M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
M.G:
Não sei se existe um momento exato, cresci num meio
familiar artístico onde o teatro esteve sempre naturalmente presente. Mas a
minha decisão de seguir teatro profissionalmente, essa sim, lembro-me perfeitamente
da tarde em que tomei essa decisão. Eu estava sentada no estirador a fazer um
trabalho do meu curso de design de
mobiliário e por momentos parei e pensei: “Eu gosto muito de desenhar, mas
não é isto que eu quero fazer a minha vida inteira, eu quero é ser atriz.”. Tinha
17 anos.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
M.G: Todos os trabalhos que fiz e todas as pessoas com quem trabalhei, assim
como todos os atores e espetáculos que vi, de alguma forma me influenciaram,
levaram-me a fazer escolhas e a tomar opções do caminho que realmente enquanto
atriz queria seguir. Mas sem dúvida que tenho três grandes influências. A minha
avó Mariana Rey Monteiro, com quem tantas conversas e aulas particulares tive.
O João Mota, pela sua intensidade e paixão enquanto pedagogo e diretor de atores.
A Mónica Calle pela sua boa violência, inteligência e generosidade com que
sempre me tirou da minha zona de conforto e me fez crescer.
M.L: Faz, essencialmente, teatro. Gostava de trabalhar
mais no audiovisual (Cinema e Televisão)?
M.G: O que eu gosto é de ser atriz.
M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, até agora,
durante o seu percurso como atriz?
M.G: O espetáculo “Um Dia Virá” a
partir de “À Espera de Godot”
de Samuel Beckett e com encenação de Mónica Calle. “As Três Irmãs” de (Anton) Tchekhov, também da Calle. E talvez “A Acompanhante” venha a fazer parte
desta lista.
M.L: É neta da atriz Mariana Rey Monteiro que faleceu
em 2010. Como vê o percurso que a sua avó desenvolveu até falecer?
M.G: Penso que teve uma vida incrivelmente fascinante e ultra dedicada ao
trabalho de atriz e à vida no teatro. Sempre me falou da sua profissão com
muita paixão e orgulho e com mil histórias para contar. E quando decidiu que já
chegava, que não mais iria pisar um palco, fê-lo com muita tranquilidade e paz.
M.L: Atualmente, protagoniza o monólogo “A
Acompanhante” de Cecília Ferreira e encenado pelo diretor artístico do Teatro
Experimental do Porto, Gonçalo Amorim, na qual vai voltar a estar em cena no
Teatro Aberto entre os dias 10 de Setembro e 12 de Outubro. Que balanço faz da sua participação
neste monólogo até agora?
M.G: Ocorre-me uma palavra, Tremendo. E não estou a falar de tremer de frio ou
medo, é mesmo de colossal, físico e emocional.
M.L: Como é que surgiu o convite para protagonizar “A
Acompanhante”?
M.G: Já não é a primeira vez que o Gonçalo Amorim me convida para um dos seus
projetos, este felizmente foi mais um grande desafio.
M.L: “A Acompanhante” retrata a solidão em redor de Luzia,
uma enfermeira que acompanha os seus doentes na morte e inventa-lhes vidas
que guarda para si. Tem sido esgotante para si interpretar esta personagem no
que diz respeito à solidão?
M.G: De alguma maneira, sim, é. Não deixo de estar sozinha em cena durante 1h30m
a falar de solidão, abandono e morte.
M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na representação?
M.G: Persistência.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito, até
agora, como atriz?
M.G: O meu percurso até agora deixa-me muito feliz na medida em que a dor também
tem sido inerente a todas as minhas escolhas. O meu percurso é a minha Vida,
não consigo dissociar uma coisa da outra.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
M.G: O espetáculo “Mauser” a
partir de Heiner Müller, que inaugurará o novo espaço da Casa Conveniente em
Chelas na Zona J, com encenação da Mónica Calle.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda nesta altura da sua vida?
M.G: Dar
saltos gigantes no ar. Ou voar.ML
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