quarta-feira, 27 de março de 2019

Dia Mundial do Teatro: Marina Albuquerque


A actriz Marina Albuquerque é a autora do terceiro texto publicado no "Mário Lisboa entrevista...", a propósito do Dia Mundial do Teatro.

"Dia Mundial do Teatro

1% para a cultura! No fundo é o mais importante, os outros países da Europa têm anualmente atribuído à sua cultura, este valor ou maior, que vem do orçamento geral do estado! Portugal subiu de uns miseráveis 0,2% do orçamento do estado para a cultura para 0,25%! Chega, basta! É inacreditável as décadas de desprezo pela cultura que é a alma e o coração de um povo! O TEATRO sempre fez parte da vida dos portugueses, mas também ao longo dos tempos tem vindo a ser transformado num exercício para uma elite, cinco dias em cena no CCB, dois ou três dias na Culturgest, dez dias no Teatro Nacional, quinze no São Luiz, 7 no Rivoli são alguns exemplos. O público anónimo, não chega a perceber o que está em cena em Lisboa e no Porto! No resto do país é ainda mais difícil, a criação de companhias profissionais em todas capitais de distrito é ainda um sonho, pois os equipamentos estão lá, os centros culturais e antigos teatros foram construídos, recuperados e bem, numa época em que o orçamento para a cultura era maior que o actual, falta agora utiliza-los na sua plenitude! A minha geração deixou os programadores e agentes teatrais estrangularem a chamada “carreira” dos espectáculos, quem continua a fazer serviço público são as companhias mais antigas, com excepção do Teatro Meridional, por regra os criadores têm os seus espectáculos muito pouco tempo em cena, neste Dia Mundial do Teatro, era tão bom se fôssemos de facto mundiais, com a nossa língua que é a sexta mais falada no mundo! Viva a nossa classe, que respeito como a vida! Viva o Teatro! É hora!"

Mário Lisboa

Dia Mundial do Teatro: Suzana Borges


Continuando com a minha iniciativa de publicar textos individuais de pessoas com percursos artísticos diferentes, a propósito do Dia Mundial do Teatro, aqui deixo o segundo texto escrito pela actriz Suzana Borges que se estreou com a peça "O Despertar da Primavera"/"Tragédia Infantil", o clássico de Frank Wedekind, em 1979.

"Suzana Borges, 40 anos de carreira em 2019

Reflectir sobre 40 anos de carreira no espectáculo, é de algum modo assustador... Mas tenho por vezes, uma visão de mim própria, quando estou para entrar em cena, como de um plano picado, em que estou ali no teatro, com o palco e o público, e eu, numa alegria expectante, ali, à espera de entrar, e penso: ainda cá estou. Pois neste mundo do espectáculo, a sobrevivência é uma outra arte... Algumas coisas mudaram nestes 40 anos, mas devo ao meu grande mestre José Osório Mateus, com quem trabalhei na primeira peça “Tragédia Infantil” de Wedekind, o ter-nos preparado com tanta clarividência e sabedoria, e amor, para as nossas carreiras, e melhor ainda para o que pensar sobre elas e sobre nós nelas. Primeiro que tudo amor pelo trabalho, disciplina e método. O resto é a descoberta diária, e por vezes em saltos qualitativos, de como estamos nós naquele texto ou naquela situação. Não importa o tamanho do papel, mas sim o que o trabalho transforma em nós, e como nos transformamos na personagem. E estas regras de ouro centram-nos não no reconhecimento, ou na fama, mas numa criação, sempre in progress, de nós próprios e das condições de trabalho. Na posse delas, que nos conferem grande respeito por nós próprios, é mais fácil lutar contra a injustiça, a desqualificação e o demérito que a profissão tem sofrido. E depois, pensando retrospectivamente, há as memórias dos autores que fui fazendo: Borges, com o seu animismo panteísta, ou assim gosto de lhe chamar, Conrad, com as suas construções de ideias e palavras que nos levam para um sítio - como um remoinho - obscuro da nossa percepção e do mundo, Sacha Guitry, oh! que elegância inteligente e galante, Shakespeare, que só fiz enquanto recitante em ópera, em que as palavras e o dizê-las infundem uma alegria de passagem de testemunho de beleza, engenho, e arte. Noël Coward, mestria na rapidez, ritmo, e muita sofisticação na simplicidade, Wedekind, cujo mistério dos jovens adolescentes foi mais claro para mim em 79, do que agora quando o abordo. Claudel, em que linguagem nos eleva para uma transcendência espiritual e poética - comparável à natureza? Howard Brenton, poesia e horror na intimidade da linguagem, do pensamento e dos actos... Mishima, e o quanto a sua sonoridade e cultura japonesas, consegui habitar e viver na personagem, numa experiência de transformações múltiplas. E também a grande comunhão quando se representa autores vivos, como Luís Assis e Pedro Pinheiro, de poder perguntar-lhes: o que queres dizer com esta frase? O que sempre me interessou no teatro é a nossa capacidade de transmitir e deixar impressões no espectador de alguém que é uma personagem de ficção, que não somos nós. Essa transcendência e a grande aventura pressentida todas noites no escuro de antes de entrar em cena, do risco e da emoção, do novo. Do que nunca aconteceu, e que não sabemos como será.

Lisboa, 23 de Março de 2019

Mário Lisboa

Dia Mundial do Teatro: Carmen Santos


Hoje (27 de Março) é o Dia Mundial do Teatro. O Teatro é uma das minhas áreas artísticas de eleição e certamente a que melhor representa este ser versátil que é o actor. Ao longo destes últimos anos, eu tenho feito os possíveis e os impossíveis para, através do meu trabalho, dar voz aos que trabalham no meio artístico e a propósito deste dia em particular eu vou publicar textos individuais de pessoas com diferentes percursos artísticos. O primeiro texto foi escrito pela actriz Carmen Santos que celebra 45 anos de carreira profissional em 2019.

"A PROPÓSITO DO DIA MUNDIAL DO TEATRO

Em 1974 o TEATRO também mudou em Portugal.

Reivindica um estatuto de Serviço Público e expande-se por todo o território nacional. Integra-se nas campanhas de divulgação cultural em colaboração com as forças armadas. Fez-se teatro em salas, ao ar livre, em sociedades recreativas, em celeiros, em lugares urbanos ou fora deles. Há uma grande aproximação entre gente do teatro e o público. O espectador cresce ao lado dos agentes teatrais.

No final do século XX, porém, essa energia começa a esmorecer. Resistir, e não desistir, foi o que as circunstâncias exigiram. Companhias de teatro sossobraram, por contingências sociais, económicas, políticas... O teatro tem um cordão umbilical que nunca pode ser cortado – uma ligação indestrutível com a sociedade humana.

No século XXI a organização teatral é, efectivamente, diferente e diversa. Desapareceram as “companhias” teatrais, caracterizadas por um núcleo básico de cariz artístico, por um colectivo de actores. Agora existem núcleos de produção, de maior ou menor vitalidade, ou iniciativas circunstanciais de produção teatral, que cumprem projectos mais ou menos pontuais, com um contingente artístico arrebanhado de acordo com a necessidade.

As entidades teatrais de estado ou municipais seguem regras semelhantes - “acolhem” projectos externos que alimentam o seu currículo.

Muitos projectos acabam por ser estrangulados pelo agendamento mínimo que é oferecido. Em geral, há um desajuste grande entre o tempo de preparação (invisível para o público) e o exíguo tempo de exibição. O actor está a ser encurralado pela fraca visibilidade que lhe é concedida. E o espectador perde, eventualmente, a desejada e necessária capacidade de critério, na avaliação do visível.

Nota: Por favor, conservar o C nas palavras ACTOR e ESPECTADOR. De contrário, o actor não ata nem desata, e o espectador espeta sem critério."

Mário Lisboa

quinta-feira, 7 de março de 2019

"Hamlet(a)" no Teatro da Comuna até 10 de Março


Estreou no passado dia 7 de Fevereiro no Teatro da Comuna, a peça "Hamlet(a)" que é encenada por Hugo Franco e protagonizada por Maria Ana Filipe, Lia Carvalho, Diana Costa e Silva, Tânia Alves, Mónica Garnel (https://mlisboaentrevista.blogspot.com/2014/08/mario-lisboa-entrevista-monica-garnel.html), Margarida Cardeal e Custódia Gallego (https://mlisboaentrevista.blogspot.com/2016/06/mario-lisboa-entrevista-custodia-gallego.html).

Margarida Cardeal, Maria Ana Filipe, Tânia Alves, Mónica Garnel, Custódia Gallego, Lia Carvalho, Diana Costa e Silva
Com tradução de Sophia de Mello Breyner Andresen, "Hamlet(a)" é uma abordagem diferente da clássica peça de William Shakespeare, com um elenco inteiramente feminino, e pretende mostrar outro ponto de vista, outra forma de sentir e abordar o texto. As histórias de Shakespeare e os seus temas são universais, com personagens que podem ser interpretadas por qualquer pessoa, de qualquer género, e é esse o propósito de "Hamlet(a)".

Maria Ana Filipe ("Hamlet") e Custódia Gallego ("Ofélia")
Maria Ana Filipe ("Hamlet") e Margarida Cardeal ("Cláudio")

Maria Ana Filipe ("Hamlet"), Tânia Alves ("Alertes"), Margarida Cardeal ("Cláudio"), Diana Costa e Silva ("Polónio") e Lia Carvalho ("Gertrudes")

Mário Lisboa