sexta-feira, 30 de dezembro de 2011

Mário Lisboa entrevista... Sofia Reis

Olá. A próxima entrevista é com a atriz Sofia Reis. Desde muito cedo que se interessou pela representação tendo-se estreado como atriz com uma pequena participação na longa-metragem italiana "Sostiene Pereira" ("Afirma Pereira" (1996) de Roberto Faenza que foi filmada em Portugal e onde contracenou com Marcello Mastroianni da qual foi um trabalho que a marcou muito e a partir daí passou a acreditar que podia fazer cinema e desde aí desenvolveu um percurso que passa pelo teatro, pela televisão e pelo cinema tendo ganho em 2010 o Prémio Augusta na categoria de Melhor Atriz no Bragacine-Festival Internacional de Cinema Independente de Braga e recentemente protagonizou a curta-metragem "Vataça de Lascaris" de Miguel Vilhena que é também um documentário e uma banda-desenhada, onde interpretou a personagem com o mesmo nome. Esta entrevista foi feita por via email em Novembro passado.

M.L: Como é que surgiu o interesse pela representação?
S.R: Desde criança. Gostava de representar as histórias que me iam contando em pequena. Lembro-me de adorar fazer de Menina do Mar, a história de Sophia de Mello Breyner (Andresen). Lembro-me de pintar o chão do jardim da casa dos meus pais com giz de várias cores para parecer o fundo do mar. Para servir de cenário à história.

M.L: Fez teatro, cinema e televisão. Qual destes géneros que lhe dá mais gosto em fazer?
S.R: Gosto dos três. Exigem técnicas diferentes. No entanto, o teatro dá mais liberdade ao ator para mostrar o que vale. O ideal para mim é poder fazer um pouco de tudo. Embora seja uma apaixonada por cinema.

M.L: Qual foi o trabalho que a marcou, durante o seu percurso como atriz?
S.R: O filme "Afirma Pereira" (1996) de Roberto Faenza. Embora tenha tido uma participação muito pequena no filme tive a honra de poder estar na mesma cena que o ator Marcello Mastroianni. A dançar numa festa no tempo do salazarismo. A música desse filme é do Maestro Ennio Morricone de quem sou uma grande fã.

M.L: Recentemente protagonizou a curta-metragem “Vataça de Lascaris” de Miguel Vilhena, onde interpretou a personagem com o mesmo nome. Como correu este trabalho?
S.R: Correu muito bem e está agora em fase de montagem para estrear em 2012. Apaixonei-me desde o princípio pela história. Vataça de Lascaris foi uma mulher que existiu na realidade e que foi detentora da uma Vila e de um Castelo em Portugal (em Santiago do Cacém) e que teve um papel importantíssimo na diplomacia entre o nosso país e Espanha. O seu túmulo encontra-se atualmente na Sé de Coimbra.

M.L: Como é que surgiu este projeto?
S.R: Surgiu de um convite do realizador. O Miguel Vilhena andava na Internet à procura de uma atriz para desempenhar o papel da Vataça mais velha. Viu as minhas fotografias e que tinha formação como atriz e convidou-me.

M.L: Como é que fez a pesquisa para se preparar para o papel?
S.R: A minha base de pesquisa para a personagem foi em primeiro lugar o livro de Conceição Vilhena (tia do Miguel Vilhena) "Por Santiago do Cacém-Viajando na Divagação". Tem um capítulo em que fala só da Vataça e que também retrata a época em que ela viveu e os costumes e características de Santiago do Cacém na época medieval. Quem ela era. Como era vista pelos outros. Como as mulheres viviam e o que faziam naquela época. Depois, pesquisei tudo o que tinha a ver com a época medieval e sobre as personagens históricas como a Rainha Santa Isabel e D. Dinis com quem a Vataça se relacionava. Também estudei um pouco a dinastia Lascaris e bizantina da qual a Vataça tinha tanto orgulho em pertencer. Também tive um mini-workshop de espanhol para ter uma boa pronúncia. Ela falava espanhol. Nasceu em Espanha. E ainda tivemos aulas de dança medieval. Depois nas filmagens, foi "só" viver a vida da personagem e reagir no momento.

M.L: Como é que define a Vataça de Lascaris?
S.R: Vataça de Lascaris foi uma mulher muito poderosa na sociedade da época. No século XIV, tendo vindo para Portugal como aia da Rainha Santa Isabel e devido aos seus esforços diplomáticos entre os Reinos de Portugal, Aragão e Castela foram-lhe oferecidos muitos bens, terras e a Vila de Santiago do Cacém. Era uma mulher muito crente, supersticiosa, forte defensora dos direitos dos mais pobres e oprimidos e orgulhosa dos seus antepassados. Para além da forte amizade com D. Isabel deve ter levado uma vida solitária, mas também muito ocupada com as causas por ela defendidas.

M.L: Que expectativas tem em relação a este projeto?
S.R: Espero que o resultado final com a montagem terminada seja muito bom e que as pessoas gostem do filme. Que a curta-metragem e o documentário ajudem a divulgar a nossa história e que a Vataça não seja esquecida.

M.L: Qual foi o momento que a marcou, durante o seu percurso como atriz?
S.R: Não me queria repetir, mas marcou-me muito a minha participação em "Sostiene Pereira". Foi nessa altura que passei a acreditar que "podia fazer cinema".

M.L: Como vê atualmente o teatro e a ficção nacional?
S.R: Acho que já se está a produzir em mais quantidade e a qualidade vai aparecendo. O problema é que em Portugal (ao contrário dos restantes países da Europa) se continua a desvalorizar a cultura. Os apoios governamentais e privados continuam a ser insuficientes para as indústrias criativas. Aspetos que contribuem fortemente para o atraso global e estrutural do nosso país.

M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
S.R: Adorava! Um dos meus sonhos era participar numa longa-metragem internacional com um papel relevante!

M.L: Em 2010 ganhou o Prémio Augusta na categoria de Melhor Atriz no Bragacine-Festival Internacional de Cinema Independente de Braga. Como é que se sentiu ao ganhar o prémio?
S.R: Senti muito feliz e que todo o meu esforço e trabalho como atriz foi finalmente reconhecido.

M.L: Qual foi a personalidade da representação que a marcou, durante o seu percurso como atriz?
S.R: São várias as personalidades, por isso prefiro não nomear. Algumas das minhas atrizes favoritas são a Meryl Streep, a Julianne Moore e a Nicole Kidman.

M.L: Quais são os atores em Portugal com quem gostava de trabalhar no futuro?
S.R: Acho injusto nomear só alguns nomes podendo correr o risco de me esquecer de outros.

M.L: Está com quase 40 anos. Como é que se sente ao chegar a esta idade?
S.R: Sinto que agora mais do que nunca vou poder usufruir plenamente da minha vida.

M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
S.R: Que seja persistente, que procure sempre aprender e que não desista dos seus sonhos.

M.L: Que balanço faz da sua carreira?
S.R: Que tenho tido a sorte de participar em projetos muito interessantes nos quais não estava à espera de um dia vir a integrar. E que quem se esforça por perseguir os seus sonhos acaba sempre por conseguir de alguma maneira os concretizar.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
S.R: Como ainda não tenho datas concretas, não posso ainda divulgar. Mas posso dizer que são em cinema.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
S.R: Gostava de poder fazer mais peças de teatro clássicas e participar em mais longas-metragens. Adorava entrar num western e num filme de ficção científica! Ah e num filme musical! Sou fã de filmes musicais. Um dos meus filmes favoritos é o "Singin' in the Rain" (“Serenata à Chuva” (1952).

M.L: Se não fosse a Sofia Reis, qual era a atriz que gostava de ter sido?
S.R: Nenhuma outra.ML

quarta-feira, 28 de dezembro de 2011

Mário Lisboa entrevista... Susana Albuquerque

Olá. A próxima entrevista é com a secretária-geral da ASFAC-Associação de Instituições de Crédito Especializado Susana Albuquerque. Começou por ser advogada tendo sido bolseira do British Council em Londres, onde fez um programa de especialização em Direito Comercial Inglês e trabalhou na Clifford Chance, um dos maiores escritórios de advogados do Mundo até que em 1997 foi convidada para ser a secretária-geral da ASFAC-Associação de Instituições de Crédito Especializado, uma associação que representa o setor de financiamento especializado (cargo que mantém até hoje), mas também teve experiência como atriz, colabora com a Comunicação Social no que se trata de gestão de finanças pessoais, dá formação na área do desenvolvimento pessoal e da criação de felicidade, faz coaching para o sucesso pessoal e profissional e recentemente lançou o livro "Independência Financeira para Mulheres" que marca a sua estreia na escrita e cujo o objetivo é ajudar as mulheres a terem a sua própria independência financeira. Esta entrevista foi feita por via email no passado dia 19 de Dezembro.

M.L: Recentemente lançou o livro “Independência Financeira para Mulheres” que marca a sua estreia na escrita e cujo o objetivo é ajudar as mulheres a terem a sua própria independência financeira. Como é que surgiu a ideia de escrever este livro?
S.A: Surgiu do contato com milhares de portuguesas, espectadoras das minhas rubricas televisivas e participantes nos cursos de desenvolvimento pessoal e finanças pessoais, de ter constatado o que era comum a todas elas.

M.L: Como é que fez a pesquisa para o projeto?
S.A: Fiz a pesquisa ao longo de 4 anos lendo o que de melhor se faz sobre a mudança de comportamentos nas finanças pessoais fazendo formação com alguns dos melhores professores do mundo na área comportamental e percebendo como é que a aplicação na minha vida dos princípios que defendo, por exemplo para a construção de riqueza faziam ou não a diferença. E aqueles que constatei que aplicava e resultavam deram origem ao livro a partir da minha experiência pessoal. O livro é um guia que permite às pessoas evitarem uma série de erros muito comuns na gestão do seu dinheiro.

M.L: Como tem sido a reação do público a este livro?
S.A: Muito boa, excelente mesmo. Tenho recebido muitos testemunhos de mulheres que me agradecem e me dizem que o livro lhes permitiu passar a ter uma relação com o dinheiro muito mais consciente e equilibrada.

M.L: Que balanço faz deste trabalho?
S.A: O balanço é muito positivo e motivador para continuar a desenvolver o meu trabalho na área das finanças e desenvolvimento pessoal.

M.L: Atualmente é secretária-geral da ASFAC, uma associação que representa o setor de financiamento especializado, onde exerce o cargo desde 1997. Que balanço faz dos últimos 14 anos em que está no cargo?
S.A: O balanço é muito gratificante. A Associação tornou-se mais profissional e alargou o seu leque de serviços tendo desenvolvido nos últimos anos um trabalho único de responsabilidade social do setor através dos seus programas de educação financeira.

M.L: O que a levou a aceitar o convite para exercer o cargo na altura?
S.A: O fato de poder fazer uma série de coisas que adorava: gestão, comunicação, marketing, organização de formação/conferências e o desafio de ir fazer crescer a Associação, enquanto fórum de troca de ideias e de informação entre os associados.

M.L: Além de exercer o cargo também teve experiências como advogada e como atriz e colabora com a Comunicação Social no que se trata de gestão de finanças pessoais. Qual destas funções em que se sente melhor?
S.A: Gosto imenso de escrever, mas acima de tudo, o que mais gosto de fazer na vida é dar formação e fazer coaching ou seja dar instrumentos e ferramentas às pessoas com quem contacto para que possam desenvolver o seu potencial e viverem a versão maior de si mesmas.

M.L: Já alguma vez pensou em voltar à representação?
S.A: Sim, está nos meus planos de médio prazo, gostava imenso de voltar a fazer teatro. Sempre que posso faço formação nessa área para manter o contato e para crescer pessoalmente.

M.L: Houve algum momento que a tenha marcado, durante o seu percurso profissional?
S.A: O momento mais marcante foi o ano em que fui bolseira do British Council em Londres, onde fiz um programa de especialização em Direito Comercial Inglês e trabalhei no maior escritório de advogados do mundo. A experiência marcou-me pelo fato de o ambiente académico e profissional ser muito mais organizado e bem gerido permitindo desenvolver e mostrar o talento individual com mais facilidade. Marcou-me também o fato de sentir que esta sociedade é regida por uma lógica de meritocracia mais do que qualquer outra e o mais importante é o valor das nossas ideias e a nossa competência.

M.L: Como vê atualmente a Economia, o Direito e a Cultura em Portugal?
S.A: Vejo a Economia com uma visão que tem que ser necessariamente otimista e pró-ativa ou seja sinto uma enorme responsabilidade pessoal em contribuir ativamente para melhorar a situação económica do país e ajudar as pessoas individualmente a ultrapassarem o medo e a descobrirem a força necessária para fazer face aos desafios que vivemos. Olho para o Direito com um enorme ceticismo uma vez que a nossa Justiça precisa de ser reorganizada e de funcionar com celeridade e eficácia. E para a Cultura olho com esperança de que os profissionais da cultura tenham como sempre, a força, a criatividade e a capacidade de continuarem a fazer o seu trabalho cada vez mais relevante do ponto de vista social mesmo em tempos tão adversos.

M.L: Que expectativas tem em relação ao Secretário de Estado da Cultura, Francisco José Viegas?
S.A: As melhores, tem um passado exemplar na sua área.

M.L: Já trabalhou no estrangeiro. Gostava de ter ficado lá?
S.A: Não sei. Sinto que parte da minha missão de vida passa por partilhar em Portugal tudo aquilo que aprendi no estrangeiro. O que gostaria muito era de trabalhar cada vez mais no estrangeiro.

M.L: Qual foi o trabalho que a marcou, durante o seu percurso profissional?
S.A: Editar o meu primeiro livro: “Independência Financeira para Mulheres”.

M.L: Houve alguma pessoa que a tenha marcado, durante o seu percurso profissional?
S.A: Houve várias pessoas que me marcaram por razões diferentes: o meu patrono no estágio Luís Sáragga Leal pela sua inteligência superior, o Presidente da Direção da ASFAC António Menezes Rodrigues, um exemplo de autenticidade e humanidade na forma como trata os que o rodeiam e a minha Professora do Método Marcia Haufrecht por ser um exemplo de excelência, rigor, inteligência e intuição no seu trabalho.

M.L: Este ano vai fazer 42 anos. Como é que se sente ao chegar a esta idade?
S.A: Respondo-lhe na véspera do meu aniversário (a entrevistada celebrou o seu aniversário no dia a seguir a esta entrevista) e sinto-me muito tranquila, muito feliz por estar onde estou e acima de tudo ser quem sou. Sinto que a vida é uma permanente experiência de aprendizagem que nos propõe sempre que continuemos a crescer e a evoluir a todos os níveis. Confio cada vez mais na ordem superior no meio do aparente caos que nos rodeia.

M.L: Que balanço faz do seu percurso profissional?
S.A: Um balanço excelente. Sinto que o Céu é o limite, quando fazemos aquilo que gostamos e quando é claro para nós o nosso propósito de vida, a nossa missão única, o serviço que devemos prestar.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
S.A: Continuar a dar formação na área do desenvolvimento pessoal e da criação de felicidade e fazer coaching para o sucesso pessoal e profissional.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
S.A: Ter o meu próprio programa de desenvolvimento pessoal.

M.L: O que é que gostava que mudasse na sua vida?
S.A: Nada, acho que a minha vida é perfeita exatamente como é!ML

sábado, 24 de dezembro de 2011

Brevemente...

Entrevista com... Susana Albuquerque (Secretária-Geral da ASFAC-Associação de Instituições de Crédito Especializado)

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

Mário Lisboa entrevista... Isabel Canha

Olá. A próxima entrevista é com a jornalista e escritora Isabel Canha. Licenciou-se em Direito, mas interessou-se pelo jornalismo tendo por exemplo integrado a equipa fundadora da revista Exame em 1989 sendo atualmente a diretora da revista desde a sua refundação em 2003, mas também passou pelo jornal Semanário e pelas revistas Fortuna, Executive Digest, Executiva tendo sido também diretora da revista Cosmopolitan e recentemente lançou a biografia "Champalimaud-O Construtor de Impérios" sobre a vida do empresário António Champalimaud falecido em 2004 da qual escreveu juntamente com o jornalista e também diretor-adjunto da revista Exame Filipe S. Fernandes, depois de se ter estreado na escrita no ano passado com o livro "As Mulheres Normais Têm Qualquer Coisa de Excecional". Esta entrevista foi feita por via email em Julho passado.

M.L: Recentemente, lançou a biografia “Champalimaud-O Construtor de Impérios” que escreveu juntamente com Filipe S. Fernandes e que retrata a vida de António Champalimaud. Como é que surgiu a oportunidade para escrever a biografia?
I.C: Surgiu através de um convite da editora Esfera dos Livros para fazermos a biografia de um empresário português, desafio que aceitamos. O nome de António Champalimaud impôs-se naturalmente, pois falecera recentemente deixando em testamento uma importante fundação e o legado de uma obra industrial ímpar em Portugal. Além disso, era uma personalidade polémica com uma vida apaixonante e recheada de peripécias. Há episódios que só por si dariam um livro inteiro como o Caso Sommer, a luta pela edificação da Siderurgia ou exílio no México e no Brasil, daí as 600 páginas do livro.

M.L: Acompanhava o trabalho dele, antes de se lançar neste projeto?
I.C: Como qualquer jornalista desta área acompanhava os principais desenvolvimentos dos seus negócios, mas nunca me cruzei com ele. O co-autor Filipe Fernandes que elaborava a lista dos mais ricos de Portugal para a revista Fortuna chegou a ir à casa de António Champalimaud, porque o empresário queria assegurar-se de que tinha toda a informação: se era para aparecer no ranking, então deveria surgir com todos os seus ativos.

M.L: Como é que fez a pesquisa para o projeto?
I.C: António Champalimaud não perdia tempo no limelight como ele dizia, mas sempre procurou dar informação sobre a evolução dos seus projetos e dos seus negócios. Por isso, existem centenas de artigos e entrevistas sobre António Champalimaud quer em Portugal quer no Brasil, onde viveu durante cerca de duas décadas. Consultamos milhares desses registos. A nossa investigação incluiu a pesquisa em vários arquivos que têm informação sobre a atividade empresarial de António Champalimaud como os arquivos da PIDE, Oliveira Salazar, Marcello Caetano, da Siderurgia Nacional que estão na Torre do Tombo, da Assembleia da República, da biblioteca do Banco de Portugal, entre outros. Fizemos também várias entrevistas com pessoas que cruzaram nas empresas e nos negócios com António Champalimaud e com alguns elementos da família Champalimaud.

M.L: Como foi trabalhar com Filipe S. Fernandes?
I.C: Conhecemo-nos na Exame em 1989, quando éramos dois jornalistas da revista que então estava a ser lançada e trabalhamos juntos, durante alguns anos. Em 2003, convidei-o para diretor-adjunto da Exame, pois sabia que era uma pessoa talentosa que em conjunto levaríamos este projeto a bom termo. Somos diferentes, claro, cada um terá as suas valências diferentes, mas considero que trabalhamos bem em equipa.

M.L: Como tem sido a reação do público à biografia?
I.C: Felizmente muito boa desde Maria Filomena Mónica que apresentou a obra até aos leitores e aos críticos. As reações que recebemos de pessoas que conviveram com António Champalimaud levam-nos a reforçar a convicção de que o seu retrato foi por nós fielmente reproduzido sobretudo o retrato psicológico que é o mais difícil de reconstruir em relação a uma pessoa tão polémica que era amada ou odiada.

M.L: Como vê o percurso de vida que António Champalimaud fez até à sua morte?
I.C: Como o de um grande empreendedor, o maior industrial português do século XX. O seu toque de Midas ficou demonstrado, quando depois de ser espoliado pelas nacionalizações, através do Brasil reconstruiu o seu grupo e tornou-se o homem mais rico de Portugal. Era um homem de ação que construiu uma grande obra. Por exemplo, em entrevista ao Jornal do Brasil disse: “Há empresários e ‘empresários’. Eu entendo que a empresários como eu o que conta é conceber, projetar e realizar para o futuro. O passado não conta. O que se passou comigo: construí o maior império industrial e empresarial do país, roubaram-mo todo, não me vi mais pobre nem mais rico, nem mais feliz nem mais infeliz. Eu me considero na mesma. A vontade de viver é a mesma”. Era um lutador.

M.L: Que balanço faz deste trabalho?
I.C: Foi um enorme esforço de duas pessoas, durante seis anos, mas que consideramos que valeu a pena quer pelo resultado, quer por ser um livro em que se perpetua a vida e obra de uma pessoa especial.

M.L: “Champalimaud-O Construtor de Impérios” é o segundo livro que escreve, depois de se ter estreado na escrita no ano passado com o livro “As Mulheres Normais Têm Qualquer Coisa de Excecional”. Como é que surgiu o interesse pela escrita?
I.C: O livro de pequenas biografias de cinco mulheres surgiu de um convite da Bertrand para editar com eles a que respondi apresentando o projeto de “As Mulheres Normais Têm Qualquer Coisa de Excecional”. A escrita é um apelo irrecusável para uma pessoa que se tornou jornalista, porque gostava de escrever. Só o prazer da escrita explica as noitadas, os fins-de-semana e os dias de férias a fio dedicados a estes projetos.

M.L: Desde 2003 que é a diretora da revista Exame da qual fez parte da equipa fundadora da revista em 1989. Que balanço faz destes 8 anos em que dirige a revista?
I.C: Considero que a minha tarefa primordial é fazer todos os meses, a melhor revista de negócios em Portugal. A Exame é a revista líder e de referência no segmento de economia e negócios. O que é notável é que mantém esta posição desde a sua fundação há mais de 22 anos. Este é o resultado do trabalho de todas as pessoas que lideraram a revista e que aqui trabalharam, durante este período. O balanço destes oito anos, enquanto diretora da Exame é muito gratificante: a revista foi refundada em 2003 regressando à periodicidade mensal com grande sucesso e resultados instantâneos e duradouros. Ainda recentemente, a Exame foi considerada a revista mensal (de todas as áreas) com maior índice de reputação entre os portugueses situando-se em 12.º lugar do ranking geral. Esta é uma das conclusões do estudo “Marktest Reputation Índex” da Marktest em que a EXAME surge como a publicação económica com o melhor índice de reputação (69,56) ficando à frente dos jornais diários de economia.

M.L: Como vê atualmente a Exame?
I.C: Como uma revista que ambiciona continuar a liderar o mercado e a constituir a referência para o nosso público-alvo (empresários e gestores de topo, profissionais libérias e empreendedores). Isso leva-nos diariamente a procurar a inovação e a criatividade, a não sermos complacentes com o sucesso, a desafiarmo-nos a fazer sempre melhor, a tentar surpreender os leitores pela positiva.

M.L: Como é que surgiu o interesse pela Comunicação Social?
I.C: Estava no terceiro ano de Direito, quando o jornal Semanário procurava estagiários para a secção de Economia dirigida por Álvaro de Mendonça. Comecei a colaborar e sacrifiquei grande parte das férias de Verão para trabalhar no jornal. Ao fim de cerca de oito meses tive a sorte de outra grande oportunidade surgir: Álvaro de Mendonça fora convidado para diretor de uma revista de economia e negócios que iria ser lançada e estava a constituir a sua equipa. Convidou-me a integrar esse núcleo que fundou a revista Exame. Foi um novo mundo que se abriu. Todos os dias conversava com pessoas diferentes, aprendia coisas novas e escrevia. Eu pensava verdadeiramente que era a pessoa mais sortuda do mundo, porque estava a fazer aquilo de que tanto gostava… e ainda me pagavam.

M.L: Dedicou praticamente a sua vida profissional à imprensa. Gostava de ter trabalhado em outros meios de comunicação como a televisão?
I.C: A televisão e a rádio são mundos vibrantes e muito apelativos. Gostaria de experimentar fazer um programa de televisão. Embora reconheça que o meu mundo em que me sinto mais confortável é o da imprensa escrita que permite maior reflexão e maior cuidado do que do imediatismo da televisão.

M.L: Qual foi o momento que a marcou, durante o seu percurso como jornalista?
I.C: Um desses momentos marcantes consta no livro “As Mulheres Normais Têm Qualquer Coisa de Excecional”. A longa entrevista com a piloto Elisabete Jacinto pelas suas aventuras apaixonantes e pelas lições de vida que o seu percurso encerra. Essa conversa proporcionou-se no âmbito da revista Executiva, um projeto que criei de raiz e que considero um marco na minha carreira, pois era uma revista inovadora e que muitas pessoas ainda recordam.

M.L: Também foi diretora da revista Cosmopolitan. Que recordações leva dessa experiência?
I.C: As melhores que possível. O ambiente e os desafios de trabalhar numa revista feminina são incríveis. Houve uma enorme descoberta de outros mundos que estão mais arredados do âmbito de uma revista dita masculina como é a Exame: falo de temas como a moda, a beleza, o comportamento. E trabalhar com os americanos da Hearst foi também muito enriquecedor em termos profissionais.

M.L: Como vê atualmente a Comunicação Social?
I.C: A comunicação social vive um momento de enormes desafios com muitas dificuldades e simultaneamente muitas oportunidades. São momentos como estes que moldam os contornos que assumirá no futuro e por isso são períodos interessantes. 

M.L: Gostava de ter feito uma carreira internacional?
I.C: Não viraria as costas liminarmente se a oportunidade surgisse. Mas não lamento não ter tomado essa opção ativamente.

M.L: Este ano celebra 23 anos de carreira desde que começou como colaboradora da secção de Economia do jornal Semanário em 1988. Que balanço faz destes 23 anos?
I.C: Considero que é cedo para fazer balanços. Olhando para trás, diria que gostei do que fiz. E espero no futuro ao olhar para trás continuar a gostar do que fiz.

M.L: Qual foi a personalidade da Comunicação Social que a marcou, durante o seu percurso como jornalista?
I.C: Há várias. Álvaro de Mendonça, o primeiro diretor da Exame pelas oportunidades que me proporcionou e por ser um líder nato. Os brasileiros da Abril, Jaime Figuerola e Alberto Dines que formaram uma geração de jornalistas de revistas em que tive o privilégio de estar incluída. Fernanda Dias, Publisher da Impresa por saber imenso de revistas e pela ousadia de ter apostado numa jornalista de economia para dirigir uma revista feminina. Kim St. Claire Bodden da Hearst por me ter ensinado que o posicionamento de uma revista é um passaporte para o êxito. Carlos Cáceres Monteiro por ser uma referência no jornalismo e ao mesmo tempo tão humilde. E por apostar numa diretora de uma revista feminina para relançar a Exame. Francisco Pinto Balsemão pelo seu pioneirismo ao fundar o Expresso, a Exame ou a SIC, por exemplo e por ser uma referência no grupo Impresa e no jornalismo. Todos os amigos e excelentes profissionais que conheci graças a esta profissão: Maria, Filipe, Ana, Cíntia, Alexandra, Teresa, Rita.

M.L: Como vê atualmente Portugal e o Mundo?
I.C: Com os olhos de uma otimista esclarecida, outros dias de uma pessimista que apenas se considera realista.

M.L: Está com quase 50 anos. Como é que se sente ao chegar a esta idade?
I.C: Tenho 45 anos, não me sinto com 50 anos… Admito que me diga que o primeiro sinal de envelhecimento possa ser pensar que estes cinco anos fazem toda a diferença. Mas na verdade não vejo o que os 50, quando chegarem venham alterar.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
I.C: Continuar a fazer da Exame, a melhor revista de negócios. Continuar a evoluir e a fazer coisas novas. O que se proporcionar e o que vier a decidir que quero fazer.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
I.C: Há muitos livros para ler, muitos filmes para ver, muitas músicas para ouvir, muitos locais para conhecer. Falta-me fazer voluntariado e sentir que verdadeiramente estou a ajudar alguém que precise.

M.L: Se não fosse a Isabel Canha, qual era a jornalista ou escritora que gostava de ter sido?
I.C: Gosto de ser a Isabel Canha.ML

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Brevemente...

  Entrevista com... Isabel Canha (Jornalista/Escritora)

Mário Lisboa entrevista... Fernanda Brito

Olá. A próxima entrevista é com a produtora de moda e jornalista Fernanda Brito. Começou por ser figurante e posteriormente atriz e modelo tendo concorrido ao passatempo "Seja Finalmente Uma Manequim" do programa "86-60-86" (RTP), o que a levou à agência Central Models, mas a pressão de viver uma vida mais mediática levaram-na a deixar a carreira como atriz e como modelo para se dedicar a uma carreira nos bastidores do mundo do espetáculo sendo atualmente produtora de moda e jornalista, mas também escritora. Esta entrevista foi feita por via email em Novembro passado.

M.L: Como é que surgiu o interesse pela moda e pelo jornalismo?
F.B: Bem Mário, com os meus cerca de 17 anos concorri a um passatempo que se chamava “Seja Finalmente Uma Manequim” do programa “86-60-86” (RTP). Nessa altura, fiquei escolhida para as 10 finalistas de entre mais de 2500 candidatas. Dessas, cerca de 5 tiveram direito a “prémio” sendo que tecnicamente só a vencedora seria de fato premiada, mas na altura 5 raparigas foram escolhidas para ficar agenciadas: 4 para a Elite e eu para a Central Models. Tudo começou nessa altura pela mão da Mi e do Tó Romano que em mim decidiram apostar. Na altura eu já trabalhara em televisão como figurante e posteriormente como atriz, mas a moda era algo que me fascinava e então (como era de fato muito magra) aproveitei para tentar a minha sorte (que não foi muita, porque a concorrência era de fato feroz), ainda assim ainda cheguei a fazer bastantes trabalhos inclusive com manequins que eu na altura me limitava a admirar. Foi uma experiência giríssima. Guardo boas memórias! Mas… tanto a nível da representação, como da moda todo aquele universo levava demasiado de mim e como eu sou uma pessoa tímida (ainda que muito comunicativa) optei por abandonar todo o percurso que havia começado para me dedicar a uma outra grande paixão que tinha: a da escrita, pois todos aqueles holofotes da “fama” apontados para mim tinham-me feito perceber que o que eu gostava mesmo era de trabalhar nos bastidores do mundo artístico e não como protagonista e então em 1998 fiquei 2 anos enfiada em casa a escrever poesias e a repensar o que queria para a minha vida. Lembro-me de pensar: “Um dia, estas poesias vão ser transformadas em canções e vou ter Portugal a cantar o que sinto”. E assim foi: quando terminei uma obra a que chamei “Porto Fado” fiz chegar esse trabalho à Universal (antiga Polygram) e eles decidiram agendar uma reunião comigo no sentido de fazer de mim uma autora de letras. Depois as coisas foram acontecendo e eu fui escrevendo cada vez mais e para mais gente e para mais coisas: telenovelas, séries, publicidades, etc. O que escrevia passou a assumir-se como a minha atividade principal e desde então prometi a mim mesma que jamais deixaria de escrever. Entretanto, fui agente de artistas e o trabalho de produção de moda surgiu na sequência dessa atividade. Sempre que as minhas agenciadas eram chamadas para uma produção para uma revista, eu fazia questão de ser eu a produzir, pois não gostava do que lhes vestiam ou da forma como escolhiam os cenários e os penteados, etc. Achava sempre que nada daquilo tinha a ver com o perfil da pessoa que tinham frente-a-frente. E então, comecei eu a fazer todo esse trabalho e a adorar cada vez mais fazê-lo. Na verdade, o bichinho da moda tinha ficado comigo e então, tudo o que aprendi a nível de formação e toda a experiência que tive ficou-me retida na memória e começava nesse momento a despoletar. O resultado foi que as próprias revistas começaram a contactar-me e eu dizia sempre que não era produtora, que era agente, mas a certa altura aceitei o desafio lançado pela revista Corpo de Mulher na pessoa da sua diretora de então, a jornalista Sara Cunha Ferreira que de fato me fez mudar de ideias. Desde então (creio que já terão passado uns 5 anos) que sou de fato produtora de moda. Já o jornalismo surge na sequência da minha vontade de entrevistar as mulheres que produzia neste caso para a Corpo de Mulher. Na altura, a diretora deu-me essa oportunidade e desde aí também nunca mais parei de escrever artigos jornalísticos paralelamente às letras que sempre vou escrevendo.

M.L: Qual foi o trabalho que a marcou tanto como produtora de moda e como jornalista?
F.B: Bem, na verdade todos os trabalhos que faço marcam-me sempre de uma forma ou de outra, porque todo o processo de criação artística que envolvem (no caso da produção de moda e também de investigação no caso do jornalismo) levam bem mais de mim do que unicamente propriedade intelectual, pois levam também sentimento. Fico ligada a todos os trabalhos que executo ainda que no campo jornalístico não o possa manifestar e no campo da moda isso não transpareça para o grande público. Mas já tive alguns trabalhos e pessoas que me marcaram muito sim como é o caso do fotógrafo Daniel Pedrogam que começou o seu percurso profissional comigo. A história é muito curiosa e tem sido sobejamente falada na imprensa nacional. Esta é sem dúvida alguma a história mais marcante! O Daniel era até à poucos anos, o coveiro mais jovem de Lisboa. Nos tempos livres, lá ia fotografando os modelos possíveis que eram os gatos que habitavam os cemitérios, as campas, os jazigos e as velhotas e góticos que por lá passavam também. Certo dia, uma amiga minha que tem por hábito fazer de modelo para sessões de portfolio dos fotógrafos postou no Facebook, uma dessas sessões desta feita fotografada pelo Daniel. A ideia era gira e tal, mas na verdade eu focalizei-me mais no que vi e que de fato me impressionou: A capacidade artística que ele manifestava nas fotos que tirava nos cemitérios. A sensação que tive foi impressionante. Nunca tinha visto ninguém conseguir dar de tal forma alma a cenários tão mórbidos e tristes… Decido contacta-lo e desafia-lo para me fotografar, pois tinha em mente convida-lo para fazer comigo o seu primeiro trabalho profissional: um catálogo internacional de noivas para o Grupo Noiva que estaria disponível em cerca de 9 países do mundo! A sessão comigo correu às mil maravilhas e foi tempo depois de o levar para o terreno para ele treinar fotografar vestidos de noiva que em termos de luz são bastante difíceis de iluminar. Ao primeiro disparo, fundiram-se as lâmpadas, pois ele havia levado um gerador usado nas obras e que tinha demasiada força para as luzes. Foi uma estreia em grande estilo (risos). Depois disso, passei 3 meses a lutar pela confiança do Daniel no trabalho que ia fazer. Ele estava apavorado com a ideia e o meu cliente também já que eu insistia em alguém que nem portfolio tinha. Mas valeu a pena. O trabalho ficou fantástico e a imprensa publicou imensas das nossas fotos. Foi um trabalho sofrido, mas muito recompensador! E assim, o coveiro virava fotógrafo de moda pela mão da produtora de moda Fernanda Brito.

M.L: Além da moda e do jornalismo também teve experiências como atriz, apresentadora e escritora. Que recordações leva dessas experiências profissionais?
F.B: As melhores possíveis! Como atriz fiz várias participações (televisivas, não tive oportunidade de experimentar teatro e nem cinema) de onde destaco a minha participação na série “Médico de Família” (SIC), no “Ballet Rose” (RTP), no “Diário de Maria” (RTP), nos “Senhores Doutores” (SIC) e também na “TV Luzinha”, uma série infantil em que eu era atriz, mas também apresentadora. Nesse campo, essa foi a minha única experiência, mas que como tinha como target, as crianças e eu adoro crianças foi algo que me preencheu a 100%. Ainda assim e como disse anteriormente, eu gosto hoje muito mais do trabalho de bastidores. As pessoas não têm a noção do que é o universo infinito da produção, é um trabalho fascinante! Quanto à escrita, esta não está de todo morta muito pelo contrário, as revistas com quem colaboro mensalmente não deixam que isso aconteça. Os teus seguidores do blogue podem ler textos meus em todas as revistas Corpo de Mulher e também na revista Saúde Atual com as quais colaboro efetivamente e depois faço também vários outros trabalhos pontuais com várias outras publicações. Sugiro que visitem a minha página de site em www.fernandabrito.com ou a minha página no Facebook, onde podem de fato seguir todos os meus passos.

M.L: Como vê atualmente a Moda e a Comunicação Social em Portugal?
F.B: Vejo com muito bons olhos! Vejo com os olhos de quem ama apaixonadamente tudo aquilo que faz, por isso vejo tudo com um olhar muito viciado pelo orgulho de ter ao meu lado pessoas e profissionais cada vez mais fabulosos e de ter a oportunidade de trabalhar cada vez mais e melhor.

M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
F.B: Bem Mário, se eu disser que não vais achar muito esquisito, mas é a mais pura realidade. Sou muito terra-a-terra. Tenho a plena noção de que este é um meio altamente competitivo e se já é difícil alguém começar uma carreira seja de fotógrafo, maquilhador ou cabeleireiro no universo da moda em Portugal, quanto mais no estrangeiro…

M.L: Qual foi a personalidade que a marcou tanto como produtora de moda e como jornalista?
F.B: Como produtora, é muito difícil destacar alguém que me tenha marcado na medida em que são centenas as pessoas que já produzi e todas elas foram especiais à sua maneira, mas talvez a Fátima Preto. A Fátima é um vulcão a fotografar (a ser fotografada, entenda-se). É uma força da natureza e desde sempre foi a minha modelo preferida. Mesmo nos momentos mais difíceis, ela dava sempre tudo pelas fotos que fazia. Costumo chamar-lhe “A minha diva!”. Mas não quero deixar de referenciar que amei trabalhar com todas as centenas de figuras públicas e não públicas que já produzi até hoje. Cada uma foi especial à sua maneira. Em termos jornalísticos, foram já várias as pessoas que entrevistei e todas elas com histórias de vida fabulosas, mas talvez o Astro-filosofo José Prudêncio (www.joseprudencio.com), um filosofo dos astros que desenvolve um trabalho impressionante na área da astrologia aliando-a à filosofia. Um intelectual absolutamente apaixonante!

M.L: Recentemente fez 34 anos. Como é que se sente ao chegar a esta idade?
F.B: Sinto-me muito bem. A partir dos 30 notei uma grande diferença ao nível físico e emocional. As rugas e a celulite começaram a aparecer, mas consegui manter-me em boa forma física, porque a clínica de estética Body in Balance Centre em Cascais (que frequento desde os 25 anos) não deita os créditos em mãos alheias. Como qualquer mulher, preocupo-me com a minha imagem e como tal tento não descurar os cuidados de beleza e estéticos e se costuma dizer que em casa de ferreiro espeto de pau no meu caso quem me quer ver feliz pode convidar-me para ir às compras que eu adoro! Para mim por exemplo, uma tarde bem passada pode ser passada a escolher peças da nova coleção da Ana Sousa que tem sempre peças impressionantes e das quais eu sou uma fã confessa!

M.L: Que balanço faz da sua carreira?
F.B: Muito positivo! Agradeço a Deus e à minha família (sempre presente, mesmo nas minhas ausências) tudo aquilo que consegui até hoje e também ao meu namorado que é de fato uma peça-chave na minha vida. Como eu escrevi na letra das Non Stop que tanto sucesso teve em Portugal: “Ao Limite Eu Vou!”.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
F.B: Como freelancer que sou, vivo o meu futuro no dia-a-dia. Nunca sei bem o que vou fazer a seguir ao último projeto que dou como concluído. Nós profissionais liberais lutamos hoje para ter dinheiro na melhor das hipóteses no final do mês que vem, pois como sabe não temos ordenado fixo ao fim do mês. Se queremos subsídios temos de trabalhar mais. Sem horários e sem limites de esforço, assim é a nossa realidade e o nosso caminho.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
F.B: Bem… Isso agora é que é mais difícil de responder, mas pronto cá vai: Gostava de ser convidada para ter um espaço dedicado à moda num qualquer canal de televisão. Gostava de montar um verdadeiro Esquadrão da Moda em Versão Portuguesa que ajudasse os portugueses a ter uma melhor imagem e logo uma maior auto-estima, pois somos um povo que se lamenta muito, mas que pouco faz para mudar.

M.L: O que é que gostava que mudasse na sua vida?
F.B: A minha mortalidade e a de todas as pessoas que me rodeiam. A resposta pode parecer egocêntrica, mas se fala de uma mudança na minha vida era de fato o que eu mudava se pudesse. Mas é claro que se essa mudança se pudesse verificar com todas as pessoas do mundo, esse seria o meu sonho e o sonho comanda a vida.ML

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Mário Lisboa entrevista... Ruy de Carvalho

Olá. A próxima entrevista é com o ator Ruy de Carvalho, um dos mais respeitados e aclamados atores portugueses. Estreou-se como ator profissional em 1947 com a peça "Rapazes de Hoje" no Teatro Nacional D. Maria II e desde então tem desenvolvido um longo e respeitado percurso com 64 anos de existência que passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão (onde entrou em produções como a versão original da telenovela "Vila Faia" (RTP), "Gente Fina é Outra Coisa" (RTP), "Todo o Tempo do Mundo" (TVI), "Crianças SOS" (TVI), "Olhos de Água" (TVI), "Tempo de Viver" (TVI), "Olhos nos Olhos" (TVI), "Equador" (TVI) e "Sentimentos" (TVI) e depois de ter feito uma participação especial na telenovela "Sedução" (TVI) e de ter integrado o elenco da longa-metragem "A Morte de Carlos Gardel" de Solveig Nordlund que foi baseada num livro de António Lobo Antunes e que estreou recentemente vai participar brevemente na nova telenovela da autoria de Tozé Martinho que vai estrear na TVI no próximo ano. Esta entrevista foi feita no passado dia 17 de Janeiro em Santa Maria da Feira na altura em que o entrevistado passou pelo concelho a propósito da abertura do II Mosaico Social, um evento inserido no programa de animação da Festa das Fogaceiras que costuma ocorrer no concelho, durante o mês de Janeiro.

M.L: Como é que está a correr a sua passagem pela Santa Maria da Feira?
R.D.C: Otimamente. Estou a gostar imenso de cá estar e muito honrado em terem-me convidado.

M.L: Qual é a sua opinião sobre o concelho?
R.D.C: Gosto muito deste concelho. Vou muito a estas terras daqui. Sou frequentador de Arouca, de S. João da Madeira, de Oliveira de Azeméis, de Santa Maria da Feira. Conheço esta zona muito bem, toda.

M.L: A iniciativa da Câmara Municipal de Santa Maria da Feira intitulada “Raízes do Afeto” celebra 10 anos. Qual é a sua opinião sobre esta iniciativa?
R.D.C: Acho que foi uma ótima iniciativa que cria uma maior elasticidade às pessoas de mais idade para se dinamizarem.

M.L: Recentemente fez uma participação especial na telenovela “Sedução” (TVI), onde interpretou um ex-jogador do Belenenses. Como correu este trabalho?
R.D.C: Não foi uma participação especial, porque eu pertenço à casa (TVI) e agora vou fazer outra participação. O trabalho foi bom, foi curto, porque eles não me quiseram “castigar” muito fiz poucos episódios.

M.L: “Sedução” é da autoria de Rui Vilhena com quem já trabalhou anteriormente. O que o cativa na escrita dele?
R.D.C: Escreve com muita fluência e sabe organizar as palavras de modo que parece que estamos a falar e não a ler.

M.L: Quando é que se interessou pela representação?
R.D.C: Desde pequenino, eu tive irmãos atores também que desde pequeno que eu os vejo a representar e conheço outros atores amigos também dos meus irmãos.

M.L: Fez teatro, cinema, televisão e rádio. Qual destes géneros que lhe dá mais prazer em fazer?
R.D.C: Teatro.

M.L: Desde a telenovela “Tudo o Tempo o Mundo” (TVI) que é uma presença regular nas telenovelas. Este é um género televisivo que gosta muito de fazer?
R.D.C: Eu comecei antes a fazer a “Vila Faia” (RTP). Eu fiz várias telenovelas antes de “Todo o Tempo do Mundo”, mas depois estive uns 13 anos sem fazer quase nada. Eu não queria sair do teatro, eu gostava de fazer teatro. Mas eu gosto de representar tanto faz ser no teatro, como televisão, como cinema, como rádio. Gosto de representar, é claro que gosto mais do teatro. O teatro tem o público, tem o calor das pessoas e claro sente-se mais.

M.L: Um dos seus trabalhos mais marcantes em televisão foi a versão original da telenovela “Vila Faia” (RTP), onde interpretou o empresário Gonçalo Marques Vila. Que recordações leva desse trabalho?
R.D.C: Tenho sobretudo a recordação de ter começado a haver telenovelas em Portugal. Há muita gente que não gosta, mas é bom para os atores terem trabalho.

M.L: Como vê atualmente o teatro e a ficção nacional?
R.D.C: Acho que há muita juventude a ir ao teatro que é uma coisa que me dá uma grande alegria. Mas é preciso mais ainda.

M.L: Este ano vai fazer 64 anos de carreira. Que balanço faz destes 64 anos?
R.D.C: Faço o melhor possível o meu trabalho com honestidade e sinceridade e com o respeito para quem o represento.

M.L: Gostava de ter feito uma carreira internacional?
R.D.C: Gostava, mas não gostava de sair do meu país. Gostava de ir lá fora representar e voltar para o meu país. Não ser ator-emigrante.

M.L: Qual foi a figura da representação que o marcou, durante o seu percurso como ator?
R.D.C: Tenho várias… o Vasco Santana, o João Villaret, o Ribeirinho, a Irene Isidro, a Sr.ª Amélia Rey Colaço, a Palmira Bastos, o António Silva. São muita gente importante do nosso espetáculo.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
R.D.C: Isso é a televisão que sabe… estou à espera que me digam. Vou fazer uma telenovela com certeza.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta fase da sua vida?
R.D.C: Gostava de ser rico para poder ajudar o teatro a avançar mais.

M.L: Se não fosse o Ruy de Carvalho, qual era o ator que gostava de ter sido?
R.D.C: Gostava de ter sido eu. São outros casos melhores que o meu.ML

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

domingo, 4 de setembro de 2011

Mário Lisboa entrevista... Isabel Medina

Olá. A próxima entrevista é com a atriz Isabel Medina. Desde muito cedo que se interessou pela representação tendo desenvolvido um longo e respeitado percurso como atriz (onde passou pelo teatro, pelo cinema e pela televisão da qual entrou em produções como "Na Paz dos Anjos" (RTP), "Esquadra de Polícia" (RTP), "Lusitana Paixão" (RTP), "Morangos com Açúcar" (TVI), "A Outra" (TVI) e "Meu Amor" (TVI), escritora, encenadora e diretora de atores (função que teve recentemente na telenovela "Sedução" (TVI) e atualmente está a trabalhar como encenadora na peça infantil "O Guardião dos Sonhos" de Pedro Cavaleiro que vai estrear no próximo dia 1 de Outubro no Clube Estefânia em Lisboa. Esta entrevista foi feita por via email em Maio passado.

M.L: Recentemente, foi diretora de atores da telenovela “Sedução” (TVI). Como correu este trabalho?
I.M: Com extremo empenhamento e extremo prazer. Uma novela cujo texto apresentava muitos desafios para os atores, personagens complexas, cenas difíceis e diálogos muito bons. Os condimentos ideais para trabalhar com os atores a 100 por cento e foi isso que fizemos. Dirigir é também conhecer cada ator, as suas potencialidades e as suas fragilidades. E foi através desse conhecimento do outro que cada vez mais arriscamos para conseguir o melhor resultado.

M.L: O que a levou a aceitar o convite para fazer a direção de atores da telenovela?
I.M: O fato de ser um trabalho que me realiza bastante e de que gosto muito com uma equipa ótima e um elenco de eleição.

M.L: “Sedução” é da autoria de Rui Vilhena. O que a cativa na escrita dele?
I.M: A imprevisibilidade do que acontece, a não linearidade da história, os temas controversos, os diálogos brilhantes.

M.L: Como foi trabalhar com o elenco?
I.M: Como já disse, foi um prazer. Eles aprendem comigo e eu com eles. Delicioso ver um elenco empenhado em dar o tudo por tudo.

M.L: Faz direção de atores em televisão com regularidade há poucos anos. Este é um tipo de trabalho que lhe dá prazer em fazer?
I.M: Muito. Comecei em 2001 com uma novela da RTP e desde então tenho aceite alguns convites. Não o faria se não gostasse verdadeiramente.

M.L: Qual foi o trabalho em direção de atores em televisão que a marcou até agora?
I.M: A “Ilha dos Amores” (TVI). Talvez pelos Açores, talvez pelo elenco com gente ainda inexperiente, mas com muita garra que agora são atores de primeira linha. Tive imenso gosto em ajudar a formar atores como a Joana Santos, a Diana Nicolau, o Pedro Teixeira, a Mafalda Pinto, a Rita Tristão (da Silva).

M.L: Antes de “Sedução”, integrou o elenco da telenovela “Meu Amor” (TVI). Que balanço faz da sua participação neste projeto?
I.M: Foi um desafio interessante fazer a taxista cheia de energia e ao mesmo tempo amargurada e com mau feitio. Permitiu-me registos que ainda não tinha experimentado e de que gostei muito.

M.L: “Meu Amor” ganhou o Emmy Internacional na categoria de Telenovela no passado Novembro. Como vê este triunfo?
I.M: Mostra que a ficção em Portugal está a par da ficção em todo o mundo e que pode competir com os melhores. Somos (a nível da produção e da técnica e do ponto de vista artístico) tão bons ou melhores como países em que a telenovela já leva anos de avanço em relação a nós.

M.L: Como vê o futuro da ficção nacional, depois da conquista do Emmy?
I.M: Continuar sempre a fazer melhor. Temos tudo para isso. Concorrer aos festivais, porque já mostramos que somos bons. Mais duas séries portuguesas já arrebataram outros troféus lá fora.

M.L: Como é que surgiu o interesse pela representação e pela escrita?
I.M: Dizem que se nasce com uma vocação. Eu julgo que em parte é verdade. Desde muito criança (3/4 anos) que escrevo e faço teatro. Apesar de ter querido apaziguar a família que é muito conservadora licenciando-me em duas áreas distintas (Germânicas e Psicologia Aplicada) sempre tive como objetivo tornar-me atriz e escrever. Assim, embora já tardiamente (tinha 28 anos) acabei por terminar a Escola Superior de Teatro e Cinema e lançar a minha carreira.

M.L: Durante o seu percurso também passou pelo ensino. Por exemplo, fundou em 1976 juntamente com Guilherme Filipe e outras pessoas, o English Teaching Group que foi um projeto-piloto do Ministério da Educação para o ensino de inglês através do jogo dramático e fundou em 1980 juntamente com Guilherme Filipe, Rogério de Carvalho e outros professores, o Grupo de Comunicação e Teatro no âmbito da formação de professores em ensino multidisciplinar. Que balanço faz da sua passagem pelo ensino?
I.M: A minha passagem pelo ensino (que durou 15 anos) teve a ver com as licenciaturas e o mestrado que tirei para agradar à família. Mas como o meu alvo era o Teatro frequentei um curso específico da BBC em Londres para apresentar ao Ministério da Educação, um projeto de formação de professores com base nas técnicas dramáticas e teatrais. Projeto aprovado, desafiei vários professores com os mesmos objetivos e formamos os referidos Grupos. Esse projeto multidisciplinar obteve um grande sucesso nas Escolas de todo o país e acima de tudo demonstrou (em turmas-piloto) ser um motor de sucesso escolar. Pena que o Ministério não tenha continuado com outros elementos, o trabalho que deixámos para nos dedicarmos a tempo inteiro à profissão de atores ou encenadores.

M.L: Atualmente é diretora da companhia Escola de Mulheres que fundou juntamente com Fernanda Lapa. O que a levou a fundar a companhia?
I.M: Havia na altura em que formamos a Escola de Mulheres-Oficina de Teatro, uma forte lacuna na direção das companhias de Teatro: quase todas elas eram dirigidas por homens que programavam de acordo com o seu gosto ou seja sempre de um ponto de vista masculino. Nós queríamos divulgar uma série de autoras importantíssimas cuja “voz” nunca tinha sido ouvida em Portugal. E queríamos abrir portas a equipas técnicas formadas por mulheres. Assim nasceu a nossa companhia. Neste momento, temos uma equipa técnica de mulheres e já apresentamos um repertório muito completo das maiores autoras contemporâneas.

M.L: Durante o seu percurso como atriz fez teatro e televisão, mas pouco cinema. Gostava de ter trabalhado mais nesse género?
I.M: Entrei em alguns filmes, mas realmente sem muita expressão. As oportunidades não surgiram, mas estou sempre a tempo. Porque gosto realmente de fazer cinema.

M.L: Teatro, cinema e televisão. Qual destes géneros que lhe dá mais gosto em fazer?
I.M: Não tenho um preferido. São meios diferentes, técnicas diferentes, mas que dão imenso gozo. Adoro as câmaras, mas também adoro o público, senti-lo, mexer com ele. Nunca serei capaz de escolher apenas um.

M.L: Desde “Na Paz dos Anjos” (RTP) que é uma presença regular nas telenovelas. Este é um género televisivo que gosta muito de fazer?
I.M: Muito. Gosto da adrenalina, do tudo por tudo, da entrega total. Porque em novela, não há tempo de ensaios como no Teatro, não há tempo em “plateau” para grandes concentrações. É atirar-se com tudo o que temos com as nossas emoções, sem pensar, sem nos defendermos, sem preconceitos. E o resultado, quando tudo isto é verdade, é muito bom.

M.L: Como lida com a carga horária, quando grava uma telenovela?
I.M: Chego ao final esgotada. Chegamos todos. Mas quem corre por gosto, não cansa! Enquanto corremos por gosto, esquecemos o desgaste. Quando tudo acaba é que ele se abate sobre nós!

M.L: Qual foi a personalidade da representação que a marcou tanto como atriz, encenadora e escritora?
I.M: Tenho muitas referências em todos esses campos. Tenho atores cujas cenas em determinados filmes vejo e revejo, porque são autênticas lições da arte de representar. Vejo muito teatro por esse mundo fora e em Portugal tento ver tudo. Como escritora, leio e torno a ler muitos autores que me marcaram e continuam a marcar e estou sempre a procurar novos bons autores. Não há uma ou duas personalidades que me tenham marcado, mas muitas.

M.L: Como vê atualmente o teatro e a ficção nacional?
I.M: Vejo com entusiasmo. Cada vez são mais, os bons profissionais nessas áreas. O público acorre às salas de Teatro e as audiências da ficção nacional são boas. Espero que a crise não chegue à Cultura. A ideia peregrina de voltar atrás, deixando de haver Ministério da Cultura e passando a existir uma Secretaria de Estado só pode vir de gente analfabeta sem qualquer rasgo em relação ao que é o poder que Portugal poderá ter no Mundo através das Artes. Somos um povo de artistas. Lá fora reconhecem-nos. Infelizmente, a geração de políticos que temos tido que acabou a faculdade à custa de passagens administrativas com falta de cultura e de visão tem tentado contrariar a força emergente dos nossos artistas. Mas é só ver o impacto que temos no estrangeiro para perceber que uma das mais-valias deste país é exatamente a Cultura.

M.L: Gostava de ter feito uma carreira internacional?
I.M: Claro! E tive essa oportunidade na BBC. Mas já tinha o meu filho (fui mãe muito nova) e achei que não tinha o direito de o arrancar ao meio a que estava já habituado e leva-lo para um país diferente. Não sei se fiz bem ou mal. Hoje talvez tivesse decidido de outra maneira.

M.L: Qual foi o trabalho que a marcou tanto como atriz, encenadora e escritora?
I.M: Como atriz foi sem dúvida “O Pai” de (August) Strindberg para a RTP. Um papel tremendo que (acho) representei muito bem. Como encenadora “Marcas de Sangue”. Como dramaturga “África”.

M.L: Que balanço faz da sua carreira?
I.M: Fiz sempre o que gosto com entrega, com empenho, com alegria. Pode pedir-se mais? Que continue sempre assim. Não quero fazer por fazer. Mas por prazer.

M.L: Qual foi o momento que a marcou tanto como atriz, encenadora e escritora?
I.M: Tenho a felicidade de ter muitos momentos marcantes e altos na minha vida. Não sei escolher. Pude trabalhar com grandes atores tanto enquanto atriz como enquanto encenadora. Pude trabalhar com os melhores encenadores e realizadores. E tive a imensa sorte de escrever para os melhores também.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
I.M: Um espetáculo infantil lindíssimo “O Guardião dos Sonhos” do Pedro Cavaleiro é a minha próxima encenação. Estou a acabar de escrever um telefilme para a TVI e vou entrar em dois telefilmes e na próxima novela, tudo TVI! Entretanto, terei o prazer de fazer parte do júri da seleção oficial do Festróia, o que me vai permitir ver filmes que não teria oportunidade de ver nas salas de cinema.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
I.M: Tirar meio ano para viajar pelo mundo com tempo para conhecer bem as gentes e as culturas de cada país.

M.L: Se não fosse a Isabel Medina, qual era a atriz ou escritora que gostava de ter sido?
I.M: Não ser a Isabel Medina faz-me muita confusão. Posso dizer quem é a minha atriz favorita: a Meryl Streep. E o meu escritor: o Nikos Katzanzakis.ML

terça-feira, 30 de agosto de 2011

Mário Lisboa entrevista... Elisabete Piecho

Olá. A próxima entrevista é com a atriz Elisabete Piecho. Estreou-se na representação em 1984 com a peça "O Guloso Mentiroso", mas profissionalizou-se em 1989 ao integrar a companhia O Bando tendo desenvolvido um percurso que passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão (onde entrou em produções como "Morangos com Açúcar" (TVI), "Casos da Vida" (TVI), "Flor do Mar" (TVI), "Deixa Que Te Leve" (TVI) e "Mar de Paixão" (TVI) e atualmente entra na série publicitária da operadora de cabo Meo "Fora da Box" que é protagonizada pelos Gato Fedorento. Esta entrevista foi feita por via email em Abril passado.

M.L: Como é que surgiu o interesse pela representação?
E.P: O meu interesse pela representação surgiu não muito cedo. Estava no ano de 1984. Morava em Sacavém, onde havia uma cooperativa. Nesta haviam algumas atividades nomeadamente dança jazz, clássica, teatro amador, música, etc. Comecei por me inscrever na dança, na clássica e na jazz e um dia vinha a descer as escadas e espreitei a sala, onde estavam a decorrer ensaios de uma peça e fiquei. A primeira peça que fiz era uma peça infantil “O Guloso Mentiroso” escrita e encenada por Fernando Loureiro. E em 1989 profissionalizei-me. Integrei um grupo profissional O Bando.

M.L: Fez teatro, cinema e televisão. Qual destes géneros que lhe dá mais prazer em fazer?
E.P: O que me dá mais prazer é fazer teatro. Cinema e TV têm um tempo diferente, uma respiração diferentes. Mesmo assim, o cinema também é muito interessante, pois temos mais tempo, é feito com mais calma, temos tempo para estudar o guião, as cenas são filmadas com mais calma. Na TV, as novelas e as séries ultimamente são programas que têm de ser feitos a correr, pois a concorrência é feroz. Faço o melhor que posso, respeito, mas é um prazer diferente.

M.L: Qual foi o trabalho num destes géneros que a marcou, durante o seu percurso como atriz?
E.P: Todos os trabalhos nos deixam qualquer coisa ou pelo conteúdo ou pelas pessoas com quem trabalhamos sejam elas atores, encenadores ou realizadores.

M.L: Como lida com a carga horária, quando grava uma telenovela?
E.P: Quando estou a fazer uma novela se só entro em alguns episódios não ocupa muito o meu tempo, mas se a personagem tem alguma continuidade como por exemplo na novela “Deixa Que Te Leve” (TVI) que tinha gravações em estúdio e exteriores nomeadamente em Arcos de Valdevez é um pouco mais cansativo. Ia para Arcos com o motorista e mais colegas, ficava-mos o tempo necessário e depois regressava-mos com o motorista. Se eventualmente em Lisboa estivesse a fazer outra coisa, pois teria que avisar antecipadamente os meus chefes da Plural (pois é esta a empresa da TVI encarregue de fazer estes programas).

M.L: Um dos seus trabalhos mais marcantes em televisão foi o telefilme “O Amor Não Escolhe Idades” da série “Casos da Vida” (TVI), onde interpretou a personagem Mimi. Que recordações leva desse trabalho?
E.P: É engraçado tu dizeres que o telefilme “O Amor Não Escolhe Idades” foi o trabalho mais marcante em televisão, talvez foi o que foi mais publicitado ou mais visto devido aos atores que nele entravam. Pois, logo a seguir fiz um “Casos da Vida” que era “A Decisão”. Entrava eu, o João Lagarto, a Leonor Seixas e o Nuno Melo e aí sim éramos protagonistas, foi em 27/09/2008. Mas, de qualquer forma levo boas recordações, gostei de trabalhar com a equipa.

M.L: Este ano celebra 27 anos de carreira desde que começou como atriz amadora com a peça “O Guloso Mentiroso” em 1984. Que balanço faz destes 27 anos?
E.P: Pois, 27 anos de carreira se é que se pode chamar carreira a um percurso cheio de altos e baixos. Tem sido muito difícil para mim, pois tenho muitos momentos em que estou desempregada. Mas, estou contente, porque tudo o que fiz foi feito com prazer. Pois, tenho sorte em fazer uma coisa que gosto.

M.L: Gostava de ter feito uma carreira internacional?
E.P: Fiz alguns trabalhos com realizadores e encenadores estrangeiros, o que me deu muito gozo, aprendi muito com eles e tenho a certeza que eles gostaram de trabalhar comigo, embora eles não me conhecessem, nem eu a eles. Mas, isso é que é interessante para mim: estar disponível, arriscar, só assim que se aprende. Gostaria de ter trabalhado lá fora, mas nunca calhou. Pode ser que um destes dias, nunca se sabe.

M.L: Já trabalhou em Braga. Que recordações leva do tempo em que trabalhou lá?
E.P: Gostei de trabalhar na companhia de teatro de Braga, pois tive oportunidade de fazer autores e personagens fantásticas e como estive lá por vários períodos fiz muitos bons amigos na cidade e no teatro claro.

M.L: Qual foi a figura da representação que a marcou, durante o seu percurso como atriz?
E.P: Houve três peças que me deram muito prazer fazer. “Depois da Tempestade”, uma peça escrita pelo dramaturgo espanhol Sergi Belbel encenada por Inês Câmara Pestana no Teatro do Século em Lisboa. Eu fazia a diretora de uma empresa. Depois em Braga, encenado por Rui Madeira fiz um monólogo escrito por um escritor romeno que vivia em Paris, nessa peça fazia uma freira. E também em Braga, fiz uma peça chamada “Praça de Touros” escrita e encenada por Alexej Schipenko, um escritor, encenador e músico que vive em Berlim. Era um espetáculo muito violento, por isso só se faziam 3 representações por semana.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
E.P: Pois, projetos não tenho. As coisas não estão fáceis, mas vou continuando.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
E.P: Também não tenho assim nada de especial que gostasse de fazer e gosto muito de ser quem sou.

M.L: Se não fosse a Elisabete Piecho, qual era a atriz que gostava de ter sido?
E.P: A Elisabete Piecho.ML