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Entrevista com... Lucinda Loureiro (Atriz) |
segunda-feira, 31 de dezembro de 2012
Mário Lisboa entrevista... Leonor Salgueiro
Olá. A próxima entrevista é com a atriz Leonor Salgueiro. Desde muito cedo que se interessou pela representação tendo-se formado na Escola Profissional de Teatro de Cascais e estreou-se profissionalmente em 2011 com a peça "Azul Longe nas Colinas" de Dennis Potter e com encenação de Beatriz Batarda da qual estreou pela primeira vez no Teatro Nacional D. Maria II e também contou com a participação de atores como Albano Jerónimo, Bruno Nogueira, Dinarte Branco e Luísa Cruz e recentemente participou nas peças "Alma" (inspirada na obra de Gil Vicente) e "Casas Pardas" (de Maria Velho da Costa) que contaram com encenação de Nuno Carinhas e estiveram em cena no Teatro Nacional S. João no Porto e "O Sonho da Razão" que protagonizou ao lado de Dinarte Branco e de Luís Miguel Cintra (que também encenou) e esteve em cena no Teatro da Cornucópia. Esta entrevista foi feita no passado dia 28 de Abril no Teatro Nacional S. João no Porto na altura em que a entrevistada estava em cena com a peça "Alma" no Teatro Nacional S. João.
M.L: Como é que está a correr a peça “Alma”?
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
L.S: Tudo aquilo que ainda não fiz gostava de fazer e como quase ainda não fiz nada tenho muita coisa que gostasse de fazer.ML
M.L: Como é que está a correr a peça “Alma”?
L.S: Está a correr melhor
do que eu achava. Porque é um espetáculo com muito suporte a todos os níveis e
que à partida diria que corresse sempre muito bem… Mas a todos os níveis está
mesmo a correr acima da expectativa, pois temos muito público, a opinião em
geral é muito positiva, os colegas dão-se muito bem, o espetáculo em geral
dá-me muito prazer fazer todas as noites, por isso só posso dizer que está a
correr muitíssimo bem.
M.L: Como é que surgiu esta peça?
L.S: Eu fui fazer uma
audição, havia muitas atrizes a fazer a audição entre mais ou menos da minha
idade ou um bocadinho mais velhas, o Nuno Carinhas escolheu-me e fiquei na
audição.
M.L: A peça é encenada por Nuno Carinhas. Como é
trabalhar com ele?
L.S: É maravilhoso. Foi
uma grande aprendizagem, uma longa aprendizagem. O Nuno tem uma forma muito
delicada e muito ponderada de trabalhar (o que nos permite chegar a
determinados sítios às vezes sem darmos até por isso) e de uma forma muito
calma e é muito gratificante trabalhar com ele, porque ao mesmo tempo ele
investe pressões sobre nós, porque nós próprios atores já pomos tanta pressão
em cima de nós e é incrível encontrarmos com uma pessoa que é exatamente o
oposto, que é dar liberdade ao ator para perceber o seu próprio tempo e para evoluir
no seu próprio tempo e nas suas próprias circunstâncias… Por isso, com essa
calma e com esse lado muito ponderado e paciente nos permite chegar a sítios
que nós nunca pensaríamos que fossemos capazes.
M.L: Qual é a personagem que interpreta nesta peça?
L.S: Interpreto a personagem
“Alma”. A “Alma” é o centro do espetáculo, portanto o espetáculo gira à volta
dessa personagem e no fundo é uma metáfora da vida de todos nós, é uma metáfora
do próprio caminho da vida. Esta “Alma” pode ser qualquer pessoa que tem como
percurso e tem como função fazer o caminho da vida do princípio ao fim.
M.L: Como tem sido a reação do público a esta peça?
L.S: Muito positiva, como
eu disse no princípio. Tem sido maravilhosa, porque eu tenho sentido que todas
as pessoas, de qualquer meio social, de qualquer estrato social se identificam,
porque é como eu disse isto são almas e é uma coisa que é comum a todos nós,
quer tenhamos escolaridade, quer não tenhamos, quer tenhamos dinheiro, quer não
tenhamos… Todos nós temos uma alma, por isso eu acho que as pessoas têm esta
opinião tão boa e tão positiva acerca do espetáculo, porque de qualquer das
formas, o espetáculo permite uma identificação com aquilo que estão a ver,
porque de fato aquilo é verdade, é real… O espetáculo é um bocado deles, é um
bocado de cada pessoa e acho que é isso que permite que seja um espetáculo muito
bem recebido.
M.L: Como é que surgiu o interesse pela representação?
L.S: Foi uma coisa que
surgiu de uma forma muito natural. Era muito pequenina, já eu tinha 8 anos,
basicamente eu não tinha grande motivação com nada, na escola, no processo
escolar e entretanto uma professora minha percebeu que num exercício teatral
que se fez tinha visto uma Leonor diferente, uma Leonor mais motivada, mais
ativa, mais presente e disse à minha mãe (isto com 8 anos) e a minha mãe a
partir daí inscreveu-me em Curso de Expressão Dramática, ano após ano (ou seja
fiz Cursos de Expressão Dramática a partir dos 18 anos de idade) fazia sempre
um, durava sempre um ano letivo e assim fui crescendo de uma forma muito
natural ou seja foi um impulso dado pela minha mãe e pela minha professora, mas
que depois surgiu de uma forma muito natural e muito orgânica, porque eu rapidamente
percebi que fazia sentido, percebi que era uma coisa que me completava de fato.
M.L: Quais são as suas grandes influências, enquanto
atriz?
L.S: Não tenho muitas. A
primeira que me vêm à cabeça é uma que me ensinou muito não só como atriz, mas
como pessoa e como humana que é: a Beatriz Batarda. Mas tenho várias: a Luísa
Cruz, a Eunice Muñoz… Não tenho muitas, mas assim das mais próximas…
M.L: Dedicou até agora a sua vida profissional ao
teatro. Gostava de trabalhar no audiovisual (Cinema e Televisão)?
L.S: Gostava de
experimentar esse lado. Acho que faz parte também, nós como atores,
experimentarmos as outras vertentes nem que seja para sabermos se gostamos ou
não… Sim, tenho todo o interesse de um dia experimentar.
M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou até agora,
enquanto atriz?
L.S: Eu acho uma pergunta muito
difícil de responder. Porque todos os trabalhos nos marcam, todos os trabalhos
fazem com que nós consigamos fazer o trabalho que vem a seguir ou seja os
trabalhos são etapas, sem passares por aquela, não se consegue chegar à
seguinte e por isso a partir desse momento é muito ingrato escolher um trabalho
que tenha sido mais importante, porque todos os trabalhos são essenciais para
se construir um caminho e para se perceber um conjunto de hipóteses, de
alternativas, de soluções… Por isso, sinto-me mesmo com uma enorme dificuldade
em escolher o trabalho mais importante. Todos eles são muito importantes.
M.L: Como vê atualmente a Cultura em Portugal?
L.S: Sinto a Cultura em
Portugal de uma forma quase fantasma em que existe por grande motivação e por
grande força da parte de poucos e bons intervenientes, mas que não tem nenhuma
base de sustentação firme e sólida para poder dar frutos e acho que estamos
todos a remar contra a maré, porque de fato nós não temos apoio absolutamente
nenhum neste momento… Quer dizer, a Cultura não é vista como uma coisa, de
todo, essencial quanto mais considerada como uma coisa que tem que estar
presente, não é essencial, não tem nunca que estar presente… Eu acho que esse é
o grande problema da mentalidade portuguesa que é não educar as crianças e não
educar na escola para a Cultura e isso depois obviamente tem reflexos de uma
imensidade enorme e reflexos muito posteriores e faz com que nós seguimos o que
estamos hoje que é uma crise enorme, onde a Cultura é a primeira coisa a ser
posta de parte. Em vez de perceberem que exatamente a Arte e a Cultura são das
únicas coisas que, quer tenhamos dinheiro ou não tenhamos dinheiro, nós temos
que precisar…
M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
L.S: Nunca pensei nisso,
não tenho isso como um objetivo, como um patamar… Não digo nem que sim, nem que
não, mas sinceramente nunca tinha pensado nisso… Eu quero trabalhar com as
pessoas que gosto, com as pessoas com as quais me identifico, trabalhar com
seres humanos quer seja aqui, quer seja na China…
M.L: Qual foi o momento que mais a marcou até agora,
enquanto atriz?
L.S: É a mesma coisa em
relação ao trabalho. Um dos grandes momentos que me marcou, enquanto atriz foi
o fato de ter feito uma substituição de um ator que ficou doente em 8 dias, no
Teatro (Nacional) D. Maria (II), onde fui a minha grande estreia profissional
em 2011: o espetáculo “Azul Longe nas Colinas” encenado pela Beatriz Batarda e
essa resposta que eu tive de dar imediata e rápida em 8 dias foi de fato um
marco na minha vida, enquanto atriz. Muito nova e sem experiência que eu não
tenho ainda, tive que dar respostas rápidas e foi um episódio que me marcou
muito.
M.L: Quais são os atores em Portugal com quem gostava
de trabalhar no futuro?
L.S: Tantos… Todos aqueles
com quem ainda não trabalhei.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até
agora como atriz?
L.S: Acho que é um balanço muito mais positivo do que alguma
vez eu esperei com esta idade ou seja tenho que o encarar de uma forma muito
honesta e muito clara e muito ponderada… Porque é como eu disse: isto está muito
difícil, a Cultura não está a ser apoiada, ser ator em Portugal é uma raridade
e um privilégio hoje em dia e de fato acho que com 21 anos (a entrevistada fez 22 anos recentemente) tenho muito mais do que
aquilo que alguma vez imaginei e por isso tenho que ir com muita calma.M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
L.S: Tudo aquilo que ainda não fiz gostava de fazer e como quase ainda não fiz nada tenho muita coisa que gostasse de fazer.ML
sábado, 22 de dezembro de 2012
Mário Lisboa entrevista... Pedro Lopes
Olá. A próxima entrevista é com o guionista Pedro Lopes. Desde muito cedo que se interessou pela escrita tendo desenvolvido um percurso como guionista que passa pelo teatro (neste caso dramaturgo), pelo cinema e pela televisão (onde escreveu produções como "Anjo Selvagem" (TVI), "Saber Amar" (TVI), "Mundo Meu" (TVI), "Doce Fugitiva" (TVI), "Liberdade 21" (RTP), "Pai à Força" (RTP), "Perfeito Coração" (SIC), "Lua Vermelha" (SIC) e "O Segredo de Miguel Zuzarte" (RTP) e entre 2010 e 2011 escreveu a telenovela "Laços de Sangue" que foi exibida na SIC da qual foi fruto de uma parceria entre o canal e a TV Globo e contou com a supervisão de Aguinaldo Silva e em 2011 ganhou o Emmy Internacional na categoria de Telenovela e atualmente trabalha na SP Televisão, onde também desempenha a função de Diretor de Conteúdos e está a escrever a telenovela "Dancin' Days" que está em exibição na SIC da qual é um remake de uma telenovela brasileira com o mesmo título que foi exibida na TV Globo entre 1978 e 1979 e que também é fruto de uma parceria entre a SIC e a TV Globo. Esta entrevista foi feita no passado dia 17 de Dezembro.
M.L: Como é que surgiu o interesse pela escrita?
M.L: Como é que surgiu o interesse pela escrita?
P.L: A literatura esteve sempre presente na minha vida,
assim como o cinema e a música. Mas quando era adolescente nunca me passou pela
cabeça ser guionista. A minha ideia era tirar o curso de História e dedicar-me
à investigação e ao ensino.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto
guionista?
P.L: É complicado falar em influências, quando hoje em dia
temos acesso a tanta coisa. E ainda por cima nunca fui de ter ídolos. Mas o
Aaron Sorkin é para mim um dos grandes argumentistas de televisão e de cinema
da atualidade.
M.L: Escreveu para teatro, cinema e televisão. Qual
destes géneros que lhe dá mais gosto de escrever?
P.L: Eu quero ter liberdade para escrever. O que eu gosto é
de contar histórias. Obviamente, umas funcionam melhor em teatro, outras em
cinema, outras ainda reservo-as para as novelas.
M.L: Qual foi o trabalho num destes géneros que o
marcou, durante o seu percurso como guionista?
P.L: Eu entrego-me por completo aos projetos, por isso é
complicado falar daquele que mais me marcou. Claro que os “Laços de Sangue”
(SIC), que ganhou o Emmy, é um trabalho que marcou a minha carreira.
M.L: Atualmente trabalha na SP Televisão, onde também
desempenha a função de Diretor de Conteúdos. Que balanço faz do tempo em que
está na produtora?
P.L: Muito positivo. É uma empresa que dá espaço à criação e
que me tem permitido formar profissionais.
M.L: A SP Televisão existe desde 2007. Como vê o
percurso que a produtora tem feito até agora?
P.L: A SP Televisão está a fazer cinco anos. Mas, neste
curto espaço de tempo, conseguiu ter a sua ficção presente nos principais
festivais internacionais e conquistou alguns prémios importantes e isso só se
consegue, porque começámos a pensar a uma escala mundial. Os nossos
concorrentes não são apenas portugueses, mas toda a ficção que se faz no mundo.
Essa maneira de pensar tem ditado o percurso da empresa.
M.L: Um dos seus trabalhos mais marcantes, enquanto
guionista foi a telenovela “Laços de Sangue” que foi exibida na SIC entre 2010
e 2011 da qual foi fruto de uma parceria entre a SIC e a TV Globo e em 2011
ganhou o Emmy Internacional na categoria de Telenovela. Que recordações guarda
desse trabalho?
P.L: Eu não sou saudosista, mas foi um trabalho importante
para todos os que por lá passaram. Os “Laços de Sangue” foi um projeto muito
divertido de escrever. E cansativo também.
M.L: Qual foi o momento que mais o marcou, durante o
seu percurso como guionista?
P.L: Ouvir o nome “Laços de Sangue” como vencedor do Emmy
para Melhor Telenovela Internacional.
M.L: Como vê atualmente o teatro e o audiovisual
(Cinema e Televisão) em Portugal?
P.L: É complicado fazer essa avaliação para quem está a
maior parte do tempo como observador. Mas quando vou ao teatro vejo as salas
com bastante gente. O cinema é mais complicado. Este sistema de subsídios leva
a que toda a gente se ponha em bicos dos pés a dizer que o seu trabalho é
relevante e muitas vezes esquecem-se que devia ser o público a fazer essa
leitura e não os próprios criadores.
M.L: Atualmente está a escrever a telenovela “Dancin’ Days”
que está em exibição na SIC da qual é um remake
de uma telenovela com o mesmo título que foi exibida na TV Globo entre 1978 e
1979 e que também é fruto de uma parceria entre a SIC e a TV Globo. Como é que
está a correr este trabalho?
P.L: O “Dancin’ Days” é um projeto que se aproxima do fim e
que tem corrido muito bem.
M.L: Como é que surgiu a oportunidade de ser o
responsável pela adaptação portuguesa de “Dancin’ Days”?
P.L: Foi um desafio que a SIC e a (TV) Globo me colocaram e
que aceitei de imediato.
M.L: “Dancin’ Days” está em exibição desde o passado
dia 4 de Junho. Como vê o enorme sucesso que a telenovela tem tido até agora?
P.L: O sucesso é o resultado de muito esforço, muitas horas
dedicadas a pensar e a escrever a novela. E não sou só eu, tenho uma equipa
incrível a trabalhar comigo!
M.L: Como é que é a sua rotina, quando escreve uma
telenovela?
P.L: A rotina é novela de manhã à noite, com algumas pausas
para convívio familiar e para devorar alguns filmes e livros. Mas escrever uma
novela é física e psicologicamente muito exigente.
M.L: Ajuda na escolha do elenco de um projeto seu?
P.L: A escolha dos atores é feita pela estação a partir de
uma proposta da produtora. Eu colaboro nessa seleção de nomes tendo em conta as
personagens, mas é apenas uma colaboração como disse...
M.L: Qual foi a pessoa que o marcou, durante o seu
percurso como guionista?
P.L: Quem mais é que me marcou? Todas as pessoas com quem
trabalhei, pelos bons e maus exemplos.
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira no guionismo?
P.L: Que não tente fazer igual ao que já foi feito. Mas para
saber realmente se estamos a inovar também é preciso conhecer muita coisa.
M.L: Que balanço faz da sua carreira?
P.L: Tenho 36 anos, não estou em momento de balanço.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
P.L: Não posso falar de projetos para o futuro, porque são
confidenciais.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
P.L: As coisas que quero fazer tenho-as conseguido fazer. Nesse
sentido posso considerar-me uma pessoa de sorte, e também muito persistente.
M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da
sua vida?
P.L: Não mudava nada de relevante, acho eu. Todos os dias temos de fazer
escolhas, não é? Por isso, não perco tempo a pensar o que mudava, porque a
nossa vida constrói-se a cada minuto que passa.ML
quinta-feira, 20 de dezembro de 2012
Mário Lisboa entrevista... Joana Caçador
Olá. A próxima entrevista é com a atriz Joana Caçador. Desde muito cedo que se interessou pelas artes tendo-se estreado na representação em 2008 e desde aí tem desenvolvido um promissor e versátil percurso como atriz que passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão e além da representação também é modelo e trabalha na Comunicação Social e recentemente participou na telenovela angolana "Windeck" que atualmente está em exibição na Televisão Pública de Angola. Esta entrevista foi feita por via email no passado dia 15 de Dezembro.
M.L: Como é que surgiu o interesse pela representação?
M.L: Como é que surgiu o interesse pela representação?
J.C: Desde cedo sempre me
inclinei muito para as artes, mas sem saber ao certo o que queria seguir. Em
paralelo com os estudos comecei a trabalhar em moda, onde fui fazendo algumas
participações e ganhando o gosto. Licenciei-me em Design Visual, mas confesso
que nunca me apaixonei pela área. Acabando a licenciatura, como não queria
parar de estudar fui tirar um curso anual de teatro e a partir daí foi
impossível parar, torna-se um amor e um "vício" saudável para a vida.
M.L: Quais são as suas grandes influências, enquanto
atriz?
J.C: Vou focar-me sobretudo em portuguesas, pois
temos maravilhosos atores/atrizes dos quais nos devemos orgulhar: Custódia Gallego,
Virgílio Castelo, Beatriz Batarda, Nuno Lopes, Elsa Valentim, o encenador João
Mota.
M.L: Fez teatro, cinema e televisão. Qual destes
géneros que lhe dá mais gosto de fazer?
J.C: São três géneros que
se complementam e são experiências muito diferentes, é quase impossível dizer que
gosto mais desta ou daquela. No teatro é dar e receber naquele momento, é uma
troca de emoções com o público, uma partilha e há uma energia mística que
envolve o palco. A magia da televisão é outra, é todos os dias conhecermos um
pouco mais da nossa personagem, o grava e corta e o saltar de uma emoção para a
outra. Cinema é o detalhe e o mestre da magia. No entanto, a base e o principal
é o mesmo: a arte de representar, criar e viver personagens, dar e receber, a
partilha.
M.L: Qual foi o trabalho num destes géneros que a
marcou até agora, enquanto atriz?
J.C: Destaco três
trabalhos e um em cada género. No teatro: "O Musical do Panda Vai à
Escola". Lembro-me muito bem de estar a subir ao palco do Campo Pequeno e
mal vimos aquela plateia cheia de crianças de olhinhos a brilhar e a gritar,
fiquei toda arrepiada e as lágrimas deslizaram-nos pela cara. Para o 48 Hour
Film Festival participei com uma equipa maravilhosa e ganhámos o Prémio do Público
com "Um dia de Chica". Foi uma experiência única, porque vimos e
todos ajudámos desde o início (escrita, produção, decisões...) até quase ao
final, 48 horas sem dormir a criar um filme de raiz. E agora sem dúvida, “Windeck”
(a novela angolana) marcou-me muito, pois foi um desafio fazer de mãe e de bem
mais velha e todo o elenco e equipa são maravilhosos e muito animados.
M.L: Além da representação também é modelo e trabalha
na Comunicação Social. Qual destas funções em que se sente melhor?
J.C: São áreas muito
diferentes. Sempre gostei muito de moda (passerelle e fotografia), mas é algo
que termina cedo, sinto-me mais à vontade e divirto-me muito, pois já o faço há
13 anos, mas a Comunicação Social é algo mais recente e que me desafia
bastante.
M.L: Qual foi o momento que mais a marcou até agora,
enquanto atriz?
J.C: O workshop que tirei
no (Teatro da) Comuna com João Mota foi algo que me marcou como atriz e como
pessoa e senti que dei um salto. Penso que todas as pessoas deveriam ter
experiências semelhantes mesmo que não queiram seguir a área, pois é uma
aprendizagem muito enriquecedora.
M.L: Como vê atualmente o teatro e a ficção nacional?
J.C: No geral vejo com
bons olhos. No teatro vi já bastantes trabalhos que me encheram de orgulho de
ser portuguesa. Tenho pena é de às vezes as peças ficarem tão pouco tempo em
cena que nem sempre as conseguimos ver e o teatro é para o público, sem ele não
existe. A ficção nacional tem evoluído bastante e estamos ao mesmo nível e às
vezes até mesmo superior do que se tem feito lá fora e tudo em poucos anos. Acho
é que deveria ser um circuito mais aberto.
M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
J.C: Sem dúvida, acho que
essa experiência seria muito enriquecedora pessoalmente, bem como
profissionalmente. Especialmente nesta área, experiências dessas como viver
noutros países, conhecer outras culturas são essenciais. Mas acabaria sempre
por voltar cá, porque adoro o nosso país e tenho cá todas as minhas raízes.
M.L: Recentemente participou na telenovela angolana
“Windeck” que atualmente está em exibição na Televisão Pública de Angola, onde
interpretou a personagem Célia. Como foi a experiência de trabalhar num projeto
desta dimensão?
J.C: Foi único. Lembro-me
do primeiro dia em que entrei no estúdio para testes de imagem e estarem todos
a cantar bem animados e fiquei logo contagiada. Neste projeto há uma parceria
entre Angola e Portugal que funcionou muito bem. Ao ouvir os meus colegas que
vivem em Angola fiquei com muita vontade de ter a experiência de viver lá por
um período de tempo.
M.L: Como é que surgiu o convite para participar nesta
telenovela?
J.C: Estive com uma peça
em cena com o Encenador Durval Lucena e correu muito bem. É um encenador e
professor com quem adoro trabalhar e aprender. Ele ficou com a direção de atores
desta novela. A minha agência propôs-me e como já conheciam o meu trabalho
fiquei.
M.L: Como vê atualmente Angola?
J.C: Penso que só vivendo
lá poderia ter a certeza e analisar bem. Mas penso que estão a crescer numa boa
direção, mais social e humana. Há uns anos atrás teria receio de ir lá, hoje em
dia adorava viver lá por um tempo.
M.L: Qual foi a pessoa que a marcou até agora,
enquanto atriz?
J.C: Foram várias, mas
destaco o encenador João Mota, Durval Lucena e agora mais recente sem dúvida, a
Beatriz Batarda. Uma pessoa que está ao meu lado desde o início e me tem
marcado bastante e com quem tenho aprendido muito é o meu namorado Luís
Lourenço. Admiro muito o seu percurso e trabalho.
M.L: Recentemente, as telenovelas “Remédio Santo” da
TVI e “Rosa Fogo” da SIC foram nomeadas para o Emmy Internacional na categoria
de Telenovela. Como vê este reconhecimento internacional?
J.C: É uma das provas de
como estamos de parabéns e conseguimos crescer rapidamente e com qualidade e
ficar ao nível do que se faz lá fora ou superior como já disse anteriormente. E
no ano passado, além de nomeados ganhámos com “Laços de Sangue” (SIC). Estamos
de Parabéns sem dúvida e são merecidos.
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na representação?
J.C: Tal como em todas as
áreas, a Formação é essencial e nunca se esqueçam que nesta profissão temos de
meter o ego no bolso e saber dar e receber. É uma área que temos de estar
sempre a aprender, a experimentar e a atualizar.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até
agora, enquanto atriz?
J.C: É uma área que não é
fácil termos trabalho e só me posso considerar uma sortuda, não comecei assim
há tanto tempo e já tive grandes experiências e oportunidades. Tenho pena às
vezes do dia não ter 48 horas, pois o tempo voa e eu sou "workaholic".
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
J.C: Vou continuar com as peças infantis itinerantes,
estou a concluir o curso da ACT-Escola de Atores. Gostaria de conseguir
conciliar com teatro, mas o horário do curso não permite, por enquanto. E
alguns projetos ainda estão a ser conversados, mas espero em breve já ter
novidades.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
J.C: A nível profissional
gostava muito de ter essa experiência de trabalhar fora por um período de tempo
(Angola, Brasil, Nova Iorque), é um dos meus sonhos sem dúvida. Outra experiência
que adorava era pegar nas malas e conhecer países com culturas bem diferentes e
mesmo com fundo solidário.
M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da
sua vida?
J.C: Se os meus projetos se concretizarem já fico
muito feliz. Tenho uma família, amigos e namorado maravilhosos, estamos bem de
saúde, faço o que gosto, não posso pedir muito mais. Ontem (dia 14 de Dezembro)
estive num jantar de solidariedade para sem-abrigos e a felicidade deles com um
prato de comida e música foi contagiante e isto faz pensar e muito.ML
quarta-feira, 19 de dezembro de 2012
Mário Lisboa entrevista... Luísa Barbosa
Olá. A próxima entrevista é com a apresentadora Luísa Barbosa. Começou por ser modelo e em 2007 foi selecionada através de um casting para ser video-jockey na MTV Portugal, onde trabalhou até 2011, altura em que foi escolhida para apresentar o programa "5 para a Meia-Noite" (em exibição na RTP2 na altura) ao lado da atriz Carla Vasconcelos, Luís Filipe Borges, Nilton e Pedro Fernandes e recentemente apresentou o programa "Planeta Música" (RTP) e o especial "7 Maravilhas-Praias de Portugal" (RTP) ao lado de João Baião e atualmente apresenta o programa "A Estreia da Semana" no Canal Hollywood ao lado de Bruno Pereira, Bernardo Mendonça e Maria de Vasconcelos. Esta entrevista foi feita por via email no passado dia 9 de Dezembro.
M.L: Como é que surgiu o interesse pela Comunicação Social?
M.L: Como é que surgiu o interesse pela Comunicação Social?
L.B: Comecei
por trabalhar como modelo, especialmente em publicidade, onde acabei por ter
mais contato com as câmaras. Eu adorava perceber tudo o que era necessário para
chegar até ao produto final. Com o tempo, esse interesse foi aumentando e
comecei a tentar encontrar oportunidades para trabalhar em televisão.
M.L: Quais são as suas grandes influências, enquanto
apresentadora?
L.B: Acho
que não consigo dizer que me identifico com alguém. Acho mesmo que a grande
vantagem, e também desafio, de ser apresentadora, é seres tu própria ou uma
versão amplificada de ti própria. Mas admiro grandes comunicadores, não só em
televisão. A Oprah (Winfrey), por exemplo, é alguém cuja carreira e estilo
admiro.
M.L: Qual foi o trabalho que a marcou até agora,
enquanto apresentadora?
L.B: Não
consigo escolher só um. Obviamente, a MTV foi muito importante, foi onde comecei,
o “5 para a Meia-Noite” (RTP) foi um grande desafio e muito recompensador. Não
só era em direto como me permitiu trabalhar em comédia, algo que adoro fazer. E
as “7 Maravilhas-Praias de Portugal” (RTP) foram uma grande escola no que toca
a adaptabilidade e diretos.
M.L: Além de apresentadora também foi modelo. Que
recordações guarda dessa experiência?
L.B: Foi
o início de tudo. Aprendi muito a nível pessoal e profissional. Cada trabalho
novo era uma oportunidade para ganhar experiência, mas também para conhecer
pessoas novas e diferentes, algo que ainda hoje me motiva no dia-a-dia. E
também serviu para crescer sem grandes ilusões ou ideias pré-concebidas do que
são meios como a moda ou a televisão. Acho que me ajuda a ter os pés bem
assentes na terra.
M.L: Atualmente apresenta os programas “Planeta
Música” na RTP e “A Estreia da Semana” no Canal Hollywood. Como estão a correr
estes dois trabalhos?
L.B: Neste
momento, o “Planeta Música” está parado, já que a primeira temporada chegou ao
fim. Mas ambos os trabalhos correram bem. O “PM” insere-se numa área, onde
estou bastante à vontade, já que foi onde comecei: a música. “A Estreia da
Semana" é um formato simples, mas como adoro cinema, tem sido interessante
poder trabalhar este conteúdo.
M.L: Como é que surgiu o convite para apresentar os
dois programas?
L.B: Para
o “PM” fui contactada pela produtora do programa que sabia da minha experiência
na MTV. Para “A Estreia da Semana” fiz um casting
e acabei por ser uma das pessoas escolhidas.
M.L: O Canal Hollywood existe em Portugal desde 1996.
Como vê o percurso que o canal fez até agora?
L.B: Não
tendo estado sempre atenta, do ponto de vista profissional, é difícil responder
a essa pergunta. Mas hoje em dia acabo por dedicar mais tempo ao canal e tenho
reparado que a programação do mesmo é muito boa. Têm um bom equilíbrio entre
filmes clássicos, filmes mais recentes e os chamados blockbusters. Claro que esta é uma opinião, enquanto espectadora.
De qualquer forma, acho que o investimento que estão a fazer agora em produção
nacional é uma boa aposta, não só por isso me permitir trabalhar com eles, mas
também, porque acho que o público gosta de ter mais informação acerca de
filmes, estreias, making-ofs, etc.
M.L: Qual foi o momento que mais a marcou até agora,
enquanto apresentadora?
L.B: Cada
novo desafio, cada nova oportunidade ensinam-me imenso. Mais do que destacar um
momento, acho importante continuar a retirar lições daquilo que faço, bem e
mal. Ainda tenho muito a aprender.
M.L: Como vê atualmente a Comunicação Social em
Portugal?
L.B: Não
gosto de falar em crise. Todos sabemos qual é a situação atual do país e isso
afeta todas as áreas, pessoas e profissões. Acho que, acima de tudo, estamos
numa altura de definições. Os projetos que fizerem mais sentido são os que vão
sobreviver. E isto aplica-se a toda a economia. Dito isto, acho que, cada vez
mais surgem ideias interessantes e inovadoras. Estamos mais atentos a tudo o
que se passa lá fora e aprendemos e inspiramo-nos nisso. Atenção que refiro-me,
acima de tudo, à componente de entretenimento da Comunicação Social, já que é
aí que estou mais à vontade.
M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
L.B: Sim,
gostava. Nem que fosse como experiência de aprendizagem e formação
profissional. E claro, também a nível pessoal.
M.L: Como lida com o público que acompanha a sua
carreira nos últimos anos?
L.B: De
forma natural. As pessoas costumam ser muito simpáticas, quando me abordam. De
qualquer forma, isso não acontece assim tantas vezes, por isso é fácil.
M.L: Gostava de experimentar outras áreas como por
exemplo a representação?
L.B: Dependendo
do projeto, podia ser interessante, mas não tenho a ambição de me tornar atriz.
M.L: Qual foi a pessoa que a marcou até agora,
enquanto apresentadora?
L.B: Ui,
tantas, mas acima de tudo pessoas com quem partilho os desafios e com quem
aprendo. A minha equipa da MTV foi muito importante, já que foi com quem
comecei e onde aprendi as bases do que faço agora. Mas todas as equipas com
quem trabalho me tornam melhor profissional.
M.L: Como vê o futuro da Comunicação Social em geral
nos próximos anos?
L.B: Não
tenho o dom da presciência. Só posso dizer que, tal como em todas as áreas
profissionais, espero que ultrapassemos a conjuntura atual da melhor forma
possível.
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na Comunicação Social?
L.B: Preparem-se
o melhor possível. Sejam curiosos e exigentes convosco próprios. Façam cursos,
formações, workshops... Tudo que vos
permita adquirir competências que vos destaquem como profissionais. E depois,
trabalhem e tenham paciência, porque as coisas não acontecem da noite para o
dia.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito até
agora como apresentadora?
L.B: Muito
positivo. Tem-me sido possível trabalhar em vários projetos diferentes, o que
me torna melhor profissional. E, acima de tudo, é isso que quero.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
L.B: Tenho
algumas cartas na manga, mas neste momento é demasiado cedo para falar neles.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
L.B: Trabalhar
no estrangeiro.
M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da
sua vida?
L.B: Não
me posso queixar muito. Mas como estamos em época natalícia, vou aproveitar
para pedir ao Pai Natal mais projetos interessantes e recompensadores para 2013
e adiante.ML
terça-feira, 18 de dezembro de 2012
Mário Lisboa entrevista... Paula Martín da Silva
Olá. A próxima entrevista é com a atriz, escritora e jornalista Paula Martín da Silva. Tornou-se atriz por acidente tendo sofrido uma rotura lombar, enquanto bailarina no extinto ACARTE e foi a uma audição para uma peça e uma das atrizes adoeceu e como sabia o texto substituiu-a e desde muito cedo que se interessou pela escrita e pelo jornalismo tendo desenvolvido um interessantíssimo percurso como atriz, escritora e jornalista e em 2011 estreou-se na literatura com o livro "Amo-te-Cartas sem Destinatário" tendo escrito mais dois livros respetivamente intitulados "Técnicas (fundamentais) para falar em público" e "Chef em Casa" e atualmente está a escrever o seu próximo livro. Esta entrevista foi feita por via email no passado dia 27 de Novembro.
M.L: Como é que surgiu o interesse pela representação, pela escrita e pelo jornalismo?
M.L: Como é que surgiu o interesse pela representação, pela escrita e pelo jornalismo?
P.M.D.S: Bem, eu
tornei-me atriz por acidente. Sofri uma rotura lombar, enquanto bailarina no
extinto ACARTE e fui a uma audição para uma peça de teatro. Uma das atrizes
adoeceu e como eu sabia o texto substitui-a. Fiquei apaixonada pela
representação, por poder viver vidas que não a minha mas, claro que, precisava
de estudar, ter bases solidas. Tive a sorte de poder beber os conselhos dos
mestres Varela Silva, Curado Ribeiro e Armando Cortez. E continuei a estudar.
Em Espanha, Itália e mesmo cá. Quanto à escrita, bem, confesso que desde que me
lembro que sou gente, sempre escrevi. Há uns anos encontrei um caderno antigo
com textos meus e fiquei chocada. Alguns dos textos eram extremamente
deprimentes, talvez devido à infância solitária que tive e ao fato de ver a
minha mãe sofrer pela ausência do meu pai, então emigrado em França. Porém,
noutros textos deixava-me levar pela imaginação e criava lugares inexistentes. Foi
estranho, voltar a ler o que havia escrito com a distância desses anos. O
jornalismo veio como consequência de escrever sobre todos os temas e assuntos.
Não tenho papas na língua e através da escrita partilho a minha opinião.
Recordo que o meu primeiro trabalho em imprensa foi em (19) 94 numa revista que
se chamava Lisboa Magazine e sobre a falta de civismo das pessoas.
M.L: Quais são as suas grandes influências, enquanto
atriz, escritora e jornalista?
P.M.D.S: Influências,
propriamente ditas, não tenho. Em qualquer uma das áreas sou eu. Ajo com
naturalidade, com verdade e profissionalismo.
M.L: Enquanto atriz fez teatro, cinema e televisão.
Qual destes géneros que lhe dá mais gosto de fazer?
P.M.D.S: Sem qualquer
dúvida, o Teatro. O Teatro é um amor para toda a vida! Sentir o público, a
respiração do público, o calor… Cada espetáculo é diferente. É a arte maior!
Pese embora também goste da linguagem cinematográfica e de todo o trabalho de
equipa. Quanto à televisão, é o mediatismo e confesso que não me seduz…
Comparando com um relacionamento, diria que o teatro é, efetivamente, o meu
grande amor, o cinema uma paixão e a televisão um ‘flirt’. E para quê estragar
um grande amor pelo prazer de um ‘flirt’?!
M.L: Qual foi o trabalho que a marcou tanto como
atriz, escritora e jornalista?
P.M.D.S: Como atriz,
interpretar Maria Callas em “Callas La Divina” foi, sem sombra de dúvidas, um
marco na minha vida. Repito: na minha vida. A “Callas” entranhou-se-me de tal
maneira que demorei algum tempo a “despi-la”. Além de ter sido uma mulher
extraordinariamente cativante, o texto é muito bom e reporta-nos para às últimas
vinte e quatro horas de vida duma mulher grandiosa, um monstro de palco, um
furacão e, contudo, uma ave extremamente fragilizada. É um monólogo e um
grandioso desafio como atriz, porque tinha de contracenar comigo mesma enquanto
“Callas” e “Onassis”. Era extremamente violento! Cada espetáculo era como se
tivesse levado uma tareia! Espero poder fazê-lo em Portugal. Enquanto
jornalista gosto de reportagem, gosto do contato com as pessoas, por isso
também gostar tanto da entrevista.
M.L: Em 2011 estreou-se na literatura com o livro
“Amo-te-Cartas sem Destinatário”. Como é que surgiu a ideia de escrever este
livro?
P.M.D.S: Nunca foi ideia de ser
um livro. Fui desabafando, através do Facebook, e sob a forma de “cartas”, o
que me ia na alma. Confesso que nunca mais li os textos, são demasiados
viscerais e é como que arrancar crostas de feridas ainda por sarar. A reunião
dessas “cartas” foi ideia de outras pessoas. Além de que, também fui advertida
que os textos andavam a ser partilhados e repartilhados e perdendo-se assim os
direitos de autor.
M.L: Como foi a reação do público a este livro na
altura do seu lançamento?
P.M.D.S: Surpreendente.
Verdadeiramente surpreendente! E gratificante, claro. Recordo duas situações:
uma no Porto, um senhor dirigiu-se a mim para agradecer por ter escrito o
livro, pois graças a ele tinha percebido as recusas da mulher, durante o
processo oncológico. Outra situação foi a devolução do livro, assinado
inclusive, com a nota “Isto pertence-lhe. Não sou merecedor de o ter em meu
poder”. É a prova de que as minhas palavras foram escritas com alma, com
verdade, com todo o meu ser.
M.L: Como vê atualmente a Cultura e a Comunicação
Social em Portugal?
P.M.D.S: Sobre a Cultura,
prefiro até nem me prenunciar. E não me refiro, sequer, a organismos
governamentais. Porque esses agem em conformidade com a postura do povo. Somos
um povo aculturado. Temos de o dizer, sem qualquer pudor. Veja bem: as pessoas
preferem ir ver um filme em 3D, pagando o bilhete, os incómodos óculos, com
cenas repetidas e trabalhadas até à exaustão, com efeitos aparatosos em vez de irem
ver um espetáculo de teatro que é a 3D desde a Grécia antiga! Somos ou não um
país aculturado? E digo aculturado para não ferir suscetibilidades! Quanto à
Comunicação Social, em parte está como a Cultura: espartilhada. Porém,
conhecendo os bastidores de ambas as áreas, confesso ter tido mais deceções na
área da Comunicação Social do que propriamente no meio artístico. Os bastidores
da Imprensa é um autêntico viveiro de répteis. Salvo raras, muito raras
exceções (porque também há bons profissionais) de pessoas com coluna
vertebral. E quem já exerceu cargos de diretora de publicações (como foi o meu
caso) é como que condição ‘sine qua non’ fecharem-se todas as portas. Só prova a
pequenez ou mesmo insegurança de quem tem o poder nas mãos, receando, talvez,
serem ultrapassados. Enfim. E quando exercermos cargos de direção, de poder, há
sempre muitos convites para festas, eventos, tudo, mas tudo o que possa
imaginar. Depois… há a ausência. Os bajuladores que na época se afirmavam
amigos, descartam-nos. Esquecem-se que o mesmo irá acontecer com eles.
M.L: Qual foi a pessoa que a marcou tanto como atriz,
escritora e jornalista?
P.M.D.S: Ui, tantos.
Quer positiva, quer negativamente que prefiro não referir nomes.
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira seja na representação, na escrita ou no jornalismo?
P.M.D.S: Em qualquer
uma das áreas, que seja verdadeiro. Aja com verdade, com convicção, naquilo que
acredita sem se importar com o que os outros dizem ou pensam.
M.L: Como vê o futuro da Cultura e da Comunicação
Social em geral nos próximos anos?
P.M.D.S: Não sou boa
a fazer previsões. Porém, acho que enquanto a mentalidade das pessoas não
mudar, enquanto viverem nos seus mundos pequeninos em conformidade com as suas
mentalidades e capacidades, não podemos esperar mudanças no que quer que seja.
M.L: Que balanço faz da sua carreira?
P.M.D.S: Reconheço
que geri muito mal a minha carreira, durante estes 20 anos como atriz. Mas,
quando digo que geri mal, refiro-me às pausas mal ponderadas que fiz. Não me
arrependo das recusas a certas propostas, o que me fechou algumas portas, mas,
tendo-o feito, estou de bem comigo mesma. Posso ter perdido ou deixando escapar
algumas oportunidades, porque não corro atrás de foguetes, não peço e muito
menos cobro favores.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
P.M.D.S: Em projeto,
há um turbilhão deles! No imediato, a tournée
com o espetáculo “Amo-te, mas não sou louca”, continuar com as minhas aulas de
teatro e técnicas para falar em público (tenho turmas fantásticas), estou a
meio (mais coisa, menos coisa) do próximo livro, o meu blogue e namorar.
Namorar muito!
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
P.M.D.S: Férias. Há
muitos, muitos anos que não tenho férias.
M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da
sua vida?
P.M.D.S: Não
podendo mudar nada, gostava de, neste momento, ter a inocência que tinha em
criança, mas a sabedoria da minha avó.ML
segunda-feira, 17 de dezembro de 2012
Mário Lisboa entrevista... Carmen Santos
Olá. A próxima entrevista é com a atriz Carmen Santos. Interessou-se verdadeiramente pela representação, quando estudava na faculdade tendo-se estreado profissionalmente em 1974 e desde aí desenvolveu um brilhante e versátil percurso como atriz que conta com quase 40 anos de existência da qual passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão (onde entrou em produções como "Telhados de Vidro" (TVI), "Terra Mãe" (RTP), "Os Lobos" (RTP), "Alves dos Reis" (RTP), "Nunca Digas Adeus" (TVI), "Morangos com Açúcar" (TVI), "João Semana" (RTP), "Ilha das Cores" (RTP2), "Casos da Vida" (TVI), "Sentimentos" (TVI), "Regresso a Sizalinda" (RTP), "Laços de Sangue" (SIC) e "Remédio Santo" (TVI) e atualmente participa na peça "Casas Pardas" de Maria Velho da Costa, com adaptação e dramaturgia de Luísa Costa Gomes e encenação de Nuno Carinhas e com um excecional elenco que inclui atores como Anabela Teixeira, Emília Silvestre, Rute Miranda, Leonor Salgueiro e Jorge Mota e está em cena no Teatro Nacional S. João no Porto até ao próximo dia 23 de Dezembro. Esta entrevista foi feita no Teatro Nacional S. João no Porto no passado dia 30 de Setembro na altura em que a entrevistada estava a ensaiar a peça "Casas Pardas".
M.L: Como é que surgiu o interesse pela representação?
M.L: Qual foi o trabalho num destes géneros que a marcou, durante o seu percurso como atriz?
C.S: Tal como disse em relação às pessoas, todos os trabalhos nos podem deixar ensinamentos no sentido de como se faz ou como não se faz e é sempre dinâmico o trabalho de representação e o trabalho de agarrar um espetáculo, uma peça de teatro ou um guião… É sempre diferente, as pessoas vão evoluindo e com elas evoluem a sua maneira de “atacar” os vários trabalhos…
M.L: “Os Lobos” é da autoria de Francisco Nicholson. Como foi trabalhar com ele?
C.S: Eu não trabalhei com o Francisco Nicholson. O guião era dele, quem faz o guião muitas vezes acaba por não se encontrar. Agora acontece menos isso, mas muitas vezes as pessoas acabam por não se encontrar com a pessoa que escreve… De qualquer modo, gosto imenso do Francisco Nicholson e sempre me dei muito bem com ele, mas mais ao nível de colegas.
M.L: Gostava
de ter feito uma carreira internacional?
C.S: Não faço ideia nenhuma. Se calhar gostava, mas não tenho a certeza, não experimentei, portanto é um bocado difícil e nestas coisas da língua (como eu não sou bilingue, embora fale algumas línguas para além da minha), estas coisas que tem uma interferência muito forte da língua às vezes é difícil, a pessoa fica “limitada”, quer dizer com a própria língua nós sabemos fazer coisas e dizer coisas e surpresávamos de uma maneira muito mais genuína e muito mais profunda e muito mais imediata e muito melhor do que uma língua que não é nossa por muito bem que a gente saiba falar a não ser de fato de casos de pessoas que tenham tido uma experiência de vida que as tornam bilingues (bilingue não só por falar duas línguas, mas porque as duas línguas são equivalentes), quer dizer a pessoa expressa-se e dá de si com a mesma energia com uma língua ou com uma outra… Mas não sei, não sei responder, não posso falar muito sobre aquilo que não sei, toda a gente gostaria de fazer um filme com o Woody Allen, por exemplo e de quem gosto muito, o Martin Scorsese e com o (Pedro) Almodóvar, porque é um homem com uma sensibilidade muito especial relativamente às mulheres… É evidente que a pessoa gostava, mas eu acho que há sempre um passo a menos dado, quando se está a falar uma língua que não é nossa a não ser que se fizesse o filme na minha língua e depois que as dobrassem… Não era a mesma coisa, mas para mim dava-me prazer.
M.L: Como é que surgiu o interesse pela representação?
C.S: Isso não é assim uma
coisa que surgiu assim de repente. Foi lentamente e com interesse e gosto por
fazer coisas na escola, no liceu e depois mais claramente na faculdade, onde de
fato fiz parte de um grupo cénico dos estudantes de Direito e aí assim as
coisas começaram a ter de tomar de fato um aspeto mais claro sobre a
representação para além de anteriormente a isso, durante o todo o tempo de
faculdade ter tido uma oportunidade de colaborar em muitos programas de rádio,
portanto só voz, mas em que se fazia entre peças e adaptações de romances de
língua portuguesa na altura para a Emissora Nacional que agora é a RDP.
M.L: Quais são as suas grandes influências, enquanto
atriz?
C.S: Acho que não tenho.
Acho que as minhas grandes influências não são grandes, são todas, são todas as
pessoas e com todas as pessoas se pode aprender… De qualquer modo houve pessoas
importantes pelo caminho: ao nível de atores, o Armando Cortez que foi uma
pessoa muito importante e depois outras pessoas como o João Perry… É difícil
apanhar muitos nomes nesta altura, porque eu acho que todas as pessoas me têm
ensinado muita coisa, todas as pessoas têm de fato coisas para dar sobretudo as
pessoas com mais saber fazer destas coisas, com mais técnica, com mais talento
também, mas a técnica e a experiência da profissão é uma coisa muito importante
que uma pessoa pode de fato estar sempre atento e há muitas pessoas que podem
de fato ajudar e dar coisas sem saber às vezes que estão a dar.
M.L: Fez teatro, cinema e televisão. Qual destes
géneros que lhe dá mais gosto de fazer?
C.S: Gosto de laranjas, gosto de bacalhau cozido e
gosto de carne assada, portanto isto não tem nada a ver umas coisas com as
outras… Aliás, em resumo gosto de comer e no caso destas coisas gosto de
representar, portanto são modos diferentes de o fazer em situações diferentes.
O cinema tem uma técnica e um modo de estar, a televisão é assim uma coisa
engraçada, porque é um mergulhar de repente e já está, tem que ser ali logo e o
teatro é um trabalho mais demorado, de certo modo profundo… É diferente, só que
tudo técnicas diferentes, mas representar é representar… Mas pode-se escolher,
não tenho a versão em nenhuma destas coisas pelo contrário… Qualquer um dos
meios (Cinema, Teatro e Televisão) gosto. Até gosto de fazer rádio.M.L: Qual foi o trabalho num destes géneros que a marcou, durante o seu percurso como atriz?
C.S: Tal como disse em relação às pessoas, todos os trabalhos nos podem deixar ensinamentos no sentido de como se faz ou como não se faz e é sempre dinâmico o trabalho de representação e o trabalho de agarrar um espetáculo, uma peça de teatro ou um guião… É sempre diferente, as pessoas vão evoluindo e com elas evoluem a sua maneira de “atacar” os vários trabalhos…
M.L: Já fez telenovelas. Este é um género televisivo
que mais gosta de fazer?
C.S: Como já lhe disse,
tudo tem vantagens e desvantagens. Tudo tem coisas que nós gostamos mais e
coisas que nós gostamos menos, mas gosto de fazer telenovelas e gosto de fazer
séries… A telenovela é mais condensada e portanto mais cuidada, embora seja
mais condensada é mais cuidada, porque há mais atenção a dar às coisas que são
mais curtas… A outra é uma história que tem que esticar e que tem que abranger
muitas perspetivas e portanto é mais rápida a fazer, porque tem mais coisas a
abranger, mas gosto de fazer telenovelas. Não há dúvida nenhuma.
M.L: Como lida com a carga horária, quando grava uma
telenovela?
C.S: Enquanto nós estamos
a trabalhar dum modo geral, a carga horária não pesa muito, mas quando acabamos,
5 minutos depois de acabar, a coisa fica muito pesada. Mas enquanto nós estamos
a trabalhar, este trabalho é um trabalho que ele próprio regenera muito a
energia pessoal… Claro que as pessoas cansam-se também, mas regenera muito a
energia, o trabalho de representar… Ele próprio gera uma adrenalina própria que
gera a energia e portanto ajuda a continuar.
M.L: Um dos seus trabalhos mais marcantes em televisão
foi a telenovela “Os Lobos” (RTP), onde interpretou a personagem Inês. Que
recordações guarda desse trabalho?
C.S: Foi há uns largos anos. Não sei se terá sido um
dos mais importantes ou não, mas recordo com muito prazer. Foi talvez uma das
primeiras telenovelas que eu fiz com uma ponderação própria, de intervenção e
portanto lembro-me disso com saudade… Não porque gostaria de voltar atrás, mas
porque foi de fato uma boa experiência.M.L: “Os Lobos” é da autoria de Francisco Nicholson. Como foi trabalhar com ele?
C.S: Eu não trabalhei com o Francisco Nicholson. O guião era dele, quem faz o guião muitas vezes acaba por não se encontrar. Agora acontece menos isso, mas muitas vezes as pessoas acabam por não se encontrar com a pessoa que escreve… De qualquer modo, gosto imenso do Francisco Nicholson e sempre me dei muito bem com ele, mas mais ao nível de colegas.
M.L: Qual foi o momento que mais a marcou, durante o
seu percurso como atriz?
C.S: Eu acho que a vida
nos corre como a água quer dizer não tem assim sobressaltos, se tivesse
sobressaltos era sobressaltos pela negativa… Também pode haver se calhar
momentos muito importantes (um prémio ou uma coisa qualquer…), mas de um modo
geral as coisas correm mais ou menos tranquilamente… Com alegrias, com
tristezas, mas nada assim de muito sobressaltante e de muito marcante para
aparecer aquele marco assim muito grande… Não sei, acho que não.
M.L: Como vê atualmente o teatro e a ficção nacional?
C.S: Lá vão indo. Mas
também não tenho um olhar assim muito negativo em relação a isso… Eu acho que o
teatro tem sobrevivido com todas as dificuldades sobretudo de situação
financeira, mas tem sobrevivido e tem avançado e a prova é isso: vim de Lisboa
para o Porto trabalhar por alguma razão, porque é forte o apelo e em relação à
ficção há muita gente nova e isso é muito bom, quer dizer nova, não é por serem
novos, mas por serem novos a aparecer, portanto há de fato (no cinema
particularmente) muito mais nomes… Há muita gente de
fato a aparecer e portanto eu acho que isso é um sinal de interesse das
próprias pessoas em fazerem coisas. Não tem sido efetivamente muito positivo é
o apoio dado a estas coisas do ponto de vista das super-estraturas (dos
Governos, dos Ministérios), não tem sido fácil… Eu acho que até tem sido muito
difícil, quase que desapareceu… Neste momento (estamos a falar em Setembro de
2012), praticamente existe uma certa vontade de apoio destas entidades
governamentais oficiais para apoiar e para mostrarem que estão interessados em
fomentar estas artes performativas. Mas não sei, não me parece de qualquer modo
que esteja à beira de desaparecer. Qualquer delas pelo contrário.
C.S: Não faço ideia nenhuma. Se calhar gostava, mas não tenho a certeza, não experimentei, portanto é um bocado difícil e nestas coisas da língua (como eu não sou bilingue, embora fale algumas línguas para além da minha), estas coisas que tem uma interferência muito forte da língua às vezes é difícil, a pessoa fica “limitada”, quer dizer com a própria língua nós sabemos fazer coisas e dizer coisas e surpresávamos de uma maneira muito mais genuína e muito mais profunda e muito mais imediata e muito melhor do que uma língua que não é nossa por muito bem que a gente saiba falar a não ser de fato de casos de pessoas que tenham tido uma experiência de vida que as tornam bilingues (bilingue não só por falar duas línguas, mas porque as duas línguas são equivalentes), quer dizer a pessoa expressa-se e dá de si com a mesma energia com uma língua ou com uma outra… Mas não sei, não sei responder, não posso falar muito sobre aquilo que não sei, toda a gente gostaria de fazer um filme com o Woody Allen, por exemplo e de quem gosto muito, o Martin Scorsese e com o (Pedro) Almodóvar, porque é um homem com uma sensibilidade muito especial relativamente às mulheres… É evidente que a pessoa gostava, mas eu acho que há sempre um passo a menos dado, quando se está a falar uma língua que não é nossa a não ser que se fizesse o filme na minha língua e depois que as dobrassem… Não era a mesma coisa, mas para mim dava-me prazer.
M.L: Atualmente está a participar na peça “Casas
Pardas” de Maria Velho da Costa, com adaptação e dramaturgia de Luísa Costa
Gomes e encenação de Nuno Carinhas e que vai estar em cena no Teatro Nacional
S. João no Porto entre os dias 6 e 23 de Dezembro. Como estão a correr os
ensaios?
C.S: Os ensaios estão a
correr muito bem. É muito interessante, porque é um texto extraordinário de uma
escritora extraordinária chamada Maria Velho da Costa. Penso que a adaptação da
Luísa Costa Gomes é maravilhosa e com uma leitura de um texto com o qual eu
estou em completa sintonia. O Nuno Carinhas é um encenador extraordinário, é um
paraíso, é um oásis nesta terra trabalhar com uma pessoa como ele (não quer
dizer que não haja mais oásis, mas ele é um oásis certamente) e portanto estou
mesmo muito satisfeita.
M.L: Como é que surgiu o convite para participar nesta
peça?
C.S: Tem que perguntar a
ele, porque eu não sei. Quando ele me convidou, eu disse logo que sim. Agora
como é que surgiu, ele é que sabe.
M.L: “Casas Pardas” conta com a participação de atores
como Anabela Teixeira, Emília Silvestre, Rute Miranda, Leonor Salgueiro e Jorge
Mota. Como é trabalhar com eles?
C.S: Quanto melhor são os parceiros, melhor é para toda a gente. Estas
coisas da representação não se ganha por evidência: ou uma pessoa é muito boa e
depois as outras não são tão boas… Não, não é, é quanto melhor, melhor… Quanto
mais experiência, quanto mais tudo isso tiver o parceiro, melhor é o trabalho
de cada um. É muito intercâmbio, isso é um intercâmbio positivo ou negativo se
for em coisas desagradáveis, mas a nível de trabalho é muito intercâmbio…
Está-se sempre a ganhar todos os dias, é um “toma lá, dá cá” em que se o “toma
lá…” for bom, o “dá cá” vai ser melhor… Alimentam-se mutuamente, é intercâmbio…
Dizem os ingleses: “to act is to react”
(“representar é reagir”). E isto é
muito verdade, portanto se houver uma boa motivação, quanto melhor for a
motivação, melhor vai ser a reação, portanto está certo.
M.L: Que expectativas têm em relação a esta peça?
C.S: Chegar ao fim e espero
que as pessoas entendam e que gostem dela, claro. Mas isso é sempre para todas
as peças, não é em particular nesta peça. As peças fazem-se para serem vistas e
para serem entendidas e portanto é isso que se espera de um espetáculo teatral.
Um espetáculo teatral é feito para ser visto, é por isso que é expectado, para
ser olhado, para ser ouvido, para ser recebido. Portanto, é isso que eu espero
que esta peça consiga. Às vezes, os espetáculos teatrais não conseguem passar,
não conseguem ser entendidos, não conseguem ser compreendidos. Espero que esta
não tenha esse problema. Não tem, com certeza. Pelo contrário.
M.L: Foi presença regular nas produções da autoria de
Francisco Moita Flores. Que recordações guarda dessa colaboração?
C.S: Muito boas
recordações e tenho muita pena que elas não continuem. A produtora do Moita
Flores que era a Antinomia não se aguentou, que é muito frequente neste país:
as coisas boas às vezes não têm oportunidade de continuar a viver. Tenho muita
pena, porque eram de fato produções em que eu gostei muito de estar e digo isso
muito frequentemente ao Moita Flores que quando ele voltar está perdoado e que
quero que ele volte e que conte comigo (recentemente, Francisco Moita Flores
escreveu uma série policial para a TVI intitulada “O Bairro” que vai estrear
brevemente).
M.L: No passado dia 24 de Março (Dia Mundial do
Teatro) foi homenageada pela Junta de Freguesia de Carnide. Como é que se
sentiu ao saber que ia ser homenageada pela Junta?
C.S: Eu corria o risco de
quase não saber que ia ser homenageada e que eles preparavam-se para fazer isso
com uma certeza absoluta no dia em que eu fosse levada a pretexto de qualquer outra
coisa. Por acaso, uns dias antes disseram-me, porque tiveram receio que a coisa
corresse mal ou que tivesse alguma coisa para fazer e que eu não pudesse
aparecer, portanto acabaram por dizer. Mas foi uma coisa muito agradável. É
difícil falar sobre isso, mas foi de fato uma coisa maravilhosa.
M.L: Em 2011, Portugal conquistou o seu segundo Emmy
com a telenovela da SIC “Laços de Sangue” da qual participou. Como vê este
reconhecimento internacional?
C.S: É sobretudo
importante no sentido de divulgação das coisas portuguesas que podem ter a
vantagem de fato de ampliar o conhecimento que os outros têm das nossas
realizações, das nossas obras e isso é muito importante. Por um lado, é
importante, porque é agradável ser reconhecido… Os prémios servem para isso,
para mostrar o reconhecimento das instâncias que os produzem relativamente ao
trabalho de quantas pessoas ou de outros relativos como é o caso da novela e
isso é importante e ao nível internacional é sempre importante. Nós estamos num
mundo cada vez mais “pequeno” e portanto as informações chegam mais rapidamente
a todo o lado e portanto eu acho importante ser visto e ser reconhecido e saber
que pode haver intercâmbio…
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na representação?
C.S: Pense no que é que gosta de fazer, naquilo que
gostaria que fosse a sua vida, como é que quer viver como atriz ou como ator…
Então vá estudar, vá-se preparar, trabalhe muito e seja uma pessoa… Trabalhe,
faça aquilo que gosta e faça-se uma pessoa por esse meio, por essa via… Em todo
o mundo em que se pratique este tipo de atividade, nós podemos estar com imenso
trabalho e ter grandes reconhecimentos, mas a seguir estar um mês, dois meses,
um ano sem nada a acontecer… Obviamente, não há uma relação de causa e efeito…
Não há, portanto é um bocado difícil. Vamos ter de inventar um novo percurso da
carreira, como os autocarros tivessem ser para mudar de linha.
M.L: Quais são os seus próximos projetos (para além de
“Casas Pardas”)?
C.S: Estou à espera de ter
um bocadinho de tempo para pensar nisso. Talvez existem coisas, mas é preciso de ter tempo
precisamente para isso. Para poder escolher, para poder pensar naquilo que se
pode querer fazer ou não e depois também depende muito das coisas que vão
acontecendo pelo caminho. Por exemplo, não fui eu que planeei fazer as “Casas
Pardas”, fui alguém que me convidou e com quem eu estive absolutamente em
sintonia e com uma perspetiva que me agradou imenso logo de imediato sem
qualquer reserva. Nem mesmo deixar Lisboa para ir ao Porto e vim mesmo
alegremente sozinha, porque é um tempo, é um período não muito longo e também
continua depois.ML
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