Entrevista com... José Alves Fernandes (Ex-Profissional da RTP)
domingo, 30 de março de 2014
Mário Lisboa entrevista... Gonçalo Mourão

M.L: Quando surgiu o interesse pelo audiovisual?
G.M: Desde muito miúdo, lembro-me
de construir estúdios com câmaras, iluminação, apresentadores e convidados. Tudo
em LEGO. Mas com 15 anos comecei a querer ser Realizador de novelas na (TV)
Globo e a tomar mais consciência do mundo audiovisual e, mais concretamente, da
TV.
M.L: Quais são as suas influências nesta área?
G.M: Séries, novelas brasileiras e filmes, mas sobretudo os bastidores de toda
esta área.
M.L: Como realizador, trabalha, essencialmente, na
televisão. Gostava de, um dia, realizar uma produção cinematográfica?
G.M: Não ambiciono, porque eu gosto do ritmo e da dinâmica da TV.
M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, durante o
seu percurso como realizador?
G.M: A novela “Doce Fugitiva” (TVI). Por toda uma equipa que tive nessa altura.
M.L: Foi corealizador da telenovela “Ajuste de Contas”
que foi exibida na RTP entre 2000 e 2001 e protagonizada por João Perry. Que
recordações guarda desse trabalho?
G.M: Foi a primeira novela inteira que realizei e que deu direito a nome no
genérico. Recordo esses e outros atores ilustres e o apoio que a minha
equipa me deu.
M.L: Como vê, atualmente, a ficção nacional?
G.M: Com uma enorme evolução, falta só um bocadinho mais de tempo para os criadores
e apostar mais na escrita, mas já vejo uma melhoria acentuada nas últimas
novelas da SIC a esse nível. Tecnicamente já conseguimos ser superiores aos
Brasileiros.
M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
G.M: Carreira não digo, mas SIM a uma experiência de um ano ou meses. Digo isto,
porque valorizo muito a família e como tenho 4 filhos e sou bem-casado, não me
estou a ver a sair de Portugal.
M.L: Trabalhou, durante vários anos, na produtora
Plural Entertainment Portugal (ex-NBP). Que balanço faz do tempo em que
trabalhou na produtora?
G.M: No inicio muito BOM, nestes últimos cinco anos muito MAU. Má gestão das
pessoas e pouca comunicação interna.
M.L: A Plural Entertainment Portugal existe, desde
1992. Como vê o percurso que a produtora tem feito, desde a sua fundação até
agora?
G.M: Teve uma enorme evolução técnica nos primeiros 14 anos, depois estabilizou
em Bom, mas nos últimos cinco anos começou a haver pouco rigor na escolha dos
elementos técnicos e com os baixos orçamentos, menos qualidade.
M.L: O audiovisual tem estado em grande mudança nos
últimos anos. Sendo um profissional dessa área, qual é a sua visão, no que diz
respeito a essa mudança?
G.M: Até agora tem sido para melhor e espero que continue nessa ascensão.
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na área do audiovisual?
G.M: Pense bem, porque isto é uma área de muito desgaste e pressão, por isso
temos de que gostar muito para fazermos bem e resistirmos.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito, até
agora, como realizador?
G.M: Muito bom. Se bem que nos últimos anos não tenho dado tudo por falta de
motivação. Lutei muito para corrigir problemas que hoje continua e ninguém liga
nenhuma e deixam andar. Fiz sempre o meu trabalho bem, mas só não me meti em
assuntos ligados às produtividades da empresa para quem eu trabalhei. Apesar de
quase exigirem isso dos realizadores acho que haviam lá pessoas para o fazer.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
G.M: Há muita coisa para fazer, mas, neste momento, não devo adiantar mais nada
sobre isso.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
G.M: Concertos de Música, para relaxar.
M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da
sua vida?
G.M: Nada de especial.ML
sábado, 29 de março de 2014
Mário Lisboa entrevista... Micaela Cardoso

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
M.C: Aos quinze anos,
fechava-me na sala de jantar e brincava a ser outras figuras, outras pessoas,
outros eus.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
M.C: Não sei se consigo
designá-las... São aquilo que leio, filmes que vejo, música que ouço, mas
também o dia-a-dia, as pessoas na rua... O espetro aonde pode um(a) ator (atriz)
ir beber, é muito grande.
M.L: Faz, essencialmente, teatro. Gostava de trabalhar
mais no audiovisual (Cinema e Televisão)?
M.C: Sim, faz-me muita
falta fazer mais cinema, é toda uma outra linguagem, um universo muito distinto
do teatro.
M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, durante o
seu percurso como atriz?
M.C: Houve muitos
trabalhos que foram marcantes, e cada um foi especial à sua maneira, só assim
faz sentido, para mim, trabalhar, com paixão e dedicação e entrega. Houve, no
entanto, textos e personagens que me foram mais queridas e misteriosas, uma
delas “A Castro” de António Ferreira.
M.L: Entre 2001 e 2002, participou na telenovela “A
Senhora das Águas” que foi exibida na RTP, da qual interpretou a vilã Dulce Trovão
Pedroso. Que recordações guarda desse trabalho?
M.C: Bom, não foi um
trabalho que me enlevasse de sobremaneira, para ser franca. Penso que me é
difícil dominar o ritmo de uma novela e sobre ele fazer um trabalho com a
profundidade a que estou acostumada.
M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção
nacional?
M.C: Como deves imaginar,
por um lado, sinto uma grande tristeza ao ver que há estruturas que se
apagam e que tinham o direito de persistir, mas, infelizmente, a Cultura é
desconsiderada no nosso país. Em tempo de crise, a Cultura é ainda mais
necessária, mas não é assim que as coisas são vistas... Por outro lado, admiro
imenso a perseverança daqueles que, apesar de todas estas intempéries,
continuam a trabalhar.
M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
M.C: Não sei bem o que é
uma carreira, muito menos internacional... Como ouvi uma vez a Maria de Medeiros:
"Eu não tenho uma carreira, tenho um carreirinho...".
M.L: Tem desenvolvido, praticamente, o seu percurso
como atriz no Porto. Gostava de trabalhar mais em Lisboa?
M.C: Penso que o país não
é assim tão grande para que o trabalho tenha de ser divido entre esses dois pólos.
Nunca percebi muito bem essa coisa de Lisboa versus Porto, e, já agora, versus
o resto do país, que também existe e é real. Há muito boa gente a trabalhar
fora desses dois "centros", digamos assim, e a desenvolver projetos
culturais de um interesse extraordinário.
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na representação?
M.C: Recuso-me a dar
conselhos desse tipo, ou de qualquer outro tipo.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito, até
agora, como atriz?
M.C: Profundamente
intermitente.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
M.C: Isso é mistério...
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
M.C:
Uma longa viagem... Uma viagem que dure, no mínimo, três meses...ML
domingo, 23 de março de 2014
Mário Lisboa entrevista... Marta Quelhas
M.L: Quando surgiu o interesse pelo teatro?
M.Q: Curiosamente, o
interesse pelo teatro surgiu apenas no final da minha licenciatura, em Cinema e
Audiovisual. Na altura, andava à procura de uma empresa onde conseguisse um
estágio e surgiu uma produtora, no Porto, ligada ao teatro que me deu essa
possibilidade. Confesso que, inicialmente, não sabia muito bem se me
conseguiria "adaptar", uma vez que a minha licenciatura, embora
ligada às artes, incidia muito mais no cinema e na televisão do que no teatro.
De qualquer forma, correu muito bem e, desde essa altura, que o
"bichinho" do teatro nunca mais me deixou indiferente.
M.L: Quais são as suas influências nesta área?
M.Q: O teatro, como não
era uma área prioritária na minha vida, tem vindo a ser descoberto com o tempo.
Os géneros que mais me fascinam são os musicais e a Revista à Portuguesa.
M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, até agora,
enquanto produtora?
M.Q: O meu primeiro grande
desafio, em teatro, foi, sem dúvida, o "Aladino e a Gruta Mágica-O Musical
no Gelo”. Foi um projeto inovador que envolveu imensos custos e imensas
pessoas. Ter as operações controladas foi o mais importante. Foi o projeto
onde, a nível profissional, mais evoluí. Por muitos projetos em que me envolva,
este será sempre muito especial.
M.L: Atualmente, trabalha na produtora Yellow Star
Company. Que balanço faz do tempo em que está na produtora?
M.Q: A Yellow Star Company
é muito importante para mim, tanto a nível pessoal como profissional, embora
trabalhe com outras empresas. Trabalho com pessoas que, assim como eu, adoram o
que fazem e gostam de o fazer com qualidade e isso também é muito importante, principalmente,
para manter o equilíbrio. Estou vinculada à produtora há mais de um ano e
espero que assim continue, porque é um prazer enorme fazer parte desta equipa.
M.L: A Yellow Star Company foi fundada em 2010 pelo
casal Paulo Sousa Costa e Carla Matadinho e produziu produções teatrais de
enorme sucesso como “Os 39 Degraus”, “Aladino e a Gruta Mágica-O Musical no
Gelo”, “A Verdadeira História da Cigarra e da Formiga”, “Gisberta” e “Zorro”. Como
vê o percurso que a produtora tem feito, desde a sua fundação até agora?
M.Q: Como qualquer
empresa, em Portugal, é preciso que as coisas se façam com calma e com os pés
assentes. Claro que é preciso haver determinação e garra mas, por vezes, isso
só não chega. Felizmente, a Carla e o Paulo têm conseguido, na minha opinião,
levar a empresa ao crescimento e com grande sucesso. Temos trabalho regular e
somos reconhecidos nas áreas em que trabalhamos porque, embora a empresa esteja
muito ligada ao teatro, trabalhamos noutras áreas, nomeadamente, ligadas à
comunicação, onde também sou interveniente.
M.L: Também experimentou o cinema. Entre o Teatro e o
Cinema, em qual destes géneros em que se sente melhor?
M.Q: Quando me formei,
aquilo que eu queria mesmo fazer era produzir! Não me preocupava muito o resto,
desde que eu fizesse aquilo de que gostava. Eu sinto-me bem e feliz a trabalhar
em produção.
M.L: Como vê, atualmente, a Cultura em Portugal?
M.Q: Infelizmente, a Cultura,
em Portugal, quase não se vê. Não percebo como é que se gasta dinheiro em
assuntos que não trazem mais-valias para o povo português e depois não há
dinheiro para a Cultura. Espero que esta crise no país, e consequentemente
na Cultura, seja apenas uma fase menos boa a ser ultrapassada, num futuro
breve.
M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
M.Q: Não penso muito
nisso. Estou ainda a iniciar uma carreira que desejo prolongar, durante muito
tempo. Gostava de fazer algumas formações, no Brasil, na área da produção de
televisão, mas "internacionalizar-me" não é um objetivo.
M.L: O meio artístico português enfrenta, atualmente,
uma enorme instabilidade. Na sua opinião, quais são os desafios que um produtor
tem que enfrentar, perante esta instabilidade?
M.Q: Como ainda estou a
consolidar algumas coisas e não sou produtora executiva, não sinto as
dificuldades na pele, ou seja, não monto espetáculos nem os faço circular. Mas,
por aquilo que vejo acontecer nesta área, é cada vez mais difícil fazer teatro,
em Portugal. Não há apoios e a maior parte dos teatros não tem capacidade
financeira de adquirir espetáculos. Há sempre o risco do espetáculo dar ou não
lucro porque, cada vez mais, as pessoas definem prioridades e uma ida ao teatro
pode ou não ser possível concretizar.
M.L: Que balanço faz do percurso profissional que tem
feito até agora?
M.Q: Ainda sou uma “bebé”!
Tenho a sorte de, às vezes, estar no lugar certo à hora certa, mas olhando para
trás e vendo aquilo que, em tão pouco tempo, consegui fazer, sinto-me orgulhosa
das escolhas que fiz e que continuo a fazer. É bom olhar para trás e perceber
que a determinação pode ser um dos nossos melhores trunfos. Se continuar a
fazer o que gosto e com quem gosto, então tenho a certeza que, daqui a uns
anos, pensarei da mesma forma.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
M.Q: Em relação a projetos
já fechados, tenho em cena, de dia 12 de Março a 13 de Abril, no Teatro da
Trindade, a peça “Boeing Boeing”, onde faço parte da produção. Ainda este ano,
tenho a rodagem de uma curta-metragem e um musical. Há também alguns
projetos em cima da mesa, mas ainda nada está fechado.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
M.Q: Uma coisa que eu gostava
imenso de fazer, e que já tinha em mente muito antes de entrar para a
faculdade, é televisão. É uma das áreas que eu nunca explorei e, isso sim, é um
objetivo que espero cumprir assim que possível.
M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da
sua vida?
M.Q:
Assim de repente, não me lembro de nada. Tenho tudo nos lugares certos.
Considero-me, nesta altura, uma pessoa bem resolvida em todos os aspetos.ML
domingo, 16 de março de 2014
Mário Lisboa entrevista... Ana Rita Pinto

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
A.R.P: Desde muito pequena
que sempre estive ligada a grupos de teatro e quando acabei o 9º ano já vinha
com o gosto anterior pelo palco e pelas artes e surgiu a oportunidade de
investir na minha formação e foi quando comecei a estudar Teatro e formei-me em
Teatro no Balleteatro Escola Profissional.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
A.R.P: Tenho várias. Não
consigo dizer só um nome, porque há muita gente que eu gosto de ver, há atores
muito bons e de todos eles eu consigo retirar um bocadinho o que há de bom.
M.L: Faz, essencialmente, teatro. Gostava de trabalhar
mais no audiovisual (Cinema e Televisão)?
A.R.P: O cinema é uma área
que me fascina muito. Eu acho que qualquer ator pretende, um dia, chegar à
televisão, não vou dizer que seja o meu objetivo maior, porque não é, mas tenho
a noção de que, um dia, vou precisar de fazer televisão até para conseguir
viver no teatro que não é fácil.
M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, até agora,
enquanto atriz?
A.R.P: Houve dois
trabalhos. O primeiro foi “Peter Pan-O Musical” que foi a minha grande estreia
no teatro, foi um dos meus melhores trabalhos e foi onde eu percebi que este
era, realmente, o meu caminho. Depois foi o “Aladino e a Gruta Mágica-O Musical
no Gelo”, porque para além de ter tudo o que um musical tem que é a dança, a
interpretação e a música, também tinha a patinagem que era maravilhoso.
M.L: “Aladino e a Gruta Mágica-O Musical no Gelo” foi
coproduzido pela Yellow Star Company do casal Paulo Sousa Costa e Carla
Matadinho. Como foi trabalhar com eles?
A.R.P: Foi muito bom,
aliás toda a experiência do “Aladino…” foi muito interessante. Começando pela
produção (Yellow Star Company) e continuando com toda a equipa que era
realmente maravilhosa.
M.L: Como vê, atualmente, a Cultura em Portugal?
A.R.P: Infelizmente, os
artistas são muito pouco valorizados, porque as pessoas ainda não perceberam
que é impossível viver sem as artes. O nosso país valoriza muito pouco a
Cultura.
M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
A.R.P: Eu gostava muito de
completar a minha formação noutro país e de ter a oportunidade de ir para
outros caminhos, para alargar horizontes.
M.L: Tem desenvolvido o seu percurso como atriz no
Porto. Gostava de trabalhar mais em Lisboa?
A.R.P: Eu já trabalhei em
Lisboa várias vezes. Na verdade, o público do Porto é mais caloroso do que o
público de Lisboa.
M.L: Nos últimos anos, tem surgido jovens que
enveredaram pela representação influenciados pelo fascínio transmitido pela
televisão, através dos seus produtos de ficção (nomeadamente telenovelas). Na
sua opinião, acha que, um dia, esse fascínio diminuirá e que os jovens irão
enveredar-se pela representação de uma maneira mais séria?
A.R.P: Eu espero
sinceramente que sim. É um facto de que cada vez mais as crianças e os jovens
são influenciados por aquele “mundo maravilha” que vêm nas televisões. O que é um
grande erro, pois ser ator ou atriz é muito mais do que aquilo e muitas vezes a
única parte maravilhosa é fazermos o que gostamos. É essencial que se comece a
dar valor à formação nestas áreas.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito, até
agora, como atriz?
A.R.P: Dependendo de como estão as coisas no nosso
país e na Cultura. Felizmente, não me posso queixar, acho que sou mesmo uma
privilegiada, eu ainda não tinha acabado o meu curso e já trabalhava
profissionalmente como atriz e desde que acabei o curso acho que as coisas têm
corrido muito bem.ML
quarta-feira, 5 de março de 2014
Mário Lisboa entrevista... António Jorge

M.L: Quando surgiu o interesse pelo jornalismo?
A.J: Quando eu tinha 13 anos, havia na Escola Secundária de
Cinfães (de onde eu sou natural) uma rádio da escola e comecei a trabalhar na
rádio, por causa de um professor que me convidou para ir para lá. Era o
Engenheiro Nuno, de quem guardo boas memórias. E a partir daí, comecei a fazer
coisas na rádio e não demorou muito tempo a vir trabalhar no Porto para a Rádio
Comercial Norte. Depois da Rádio Comercial Norte, aos 18 anos fui para a Antena
1 e estou lá, desde então, muitas vezes, tenho trabalhado fora da Antena 1, mas
mantendo sempre aqui o meu trabalho, tenho feito coisas na área da televisão,
na área da escrita… Basicamente, o meu interesse pelo jornalismo começa de uma
forma acidental e depois torna-se numa paixão.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto
jornalista?
A.J: São todos os grandes
jornalistas que fazem todos os dias o seu trabalho sem cederem a pressões, sem
privilegiarem grupos económicos, sem privilegiarem grupos políticos. São todos os
que fazem, diariamente, um trabalho de permanente procura da verdade.
M.L: Trabalha, essencialmente, na rádio. Gostava de
ter trabalhado mais em outros meios de comunicação como, por exemplo, a
imprensa?
A.J: Tive algumas experiências na imprensa. Eu confesso que a
partir do momento em que se começa a trabalhar na rádio como comecei aos 13
anos começamos pela prática a ficar muito formatados para escrever para falar,
escrever para dizer. E escrever para dizer, ao fim de tantos anos como eu faço,
acaba por ser quase natural, o que não me retira a obrigação de, sempre que
escrevo alguma coisa para outros lerem, a ter cuidado com aquilo que escrevo,
de cumprir regras de português e ser o mais claro possível. Isso, para mim, não
é tão fácil, não é tão “natural” como escrever para a rádio, mas tive a
oportunidade de ter uma atividade mais permanente na área da imprensa, nunca me
senti especialmente seduzido por isso, assim como nunca me deslumbrou, por
exemplo, a televisão, apesar de ter feito várias coisas na televisão.
M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, durante o
seu percurso como jornalista?
A.J: Vários. Eu tenho um
percurso, enquanto jornalista, que me fez passar por variadíssimas situações e
todas elas diferentes. Cada uma no seu registo, com muitos desencantos e com
muito prazer.
M.L: Como vê, atualmente, a Comunicação Social em
Portugal?
A.J: Está muito presa em
interesses económicos. Nesta altura, há na Comunicação Social em Portugal
(salvo algumas exceções) uma proximidade muito grande entre os interesses dos
grupos económicos com aquilo que a imprensa reproduz e isso é bastante
perigoso.
M.L: Gostava de ter feito uma carreira internacional?
A.J: Adorava ter sido
correspondente em Nova Iorque, em Paris ou em Londres, mas nunca tive oportunidade.
M.L: Qual foi o momento que mais o marcou, durante o
seu percurso como jornalista?
A.J: A queda da Ponte de Entre-os-Rios. Estive lá duas semanas,
sem vir a casa, sem praticamente dormir. Num momento muito difícil para o país,
muito difícil para aquelas pessoas e com uma particularidade: eu sou natural de
uma zona muito próxima de Entre-os-Rios, portanto conheço muito bem aquela
região, não conhecia ninguém que tivesse falecido no acidente, mas digamos que
a dor daquelas pessoas naquela altura era também a minha dor, sentia aquilo
como tivesse sido também um acidente comigo. Portanto, foi o momento mais
marcante. Mas houve outros: Os dez anos do 11 de Setembro, o 11 de Março em
Espanha, e agora mais recentemente a cobertura das cerimónias fúnebres de
Nelson Mandela, na Africa do Sul…
M.L: Atualmente, apresenta na Antena 1 o programa
“Antena Aberta” que teve uma versão televisiva que
apresentou, juntamente, com Eduarda Maio e que terminou em 2011 com o fim da
RTPN (atual RTP Informação). Como está a correr o programa?
A.J: Está a correr exatamente igual ao que corria até então. Quando
veio da TSF para a Antena 1, a Eduarda Maio começou a fazer este espaço
interativo, depois a direção da rádio decidiu que eu o fizesse, e o espaço
ficou sempre (quase sempre), até hoje, a ser editado a partir do Porto.
Basicamente, eu sempre fiz o “Antena Aberta”, desde 2008 até agora.
Pessoalmente, eu nunca gostei da versão televisiva do “Antena Aberta”. A decisão
não era minha, portanto tinha apenas que cumprir ordens. Nunca gostei da versão
televisiva, no sentido plástico da coisa, eu acho que nunca houve interesse de
investir neste simultâneo entre a rádio e a televisão, porque, do ponto de
vista do formato televisivo, o programa era bastante pobre e podia ter tido
melhoramentos, ao nível da imagem. Foi,
no entanto, o primeiro programa a ser feito em simultâneo, e depois de quebrado
esse simultâneo, sinceramente, acho que ficou a perder, quer a rádio, quer a
televisão, porque a televisão conseguia ter uma visibilidade junto de um
público que está em movimento àquela hora, ter uma visibilidade junto de um
público que não tem que pagar a um distribuidor de televisão por cabo para
terem informação com a marca da RTP. A rádio fica a perder na medida em que
também perde visibilidade na televisão, mas, pessoalmente, não estou nada
insatisfeito pelo facto de não estar a fazer o programa na televisão.
M.L: Qual foi a situação mais embaraçosa que o marcou,
até agora, durante o seu percurso como jornalista?
A.J: Tive várias. Muitas
delas decorrentes devido ao facto de eu estar a fazer um programa em direto com
as características do “Antena Aberta”. Pelo menos duas vezes, fui maltratado no
ar, chamaram-me nomes, de pessoas que eu não conheço, não faço a ideia de que
tipo de motivação é que tinham para dizerem aquilo, eu acho que têm,
obviamente, algum défice educacional para terem tido esse comportamento. Foram
situações desagradáveis, mas ultrapassei-as com imensa tranquilidade e eu acho
que esses foram os momentos mais desagradáveis. Não me recordo de outros.
M.L: Como vê, hoje em dia, Portugal e o Mundo?
A.J: Vejo Portugal com uma grande dificuldade em sair desta falta
de esperança, acho que o país está com falta de horizonte, acho que é um
sentimento que é generalizado. Começo a achar que os índices de felicidade em
Portugal (que, apesar de tudo, nunca
foram extraordinários comparativamente aos outros países da Europa) vão
continuar a baixar. Acho que temos de nos ajustar a viver com menos dinheiro, mas
não devemos baixar os braços e deixarmo-nos ficar num estado nostálgico perante
esta aparente ausência de horizonte. Quando perdermos essa vontade de querer
olhar mais adiante, aí sim acho que o futuro pode ser absolutamente negro.
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira no jornalismo?
A.J: Que procure outra carreira (risos). Acho que só vai para o
jornalismo quem tem, de facto, muita paixão seja pela rádio, pela televisão,
pelos jornais, pela Internet. Tem que haver uma verdadeira paixão para com os
princípios básicos desta profissão: o primeiro deles é o respeito por quem nos
ouve, por quem nos lê, por quem nos vê, porque eu sinto isso, diariamente com
as pessoas que saem das faculdades, com os estagiários que me apresentam aqui
para a rádio. Quem quiser vir para o jornalismo, tem que perceber exatamente
para onde vai, ter os pés bem assentes na terra e saber que nunca será rico,
que vai ter condições de trabalho sempre (ou muitas vezes) precárias, portanto
se puderem mais vale pensar noutra profissão.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito, até
agora, como jornalista?
A.J: É um balanço positivo. Eu costumo dizer aos meus amigos que
me pagam para curtir, mas sei que dizer isto assim pode parecer displicente, o
que quero dizer é que amo o que faço, porque eu comecei a trabalhar na rádio
aos 13 anos e continuo a ter o mesmo prazer.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
A.J: Gostava de percorrer o país, durante um mês, a
fazer reportagem… Tenho vários projetos e esse é um deles. Um dos primeiros
livros que o José Saramago escreveu chama-se “Viagem a Portugal” e eu li esse
livro há muitos anos e sempre tive esta ideia que era fazer em rádio aquele
livro ou seja pegar no livro e ir à procura daquelas terras que o José Saramago
descreve e fazer reportagens naquelas terras fazendo um paralelo entre a
realidade daquele encontro e a realidade em que se encontra o José Saramago.
Isso era uma coisa que eu gostava de fazer.ML
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