sábado, 15 de agosto de 2015

Mário Lisboa entrevista... Sara Mendes Vicente

Queria ser agente secreta, quando era pequena, mas com o passar do tempo percebeu que a representação era o seu destino, e nos últimos anos tem desenvolvido um percurso promissor como actriz. Filha dos actores Luís Vicente e Alexandra Diogo, viveu em Inglaterra durante 2 anos, e gostava de, um dia, representar uma heroína criada por William Shakespeare. Esta entrevista foi feita no passado dia 1 de Agosto.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
S.M.V: Quando era pequena queria muito ser agente secreta. Fascinava-me poder ser uma pessoa diferente todos os dias, com um emprego diferente todos os dias, com um corte de cabelo diferente todos os dias, pelo menos era isso que eu achava que se passava. Depois com o tempo percebi que não queria dar tiros a ninguém nem andar a fugir de tiros, então achei que ser actriz era mais seguro e tinha todas as vantagens na mesma.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto actriz?
S.M.V: Acho que ainda sou muito inexperiente para responder a essa pergunta. As minhas influências, para já advêm de tudo o que vi os meus pais fazerem e o que os meus professores me ensinaram.

Enquanto espectadora, prefiro estilos de encenação como os do Ávila Costa e tenho vários cineastas que admiro muito.

M.L: Faz teatro, cinema e televisão. Qual destes géneros que mais gosta de fazer?
S.M.V: Nunca fiz teatro sem ser quando fiz formação, mas é sem dúvida o estilo que me dá mais adrenalina. Sempre tive presente em mim que o que queria mesmo fazer era cinema, mas o teatro dá-nos a volta, é viciante.

M.L: Entre 2010/12, participou na série “Lua Vermelha” que foi exibida na SIC, na qual interpretou a personagem Maria do Céu Lage. Que recordações guarda desse trabalho?
S.M.V: Uma personagem que me é muito querida, muita aprendizagem especialmente em termos de luz e som que não tinha noção antes de fazer televisão, alguns colegas com quem falo ainda hoje. Mas a melhor parte do projecto era a equipa técnica, desde realizadores aos técnicos de som, dos operadores de câmara aos directores de actores, sentia-se uma segurança e companheirismo incríveis.

M.L: Como vê, actualmente, o teatro e a ficção nacional?
S.M.V: Não posso falar muito, pois estive fora do país dois anos. Gostava que o teatro tivesse mais público, temos profissionais inacreditáveis neste país e a falta de público gera falta de trabalho obviamente.

M.L: É filha dos actores Luís Vicente e Alexandra Diogo. Como vê os respectivos percursos que os seus pais têm desenvolvido até agora?
S.M.V: Foram dois percursos muito diferentes, quase incomparáveis, mesmo. Sempre tive muito orgulho de ver o meu pai em palco, ainda hoje fico com pele de galinha, e mesmo como encenador as escolhas cénicas dele sempre me fascinaram. Admiro-o muito.

A minha mãe teve um percurso mais complexo e ficou alguns anos sem trabalho, mas vi-a renascer na Companhia de Teatro de Sintra/Chão de Oliva que, apesar de ter as dificuldades económicas, infelizmente, inerentes a companhias de teatro, funciona com condições inacreditáveis. Funcionam como uma equipa, os actores são bem tratados e é-lhes dada a oportunidade de crescerem e fazerem um bom trabalho sem pressões desnecessárias. Foi o que aconteceu com a minha mãe, atingiu a excelência, já por várias vezes. Aconteceu o mesmo com o actor Pedro Cardoso, que sempre achei um bom actor, mas quando trabalhou com o Chão de Oliva tornou-se excelente.

M.L: Viveu em Inglaterra, durante 2 anos. De que forma esta experiência foi gratificante para si em termos culturais?
S.M.V: Apercebi-me que a Cultura pode gerar dinheiro além de ser a melhor forma de educação e formação pessoal que existe no Mundo, em Inglaterra às vezes sabem melhor os nomes dos escritores das peças e encenadores do que dos actores. Eu pensava que o amor à Arte deveria chegar, mas de facto não põe pão na mesa, e toda a gente precisa de comer.

Dito isto, lembro-me de estar no local pub, The Lyceum Tavern, com os meus amigos e de me sentar, impulsivamente, numa mesa com um grupo de homens com um aspecto suspeito. Descobri que eram os performers de Covent Garden, os que fazem os espectáculos todos para os turistas, desde magia a pequenos truques de circo fazem tudo! Foram das pessoas mais interessantes com quem falei até hoje, pela humildade com que falavam do amor à Arte, do que significa para eles representar, da importância artística no dia-a-dia e, essencialmente, de tudo aquilo que move um actor sem ordenado e sem fama.

M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
S.M.V: Esta pergunta já me foi posta várias vezes e acho que nunca soube bem o que dizer. É uma profissão que pode parecer fácil e muito atraente, especialmente para jovens, mas que necessita de um grande amor para se ser insistente. Portanto, se é por amor: persistência. Se não há amor, não o façam.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem desenvolvido até agora como actriz?
S.M.V: Pequeno, quero mais. Muito mais.

M.L: Quais são os seus próximos projectos?
S.M.V: Como actriz não tenho nenhum em vista. Vou trabalhar fora do palco numa companhia portuguesa, mas como o projecto ainda não está “a andar” preferia não dar dados nenhuns, para já.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
S.M.V: Uma heroína feminina de (William) Shakespeare, qualquer uma nem me importa qual. Mas tenho preferência pela Hero de “Muito Barulho por Nada” ou Viola de “A Décima Segunda Noite”.ML

A pedido da entrevistada, esta entrevista não foi convertida sob o novo Acordo Ortográfico.

Fotografia: José Pinto Ribeiro

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