sábado, 21 de julho de 2018

Mário Lisboa entrevista... António Borges Correia

Interessou-se desde muito cedo pelo audiovisual, tendo-se iniciado nessa área nos anos 90 e desde então tem desenvolvido um percurso bastante sólido como realizador, conciliando frequentemente cinema e televisão. A nível televisivo, trabalha atualmente na Plural Entertainment Portugal, e recentemente realizou a longa-metragem "As Horas de Luz", que teve a sua estreia mundial na última edição do IndieLisboa, e a telenovela "A Herdeira", que está atualmente em exibição na TVI. Esta entrevista foi feita no passado dia 11 de Julho.

M.L: Quando surgiu o interesse pelo audiovisual?
A.B.C: Muito cedo, em criança, mas só na juventude é que decidi que queria estudar cinema, apesar de ter entrado no Conservatório um pouco tarde (com 22 anos), pois nessa altura fui obrigado a cumprir o serviço militar. Mas desde muito cedo comecei a interessar-me por filmes. Onde vivia, havia dois cinemas (Academia Almadense e Incrível Almadense). Creio que a maior parte do tempo, em criança e jovem, era passado nessas salas de cinema ou na rua com amigos. Mas o meu espaço de liberdade e evasão era a sala de cinema.

M.L: Quais são as suas referências nessa área?
A.B.C: Há imensas. A maior parte das referências foram acontecendo na Escola de Cinema onde nos apaixonamos pelos (Jean-Luc) Godard, (Jean) Renoir, (Robert) Bresson, (Michelangelo) Antonioni, (John) Ford). Mas isto é um fenómeno que não se interrompe. Ainda hoje continuo a ser surpreendido por filmes ou séries que me influenciam, porque os criadores que questionam a gramática cinematográfica e que a confrontam para lhe acrescentar algo nunca deixarão de existir. São esses os objetos que me interessam, aqueles que usam os códigos para corrompê-los. Também me interesso pelo cruzamento das linguagens documental e ficcional, de que modo estão balizadas e até que ponto estamos sempre a encenar ou a falsear uma situação para obter um resultado. Até que ponto não estaremos a partir da mesma essência?

M.L: Tem coordenado produções televisivas na atual Plural Entertainment Portugal desde 2008. O que é que tem aprendido ao exercer esse tipo de função nesta última década?
A.B.C: Acima de tudo, manter o equilíbrio entre as realidades artísticas e orçamentais, mas também, manter a calma quando aparecem imprevistos e relativizar as coisas menos boas. Neste meio, como em outros meios, aprende-se muito sobre a natureza humana, principalmente no que diz respeito à gestão dos egos.


M.L: Uma das primeiras telenovelas que realizou foi “A Senhora das Águas”, que a RTP exibiu entre 2001/02. Que recordações guarda desse projeto em particular?
A.B.C: Creio que foi mesmo a minha primeira novela. Antes só tinha feito séries. O que me vem à memória desde logo é o facto de ser uma equipa muito unida. E o elenco era muito especial. O ambiente era espetacular. Foram 6 meses a rir.



M.L: Realizou o documentário “Antes de a Vida Começar”, sobre a atriz Isabel de Castro, e que estreou após o seu falecimento em Novembro de 2005. 13 anos depois, houve alguma coisa que conseguiu extrair da sua interação com a própria naquela altura?
A.B.C: A Isabel foi uma atriz enorme que sempre quis passar despercebida. Fez vinte e tal filmes em Espanha e não se reconhecia nos cartazes da Gran Vía em Madrid. Bastantes vezes dizia “carreiras… só de autocarros”. É impossível esquecê-la. O documentário que fiz com ela, sobre ela, ensinou-me, sobretudo, aquilo que é uma pessoa a não se dar muita importância a si própria, mas, ao mesmo tempo, tentar alcançar uma relativa liberdade.



M.L: Nestes tempos difíceis, retratar histórias humanas é cada vez mais uma urgência no cinema?
A.B.C: Sim, talvez, mas mais importante que a história é a abordagem que se escolhe. No cinema ou qualquer arte o que faz sentido é usar as suas próprias ferramentas. No cinema, as ferramentas são a Câmara e a Montagem e o objetivo de um filme deve procurar uma reflexão sobre essas ferramentas e sobre o mundo onde vivemos. O cinema não serve para alienar nem para comer pipocas.

M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira no meio audiovisual?
A.B.C: Que tenha coragem para isso e no momento de desistir que siga em frente. Faça em vez de se queixar.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem desenvolvido até agora como realizador?
A.B.C: Não faço a mais pequena ideia. Isso é trabalho para quem analisa, escreve e critica.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
A.B.C: Ler e meditar todos os dias.ML

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