sábado, 20 de junho de 2015

Mário Lisboa entrevista... Sara Butler

O interesse pela Música surgiu naturalmente e nos últimos 8 anos tem desenvolvido um percurso nessa área que chegou ao seu ponto mais alto em 2011 ao formar, juntamente com Hugo Arco e Juan Müller, a banda Ballard Pond que, atualmente, está a preparar-se para lançar o seu primeiro álbum. Licenciada em Ciências da Comunicação pela Universidade de Lisboa, também tem experiência na representação, e a nível pessoal gostava de viajar mais e conhecer outras realidades. Esta entrevista foi feita no passado dia 9 de Junho.

M.L: Quando surgiu o interesse pela Música?
S.B: Não posso dizer que tenha ocorrido um interesse propriamente dito, porque a Música sempre foi e sempre será, certamente, uma extensão de mim. Portanto, é-me bastante complicado indicar uma data específica em que esse "interesse" tenha surgido. É envolta em sons e harmonias que me sinto, realmente, feliz.

M.L: Quais são as suas referências nesta área?
S.B: São imensas. Desde os Sonic Youth aos Clinic, do Fela Kuti ao Beck e passando por Zero 7, variam no decorrer dos dias, dos meses e dos anos. Tenho um carinho especial pelo dream pop, post-rock, indie rock e trip-hop/downtempo. E são precisamente estes géneros musicais que, para além do indie-folk e da Bossa Nova, tenho explorado com maior intensidade nos últimos meses. Ao nível de artistas e bandas em particular, sou fã assumida dos Mogwai e dos Sigur Rós. Os The National, os Beach House e dEUS fazem parte da playlist do meu telemóvel e nas últimas semanas tenho andado a revisitar alguns trabalhos mais antigos do Jóhann Jóhannsson e do Nils Frahm.

M.L: É vocalista, teclista e guitarrista da banda Ballard Pond que surgiu em 2011 (https://www.facebook.com/theballardpond?fref=ts). Como é que surgiu a ideia de formar a banda?
S.B: Como surge qualquer outra ideia na minha cabeça, do vazio (risos). Há muito tempo que sentia a necessidade de arranjar um projeto ao qual me agarrasse com unhas e dentes e que, paralelamente a essa vontade para trabalhar, me desse total liberdade de improvisação. Conheci o Hugo Arco (guitarrista), na Faculdade, que me apresentou a um amigo, o Juan Müller (também guitarrista). Experimentámos tocar em conjunto em regime de jam session e passados poucos dias estava constituído o projeto. Houve química musical, houve entendimento e um objetivo comum: tocar sem qualquer compromisso.

M.L: Atualmente, os Ballard Pond preparam-se para lançar o seu primeiro álbum. Como vê o percurso que a banda tem desenvolvido, desde a sua formação até agora?
S.B: Avalio de uma forma extremamente positiva. Aquando da formação da banda, o objetivo primordial passava por transmitirmos as nossas emoções através dos nossos instrumentos sem expectativa de retorno. Era algo muito recolhido, muito nosso e, sobretudo, muito familiar. O panorama mudou ligeiramente quando tomámos a decisão de fazer chegar a nossa música a outros ouvidos, organizando de raiz um concerto numa sala multiusos. A partir daí fizemos uma espécie de residência artística, no Verão de 2012, no Algarve, ao tocar todos os dias em contacto com a natureza, o que nos fez evoluir bastante e ganhar coragem para dar novos passos. Seguidamente, fomos dando alguns concertos, no Festival Termómetro 2013, no Festival Santos da Casa 2013 e mais alguns na capital. Desde finais de 2013 que, por razões pessoais e profissionais, não temos estado no ativo, mas em breve sairá o preguiçoso, muito aguardado e surpreendente trabalho, muito diferente do que temos vindo a apresentar em público.

M.L: Além da Música, também tem experiência na representação. Em qual destas atividades em que se sente melhor?
S.B: São áreas totalmente distintas mas que se complementam. Sinto-me bem tanto numa como noutra, no entanto, a liberdade que sinto na Música relativamente à composição, escrita e interpretação acaba por ser maior do que na área da representação uma vez que sou eu quem está encarregue do total processo criativo. Digamos que na Música existe uma Sara como personagem e na representação existem as outras tantas personagens que me vêm parar às mãos.

M.L: Entre 2010/11, participou na telenovela “Sedução” que foi exibida na TVI, na qual interpretou a personagem Ana Mendes Soares. Que recordações guarda desse trabalho?
S.B: Guardo muito boas recordações e recordações menos boas. Foram nove meses de trabalho intensivo com uma personagem que dava muitas dores de cabeça ao núcleo principal da novela e, sobretudo, a mim. Conheci muitas pessoas boas, gente de bom coração com quem ainda mantenho contacto, não apenas atores como também muitos elementos da equipa técnica. No que ao lado menos bom diz respeito, o timing do arranque das gravações não foi o melhor, uma vez que eu tinha acabado de entrar na Universidade e encontrava-me, com muito custo, a tentar conciliar as duas coisas, por pura teimosia. Desde cedo que ponho os estudos à frente do que quer que seja e este foi mais um período complicado e extremamente desgastante, contudo, foi possível e no fim consegui respirar de alívio.

M.L: Como vê, atualmente, a Música, a nível global?
S.B: Há que separar o trigo do joio e o que é bom para mim pode não ser para outras pessoas e vice-versa, se tal ocorresse os gostos pessoais seriam todos iguais. Que piada teria todos gostarmos das mesmas coisas? Não discutindo qualidade, porque a minha opinião enquanto ouvinte vale o que vale, temos é muita música e muita variedade, de todos os estilos. Falando do caso português, que me está mais próximo, tem-se verificado uma adesão muito maior a projetos portugueses motivada pela divulgação efetuada pelos media. Não posso dizer que agora é que se deu o boom da boa Música portuguesa, boa Música sempre existiu. O que há de diferente são os meios de divulgação e a forma como essa divulgação é feita. Enquanto há poucos anos a rádio e a televisão se traduziam nos principais difusores da Música portuguesa e não só, agora é a Internet (com o auxílio de toda uma panóplia de redes sociais) o canal de eleição para a descoberta de novos projetos musicais e o acompanhamento dos já existentes. A forma como encaramos a Internet também mudou. Assim, vemos bandas que, há uns anos, não tinham tanta visibilidade, a renascer, a conquistar maiores audiências por, precisamente, utilizarem adequadamente todas as ferramentas e possibilidades que a Internet lhes oferece.

M.L: É licenciada em Ciências da Comunicação pela Universidade de Lisboa. Gostava de, um dia, prosseguir com uma carreira paralela na área da Comunicação Social, caso haja essa possibilidade?
S.B: Já me encontro de momento a explorar essa área, felizmente. Tenho vários projetos de momento, cada um mais interessante que o outro. No entanto, para já, prefiro manter estas duas carreiras em separado.

M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira em qualquer área artística?
S.B: Diria para nunca deixar de acreditar no seu potencial e que não se deixasse abalar por momentos menos bons que, certamente, surgiriam. Antes do ingresso no mundo artístico é necessária a realização de um exercício de auto-conhecimento, visto que nem sempre nos encontramos preparados fisicamente e psicologicamente para a pressão que daí advém. Achamos que há aptidão mas é um engano. O Ser Humano é extraordinário e tem capacidades que o próprio desconhece, nunca antes exploradas, logo é preciso uma boa dose de paciência para nos descobrirmos a nós próprios com o auxílio do nosso amigo chamado tempo.

M.L: Que balanço faz do percurso profissional que tem desenvolvido até agora?
S.B: Sou uma mulher jovem e tenho atualmente 15 anos de experiência na área da representação e, paralelamente, 8 na área da Música. O que se pode tirar disto é que comecei a trabalhar nesta área bastante cedo e por iniciativa própria. Não me queixo do aparecimento de certos obstáculos no caminho, porque sem eles teria evoluído de uma forma totalmente diferente. Estar parada e sem projetos é algo que me dá um transtorno gigantesco, não consigo. Se não existe nada de momento eu trato de inventar algo novo e que mexa com o meu raciocínio, seja na área de realização e edição de vídeo, fotografia, design ou escrita. Tenho alguns escritos que já quis editar profissionalmente, mas estes são demasiado lamechas para serem tornados públicos (risos).

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
S.B: De momento, encontro-me em fase de pré-produção do primeiro trabalho discográfico dos Ballard Pond e, dentro de poucos dias, sairá uma curta-metragem produzida pela ESAP (Escola Superior Artística do Porto), na qual interpretei duas personagens. Paralelamente, tenho outro projeto, a Chartroise Portugal, que consiste na confeção e venda de peças de vestuário e de decoração totalmente personalizáveis e em crochet. Num futuro próximo, espero constituir a minha própria produtora.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
S.B: Viajar mais e conhecer outras realidades para além da que me encara todos os dias.ML

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