terça-feira, 24 de outubro de 2017

"Reflexo"


Termina hoje (24 de Outubro) no Auditório da recém-inaugurada Biblioteca de Marvila, a peça "Reflexo" que é encenada por Lucinda Loureiro (http://mlisboaentrevista.blogspot.pt/2013/01/mario-lisboa-entrevista-lucinda-loureiro.html) e protagonizada por Marlene Barreto e Hugo Sequeira.

Marlene Barreto & Hugo Sequeira
Escrita e co-produzida pela própria Marlene Barreto, cuja ideia surgiu durante uma viagem de avião entre Rio de Janeiro e Lisboa, "Reflexo" estreou-se no passado dia 20 de Outubro e é sobre dois estranhos que se encontram, diariamente, no mesmo lugar: o café-livraria "A Travessia".

Alice (Marlene Barreto) é uma jovem escritora, muito comprometida com os seus textos e com a sua rotina de escrita. Gabriel (Hugo Sequeira), um homem cheio de charme, um bon vivant que frequenta todos os dias aquele lugar, não consegue ficar indiferente à jovem que parece ignorar tudo e todos à sua volta, apenas tendo olhos para uma simples máquina de escrever, e confiante dos seus atributos, Gabriel acredita que, com algum glamour, chamará a atenção da jovem. Tarefa nada bem sucedida quando ela o expulsa, argumentando que este está a atrapalhar a sua atenção. O jovem não desiste da escritora e convence-a a ler um dos seus textos. Inicialmente, Alice resiste, desculpando-se com todos os argumentos, mas a tamanha insistência do jovem, fá-la render-se com a condicionante de que Gabriel se vire de costas sempre que ela ler um texto seu. Os dias vão passando e os dois passam a ter encontro reservado, todos os dias, à mesma hora, no mesmo lugar. A cumplicidade torna-se inevitável e a paixão vai cercando todos os limites. Um amor imenso que será ameaçado pela verdadeira identidade de Alice.

Marlene Barreto ("Alice") & Hugo Sequeira ("Gabriel")
Mário Lisboa

segunda-feira, 14 de agosto de 2017

Brevemente...

Entrevista com... Mark Sanger (Editor)

Mário Lisboa entrevista... Paulo Portugal

Interessou-se pelo jornalismo quando ainda estava a estudar Direito, embora já tinha começado a trabalhar, e tem desenvolvido um longo percurso nessa área que passa nomeadamente pelo cinema, tendo já entrevistado múltiplas personalidades do meio cinematográfico. Jornalista freelancer, é atualmente o responsável pelo site "Insider" que é essencialmente dedicado ao cinema, e gostava de escrever um livro e até um documentário. Esta entrevista foi feita no passado dia 8 de Agosto.

M.L: Quando surgiu o interesse pelo jornalismo?
P.P: Surgiu quando ainda estava a estudar Direito, mas já tinha começado a trabalhar. Por sinal, numa breve experiência na Atalanta Filmes, de Paulo Branco, em 1991. Nessa altura comecei a escrever no jornal da universidade e em jornais locais. Entretanto, ofereceram-me um trabalho fixo na revista TV Guia, onde acabei por ficar alguns anos. Apesar de não ver televisão, acabou por ser uma boa experiência. Paralelamente, sempre colaborei com outros jornais: Jornal de Letras, A Capital, Premiere, Máxima, GQ, etc.

José Vieira Mendes (Ex-Diretor da "Premiere") & Paulo Portugal
M.L: Quais são as suas referências nessa área?
P.P: De jornalismo de cinema? Cresci a ler a secção de cinema do Jornal Sete, entre os anos 80 e 90, bem como a seguir a crítica de cinema que se fazia no Expresso. Entretanto também o Público e o que se ir fazendo lá por fora.

M.L: Como jornalista, tem-se dedicado essencialmente ao meio audiovisual nomeadamente o Cinema. O Cinema, a seu ver, ainda tem aquela magia que, por exemplo, a televisão e os videojogos podem não ter o suficiente?
P.P: Terá, apesar do lado industrial, acabar por se distanciar bastante daquilo que eu considero cinema. Embora isso não seja necessariamente uma atividade intelectual reservada a entendidos. Refiro-me apenas a um cinema que nos espevite e seduza, mas não necessariamente pela qualidade dos efeitos especiais... Os videojogos sempre me seduziram, sobretudo pela qualidade narrativa de alguns e a sua capacidade de se aproximarem ao cinema. No entanto, confesso, regresso sempre à minha base que é o cinema.  

M.L: Ainda no que toca ao Cinema, houve alguma entrevista em particular que, para si, tenha sido tanto marcante como difícil de fazer?
P.P: Ir de Lisboa ao Porto de propósito para entrevistar o Manoel de Oliveira na sua casa, por ocasião dos seus 99 anos, foi um momento. Mas recordo sempre quando entrevistei pela primeira vez o George Clooney, em Deauville, em 1998, por “Romance Perigoso”, do (Steven) Soderbergh, em que nos sentamos numa mesinha a falar descontraidamente. Porque ele é mesmo assim. Já entrevistei muitos realizadores míticos e estrelas de cinema e cada um me marcou de certa forma. A última entrevista que fiz foi à Nastassja Kinski no Festival de Locarno. Acho até que foi uma das que mais me surpreendeu.

Nastassja Kinski & Paulo Portugal
M.L: Fundou e dirigiu a extinta revista de cinema e audiovisual, “Showbiz”, entre 2004/06. Que recordações guarda dessa experiência?
P.P: Foi uma experiência. Como foi a Voice, uma revista quinzenal de música e cinema e como foram as Primeiras Imagens, uma revista mensal concorrente da Premiere. A Showbiz pretendia ser uma publicação de muito baixo custo, praticamente gratuita que lancei graças ao apoio de um pequeno editor. Mas sem o apoio de distribuição tornou-se difícil chegar ao nosso mercado. Por isso, morreu cedo demais.

M.L: É também o responsável pelo “Insider” que é um site essencialmente dedicado ao cinema (http://www.insider.pt/). Como é que surgiu a ideia para criar o “Insider” e também como olha para o percurso que este projeto tem desenvolvido até agora?
P.P: O Insider faz parte daquela teimosia em criar um órgão de comunicação dedicado ao cinema. Sobretudo numa altura em que o jornalismo em papel sofre uma crise profunda com consequências para a minha atividade de jornalista freelancer nessa área. Como habitualmente tenho muito conteúdo, devido aos muitos festivais que frequento, e poucos meios para escoar esse material, entendi que seria oportuno aprender mais sobre o jornalismo online e fazer algo novo. No entanto, o que existe no Insider está ainda muito longe daquilo que realmente quero fazer nessa área. 

M.L: Em Portugal, programas dedicados ao cinema como “Janela Indiscreta” (RTP1) e “Cinemax Curtas” (RTP2) e tenho tido há já bastante tempo a impressão de que a nossa Comunicação Social dá mais destaque a filmes e acontecimentos cinematográficos que têm mais visibilidade. O Cinema devia ter uma representação mais abrangente na Comunicação Social em termos de formação de públicos?
P.P: A resposta é óbvia, não é? Acho mesmo que se deveria ir mais longe e integrar no ensino básico uma componente de formação do olhar para a coisa artística, não só do cinema, mas de todas as artes. No fundo, ensinar as crianças a olhar para a arte e sabê-la interpretar. Tenho a certeza de que, com o tempo, isso traria um público bem mais interessado. Alguma (a grande parte) comunicação social generalista segue apenas a lógica do mercado e destaca aquilo que é mais abrangente, embora no caso do Curtas exista um esforço louvável de dignificar a curta-metragem e até de dar a conhecer alguns nomes.

M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na área do jornalismo?
P.P: Talvez pensar duas vezes. Ou três. Isto porque o jornalismo atravessa um período de crise que tem a ver com a transição do papel para o online, mas também a forma como grande parte dos jornalistas são moldados. Acabam o seu curso e começam a carreira de estagiários, e é esse exército de estagiários que alimenta hoje em dia as redações acabando mais facilmente por espelhar uma lógica mainstream. Talvez o melhor conselho é mesmo procurar estar familiarizado com os mais diversos tipos de jornalismo, e as ferramentas disponíveis, embora sem nunca descurar o nosso lado mais subjetivo.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem desenvolvido até agora como jornalista?
P.P: Tem sido um percurso de luta constante. Sobretudo desde que sou freelancer, mas também onde tenho tido as minhas melhores experiências. No entanto, desde há alguns anos para cá, a crise no setor tem sido sempre em sinal contrário. É essa minha teimosia em querer fazer algo de novo que me aguenta. Isso e o envolvimento com o cinema. 

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
P.P: Possivelmente, gerir o meu órgão de comunicação de uma forma mais continuada, e com os meios que permitam renovar-se e crescer. Penso também em escrever um livro e até um documentário. Se calhar, com o tempo lá chegaremos.ML

domingo, 30 de julho de 2017

Mário Lisboa entrevista... Isabel Ruth

Começou como bailarina e notabilizou-se como actriz em 1963 ao estrear-se no cinema com o clássico de Paulo Rocha, "Os Verdes Anos", e desde aí tem desenvolvido uma longa carreira na representação que passa essencialmente pelo teatro e pelo cinema, tendo também trabalhado com realizadores como António de Macedo, Pier Paolo Pasolini, João Botelho, José Álvaro Morais, Teresa Villaverde, Manuel Mozos, Manoel de Oliveira, Pedro Costa, Raquel Freire, Fernando Lopes, Margarida Gil, Cláudia Varejão, Alberto Seixas Santos e Sérgio Tréfaut. Considerada como a actriz-musa do Cinema Novo português, tem a necessidade de renovar a sua vida constantemente, e recentemente participou na longa-metragem "Treblinka" de Sérgio Tréfaut e que estreou no passado dia 13 de Julho. Esta entrevista foi feita no passado dia 17 de Julho.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
I.R: Quando o meu jovem marido João D’Ávila descobriu que eu tinha vocação para actriz.

M.L: Quais são as suas referências, enquanto actriz?
I.R: Tudo o que me rodeia.

M.L: Começou como bailarina, antes de enveredar pela representação. Já alguma vez se sentiu arrependida por ter deixado a dança para abraçar uma carreira como actriz?
I.R: Nunca me arrependi.

M.L: Estreou-se nas telenovelas em 2000 com “Ajuste de Contas” que foi exibida na RTP, na qual interpretou a personagem Marta. Que recordações guarda da experiência de participar num projecto dessa natureza?
I.R: Fui das primeiras jovens actrizes a fazer teatro e bailado quando a televisão surgiu em Portugal. Depois de alguns anos a viver no estrangeiro e portanto afastada da cena portuguesa, quando regressei voltei em força a fazer cinema e teatro. A minha experiência em 2000 no “Ajuste de Contas” foi mais um desafio de que me posso orgulhar.

Mário Jacques, António Montez, Rui Mendes, João Perry, Lia Gama, Sinde Filipe e Isabel Ruth em "Ajuste de Contas"
M.L: É considerada como a actriz-musa do Cinema Novo português. Tem saudades dessa altura específica do cinema nacional?
I.R: Não tenho saudades do passado, não quero transformar-me numa estátua de pedra!

António de Macedo, Isabel Ruth e António da Cunha Telles com o produtor/Presidente da Academia Portuguesa de Cinema Paulo Trancoso
M.L: Trabalhou frequentemente com Paulo Rocha que foi um dos responsáveis pelo Cinema Novo português. Como olha para o percurso que ele desenvolveu até ao seu falecimento em Dezembro de 2012?
I.R: Olho através dos seus filmes…


M.L: É natural de Tomar, onde viveu parte da sua infância. Tomar tem um significado muito especial para si ainda hoje?
I.R: Sim, tem. É lá que guardo uma parte da minha infância.

M.L: Disse numa entrevista que teve e ainda tem uma vida aventurosa. Na sua opinião, acha que devia haver mais espírito de aventura na vida das pessoas?
I.R: Não me meto na vida das pessoas, cada um vive como pode. Aventura significa para mim algo novo. Preciso de renovar a minha vida constantemente, preciso de Conhecimento!

M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
I.R: Aconselho que seja honesto consigo próprio e se sente que a vida o encaminha para aí, que siga sem medo e com humildade.

M.L: Olhando para trás, sente-se de certa forma satisfeita com o percurso que tem desenvolvido até agora como actriz?
I.R: Acho sensato aceitar o que a vida me tem dado. Estou grata.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
I.R: Gostava de fazer um filme com um realizador que me enchesse as medidas…ML

Esta entrevista não está sob o novo Acordo Ortográfico

terça-feira, 16 de maio de 2017

Mário Lisboa entrevista... Maria João Luís

Estreou-se na representação em 1985, e desde então tornou-se numa das nossas atrizes mais brilhantes das últimas três décadas, cujo percurso igualmente brilhante passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão (onde entrou em produções como "Cinzas" (RTP), "Verão Quente" (RTP), "Polícias" (RTP), "Os Lobos" (RTP), "Ajuste de Contas" (RTP), "Ganância" (SIC), "Fúria de Viver" (SIC), "Queridas Feras" (TVI), "O Jogo" (SIC), "Mistura Fina" (TVI), "Dei-te Quase Tudo" (TVI), "Bocage" (RTP), "Quando os Lobos Uivam" (RTP), "Câmara Café" (RTP), "Doce Fugitiva" (TVI), "Casos da Vida" (TVI), "Feitiço de Amor" (TVI), "Destino Imortal" (TVI), "Sedução" (TVI), "Uma Família Açoreana" (RTP), "Sol de Inverno" (SIC), "Poderosas" (SIC). Encenadora e fundadora da companhia Teatro da Terra, gostava de viajar muito, recentemente co-protagonizou a peça "A Noite da Iguana", e atualmente participa na premiada telenovela "Amor Maior" que está em exibição na SIC. Esta entrevista foi feita no Hotel Quality Inn no Porto.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
M.J.L: Muito cedo. Eu sempre gostei de dizer coisas às pessoas, de dizer poesia alto, de coisas que eu gostava. Eu lia às pessoas as coisas que eu lia e que gostava muito e isso foi bom a perceber que talvez a minha vocação fosse ser atriz. Comecei a representar em grupos amadores e depois fui para o teatro profissional. Foi assim o meu percurso.

M.L: Quais são as suas referências, enquanto atriz?
M.J.L: Tinha várias na altura. Quando comecei, a minha grande referência era a Maria do Céu Guerra, e tive a possibilidade de trabalhar com ela quando entrei para o teatro profissional. Adorava a Maria do Céu Guerra, adorava o Luís Miguel Cintra, o Jorge Silva Melo. Eram estas as minhas referências.

M.L: De todos os trabalhos que tem feito até agora como atriz, qual foi o mais marcante para si nomeadamente a nível tanto pessoal como artístico?
M.J.L: Talvez o que mais me realizou até hoje foi “Stabat Mater”. Foi um monólogo que eu fiz e que eu adorei fazer pelo texto e pelo resultado final. Aquele texto colou-se a mim de uma maneira que era completamente meu, portanto “Stabat Mater” era muito bom de fazer.


M.L: Em 2010, participou na minissérie “Destino Imortal” que foi exibida na TVI, na qual interpretou a vampira Lídia. Como é que se preparou/inspirou para interpretar esta personagem, tendo em conta que o universo vampírico era até então pouco explorado em Portugal no que toca ao audiovisual?
M.J.L: Era muito teatral, nós fazíamos uma coisa muito teatral. Era como fazer teatro em televisão. Basicamente era isso, era imaginar uma personagem que não existe à partida e era divertido de fazer. É um mundo que é divertido de explorar, que é engraçado.

Catarina Wallenstein, Evelina Pereira e Maria João Luís na apresentação de "Destino Imortal"
M.L: Celebrou 30 anos de carreira em 2015, desde que se estreou como atriz em 1985. Que balanço faz destas últimas três décadas?
M.J.L: 30 anos são muito tempo. Faço um bom balanço, acho que foi divertido, é divertido e há de continuar a ser.


M.L: Como lida com o público que acompanha sua carreira há vários anos?
M.J.L: Lido normalmente como lido com qualquer outra pessoa. São seres humanos que estão à minha volta, têm as suas opiniões sobre o meu trabalho e o meu trabalho é uma coisa de exposição, está lá, é para as pessoas verem.

M.L: Além da representação, também tem experiência como encenadora. Tendo em conta essa experiência, gostava de um dia ter a coragem de experimentar outras maneiras de dirigir atores como, por exemplo, a direção de atores em televisão?
M.J.L: Não, isso eu não gostava. Não tenho grande vontade de fazer isso. É um trabalho muito maçador em televisão, porque são muitas horas e estás ali sempre a olhar para as mesmas pessoas e é tudo muito rápido. É um trabalho um bocadinho inglório às vezes. Não é uma coisa que me dê muita vontade de fazer.

M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
M.J.L: Não sei o que dizer. Acho que as pessoas devem procurar aprender tudo, saber fazer de tudo um pouco, e depois uma escola de teatro. É o único conselho que eu posso dar.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
M.J.L: Viajar muito. Tenho muita vontade de poder viajar, de poder ver o Mundo. Há muitos anos que não viajo.ML

Fotografia: Gustavo Bom/Global Imagens

segunda-feira, 8 de maio de 2017

terça-feira, 25 de abril de 2017

Mário Lisboa entrevista... Luísa Pinto

Natural de Matosinhos, interessou-se pelas artes ainda muito jovem, começando inicialmente pela dança, mas acabou por enveredar por outros caminhos, tornando-se numa das mais reputadas encenadoras do país, com algum projeção internacional no Brasil. Diretora do Teatro Municipal de Matosinhos Constantino Nery, durante 8 anos, é figurinista e também cenógrafa, embora não se considere como tal, e atualmente está a encenar o espetáculo "Como se chamavam os filhos de Medeia" que vai estar em cena no Teatro Carlos Alberto no Porto nos dias 3 e 4 de Junho e foi criado a partir de "Medeia" de Eurípides, que considera como a peça da sua vida. Esta entrevista foi feita no passado dia 14 de Janeiro no Porto.

M.L: Quando surgiu o interesse pelas artes em geral?
L.P: Muito miúda. Eu comecei inicialmente pela dança e depois da dança descobri também, exatamente quando estava na dança, o prazer dos figurinos, porque as cores e os materiais me fascinavam, e então fui fazer um curso de Moda. Terminei o meu curso de Moda e ganhei um estágio, que na época era atribuído pelo ICEP aos melhores alunos, e fui para Paris estagiar, onde me espacializei em figurinos. Mas as artes cénicas desde cedo começaram a falar mais alto, eu via muito teatro, lia muitas peças e logo que regressei de Paris, ainda muito jovem fui fazer o meu primeiro curso de teatro na Seiva Trupe e comecei a trabalhar.

M.L: Quais são as suas referências, enquanto encenadora/cenógrafa/figurinista?
L.P: Eu acumulo as três áreas nas minhas criações, nos últimos 10 anos levo à cena duas criações novas por ano. Fui diretora do Teatro Municipal de Matosinhos Constantino Nery, durante 8 anos, e aí quase sempre, com exceção de duas peças, eu assinava a cenografia e os figurinos. Os figurinos continuam a ser uma outra paixão e depois normalmente quando penso num novo espetáculo, tenho já muito definido na minha cabeça o que é que quero do ponto de vista do espaço cénico e dos figurinos. Na maior parte das vezes, não sinto a necessidade de recorrer a alguém. Eu não me considero cenógrafa, embora assine a cenografia das minhas peças, eu gosto de criar ambientes, digo que sou uma criadora de atmosferas, pois não sou formada em cenografia. Eu sou formada em figurinos, tenho Mestrado em Encenação, sou doutoranda em Estudos Teatrais e performativos.

M.L: Como encenadora e como figurinista, houve algum trabalho em particular em que sentiu que mexeu muito consigo em termos gerais?
L.P: O “Breviário Gota d’Água”. Acho que foi a peça que mais mexeu comigo talvez também por questões afetivas, porque a “Medeia” de Eurípedes continua a ser a peça da minha vida, e é uma problemática que tenho vindo a refletir e a trabalhar ao longo dos anos. É um tema transversal a todos os séculos, volta e meia lemos nos jornais histórias de Medeias, quantas mulheres continuam a matar os seus filhos por vingança ou por amor? Estas Medeias do século XXI não são diferentes da Medeia que foi escrita há 2500 anos, por Eurípedes.



M.L: Foi figurinista da longa-metragem “Alice” (2005) de Marco Martins e protagonizada por Nuno Lopes e Beatriz Batarda. Tendo em conta que era sobre um homem desesperado em procurar a sua filha desaparecida, identificou-se com aquele desespero, quando leu o guião escrito pelo próprio Martins?
L.P: Acho que é inevitável não nos colocarmos no lugar daquela mãe e daquele pai. A minha relação profissional com Marco Martins já tinha uns anos, porque eu trabalhei muito com ele em cinema de publicidade, e quando decidiu fazer este filme convidou-me para eu a assinar o guarda-roupa, o Marco Martins enviou-me o texto muito antes de começar a rodagem, foi muito perturbador, muito duro, porque foi inspirado numa história real que infelizmente todos conhecemos, a história do Rui Pedro. Foi um filme maravilhoso e que arrecadou vários prémios. Para mim foi um privilégio colaborar no filme.


M.L: Foi diretora do Teatro Municipal de Matosinhos Constantino Nery, durante 8 anos. Que recordações guarda dessa experiência em particular?
L.P: Muito boas recordações. Primeiro foi no teatro da terra onde eu nasci, tive o privilégio de o inaugurar a convite do saudoso Dr. Guilherme Pinto que era o Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos. Criámos públicos, com criação artística própria e uma programação regular e agressiva, colocámos o teatro Constantino Nery no panorama cultural nacional. São muitas recordações, amigos que se fizeram, que acontecem em processos de criação artística, dos artistas que acolhemos, e do público. Mas há uma altura em que há que partir para outros voos e eu queria muito abrir a minha companhia, era um sonho muito antigo, portanto era o tempo de eu concretizá-lo e estou muito feliz com isso.


M.L: É natural de Matosinhos e tem desenvolvido o seu percurso principalmente no Norte. A seu ver, o Norte está hoje em dia mais vivo e mais jovem a nível artístico?
L.P: Sim, está. O Porto sempre foi muito rico a nível artístico. Teve sempre muitos criadores, muitos amantes da cultura, desde os fazedores aos que assistem. O Porto é uma cidade de gente culta, de gente com vontade de aprender.

M.L: Sendo também professora, qual conselho que daria a um/a aspirante a uma carreira artística?
L.P: Eu acho que as pessoas têm que lutar por aquilo que querem fazer. É difícil, é muito duro. Na criação artística, temos que ter uma estrutura emocional forte, porque é uma vida incerta. Mas é um espaço em que as pessoas se tiverem vontade, se forem rigorosas, se estudarem muito, se lerem muito, se observarem muito e se acreditarem, conseguem.

M.L: Que balanço faz destas últimas duas décadas de trabalho artístico que tem desenvolvido até agora?
L.P: É um balanço positivo. Eu sou uma pessoa muito agradecida, porque faço o que gosto. Dou aulas de Teatro e faço teatro. Sou grata por isso.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
L.P: Acho que ainda me falta fazer tudo, porque há tanta coisa que eu gostaria de fazer.ML

domingo, 16 de abril de 2017

Brevemente...

Entrevista com... Luísa Pinto (Encenadora)

Mário Lisboa entrevista... Manuela Couto

Natural de Setúbal, começou a representar aos dez anos num grupo de teatro amador, e com o passar do tempo tornou-se numa das atrizes portuguesas mais aclamadas da atualidade e também numa das grandes damas da nossa representação, cujo percurso passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão (onde entrou em produções como "O Último Beijo" (TVI), "Amanhecer" (TVI), "Queridas Feras" (TVI), "Ninguém como Tu" (TVI), "Tempo de Viver" (TVI), "Ilha dos Amores" (TVI), "Casos da Vida" (TVI), "Equador" (TVI), "Olhos nos Olhos" (TVI), "Sentimentos" (TVI), "Anjo Meu" (TVI), "Doida por Ti" (TVI), "Belmonte" (TVI), "Jardins Proibidos" (TVI), "Santa Bárbara" (TVI), "Aqui Tão Longe" (RTP). Também tem experiência na direção de atores para televisão, recentemente co-protagonizou a peça "Os Dias Realistas", e atualmente participa na telenovela "Ouro Verde" que está em exibição na TVI. Esta entrevista foi feita no passado dia 25 de Março.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
M.C: Por volta dos dez anos, quando comecei a representar num grupo de teatro amador, com amigos da minha idade, com quem cantava no Coral Luísa Todi e no coro da igreja.

M.L: Quais são as suas referências, enquanto atriz?
M.C: Se está a falar de atrizes e atores, penso em Eunice Muñoz, Nicolau Breyner, Meryl Streep, Kevin Spacey, Julianne Moore.

M.L: Na televisão, desde 2002 que trabalha frequentemente com a TVI e a Plural. De todos os trabalhos que tem feito com estas duas empresas nos últimos 15 anos, há algum em particular que pode dizer-se que é o seu favorito?
M.C: Gostei particularmente da série “Equador”. Mais recentemente, gostei de interpretar a personagem Paula Montemor, na novela “Santa Bárbara”.

Manuela Couto como "Francisca", ao lado de Nicolau Breyner, em "Equador"

Manuela Couto e o seu núcleo de "Santa Bárbara" (Diana Costa e Silva, Catarina Wallenstein, Luís Esparteiro, Gabriela Barros)
M.L: Também tem experiência na direção de atores para televisão. Dirigir atores é de certa forma uma necessidade para si e gostava de um dia ir mais longe no que toca a experimentar a encenação ou a realização?
M.C: Não é propriamente uma necessidade, mas sim uma coisa que gosto de fazer. Gosto de ver os atores a fazerem aparecer uma personagem. Fico fascinada. Isto, para mim, não tem nada a ver nem com realização nem com encenação, duas coisas que não pretendo fazer.

M.L: Fez parte do “Jornalouco”/“Cara Chapada” que estreou nos primórdios da SIC e foi o antecessor do “Contra Informação” (RTP). Nestes tempos pertinentes, seria bom na sua opinião voltarem a apostar neste tipo de programa nem que seja para alegrar o público?
M.C: Acho que faz falta mais sátira, e humor inteligente, não necessariamente com bonecos.


M.L: É para mim uma das maiores atrizes da sua geração e também das últimas 3 décadas. Como lida quando alguém lhe dá este tipo de elogio por exemplo?
M.C: Fico contente!


M.L: É natural de Setúbal, onde começou a trabalhar como atriz, e foi recentemente condecorada com a Medalha Honorífica da Câmara Municipal da cidade. Como olha hoje em dia para Setúbal no que toca à sua relevância, enquanto cidade, e como é que se sentiu ao receber a medalha?
M.C: Setúbal tem crescido muito nos últimos anos. Está uma cidade mais bonita, mais cuidada, com os olhos postos no turismo, o que é uma atitude inteligente, porque a cidade tem todas as condições para ser um destino turístico de excelência. Fiquei muitíssimo feliz com o reconhecimento, como é óbvio!

Manuela Couto com a sua Medalha Honorífica da Câmara Municipal de Setúbal
M.L: Olhando para trás, sente agora que é tanto melhor atriz como melhor pessoa do que quando iniciou o seu percurso há muitos anos atrás?
M.C: Não diria melhor, diria mais experiente e mais consciente da minha profissão e do que quero da vida.

M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
M.C: É preciso ter talento e vocação!

M.L: Que balanço faz do percurso que tem desenvolvido até agora como atriz?
M.C: Tem sido muito bom!

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
M.C: Viajar!ML

sábado, 18 de fevereiro de 2017

Mário Lisboa entrevista... Daniel Rocha

Iniciou-se na representação ainda adolescente e nos últimos anos tem-se tornado num dos atores brasileiros mais promissores da sua geração, cujo percurso passa essencialmente pelo teatro e pela televisão (onde entrou em produções como "Avenida Brasil" (TV Globo), "Amor à Vida" (TV Globo), "Império" (TV Globo), "Totalmente Demais" (TV Globo). Também tem experiência no kickboxing, tendo lutado profissionalmente pela seleção brasileira e chegou a ser campeão paulista, brasileiro, sul-americano e pan-americano, adora desafios e gostava de fazer cinema. Atualmente participa na telenovela "A Lei do Amor" que está em exibição tanto na TV Globo como na SIC. Esta entrevista foi feita no passado dia 10 de Fevereiro.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
D.R: Comecei a fazer teatro na escola. Quando tinha 17 anos entrei para o CPT (Centro de Investigação Teatral), dirigido pelo Antunes Filho. Foi no CPT que decidi atuar profissionalmente. Os anos que passei lá foram a minha inspiração para seguir a carreira de ator.

M.L: Quais são as suas referências, enquanto ator?
D.R: Admiro alguns atores como Marlon Brando e James Dean. Quando possível uso referências de filmes e séries para compor as minhas personagens. Agora por exemplo, utilizei o filme “The Fighter-Último Round” (2010), com Christian Bale e a série “Mr. Robot” com Rami Malek, como inspiração para construir o Gustavo em “A Lei do Amor” (TV Globo).

M.L: De tudo o que tem feito até agora como ator, qual foi o trabalho em especial que diria que teve um impacto muito bom em si?
D.R: Todos os trabalhos que fiz foram importantes. A minha primeira novela foi “Avenida Brasil” (TV Globo), de lá para cá fiz personagens altamente complexas onde pude colocar toda a experiência que adquiri no teatro. Mas acredito que a minha personagem atual é a mais desafiadora. O Gustavo é a personagem mais distante da minha personalidade que já interpretei. Tem sido um desafio muito prazeroso para mim! Até porque ele tem muitos modos de sentir em cada cena! Dá para explorar os contrastes e mostrar para o público um ser humano de forma mais realista.

Cláudia Raia & Daniel Rocha, um dos pares românticos de "A Lei do Amor"
M.L: Também tem experiência no kickboxing, tendo lutado profissionalmente pela seleção brasileira e chegou a ser campeão paulista, brasileiro, sul-americano e pan-americano. Que recordações guarda desse tempo?
D.R: Guardo boas recordações e ainda pratico sempre que posso. Apesar dos machucados e lesões, praticar um desporto sempre traz benefícios. Além da saúde, aprendi muito a ouvir. No desporto temos um mestre e na dramaturgia também tem sempre alguém direcionando, seja o diretor ou o autor. O desporto me trouxe isso, aprender a ouvir e também me concentrar.

M.L: Como lida com o público que tem acompanhado a sua carreira nestes últimos anos?
D.R: Sou muito agradecido por ter sido sempre tratado com muito carinho e respeito e tento retribuir da mesma forma. É uma relação de cumplicidade. Tenho fãs que me acompanham desde o começo, que estão sempre perto, querendo ajudar, acompanhando e incentivando. E é incrível o amor que recebo.

M.L: Em 2015, a telenovela “Império” (TV Globo), na qual participou, foi premiada com o Emmy Internacional na categoria de Telenovela. Como é que se sentiu na altura ao saber da premiação, e como olha também para este tipo de ficção, pelo menos desde que começou a trabalhar como ator?
D.R: “Avenida Brasil” é um marco na história da TV brasileira e foi a minha primeira experiência na telinha! Estrear numa novela de tanto sucesso me deu uma motivação a mais! Sou reconhecido na rua em muitos países do mundo por causa do Roni! Todos ficamos extasiados com o Emmy, receber um prémio é sempre emocionante. Mas acredito que o que buscamos em todo trabalho é sempre elevar a qualidade e poder levar para o público o nosso melhor.


Daniel Rocha como Roni ao lado de Isis Valverde em "Avenida Brasil"

Adriana Birolli, Josie Pessôa, Rogério Gomes, Marina Ruy Barbosa, Paulo Betti, Maria Ribeiro, Leandra Leal, Joaquim Lopes e Caio Blat com o Emmy Internacional conquistado por "Império"
M.L: Numa altura imensamente complexa tanto para o Brasil como para o Mundo, este é a seu ver um momento muito desafiante para se ser ator/atriz?
D.R: Fazemos parte de um todo, a vida por si só já é um desafio! 

M.L: Que balanço faz do percurso que tem desenvolvido até agora como ator?
D.R: Comecei cedo, estudo muito e amo o meu trabalho. Como venho do teatro, recomendo que todo jovem que queira ser ator ou atriz que curse uma boa escola de teatro! Tenho orgulho de olhar retrospetivamente para a minha carreira e ter a sensação de paz e de dever cumprido! Isso é muito importante na vida de um artista. Estou na quinta novela e não paro de ser desafiado como ator! Explorando contrastes e mostrando para o público o ser humano de uma forma mais realista.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
D.R: Caramba! Tem muitas coisas que ainda quero e vou realizar! Uma carreira bacana no cinema é uma delas! Já estive bem perto disso mas a agenda da TV é muito exigente e ainda não permitiu! O teatro é um alimento para mim, e acho que no futuro estarei bem velhinho mas com toda a energia sobre o palco! A minha profissão é muito generosa nesse aspeto, há grandes papéis em todas as idades! Na TV seria bacana fazer um vilão terrível, tipo psicopata! Adoro desafios!ML

domingo, 12 de fevereiro de 2017

Brevemente...

Entrevista com... Daniel Rocha (Ator)

Mário Lisboa entrevista... Pedro Górgia

Estreou-se na representação no Grupo de Teatro de Carnide em 1991 e desde aí tornou-se num dos atores portugueses mais carismáticos das últimas duas décadas, cujo percurso passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão (onde entrou em produções como "Primeiro Amor" (RTP), "Polícias" (RTP), "Filhos do Vento" (RTP), "Ballet Rose-Vidas Proibidas" (RTP), "Jardins Proibidos" (TVI), "Super Pai" (TVI), "Nunca Digas Adeus" (TVI), "Lusitana Paixão" (RTP), "Queridas Feras" (TVI), "Mundo Meu" (TVI), "Morangos com Açúcar" (TVI), "Fascínios" (TVI), "Espírito Indomável" (TVI), "Louco Amor" (TVI), "I Love It" (TVI). Apresentou em 2014 o programa "Casting Nacional" (TVI Ficção) e nos últimos anos tem-se dedicado ao storytelling, onde tem atualmente dois projetos dedicados a essa arte (Selfietelling e "Conta-me Tudo"). Esta entrevista foi feita no passado dia 7 de Fevereiro.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
P.G: Eu tinha 17 anos e entrei num curso de teatro dado pelo João Ricardo e o José Boavida, no Teatro de Carnide. Fiquei fascinado. Não só pelo curso em si, mas também pelo grupo de pessoas que encontrei. Fiz amigos para o resto da vida.

M.L: Quais são as suas referências, enquanto ator?
P.G: Sem dúvida que as minhas maiores referências são no humor. Peter Sellers, Ben Stiller, Jerry Lewis e por aí fora.

M.L: Como ator, tem trabalhado frequentemente em comédia/humor. No que toca a este género específico, qual foi a personagem que interpretou que pode dizer-se que é a sua favorita?
P.G: O Miguel Ângelo de “Mundo Meu” (TVI) e o Gualdino Júnior de “Queridas Feras” (TVI) foram duas personagens onde pude trabalhar o humor que gosto de fazer. Marcaram-me.



M.L: Estreou-se na televisão com a telenovela “Primeiro Amor” que foi exibida na RTP em 1996, na qual interpretou o muito divertido Benjamim. Que recordações guarda do seu primeiro trabalho televisivo?
P.G: Não foi fácil. Eram outros tempos e eu era muito jovem. Fiz o melhor que pude e sabia. Mas guardo recordações muito carinhosas, principalmente do Nicolau Breyner e do Armando Cortez. Foram eles que me escolheram para desempenhar o Benjas e me deram muita força durante esses tempos.

M.L: Em “Primeiro Amor”, fez par romântico com Patrícia Tavares, com quem voltaria a formar par em 2013 na série juvenil “I Love It” (TVI). Como olha para o percurso que a Patrícia tem desenvolvido como atriz nestas últimas duas décadas?
P.G: Um percurso imaculado. Nada a apontar senão o grande talento que ela tem e a colega fantástica em que se tornou.

Patrícia Tavares & Pedro Górgia
M.L: Celebra 26 anos de carreira em 2017, desde que começou como ator no Grupo de Teatro de Carnide em 1991. Que balanço faz destes 26 anos?
P.G: O tempo passou a voar e cheio de grandes experiências. Foi um bom “balanço” para os próximos 26 anos.

M.L: Foi apresentador do programa “Casting Nacional” (TVI Ficção) em 2014. Esta é uma experiência por repetir num futuro próximo?
P.G: Sim, claro. Basta surgir o projeto certo. No “Casting Nacional” foi-me dada a possibilidade de também escrever conteúdos, o que tornou a experiência muito proveitosa.



M.L: Nos últimos anos, tem-se interessado pelo storytelling. O que o cativa mais no contar histórias e gostava de, um dia, passar esse interesse por outro nível no que toca à realização?
P.G: Sou um apaixonado pelas histórias e as histórias pessoais conseguem divertir-nos, ensinar-nos, mas também inspirar-nos. Estou envolvido em dois projetos. O Selfietelling, na Casa do Coreto, em Carnide, em que trabalho com pessoas que se querem iniciar nesta arte e num projeto chamado “Conta-me Tudo”, em que convidamos pessoas com mais "hábitos de palco” para partilharem histórias num evento mensal ao vivo. O “Conta-me Tudo” é um projeto bastante ambicioso, tendo já podcast e programa no Canal Q que terá, em breve, a sua segunda temporada.



M.L: Numa era atual profundamente incerta, a seu ver ser ator/atriz já não tem tanto o seu encanto do que quando começou há 26 anos atrás?
P.G: Claro que sim. É um caminho que se renova a cada dia.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
P.G: Ter um projeto pessoal a ser produzido para televisão. Mas estou a trabalhar para isso e é algo que ambiciono ver realizado a curto prazo.ML

quinta-feira, 9 de fevereiro de 2017

Brevemente...

Entrevista com... Pedro Górgia (Ator)

Mário Lisboa entrevista... Beatriz Barosa

Natural do Porto, já demonstrava o gosto de viver outras pessoas desde muito cedo, passando o tempo em pequena a brincar ao faz de conta, e tem desenvolvido um percurso artístico muito promissor que além da representação também passa pela Dança e pela Música. Com 20 anos de idade atualmente, gostava muito de fazer cinema, e recentemente participou na série "Massa Fresca" que foi exibida na TVI e na minissérie "Vidago Palace" que vai estrear na RTP ainda em 2017. Esta entrevista foi feita no Hotel Infante Sagres no Porto.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
B.B: Quando era muito pequenina, passava a vida a brincar ao faz de conta e levava isso muito a sério. Durante um dia, assumia que era uma personagem (podendo ser inventada ou não), tal como a Celeste ou a Ti Ju e ai de quem me chamasse de Beatriz! Não sei se foi aí que surgiu ou não o verdadeiro interesse, mas de facto já gostava muito de viver estas pessoas peculiares. É isso que eu faço hoje em dia. Eu vivo a vida de outras pessoas, dou a voz a personagens que não têm outra voz ou recupero a voz delas através da minha própria voz e isso é muito engraçado.

M.L: Quais são as suas referências, enquanto atriz?
B.B: A minha atriz de eleição é a Meryl Streep. Gosto mesmo muito do seu trabalho, acho que ela é camaleónica e absolutamente credível nas personagens que interpreta. Lembro-me de uma vez ouvir uma entrevista sua, na qual afirmava que o seu objetivo era respeitar ao máximo cada mulher que representava e isso ficou muito marcado em mim. Parece-me que faz todo o sentido e que se nota, de facto, no seu desempenho profissional.

M.L: Apesar de ter um percurso curto, de tudo o que tem feito até agora como atriz, há algum trabalho em particular que pode dizer-se que é o seu favorito até agora?
B.B: Não, eu não tenho um favorito. Guardei ingredientes muito importantes e muito especiais de cada trabalho que fiz. Posso destacar a “Massa Fresca” que foi realmente muito importante, por ter sido a minha primeira grande experiência, digamos assim, em televisão. Tinha feito publicidade e uma pequena participação noutra série também, mas nunca tinha atingido o tal ritmo alucinante de gravações em televisão e então foi um projeto relevante para mim.

M.L: Além da representação, também tem experiência, por exemplo, na Dança e na Música. A versatilidade, para si, é um complemento como pessoa e como atriz?
B.B: Sim é-me fundamental. Esses ramos também fazem parte de mim. Adoro dançar e dançava quando era mais miúda, mas fui deixando um bocadinho em prol da representação. O canto tem sido muito importante para mim, tenho feito alguns musicais e adoro cantar, acho que a música anda de braços dados com todas as formas de arte. É inspiradora.

M.L: Ultimamente tem experimentado mais a televisão com a série “Massa Fresca” (TVI) e a minissérie “Vidago Palace” que vai estrear na RTP em 2017. Estas experiências foram gratificantes para si no que toca, por exemplo, ao ritmo e a meios diferentes?
B.B: Sim. O ritmo de trabalho de “Vidago Palace” foi um bocadinho diferente da “Massa Fresca”, porque foi tudo feito de uma forma mais calma e respirada, embora tenha crescido muito e adorado as correrias da série/novela.

M.L: “Vidago Palace” foi realizada por Henrique Oliveira e contou, por exemplo, com as participações de Anabela Teixeira e Margarida Marinho. Como foi trabalhar tanto com aquele realizador como com aquele elenco?
B.B: Foi fantástico. O Henrique é uma pessoa muito disponível, é muito talentoso, sabe bem aquilo que quer e ao mesmo tempo é super humilde. Ele agradece as propostas dos atores. Deixa-nos criar à vontade e tem uma visão muito ampla de tudo. A Margarida e a Anabela são atrizes fantásticas, para mim foi um privilégio trabalhar com elas. A Margarida fez de minha mãe e a Anabela fez de mãe da minha melhor amiga e foi maravilhoso.

Anabela Teixeira, Margarida Marinho, Beatriz Barosa
M.L: No caso da “Massa Fresca”, já alguma vez tinha pensado que a série podia ter o impacto que teve no horário das 19h00, durante os seus meses de exibição?
B.B: Quando entrei na “Massa Fresca”, não sabia muito bem em que é que devia pensar. Gostaria de ser surpreendida pelo que fosse acontecendo, ignorando um bocadinho as expectativas. O impacto foi realmente surpreendente. Assim que comecei a ler o texto percebi que era fantástico. As personagens estavam todas muito bem escritas, cada uma tinha uma mensagem muito forte para transmitir. Inteirei-me de que aquele projeto poderia ter bastante sucesso. O elenco dava-se muito bem e isso também passa para o público de certa forma, nós éramos todos muito cúmplices.

Susana Sá, Beatriz Barosa, Beatriz Leonardo, Lavínia Moreira, Maria Eduarda Laranjeira
M.L: Como tem lidado com as pessoas que acabaram por a conhecer através da “Massa Fresca”?
B.B: É muito bom sentir que as pessoas vêm o meu trabalho e perceber que ele faz sentido, que estou realmente a comunicar, que aquilo que eu digo através das personagens chega a alguém, que as pessoas o ouvem, que o amor que eu aplico no trabalho é valido para alguém.

M.L: É natural do Porto. A seu ver, a cidade está no seu melhor a nível artístico, pelo menos desde que começou a trabalhar?
B.B: Não. Está a melhorar e pode melhorar muito mais, mas a meu ver não está no seu auge. Espero que haja uma maior aposta nas formas de arte e na Cultura. Sim, eu acredito que possa acontecer e perdurar esse auge da Cultura no Porto, mas ainda há uma distância muito grande entre a minha cidade e a capital. Fui para Lisboa trabalhar e geralmente nós temos que estar lá para que nos tragam cá ou a gravar ou a fazer alguma outra coisa. O Porto deveria deixar de ser uma moda e ganhar direitos. Quando dizem que não se faz nada, a nível artístico, nesta cidade, também não têm razão. Temos que estar realmente atentos e se formos ver as programações dos teatros há de facto uma grande variedade de coisas para se ver. Contudo, pode-se sempre fazer mais e muito mais de facto.

M.L: Que balanço faz do curto percurso que tem desenvolvido até agora como atriz?
B.B: Tem sido muito bom. Estou muito agradecida a todas as pessoas que acreditam em mim e ao público que me vê, pelas experiências que me têm proporcionado. Agora é seguir em frente!

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida, apesar de ser ainda muito jovem?
B.B: Eu gostava muito de fazer cinema. Participei uma vez numa curta-metragem, quando era ainda muito miúda, mas creio que não retive tudo aquilo que desejava dessa experiência… se bem que tento sempre aproveitar ao máximo cada momento. Gostava de fazer mais televisão, gostava de voltar ao teatro e gostava de cantar mais.ML 

domingo, 5 de fevereiro de 2017

Brevemente...

Entrevista com... Beatriz Barosa (Atriz)

Mário Lisboa entrevista... Sérgio Graciano

A paixão pelo audiovisual surgiu muito cedo na sua vida, e nos últimos dez anos tornou-se num dos realizadores mais prolíferos em Portugal, trabalhando essencialmente em Cinema e Televisão. Um dos fundadores da produtora SP Televisão, trabalhou em Angola em anos mais recentes, onde guarda boas recordações, e gostava de realizar um jogo do Sporting. Recentemente, realizou a longa-metragem "Perdidos" que vai estrear ainda em 2017, e também co-realizou a série "Filha da Lei" que está em exibição na RTP. Esta entrevista foi feita no passado dia 9 de Janeiro.

M.L: Quando surgiu o interesse pelo audiovisual?
S.G: Desde pequeno que ia muito ao cinema com o meu avô, ia ao Eden, ao Pathé, ao Condes, etc. Acho que foi aí que me comecei a apaixonar pela imagem. A partir daí e especialmente nos tempos de faculdade, ia ao cinema quase diariamente. Acho que foi nesses tempos que criei hábitos que nunca mais perdi, e mais, fiquei dependente desse mesmo (ir ao cinema). 

M.L: Quais são as suas referências nesta área?
S.G: As minhas referências estão mais relacionadas com o cinema, e as minhas escolhas estão sempre muito ligadas à dramaturgia, por isso mesmo, prefiro sempre os verdadeiros "contadores" de histórias (Paul Thomas Anderson, Woody Allen, Christopher Nolan e Martin Scorsese).

M.L: Como realizador, trabalha essencialmente em cinema e televisão. O teatro poderá ser para si uma área por explorar no futuro no que toca à encenação?
S.G: Estive para encenar um espetáculo em Março de 2017 com o Palco 13, mas com alguns projetos que tenho tido, têm coincidido com esse, tive de adiar. Para o ano embarco nessa aventura de certeza.

M.L: Foi co-realizador do remake da telenovela “Vila Faia” que foi exibida na RTP entre 2008/09 e foi a produção inaugural da produtora SP Televisão. Quase dez anos depois, valeu a pena fazer este remake da primeira telenovela portuguesa na sua perspetiva?
S.G: Valeu, até porque acho que foi das melhores novelas que fiz. A "Vila Faia" foi onde tudo começou, e nem que seja só por isso, foi uma justa homenagem que a RTP fez.


M.L: Trabalhou em anos mais recentes em Angola, onde realizou, por exemplo, a longa-metragem/série televisiva “Njinga, Rainha de Angola”. Que recordações guarda dessa experiência internacional?
S.G: Fazer este projeto foi incrível, tive a oportunidade de conhecer um País e um povo que não conhecia, fiquei apaixonado por aquela terra. Artisticamente estava sem qualquer limitação e isso, resulta como uma motivação gigante. Éramos uma equipa fantástica, e antes mesmo de sermos uma equipa, éramos verdadeiros amigos. Foram tempos onde criei como nunca, e isso, vê-se muito bem nas imagens. Foram tempos inesquecíveis.



M.L: Estreou-se na realização de longas-metragens em 2012 com “Assim Assim” que era baseada numa curta-metragem também realizada por si e foi distribuída pela extinta joint venture Columbia TriStar Warner Portugal. À semelhança do Brasil, as majors de Hollywood a seu ver deviam atualmente estar também em Portugal no que toca ao apoio à produção nacional?
S.G: A única questão é que essas majors só entram em indústrias formadas e têm só o objetivo de ganhar dinheiro. Portugal, ainda não é mercado nem tem tão pouco uma visão de indústria para com o cinema. Com o "Assim Assim" aconteceu que a Warner achou que o filme podia ser um filme de público e decidiram arriscar. O filme teve perto de 12.000 espectadores, que é muito abaixo do que costumam ser as apostas destas distribuidoras, por isso, apesar de achar que tenham de apoiar, percebo que não apoiem...


M.L: O que o cativa na língua portuguesa tanto como realizador e como pessoa?
S.G: Gosto de poesia, e acho que a língua portuguesa é poesia, tem uma melodia como mais nenhuma, e um vocabulário que não acaba. Quando leio qualquer coisa escrita em português, normalmente também a vejo. Deve ser por isso, deve ser porque o português ser uma língua completamente cinematográfica que gosto tanto dela. 

M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na área do audiovisual?
S.G: Para fazer! Não deixem mesmo de fazer. Não interessa se filmam com os telemóveis, o importante é que filmem, e acima de tudo, que errem, errem muito!

M.L: Que balanço faz do percurso que tem desenvolvido até agora como realizador?
S.G: Acho que tenho alcançado o que pensei para mim. Agora estou numa fase em que quero fazer muito cinema e séries de televisão. Já fiz alguns projetos dos quais me orgulho muito e outros que nem por isso, mas todos serviram para eu me desenvolver profissionalmente e assim, todos os projetos acabam por ser importantes, não só porque me formo como profissional e pessoa. 

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
S.G: Adorava realizar um jogo de futebol do Sporting.ML