segunda-feira, 4 de agosto de 2014

Mário Lisboa entrevista... Mónica Garnel

Neta da falecida atriz Mariana Rey Monteiro, desde muito cedo que se interessou pela representação, apesar de ter decidido enveredar por essa área, quando tinha 17 anos, e tem desenvolvido um percurso como atriz que passa, essencialmente, pelo teatro, e, atualmente, protagoniza o monólogo "A Acompanhante" de Cecília Ferreira e encenado pelo diretor artístico do Teatro Experimental do Porto, Gonçalo Amorim, na qual vai voltar a estar em cena no Teatro Aberto entre os dias 10 de Setembro e 12 de Outubro. Esta entrevista foi feita no passado dia 2 de Agosto.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
M.G: Não sei se existe um momento exato, cresci num meio familiar artístico onde o teatro esteve sempre naturalmente presente. Mas a minha decisão de seguir teatro profissionalmente, essa sim, lembro-me perfeitamente da tarde em que tomei essa decisão. Eu estava sentada no estirador a fazer um trabalho do meu curso de design de mobiliário e por momentos parei  e pensei: “Eu gosto muito de desenhar, mas não é isto que eu quero fazer a minha vida inteira, eu quero é ser atriz.”. Tinha 17 anos.
                               
M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
M.G: Todos os trabalhos que fiz e todas as pessoas com quem trabalhei, assim como todos os atores e espetáculos que vi, de alguma forma me influenciaram, levaram-me a fazer escolhas e a tomar opções do caminho que realmente enquanto atriz queria seguir. Mas sem dúvida que tenho três grandes influências. A minha avó Mariana Rey Monteiro, com quem tantas conversas e aulas particulares tive. O João Mota, pela sua intensidade e paixão enquanto pedagogo e diretor de atores. A Mónica Calle pela sua boa violência, inteligência e generosidade com que sempre me tirou da minha zona de conforto e me fez crescer.

M.L: Faz, essencialmente, teatro. Gostava de trabalhar mais no audiovisual (Cinema e Televisão)?
M.G: O que eu gosto é de ser atriz. 

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, até agora, durante o seu percurso como atriz?
M.G: O espetáculo “Um Dia Virá” a partir de “À Espera de Godot” de Samuel Beckett e com encenação de Mónica Calle. “As Três Irmãs” de (Anton) Tchekhov, também da Calle. E talvez “A Acompanhante” venha a fazer parte desta lista.

M.L: É neta da atriz Mariana Rey Monteiro que faleceu em 2010. Como vê o percurso que a sua avó desenvolveu até falecer?
M.G: Penso que teve uma vida incrivelmente fascinante e ultra dedicada ao trabalho de atriz e à vida no teatro. Sempre me falou da sua profissão com muita paixão e orgulho e com mil histórias para contar. E quando decidiu que já chegava, que não mais iria pisar um palco, fê-lo com muita tranquilidade e paz.

M.L: Atualmente, protagoniza o monólogo “A Acompanhante” de Cecília Ferreira e encenado pelo diretor artístico do Teatro Experimental do Porto, Gonçalo Amorim, na qual vai voltar a estar em cena no Teatro Aberto entre os dias 10 de Setembro e 12 de Outubro. Que balanço faz da sua participação neste monólogo até agora?
M.G: Ocorre-me uma palavra, Tremendo. E não estou a falar de tremer de frio ou medo, é mesmo de colossal, físico e emocional.

M.L: Como é que surgiu o convite para protagonizar “A Acompanhante”?
M.G: Já não é a primeira vez que o Gonçalo Amorim me convida para um dos seus projetos, este felizmente foi mais um grande desafio.

M.L: “A Acompanhante” retrata a solidão em redor de Luzia, uma enfermeira que acompanha os seus doentes na morte e inventa-lhes vidas que guarda para si. Tem sido esgotante para si interpretar esta personagem no que diz respeito à solidão?
M.G: De alguma maneira, sim, é. Não deixo de estar sozinha em cena durante 1h30m a falar de solidão, abandono e morte.

M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
M.G: Persistência.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito, até agora, como atriz?
M.G: O meu percurso até agora deixa-me muito feliz na medida em que a dor também tem sido inerente a todas as minhas escolhas. O meu percurso é a minha Vida, não consigo dissociar uma coisa da outra. 

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
M.G: O espetáculo “Mauser” a partir de Heiner Müller, que inaugurará o novo espaço da Casa Conveniente em Chelas na Zona J, com encenação da Mónica Calle.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
M.G: Dar saltos gigantes no ar. Ou voar.ML

Sem comentários:

Enviar um comentário