreas mais afetadas pela conjuntura económica atual, mas também o Ano, onde a Alma do Cinema Português mais se destacou a níveis Nacional e Internacional. Nós temos autores, realizadores, atores e técnicos maravilhosos e isto é o suficiente para vingarmos nestas áreas. Na verdade, não se faz tanto, mas o que se faz é de qualidade. Julgo que o único aspeto positivo que a Crise nos trouxe foi o darmos mais de nós, agarrarmos e criarmos as oportunidades, estamos cada vez mais criativos e unidos, sinto uma mudança no comportamento do público e dos espectadores, há mais interesse e motivação. Julgo que agora o processo se inverteu e começa a “cair por terra” aquele velho estigma de que o Teatro ou Cinema Português não estão à altura do que se faz internacionalmente e isso é sinónimo de evolução.

M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
A.M: Julgo que não descartarei essa possibilidade, se um dia se proporcionar uma oportunidade, mas o meu enfoque é e está em Portugal e tomara um dia estar à altura de afirmar-me, enquanto atriz, por cá, quanto mais internacionalmente (risos)!

M.L: Quais são os atores em Portugal com quem gostava de trabalhar no futuro?
A.M: Eu tenho uma grande admiração pelo trabalho de alguns colegas, que são para mim, uma enorme fonte de inspiração e de uma solidez inabalável em tudo o que fazem, são eles: o Filipe Duarte, o Nuno Lopes, o Ivo Canelas, o Albano Jerónimo, a Maria João Luís, a Ana Moreira e a Rita Martins. Espero no futuro ter a oportunidade de trabalhar e crescer ao lado deles.

M.L: Atualmente está nomeada para os Prémios Shortcutz Lisboa na categoria de Melhor Atriz pela curta-metragem “(In) Sanidade” de Isabel Pina. Como é que se sentiu ao saber que está nomeada?
A.M: Na verdade no que diz respeito ao meu trabalho nunca consigo ter o recuo suficiente para analisar e observar o que poderá estar bem feito. Sou exigente comigo mesma e mais depressa realço as falhas que as qualidades. Senti um misto de emoções, foi uma surpresa e nunca esperei ou sonhei estar nomeada nesta categoria. Foi a minha primeira experiência em cinema e sinto-me verdadeiramente pequenina, a dar os primeiros passos e com muito para crescer e aprender. Fiquei perplexa e atordoada, mas também feliz e agradecida!

M.L: Que expectativas têm em relação ao dia de entrega dos Prémios Shortcutz Lisboa (a entrega dos Prémios Shortcutz Lisboa ocorreu no passado dia 23 de Fevereiro, da qual a Vitória Guerra venceu o Prémio de Melhor Atriz pela curta-metragem "Catarina e os Outros")?
A.M: A Custódia Gallego é para mim uma referência e merece todos os prémios e nomeações. A Vitória Guerra teve um desempenho maravilhoso nesta curta e tem-se revelado um crescendo, enquanto atriz, merecendo esta nomeação também. Por isso, a minha expectativa é que uma delas vai ganhar.

M.L: Qual foi a situação mais embaraçante que a marcou até agora, durante o seu percurso como atriz?
A.M: Nenhuma. Quando estou a representar, não tenho o hábito de olhar para as cenas ou situações com os olhos da Ana Mafalda, mas sim com os olhos da personagem em questão. Logo mesmo que sejam situações comprometedoras, ousadas, ridículas ou violentas, elas fluem naturalmente de acordo com a personagem, se uma cena exige uma situação considerada embaraçante, entrego-me sem a consciencializar do ponto de vista pessoal, até porque curiosamente a maioria dos papéis que fiz não se coadunam com a minha personalidade.

M.L: Qual foi a pessoa que a marcou, durante o seu percurso como atriz?
A.M: Durante o meu percurso, foram vários os colegas com os quais gostei de trabalhar, mas “marcada” fiquei por alguns Mestres, que influenciaram indiretamente, a minha paixão pela arte de representar como o Vasco Santana, o António Silva, o Ruy de Carvalho, o Mário Viegas e o António Feio.

M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
A.M: Que nunca deixasse de acreditar e que não desistisse desta paixão, por mais obstáculos que tivesse de enfrentar.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até agora como atriz?
A.M: O meu percurso está longe de ganhar a forma e a solidez de que gostaria. Digamos que, por mais experiência que adquira, sinto-me sempre no início. Considero-me ainda uma aspirante a atriz, com muito para aprender e com um longo caminho a percorrer. No entanto, sinto-me abençoada pelas oportunidades que me dão e acredito com afinco que a paixão, a entrega, o empenho e o trabalho dão frutos a seu tempo.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
A.M: Em cinema, vou fazer uma curta-metragem que se chama “Dois Anjos Entre o Amor”, com realização do Henrique Bento. Em teatro, vou fazer a “Ópera do Malandro”, é a primeira vez que faço um Musical e estou muito contente com o desafio, pois terei a oportunidade de trabalhar outras duas grandes paixões que são a dança e o canto.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
A.M: São tantas… Gostava de trabalhar com o João Canijo. Escrever um guião para um filme (já comecei a trabalhar nisso). Estudar realização (não com o intuito de exercer, mas para ganhar mais ferramentas como atriz).ML

segunda-feira, 25 de março de 2013

Brevemente...

Entrevista com... Ana Mafalda (Atriz)

Mário Lisboa entrevista... Rui Porto Nunes

Olá. A próxima entrevista é com o ator Rui Porto Nunes. Desde muito cedo que se interessou pela representação tendo-se estreado como ator em 2007 na 5ª temporada da série "Morangos com Açúcar" (TVI) e desde aí tem desenvolvido um interessante percurso como ator que passa essencialmente pelo Cinema e pela Televisão (onde entrou em produções como "Olhos nos Olhos" (TVI), "Lua Vermelha" (SIC), "Laços de Sangue" (SIC) e "Rosa Fogo" (SIC) e além da representação também é DJ e recentemente participou na telenovela "Dancin' Days" (SIC) e no novo videoclip da banda Tara Perdida e fez parte do elenco vocal da versão portuguesa da longa-metragem de animação "Os Croods" (2013), da chancela da DreamWorks Animation e está em exibição em Portugal, desde o passado dia 21 de Março. Esta entrevista foi feita no passado dia 20 de Março.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
R.P.N: Já em criança participei em peças de teatro na escola, mas era muito novo e não levei a sério. Só anos mais tarde, quando iniciei o workshop para entrar nos "Morangos com Açúcar" (TVI) e comecei a explorar a construção de personagem e a entender os métodos de Stanislavski ou Grotowski, é que percebi que era isso que queria para a minha vida.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto ator?
R.P.N: Tenho muitas influências como Marlon Brando, James Dean, Robert DeNiro ou Al Pacino, mas atualmente é o ator Christian Bale que mais admiro pela capacidade de se transformar e adaptar, tanto psicologicamente, como fisicamente, a cada papel.

M.L: Dedicou praticamente a sua vida profissional ao audiovisual (Cinema e Televisão). Gostava de trabalhar em teatro?
R.P.N: Penso que qualquer ator de televisão sonha pisar um palco, afinal o teatro é a origem e o expoente máximo da arte de representar. Em 2009, tive uma pequena experiência em teatro, mas soube-me a pouco, e por isso é algo que faço questão de repetir no futuro.

M.L: Qual foi o trabalho num destes géneros que o marcou, durante o seu percurso como ator?
R.P.N: Aquele que mais me marcou e no qual sinto que mais cresci como ator foi, sem dúvida, o vampiro Afonso de "Lua Vermelha" (SIC) e depois disso, o Barbalho de "Rosa Fogo" (SIC) que só veio confirmar o que a "Lua Vermelha" me proporcionou. Se antes já tinha a paixão pela representação, dentro de mim, só saiu reforçada com esses projetos.

M.L: Já fez telenovelas. Este é o género televisivo que mais gosta de fazer?
R.P.N: Dentro do que já fiz em televisão, gosto, sobretudo, por ser um formato que prepara os atores de uma forma intensiva ao lidarmos com uma grande quantidade de cenas devido à necessidade de "fazer minutos", pois os timings em televisão são muito apertados. Se acrescentarmos a tudo isto, personagens ricas e com substância e guiões com cada vez mais qualidade, é natural que tenha imenso prazer em fazer televisão, mas não escondo que a minha grande paixão é o cinema.

M.L: Como lida com a carga horária, quando grava uma telenovela?
R.P.N: Não é algo que tenha dificuldade em gerir. Gosto muito de ser ator e quem corre por gosto não cansa.

M.L: Um dos seus trabalhos mais marcantes em televisão foi a telenovela “Olhos nos Olhos” que foi exibida na TVI entre 2008 e 2009, da qual interpretou a personagem Gustavo Viana Levi. Que recordações guarda desse trabalho?
R.P.N: Foi um privilégio participar numa novela do Rui Vilhena e foi marcante no sentido em que deu continuidade ao percurso que eu tinha começado a construir nos "Morangos com Açúcar". Tive a sorte de integrar um dos núcleos mais dinâmicos e interessantes e aprendi muito com os atores mais experientes que me rodeavam. Apesar do horário de exibição não ser o mais favorável às boas audiências, a novela acabou por se tornar num sucesso de culto.

M.L: Qual foi o momento que mais o marcou, durante o seu percurso como ator?
R.P.N: Não foi um único momento isolado, mas sim os meses de verdadeiro trabalho de ator que foram necessários para construir e interpretar o Afonso de "Lua Vermelha", tanto antes, como, durante as gravações.

M.L: Como vê atualmente a ficção nacional?
R.P.N: A ficção nacional está a viver num paradoxo. Por um lado, a crise tem deixado inúmeros atores sem contratos de exclusividade ou qualquer outro tipo de segurança profissional num mercado cada vez mais competitivo. Por outro, a qualidade das produções nacionais tem sido alvo de reconhecimento internacional nos últimos anos, com dois Emmys e quatro nomeações como prova disso mesmo, e penso que é por aí que é preciso investir: tentar manter a chama dessa qualidade acesa apesar de todas as dificuldades.

M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
R.P.N: Não duvido que fosse uma ótima experiência de aprendizagem, mas para já a minha prioridade é consolidar a carreira que tenho em Portugal.

M.L: Como lida com o público que acompanha a sua carreira nos últimos anos?
R.P.N: Ainda me abordam muitas vezes na rua e tenho mais de 112 mil seguidores no Facebook, incluindo público internacional, e sobretudo da América Latina, desde que a "Lua Vermelha" começou a ser transmitida nesses países. É muito compensador saber que tenho apreciadores do meu trabalho em todos os cantos do mundo. O público é a razão de ser de qualquer artista e por isso procuro retribuir sempre o afeto que recebo do meu.

M.L: Além da representação também é DJ. Qual destas funções em que se sente melhor?
R.P.N: A minha profissão é ator. Ser DJ não é uma carreira, é mais um hobby com o qual me divirto.

M.L: Recentemente, a telenovela da SIC “Rosa Fogo”, da qual participou foi nomeada para o Emmy Internacional na categoria de Telenovela. Como vê este reconhecimento internacional?
R.P.N: É a melhor recompensa possível para todos os atores e elementos da produção que se empenharam em fazer da novela um sucesso e é sinal de que estamos a produzir ficção de grande qualidade em Portugal. Não só o público nacional se apercebeu disso nos últimos anos, como o mesmo está agora a acontecer no estrangeiro.

M.L: Qual foi a pessoa que o marcou, durante o seu percurso como ator?
R.P.N: Não posso escolher uma só pessoa, seria injusto. Não houve só uma, mas sim muitas, e todas elas tiveram a sua importância. Ser ator é também beber da sabedoria de cada um, e todas as pessoas têm algo para nos ensinar, desde outros atores à produção e equipa técnica.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até agora como ator?
R.P.N: O balanço só pode ser muito positivo. Em poucos anos, já interpretei vários papéis marcantes com registos muito diferentes, contracenei com atores consagrados, continuo a receber convites para integrar novos projetos, a receção por parte do público é extraordinariamente boa, e tenho como profissão fazer aquilo que mais gosto na vida.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
R.P.N: Acabei há pouco tempo de gravar participações na novela "Dancin' Days" (SIC) e no novo videoclip dos Tara Perdida e dei voz à personagem Guy na versão dobrada do filme de animação "Os Croods" (2013).

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
R.P.N: A nível profissional gostava de participar numa longa-metragem de Cinema. A nível pessoal, gostava de fazer uma viagem a Whistler, no Canadá, um Bike Park que é um autêntico paraíso para apreciadores de BTT.

M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da sua vida?
R.P.N: Gostava de já ter a estabilidade profissional e financeira que sempre imaginei que teria com a minha idade e que o estado do país parece deixar cada vez mais fora do meu alcance.ML

Brevemente...

Entrevista com... Rui Porto Nunes (Ator)
                                                 

Mário Lisboa entrevista... Virgílio Castelo

Olá. A próxima entrevista é com o ator Virgílio Castelo. Estreou-se na representação no Teatro Adoque em 1974 e desde aí tem desenvolvido um brilhante percurso como ator que conta com quase 40 anos de existência, da qual passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão (onde entrou em produções como "Vila Faia" (RTP) e o respetivo remake exibido entre 2008 e 2009, "Origens" (RTP), "Humor de Perdição" (RTP), "Roseira Brava" (RTP), "Vidas de Sal" (RTP), "Filhos do Vento" (RTP), "A Grande Aposta" (RTP), "Todo o Tempo do Mundo" (TVI), "O Olhar da Serpente" (SIC), "Mistura Fina" (TVI), "Paixões Proibidas" (RTP/TV Bandeirantes), "Podia Acabar o Mundo" (SIC), "Lua Vermelha" (SIC) e "Laços de Sangue" (SIC) e além da representação também foi encenador, produtor, guionista, diretor de atores, escritor e apresentador e foi diretor-geral da NBP (atual Plural), durante três anos e consultor da SIC para a ficção nacional entre 2008 e 2011 e atualmente participa na telenovela "Destinos Cruzados" que está em exibição na TVI e é a primeira telenovela da TVI, da qual integra o elenco fixo, desde que regressou ao canal em 2011. Esta entrevista foi feita no dia 15 de Maio de 2011 nos Paços da Cultura em S. João da Madeira na altura em que o entrevistado passou pela cidade a propósito da peça "Um, Ninguém e Cem Mil" que encerrou a 5ª edição do Festival de Teatro de S. João da Madeira que costuma ocorrer nessa altura.

M.L: Como é que está a correr a sua passagem por S. João da Madeira?
V.C: Está a correr bastante bem, ainda é recente, mas eu não conhecia S. João da Madeira… Acho fantástico o aproveitamento de uma antiga fábrica para o Museu da Chapelaria, parece muito interessante este ambiente de cidade industrial, uma coisa que é relativamente incomum…

M.L: Qual é a sua opinião sobre o concelho?
V.C: É uma cidade que preza pela sua originalidade e criada em função de uma atividade…

M.L: Como é que tem corrido a peça “Um, Ninguém e Cem Mil”?
V.C: Tem corrido bastante bem, nos sítios, onde temos passado. É um texto sobre a identidade, é um texto que tenta responder àquela questão que é quem somos nós ou como nos imaginamos e como nós pensamos em nós próprios…

M.L: Como é que surgiu o convite para participar na peça?
V.C: Foi o Nelson Monforte (o encenador). Veio ter comigo, queria fazer uma peça comigo… Ele é um jovem encenador, queria trabalhar com um ator mais velho (neste caso comigo) e que propôs alguns textos e entretanto nós estivemos a discutir estes textos e este texto pareceu-me o mais adequado, porque é um texto que tem a ver com a questão da identidade… É um texto sobre um banqueiro que numa certa altura despoja de tudo o que tem e o dinheiro que tem, porque acha que o dinheiro não é, exatamente, uma coisa muito positiva. E isso pareceu-me que era muito interessante, numa altura em que o país, a Europa e o Mundo estão numa crise enorme provocada pelos banqueiros e pela ganância, achei que era curioso para termos um texto sobre um homem que é banqueiro e que diz que o dinheiro não é o mais importante. Achei que era uma ironia e muito interessante.

M.L: Nesta peça interpreta Moscarda, um banqueiro que devido a um simples comentário da sua mulher vê a sua vida desmoronar-se. Como classifica esta personagem?
V.C: É uma personagem que representa muito daquilo que todos nós somos, quando nos descontrairmos um bocadinho… Todos nós temos uma tendência para tentar explicar a nossa existência, porque a vida é feita de muitas e grandes afirmações e portanto ninguém têm certezas de nada e andamos sempre todos à procura de ter uma certeza sobre alguma coisa e neste caso, este homem vai pôr tudo em questão, vai, sobretudo, pensar se eu não sou como eu me imagino, o que é que será que os outros vêem em mim… No fundo, é uma pergunta que todos nós, de alguma forma, já fizemos a nós próprios que é como é que os outros nos vêem e se isso é muito diferente daquilo que pensamos de nós ou como nós nos vemos, então, onde é que está a verdade? Eu sou aquilo que vejo no espelho ou sou aquilo que os outros vêem? E o espetáculo é sobre isso.

M.L: A peça é encenada por Nelson Monforte. Como é trabalhar com ele?
V.C: Foi estimulante, mas não foi fácil, porque são gerações muito diferentes (nós temos 20 e tal anos de diferença), portanto a maneira como se vê o mundo é outra. A maneira como eu vejo o mundo é uma maneira muito mais racional no sentido de tentar explicar o que é que nos acontece e quanto que o Nelson olha para o mundo de uma maneira mais industrial e para ele as coisas antes de terem uma razão têm uma emoção e eu, como não sou assim, isso é interessante. O espetáculo é o resultado dessa tensão entre estas duas perspetivas da vida, uma vida mais pautada pela emoção no caso dele e mais pautada pela razão no meu caso.

M.L: Como é que se sente ao fazer um monólogo?
V.C: É difícil. Os monólogos são sempre difíceis (este é o segundo monólogo que eu faço), mas, apesar de tudo, este ainda é o mais difícil que o primeiro, porque é um texto que se passa na cabeça de uma pessoa. Uma senhora disse-me uma coisa muito engraçada, quando houve o espetáculo nas Caldas da Rainha, que era: “Isto são coisas que nós pensamos à noite, antes de adormecermos”. E as coisas que nós pensamos à noite, antes de adormecermos são muito caóticas, portanto a maneira de nós olharmos para este texto é uma maneira muito caótica e esse caos que se instala na cabeça deste Moscarda faz com que seja difícil fazer o monólogo, porque eu, como ator, se me esquecer de alguma coisa do texto, de um outro tipo de texto, eu posso inventar qualquer coisa e pegar num fio lógico… Como isto é um texto caótico, eu tenho alguma dificuldade se falhar alguma coisa, tenho alguma dificuldade em colar o que se passou e o que se vai passar a seguir, porque não há uma linha lógica muito clara.

M.L: Recentemente saiu da SIC, onde exercia o cargo de consultor para a ficção nacional do canal. O que o levou a sair do canal?
V.C: Eu não gosto de fazer a mesma coisa, durante muito tempo. Eu estive 3 anos na SIC e achei que chegou o momento de mudar… Eu sou essencialmente um ator, o que eu gosto mesmo de fazer é representar e o que eu estava a fazer na SIC era um trabalho que não era bem um trabalho de ator (embora tenha feito alguns trabalhos de representação), era um trabalho que tinha muito mais a ver com o que está por detrás das câmaras. Portanto, isto foi uma coisa que fiz, durante 3 anos, gostei imenso de fazer, mas achei que chegou o momento de mudar.

M.L: Que balanço faz dos 3 anos em que esteve na SIC (o entrevistado esteve na SIC entre 2008 e 2011)?
V.C: Eu faço um balanço positivo. A primeira novela que fizemos que foi “Podia Acabar o Mundo” fez uma média de 600 mil espectadores, quando fizemos a segunda novela, o “Perfeito Coração” tínhamos uma média de 800 mil espectadores e agora com os “Laços de Sangue” (na altura em exibição na SIC) existe uma média de 1 milhão de espectadores, portanto fomos subindo de novela para novela. Além do número de espectadores, eu acho que as opiniões sobre os “Laços de Sangue” tem sido muito positivas, portanto eu acho que nestes 3 anos nós conseguimos não só subir o número de espectadores, como criar uma empatia com quem escreve sobre esta novela, portanto eu diria que é um balanço bastante positivo.

M.L: O sucesso de “Laços de Sangue” tem a ver muito com a parceria da SIC com a TV Globo.
V.C: Sim, tem. Não tem muito, mas tem a ver. A contribuição da Globo foi essencial. A Globo faz novelas há 50 anos, nós fazemos há 20 (desde 1992 em termos de produção contínua)… Este tipo de coisas, se nós não continuamos a fazer, não conseguimos corrigir os erros, portanto eu acho que a Globo faz há muito mais tempo e tem um know-how muito consolidável… Eu adorei trabalhar com a Globo, gostei imenso de trabalhar com eles, aprendi imensas coisas com eles e acho que a parceria com a SIC é muito positiva na medida em que se consiga fazer uma coisa que ninguém estava à espera que é fazer os “Laços de Sangue” que, embora tenha o apoio da Globo, é uma novela profundamente portuguesa.

M.L: Como é que surgiu o interesse pela representação?
V.C: Foi por acaso. Eu nunca tinha pensado ser ator. Preparava-me para ter uma vida normal como funcionário público ou uma coisa assim do género… Eu trabalhei no Ministério das Finanças na altura do 25 de Abril… Depois, quando lança com a abertura para as perspetivas para o país surgiu, por acaso, a oportunidade de ser ator e foi tudo por acaso… Foi preciso um ator para fazer uma pequena figuração, era um miúdo (na altura tinha 21 anos), eles escolheram-me a mim e a partir daí o bichinho do teatro ficou e eu fiquei até hoje… Mas foi por acaso, não foi uma coisa que eu pensasse desde miúdo.

M.L: Faz teatro, cinema e televisão. Qual destes géneros que lhe dá mais gosto de fazer?
V.C: O que gosto mais de fazer é teatro. Por uma razão muito simples: é que o teatro tem uma coisa que não existe na televisão e no cinema que é o contato direto com o público… É uma coisa física, as pessoas estão ali, nós estamos a senti-las, estamos quase a cheira-las, portanto é uma coisa muito física ao passo que a televisão e o cinema também têm o seu interesse, eu gosto de fazer, mas, para mim, o teatro tem um encanto que mais nada tem.

M.L: Qual foi o trabalho num destes géneros que o marcou, durante o seu percurso como ator?
V.C: Eu acho que as peças que mais me marcaram até hoje foram: “A Rua” que fiz em 1988, era uma peça de um autor inglês chamado Jim Cartwright, foi no Teatro Aberto e foi uma peça que me marcou imenso. Outra peça que me marcou muito foi o outro monólogo que eu fiz chamado “Vincent” que era sobre o Vincent van Gogh. Há um outro espetáculo que também me marcou muito que foi “O Verdadeiro Oeste” que era uma peça de Sam Shepard, que eu fiz com o José Pedro Gomes e encenado pelo António Feio e ultimamente, a peça que me marcou muito foi “O Camareiro” com o Ruy de Carvalho, com quem queria há muitos anos fazer uma peça de teatro e adorei fazer o espetáculo, foi uma peça que correu muito bem. Em cinema, foi um filme chamado “A Esperança Está Onde Menos Se Espera” (2009) do Joaquim Leitão. Foi o filme que mais gostei de fazer nestes últimos tempos.

M.L: Desde a versão original da telenovela “Vila Faia” (RTP) que é uma presença regular nas telenovelas. Este é o género televisivo que mais gosta de fazer?
V.C: Não é o que eu mais gosto de fazer, mas é o género televisivo que mais existe. Nós não temos orçamentos para fazer séries ou temos muito poucos… Desde (19) 77 (foi a primeira vez que eu fiz uma peça na televisão) até (19) 92 (quando foram lançados os canais privados), fiz muita coisa na RTP, fiz peças e fiz séries… Depois, a partir de (19) 92 (quando vieram os canais privados), desapareceram as peças, desapareceram as séries (embora não tenham desaparecido completamente) e começaram as novelas. Portanto, eu não posso dizer que é o género que eu gosto mais, mas é aquele em que tenho participado mais, porque é aquele que mais existe.

M.L: Como lida com a carga horária, quando grava uma telenovela?
V.C: Eu não tenho grandes problemas em trabalhar 10, 11 horas por dia. Faço parte daquele grupo de portugueses que trabalha naquilo que gosta.

M.L: Um dos seus trabalhos mais marcantes em televisão foi a telenovela “Roseira Brava” (RTP), onde interpretou o vilão Manolo. Que recordações guarda desse trabalho?
V.C: Eu guardo recordações fantásticas. Foi um período da minha vida bastante divertido e sobretudo, a personagem permitia-me uma coisa que eu gosto de ter como ator que é ter liberdade para propor coisas aos realizadores… Os realizadores e os diretores deixavam-me fazer coisas que não estavam previstas…

M.L: Durante o seu percurso como ator também foi encenador, produtor, guionista, diretor de atores, escritor e apresentador. Qual destas funções em que se sente melhor?
V.C: O que eu gosto mais de fazer é representar. Depois, a seguir, o que gosto mais de fazer é escrever. Publiquei um romance e estou a escrever um segundo… Digamos que estas duas coisas (a representação e a escrita) são as coisas que eu faço mesmo por gosto absoluto… As outras coisas são coisas que eu faço mais por dever… Tenho produzido, tenho dirigido atores, tenho dirigido empresas, tenho dirigido espetáculos, mas não porque acho isso o meu gozo muito especial, mas porque há pessoas que acreditam em mim e que acham que eu posso fazer isso… Portanto, eu tento corresponder a essa expectativa, mas não são coisas que eu faça por prazer.

M.L: Foi também diretor-geral da NBP (atual Plural), durante três anos fazendo parte do grupo que criou a indústria da ficção nacional. Que recordações guarda do tempo em que esteve no cargo?
V.C: É engraçado, porque nunca me passou pela cabeça nos três anos em que estive lá que aquilo teria o resultado que acabou por ter. É verdade que eu faço parte de um grupo de pessoas que colaborou para a criação de uma indústria de ficção em Portugal. Houve um fim-de-semana em que eu estive retirado juntamente com outras pessoas (com o Presidente do Conselho de Administração da NBP na altura (António Parente), com o João Pedro Lopes e com o Pedro Miranda). Estivemos os 4 num fim-de-semana em retiro a pensar em várias coisas e foi nesse fim-de-semana que surgiram várias ideias que depois viriam a dar resultados: a criação de grandes estruturas como a Casa da Criação (que foi inventada nesse fim-de-semana)… Quase todas as diretrizes que nós seguimos, depois nos anos a seguir, entre (19) 96 e (19) 97 até 2001, surgiram nesse fim-de-semana.

M.L: O que o levou a aceitar o cargo na altura?
V.C: Eu penso muito nas coisas, antes de as aceitar. Não houve nenhuma razão especial. Eu achava que tinha feito algumas coisas para trás que não tinham a ver com o trabalho de ator, que eram coisas de bastidores, digamos assim… Tinha dirigido atores, tinha dirigido projetos, são coisas que eu gosto de fazer, mas gosto de as fazer pontualmente… Eu não fui logo convidado para ser diretor-geral, era para dirigir atores, dirigi atores em 3 novelas, depois é que me convidaram para ser diretor-geral.

M.L: Qual foi o momento que mais o marcou, durante o seu percurso como ator?
V.C: Vários. Houve momentos que me marcaram de um modo positivo e momentos que me marcaram de um modo negativo, mas sou daquelas pessoas em que a vida só se desenvolve a partir das ruturas, nunca a partir dos compromissos… Portanto, acho que em todos os momentos em que eu tive críticas más, em que eu tive experiências más, coisas que não correram bem, foram os momentos em que mais aprendi… Eu sou um ator que quanto mais inseguro estou, mais me esforço e portanto, as coisas que não correram melhor foram as coisas em que eu estava mais inseguro.

M.L: Como vê atualmente o teatro e a ficção nacional?
V.C: Eu acho que a ficção televisiva está a evoluir de um modo positivo, embora haja muita coisa para fazer. Acho que evoluiu de um modo positivo. Em relação ao teatro, já não acho assim. Acho que o nosso teatro precisa de uma espécie de sobressalto, acho que o nosso teatro é de muita qualidade… Temos bons atores, temos bons autores, temos bons produtores, temos alguns princípios éticos e filosóficos menos interessantes ou seja, eu acho que faz falta ao teatro português, um teatro comercial de qualidade ou seja todo o nosso teatro é maioritariamente um teatro subsidiado. Eu acho que isso não é mau, mas não é bom que não haja um tipo de teatro meramente empresarial, eu acho que o que nos falta ao teatro em Portugal é um tipo de teatro de iniciativa empresarial.

M.L: Gostava de ter feito uma carreira internacional?
V.C: Quem não gostava? Não há nenhum ator ou pessoa ou profissional em qualquer área que viva num país pequeno com a dimensão de Portugal que queira fazer uma carreira internacional…

M.L: Qual foi a personalidade da representação que o marcou, durante o seu percurso como ator?
V.C: Houve vários colegas, mas eu destacaria três: o primeiro é o Robert DeNiro, com quem eu nunca trabalhei, eu considero-o como colega por afinidade, eu fui muito influenciado pelo Robert DeNiro, durante muitos anos, depois é o João Perry, um ator que admiro muito e que influenciou-me muito, sobretudo, quando vim da Escola de Estrasburgo, a partir dos anos 80, alguns anos em que foi muito importante, a influência dele em mim e mais tarde, o Ruy de Carvalho que é um ator que admiro imenso, por quem tenho uma admiração e ternura enorme e que é um ator que eu acho que tem características únicas no mundo e que é um ator que ainda hoje me inspira, o que me dá a vontade de ver como é que ele faz…

M.L: Que balanço faz da sua carreira?
V.C: Eu acho que é um balanço fantástico, porque há um fator na vida dos atores que ninguém controla que é: independentemente do trabalho que se têm, da capacidade de trabalho, da dedicação, da seriedade, do rigor, independentemente disso tudo, há um dado tremendo que é a sorte… Ninguém sabe explicar, porque é que uma determinada pessoa tem sorte e a outra não tem… Eu tive muita sorte, sou muito agradecido aos Deuses, sou muito agradecido ao país e o balanço que eu faço é um balanço de agradecimento, portanto eu acho que tive muita sorte, durante a minha carreira. Acho que é um balanço positivo que eu faço nesse sentido, há colegas meus que têm tanto ou mais capacidade do que eu e que não tiveram a sorte que eu tive, portanto eu acho que, nesse ponto de vista, sou muito agradecido e reconheço que a sorte é uma dávida que eu tenho nesta profissão.

M.L: Se não fosse o Virgílio Castelo, qual era o ator que gostava de ter sido?
V.C: O Robert DeNiro.ML