M.L: Recentemente, foi diretora de atores da telenovela “Sedução” (TVI). Como correu este trabalho?
I.M: Com extremo empenhamento e extremo prazer. Uma novela cujo texto apresentava muitos desafios para os atores, personagens complexas, cenas difíceis e diálogos muito bons. Os condimentos ideais para trabalhar com os atores a 100 por cento e foi isso que fizemos. Dirigir é também conhecer cada ator, as suas potencialidades e as suas fragilidades. E foi através desse conhecimento do outro que cada vez mais arriscamos para conseguir o melhor resultado.
M.L: O que a levou a aceitar o convite para fazer a direção de atores da telenovela?
I.M: O fato de ser um trabalho que me realiza bastante e de que gosto muito com uma equipa ótima e um elenco de eleição.
M.L: “Sedução” é da autoria de Rui Vilhena. O que a cativa na escrita dele?
I.M: A imprevisibilidade do que acontece, a não linearidade da história, os temas controversos, os diálogos brilhantes.
M.L: Como foi trabalhar com o elenco?
I.M: Como já disse, foi um prazer. Eles aprendem comigo e eu com eles. Delicioso ver um elenco empenhado em dar o tudo por tudo.
M.L: Faz direção de atores em televisão com regularidade há poucos anos. Este é um tipo de trabalho que lhe dá prazer em fazer?
I.M: Muito. Comecei em 2001 com uma novela da RTP e desde então tenho aceite alguns convites. Não o faria se não gostasse verdadeiramente.
M.L: Qual foi o trabalho em direção de atores em televisão que a marcou até agora?
I.M: A “Ilha dos Amores” (TVI). Talvez pelos Açores, talvez pelo elenco com gente ainda inexperiente, mas com muita garra que agora são atores de primeira linha. Tive imenso gosto em ajudar a formar atores como a Joana Santos, a Diana Nicolau, o Pedro Teixeira, a Mafalda Pinto, a Rita Tristão (da Silva).
M.L: Antes de “Sedução”, integrou o elenco da telenovela “Meu Amor” (TVI). Que balanço faz da sua participação neste projeto?
I.M: Foi um desafio interessante fazer a taxista cheia de energia e ao mesmo tempo amargurada e com mau feitio. Permitiu-me registos que ainda não tinha experimentado e de que gostei muito.
M.L: “Meu Amor” ganhou o Emmy Internacional na categoria de Telenovela no passado Novembro. Como vê este triunfo?
I.M: Mostra que a ficção em Portugal está a par da ficção em todo o mundo e que pode competir com os melhores. Somos (a nível da produção e da técnica e do ponto de vista artístico) tão bons ou melhores como países em que a telenovela já leva anos de avanço em relação a nós.
M.L: Como vê o futuro da ficção nacional, depois da conquista do Emmy?
I.M: Continuar sempre a fazer melhor. Temos tudo para isso. Concorrer aos festivais, porque já mostramos que somos bons. Mais duas séries portuguesas já arrebataram outros troféus lá fora.
M.L: Como é que surgiu o interesse pela representação e pela escrita?
I.M: Dizem que se nasce com uma vocação. Eu julgo que em parte é verdade. Desde muito criança (3/4 anos) que escrevo e faço teatro. Apesar de ter querido apaziguar a família que é muito conservadora licenciando-me em duas áreas distintas (Germânicas e Psicologia Aplicada) sempre tive como objetivo tornar-me atriz e escrever. Assim, embora já tardiamente (tinha 28 anos) acabei por terminar a Escola Superior de Teatro e Cinema e lançar a minha carreira.
M.L: Durante o seu percurso também passou pelo ensino. Por exemplo, fundou em 1976 juntamente com Guilherme Filipe e outras pessoas, o English Teaching Group que foi um projeto-piloto do Ministério da Educação para o ensino de inglês através do jogo dramático e fundou em 1980 juntamente com Guilherme Filipe, Rogério de Carvalho e outros professores, o Grupo de Comunicação e Teatro no âmbito da formação de professores em ensino multidisciplinar. Que balanço faz da sua passagem pelo ensino?
I.M: A minha passagem pelo ensino (que durou 15 anos) teve a ver com as licenciaturas e o mestrado que tirei para agradar à família. Mas como o meu alvo era o Teatro frequentei um curso específico da BBC em Londres para apresentar ao Ministério da Educação, um projeto de formação de professores com base nas técnicas dramáticas e teatrais. Projeto aprovado, desafiei vários professores com os mesmos objetivos e formamos os referidos Grupos. Esse projeto multidisciplinar obteve um grande sucesso nas Escolas de todo o país e acima de tudo demonstrou (em turmas-piloto) ser um motor de sucesso escolar. Pena que o Ministério não tenha continuado com outros elementos, o trabalho que deixámos para nos dedicarmos a tempo inteiro à profissão de atores ou encenadores.
M.L: Atualmente é diretora da companhia Escola de Mulheres que fundou juntamente com Fernanda Lapa. O que a levou a fundar a companhia?
I.M: Havia na altura em que formamos a Escola de Mulheres-Oficina de Teatro, uma forte lacuna na direção das companhias de Teatro: quase todas elas eram dirigidas por homens que programavam de acordo com o seu gosto ou seja sempre de um ponto de vista masculino. Nós queríamos divulgar uma série de autoras importantíssimas cuja “voz” nunca tinha sido ouvida em Portugal. E queríamos abrir portas a equipas técnicas formadas por mulheres. Assim nasceu a nossa companhia. Neste momento, temos uma equipa técnica de mulheres e já apresentamos um repertório muito completo das maiores autoras contemporâneas.
M.L: Durante o seu percurso como atriz fez teatro e televisão, mas pouco cinema. Gostava de ter trabalhado mais nesse género?
I.M: Entrei em alguns filmes, mas realmente sem muita expressão. As oportunidades não surgiram, mas estou sempre a tempo. Porque gosto realmente de fazer cinema.
M.L: Teatro, cinema e televisão. Qual destes géneros que lhe dá mais gosto em fazer?
I.M: Não tenho um preferido. São meios diferentes, técnicas diferentes, mas que dão imenso gozo. Adoro as câmaras, mas também adoro o público, senti-lo, mexer com ele. Nunca serei capaz de escolher apenas um.
M.L: Desde “Na Paz dos Anjos” (RTP) que é uma presença regular nas telenovelas. Este é um género televisivo que gosta muito de fazer?
I.M: Muito. Gosto da adrenalina, do tudo por tudo, da entrega total. Porque em novela, não há tempo de ensaios como no Teatro, não há tempo em “plateau” para grandes concentrações. É atirar-se com tudo o que temos com as nossas emoções, sem pensar, sem nos defendermos, sem preconceitos. E o resultado, quando tudo isto é verdade, é muito bom.
M.L: Como lida com a carga horária, quando grava uma telenovela?
I.M: Chego ao final esgotada. Chegamos todos. Mas quem corre por gosto, não cansa! Enquanto corremos por gosto, esquecemos o desgaste. Quando tudo acaba é que ele se abate sobre nós!
M.L: Qual foi a personalidade da representação que a marcou tanto como atriz, encenadora e escritora?
I.M: Tenho muitas referências em todos esses campos. Tenho atores cujas cenas em determinados filmes vejo e revejo, porque são autênticas lições da arte de representar. Vejo muito teatro por esse mundo fora e em Portugal tento ver tudo. Como escritora, leio e torno a ler muitos autores que me marcaram e continuam a marcar e estou sempre a procurar novos bons autores. Não há uma ou duas personalidades que me tenham marcado, mas muitas.
M.L: Como vê atualmente o teatro e a ficção nacional?
I.M: Vejo com entusiasmo. Cada vez são mais, os bons profissionais nessas áreas. O público acorre às salas de Teatro e as audiências da ficção nacional são boas. Espero que a crise não chegue à Cultura. A ideia peregrina de voltar atrás, deixando de haver Ministério da Cultura e passando a existir uma Secretaria de Estado só pode vir de gente analfabeta sem qualquer rasgo em relação ao que é o poder que Portugal poderá ter no Mundo através das Artes. Somos um povo de artistas. Lá fora reconhecem-nos. Infelizmente, a geração de políticos que temos tido que acabou a faculdade à custa de passagens administrativas com falta de cultura e de visão tem tentado contrariar a força emergente dos nossos artistas. Mas é só ver o impacto que temos no estrangeiro para perceber que uma das mais-valias deste país é exatamente a Cultura.
M.L: Gostava de ter feito uma carreira internacional?
I.M: Claro! E tive essa oportunidade na BBC. Mas já tinha o meu filho (fui mãe muito nova) e achei que não tinha o direito de o arrancar ao meio a que estava já habituado e leva-lo para um país diferente. Não sei se fiz bem ou mal. Hoje talvez tivesse decidido de outra maneira.
M.L: Qual foi o trabalho que a marcou tanto como atriz, encenadora e escritora?
I.M: Como atriz foi sem dúvida “O Pai” de (August) Strindberg para a RTP. Um papel tremendo que (acho) representei muito bem. Como encenadora “Marcas de Sangue”. Como dramaturga “África”.
M.L: Que balanço faz da sua carreira?
I.M: Fiz sempre o que gosto com entrega, com empenho, com alegria. Pode pedir-se mais? Que continue sempre assim. Não quero fazer por fazer. Mas por prazer.
M.L: Qual foi o momento que a marcou tanto como atriz, encenadora e escritora?
I.M: Tenho a felicidade de ter muitos momentos marcantes e altos na minha vida. Não sei escolher. Pude trabalhar com grandes atores tanto enquanto atriz como enquanto encenadora. Pude trabalhar com os melhores encenadores e realizadores. E tive a imensa sorte de escrever para os melhores também.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
I.M: Um espetáculo infantil lindíssimo “O Guardião dos Sonhos” do Pedro Cavaleiro é a minha próxima encenação. Estou a acabar de escrever um telefilme para a TVI e vou entrar em dois telefilmes e na próxima novela, tudo TVI! Entretanto, terei o prazer de fazer parte do júri da seleção oficial do Festróia, o que me vai permitir ver filmes que não teria oportunidade de ver nas salas de cinema.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
I.M: Tirar meio ano para viajar pelo mundo com tempo para conhecer bem as gentes e as culturas de cada país.
M.L: Se não fosse a Isabel Medina, qual era a atriz ou escritora que gostava de ter sido?
I.M: Não ser a Isabel Medina faz-me muita confusão. Posso dizer quem é a minha atriz favorita: a Meryl Streep. E o meu escritor: o Nikos Katzanzakis.ML
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