Entrevista com... Custódia Gallego (Atriz)
terça-feira, 31 de maio de 2016
Mário Lisboa entrevista... Suzana Borges
Estreou-se na representação em 1979 com a peça "O Despertar da Primavera"/"Tragédia Infantil", e tem desenvolvido nos últimos 37 anos um percurso muito exemplar como actriz que passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão (onde entrou em produções como "Pedra Sobre Pedra" (TV Globo/RTP), "A Banqueira do Povo" (RTP), "Desencontros" (RTP), "Ballet Rose-Vidas Proibidas" (RTP), "Jardins Proibidos" (TVI), "O Olhar da Serpente" (SIC), "Ninguém como Tu" (TVI), "Vila Faia" (RTP), "Conta-me como foi" (RTP), "Deixa Que Te Leve" (TVI), "Pai à Força" (RTP), "Louco Amor" (TVI), "Bem-vindos a Beirais" (RTP). Uma das actrizes mais brilhantes da sua geração, tem feito continuamente formação, e, actualmente, participa na peça "'Allo 'Allo!" que é inspirada na popular série televisiva britânica com o mesmo título e está em digressão. Esta entrevista foi feita no passado dia 16 de Maio.
M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
S.B: Talvez muito cedo,
por volta dos 6 anos, mas não tenho data, nem ideia precisa.
M.L: Quais são as suas referências, enquanto actriz?
S.B: Meryl Streep é continuamente uma referência,
Ralph Fiennes, Benicio Del Toro, Adrien Brody, Joaquin Phoenix…
M.L: De todos os trabalhos que tem feito até agora como
actriz, qual foi o que teve mais impacto em si em todos os aspectos?
S.B: D. Madalena de Vilhena em "Quem És
Tu?" (2001) de João Botelho.
M.L: Em 1995, participou na telenovela “Desencontros”
que foi exibida na RTP, na qual interpretou a vilã Manuela Branco. Em que se
inspirou para interpretar esta personagem, tendo em conta as suas motivações e
a trama em si?
S.B: No texto primeiro, depois os figurinos do
José Carlos que passei a usar foram uma grande inspiração. Mas as personagens, espero,
adquirem uma vida própria á medida que as vamos fazendo.
Suzana Borges como "Manuela Branco" em "Desencontros" |
M.L: Como vê, hoje em dia, o meio artístico em termos
globais?
S.B: Isto é o que quero
expressar sobre o meio artístico actualmente. É favor deixar as reticências.
.......................................................................................................
Mas, espero que o actual
governo de esquerda tenha a coragem de estabelecer, finalmente, um estatuto do
artista condigno de uma profissão que cria imaginários, como a nossa, e que
origina tanto capital na cultura e na economia do país.
M.L: Em 2016 celebra 37 anos de carreira, desde que se
estreou como actriz com a peça “O Despertar da Primavera”/“Tragédia Infantil” no
Palácio das Galveias em 1979. Que balanço faz destes 37 anos?
S.B: O melhor de tudo é
ainda, e sempre, sentir um imenso prazer em trabalhar.
M.L: Em 1992, estreou-se nas telenovelas com “Pedra
Sobre Pedra” que foi uma co-produção TV Globo/RTP e da autoria de Aguinaldo
Silva, Ana Maria Moretzsohn e Ricardo Linhares. Olhando para trás, como revê a
sua estreia neste género televisivo específico?
S.B: Bem, ou muito bem por ser uma estreia numa
telenovela da Globo, a 4ª maior televisão do mundo, etc. Se calhar, quanto à
representação, menos bem, imagino. Mas não costumo ver o que faço. De qualquer
forma ter começado lá estabeleceu um padrão de exigência e competência de todas
as funções, que aliás se acentuou cá em “A Banqueira do Povo” (RTP), com
direcção do Walter Avancini, em que interpretei Maria do Carmo, uma personagem
muito diferente das anteriores.
Suzana Borges e o falecido Carlos Daniel em "Pedra Sobre Pedra" |
M.L: Actualmente, participa na peça “’Allo ‘Allo!” que
é inspirada na popular série televisiva que foi exibida na BBC entre 1982/1992
e está em digressão. Sendo mais vista como uma actriz dramática, como é que as
pessoas têm reagido ao seu desempenho dentro de um registo oposto, mais cómico?
S.B: Acho que têm reagido
bem. Mas para mim essa é uma falsa questão. Eu gosto da versatilidade e tenho
lutado para não ficar ligada a um perfil de personagem, o que é muito fácil de
acontecer em televisão, por exemplo. Mas penso que quando o público me está a
ver fazer a Helga, não lhe interessa nada se sou dramática ou cómica, mas sim,
se sou credível, ou melhor, se os surpreendo enquanto espia, soldado raso,
loura....
Suzana Borges como "Helga" em "'Allo 'Allo!" |
M.L: No que diz respeito à formação, fez 11 workshops com Marcia Haufrecht e aprendeu
o Método. Na sua opinião, o Método devia ser mais reconhecido em Portugal e
mais utilizado pelos seus actores?
S.B: Eu nunca estive no
Conservatório por isso fui fazendo continuamente formação. De facto, os workshops da Marcia foram mais
numerosos, depois do trabalho de voz com a Maria do Rosário Coelho, que fiz
durante 33 anos, e que muito prezo. O Método, é mais um método, mas é verdade
que quando se abraça faz avançar muito rapidamente as nossas capacidades. Acho
que para todos os actores seria bom conhecê-lo, embora não pense que seja adaptado
a todas as pessoas. Eu prefiro a Stella Adler, que acho mais abrangente e mais
ligado a questões de consciente colectivo, imaginação.
M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na representação?
S.B: Amor pelo trabalho,
disciplina, formação, método. Os mesmos que o José Alberto Osório Mateus, que
encenou "Tragédia Infantil", nos deu há 37 anos e que têm sido
regras de ouro, nos tempos fáceis e difíceis.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda nesta altura da sua vida?
S.B: Ir a Nova Iorque?ML
Esta entrevista não foi convertida sob o novo Acordo Ortográfico.
Fotografia: José Pinto Ribeiro
Fotografia: José Pinto Ribeiro
quinta-feira, 26 de maio de 2016
Mário Lisboa entrevista... Patrícia Tavares
O interesse pela representação surgiu aos 8 anos de idade, mas a sua grande oportunidade surgiu em 1996 com a telenovela "Roseira Brava" (RTP), onde interpretou a sofrível protagonista Anabela, e a partir daí tornou-se numa das atrizes mais populares e acarinhadas pelo público português, com um percurso que passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão (onde também participou em produções como "Primeiro Amor" (RTP), "Vidas de Sal" (RTP), "Filhos do Vento" (RTP), "Terra Mãe" (RTP), "Os Lobos" (RTP), "A Lenda da Garça" (RTP), "Ganância" (SIC), "Não Há Pai" (SIC), "O Olhar da Serpente" (SIC), "Jura" (SIC), "Vingança" (SIC), "Chiquititas" (SIC), "Olhos nos Olhos" (TVI), "Meu Amor" (TVI), "Remédio Santo" (TVI), "I Love It" (TVI), "Jardins Proibidos" (TVI). Também tem experiência na direção de atores, e, atualmente, co-protagoniza o espetáculo "Noivo por Acaso" que está em cena no Teatro Sá da Bandeira no Porto até ao próximo dia 29 de Maio. Esta entrevista foi feita no passado dia 17 de Abril no Teatro Sá da Bandeira.
https://www.facebook.com/Patr%C3%ADcia-Tavares-Actriz-1773819172846764/?fref=ts
M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
P.T: Cedo, com 8 anos.
Quando comecei a experimentar fazer figuração em cinema e foi aí nessa altura
que percebi que queria ser atriz e tenho conseguido cumprir o meu desejo, o meu
sonho. Tenho realizado essa vontade.
M.L: Quais são as suas referências, enquanto atriz?
P.T: As minhas referências
são muitas. São as pessoas com quem eu vou cruzando, com quem eu vou aprendendo.
O Nicolau (Breyner), com certeza, é uma grande referência, o Chico Nicholson
outra, o Armando Cortez, o Álvaro (Fugulin). Estas pessoas já partiram, mas
outras todas continuam a fazer parte da minha vida e ainda bem que fazem.
M.L: De todos os trabalhos que tem feito até agora como
atriz, qual foi o mais marcante para si do ponto de vista pessoal, artístico,
etc.?
P.T: Não é uma pergunta muito
fácil para mim. Não consigo identificar nenhuma personagem, acho que gosto de
todas as que tenho a possibilidade de criar.
M.L: Em 1996, teve a sua grande oportunidade como
atriz com a telenovela “Roseira Brava” (RTP). 20 anos depois, como revê essa
grande oportunidade que teve na altura?
P.T: A oportunidade foi
procurada. Eu fui a um casting, não
foi fácil, já tinha ouvido muitos nãos, já estava naquela altura de talvez
desistir, ter que estudar para outra coisa, de pensar no meu futuro de outra
maneira, e foi quando aconteceu ser escolhida pelo Nicolau (produtor) e pelo meu querido Tozé Martinho (autor) e a minha aventura começou aí.
Patrícia Tavares como "Anabela" em "Roseira Brava" |
M.L: Como vê, hoje em dia, o meio artístico em termos
gerais?
P.T: Eu acho que temos
evoluído bastante. Há muito mais caminho a trilhar, acho que temos ótimos meios
humanos, quer da parte técnica quer dos atores, acho que temos imensa gente com
imenso talento e que estamos no caminho certo. Temos que continuar a andar para
frente e trabalhar, acho que só assim é que se conseguem as coisas.
M.L: Como lida com o público que tem acompanhado a sua
carreira nos últimos 20 anos?
P.T: Eu acho uma ternura e
sinto-me muito feliz e agradecida, quando as pessoas me abordam e me dizem,
“Acompanho-a desde pequenina e gosto muito do seu trabalho.”, e é uma frase que
toda a gente diz e que é ótima de se ouvir. É muito bom que gostem do meu
trabalho e sentir este carinho.
M.L: Além da representação, também tem experiência
como diretora de atores. Gostava de, um dia, desenvolver mais um percurso
alternativo em dirigir atores?
P.T: Nunca pensei muito
nisso. Eu vou aproveitando as oportunidades que me dão. É uma coisa que eu
gosto muito de fazer também, mas o que me completa é ser atriz. O que me
estimula mais é ser atriz, mais do que ser diretora de atores, embora na
realidade eu sempre estive como assessora de um diretor de atores, eu nunca fui
diretora de atores à exceção de quando fizemos “Crianças SOS” (TVI) em que o
elenco infantil estava completamente entregue a mim. Mas é uma coisa que me dá
imenso prazer, onde eu aprendi imenso também por estar atrás e a observar.
M.L: Em 2010, Portugal conquistou o seu primeiro Emmy
com a telenovela “Meu Amor” (TVI), na qual participou. Qual foi a sua sensação,
quando soube que “Meu Amor” ganhou o prémio?
P.T: Honestamente, eu não
fico deslumbrada com esse género de premiação. É de facto bom o nosso trabalho
ser reconhecido sobretudo lá fora, mas isso não quer dizer que se possa estar
descansado e viver sobre o fruto do que é um prémio. Pelo contrário, acho que
temos muito mais a provar agora e temos muito mais a fazer e não tenho dúvidas
que temos as qualidades humanas necessárias para que isso aconteça.
M.L: O Nicolau Breyner teve nos últimos 20 anos uma
enorme influência na sua vida. Como vê o percurso de 56 anos que ele
desenvolveu até falecer recentemente?
P.T: Foi um homem com uma
vida riquíssima. É um homem enorme e é sem dúvida uma fonte de inspiração. Foi
um privilégio e uma honra ter feito parte da vida dele e ele continuará a fazer
parte da minha vida sobretudo pelos ensinamentos que me transmitiu e isso eu
farei questão de honrar, enquanto estiver por cá.
Patrícia Tavares e Nicolau Breyner |
M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na representação?
P.T: Estar atento o máximo
possível, observar, aprender a estar na profissão e não esperar que isto seja
um mar de rosas.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem desenvolvido
até agora como atriz?
P.T: Vou andando um dia de
cada vez, com a certeza de que há muito para aprender e com a imensa gratidão
que sinto de poder fazer parte deste mundo que é o mundo que eu escolhi quando
tinha 8 anos, portanto isto para mim é de facto uma grande emoção e uma grande
alegria e é uma prova de que os sonhos tornam-se realidade. Não podemos é ficar
à espera que nos batam à porta e que eles aconteçam, temos que fazer por eles.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda nesta altura da sua vida?
P.T: Há muita coisa para
fazer ainda, também não penso na vida dessa maneira. Há com certeza muita coisa
que eu ainda não vivi e que vou viver no seu tempo, sem pressa e sem grande
vontade de “quero cumprir aquilo”. Há muita coisa que quero cumprir, mas vou
cumprindo diariamente.MLhttps://www.facebook.com/Patr%C3%ADcia-Tavares-Actriz-1773819172846764/?fref=ts
segunda-feira, 23 de maio de 2016
"Bons Rapazes"
Estreou no passado fim-de-semana nos EUA e com estreia portuguesa prevista para o próximo dia 25 de Maio, o thriller de ação e comédia, "Bons Rapazes", que marca a 3ª incursão do guionista Shane Black pela realização de longas-metragens após "Kiss Kiss, Bang Bang" (2005) e "Homem de Ferro 3" (2013) e conta com a participação de atores como Russell Crowe, Ryan Gosling, Matt Bomer, Keith David e Kim Basinger.
Exibido fora de competição na 69ª edição do Festival de Cannes, "Bons Rapazes" passa-se na Los Angeles dos anos 70, onde o detetive privado Jackson Healy (Russell Crowe) é contratado por uma funcionária do Departamento de Justiça dos EUA (Kim Basinger) para investigar o paradeiro da sua filha (Margaret Qualley) e protegê-la. De alguma forma parece estar relacionado com o desaparecimento da jovem a morte de uma antiga estrela de filmes pornográficos e Jackson, habituado a resolver assuntos à força, terá de contar com a colaboração de Holland March (Ryan Gosling) que também é detetive privado, mas com uma personalidade e estilo muito distintos.
Trailer "Bons Rapazes"
Review de Chris Stuckmann a "Bons Rapazes"
Mário Lisboa
sexta-feira, 13 de maio de 2016
"Ao Vivo e em Directo" no Teatro Aberto até 22 de Maio
Está em cena até ao próximo dia 22 de Maio no Teatro Aberto, a peça "Ao Vivo e em Directo" de Raul Malaquias Marques, encenada por Fernando Heitor e com a participação de atores como Dina Félix da Costa, Maria Emília Correia, Paulo Pires e Rui Mendes.
Vencedora do Grande Prémio de Teatro Português em 2014, "Ao Vivo e em Directo" deixa em aberto a reflexão sobre uma sociedade em permanente negociação entre os princípios da justiça e os julgamentos da opinião pública.
TV Spot "Ao Vivo e em Directo"
Rui Mendes e Paulo Pires |
Maria Emília Correia, Dina Félix da Costa e Rui Mendes |
Mário Lisboa
"Filhos da Lua" na Casa de Teatro de Sintra até 5 de Junho
Estreia no próximo dia 20 de Maio na Casa de Teatro de Sintra, a peça "Filhos da Lua" de Tennessee Williams, encenada por Graça P. Corrêa e protagonizada por Alexandra Diogo (http://mlisboaentrevista.blogspot.pt/2015/06/mario-lisboa-entrevista-alexandra-diogo.html) e Nuno Machado.
Partindo de 3 peças em um ato e em cena até ao próximo dia 5 de Junho, "Filhos da Lua" é, de acordo com Graça P. Corrêa, uma
visita ao universo ficcional de Tennessee Williams, misterioso e vitalista,
povoado de personagens que nos revelam a sua revolta, a sua humana fragilidade
e os seus sonhos de liberdade.
Alexandra Diogo e Nuno Machado, os protagonistas de "Filhos da Lua" |
Mário Lisboa
quinta-feira, 12 de maio de 2016
"Espectros" no Teatro Nacional São João até 29 de Maio
Estreia hoje no Teatro Nacional São João no Porto, a peça "Espectros" de Henrik Ibsen, encenada por João Mota e com a participação de atores como António Reis, Custódia Gallego e Júlio Cardoso.
Produzida pela reputada companhia portuense Seiva Trupe e em cena até ao próximo dia 29 de Maio, "Espectros" foi escrita em 1881 e é, como descreveu o próprio Ibsen, uma história de família, cinzenta e sombria como um dia de chuva, onde ao longo de uma noite de chuva são várias as tempestades interiores que se abatem sobre as personagens num constante combate entre a liberdade caótica e a ordem repressiva.
Helene Alving (Custódia Gallego) |
Osvald (Ricardo Ribeiro) e Helene Alving (Custódia Gallego) |
Mário Lisboa
segunda-feira, 9 de maio de 2016
Mário Lisboa entrevista... Manuel Arouca
Nascido em Moçambique, o interesse pela escrita surgiu muito cedo ao ser incutido por uma professora, e nas últimas 3 décadas tem deixado a sua marca tanto a nível literário como televisivo como um dos mais reputados e marcantes autores no panorama artístico português. Casado e com 3 filhos, gostava de ter sido um craque do Benfica, e recentemente escreveu o livro "Jacinta: A Profecia" que retrata a vida da pastora de Fátima, Jacinta Marto. Esta entrevista foi feita no passado dia 6 de Maio.
M.L: Quando surgiu o interesse pela escrita?
M.A: O interesse para a
escrita foi-me incutido por uma professora quando eu tinha cerca de 12 anos. Ela
própria disse que eu ia escrever um livro e isso motivou-me a ser um escritor.
M.L: Quais são as suas referências nesta área?
M.A: Eça (de Queiroz) foi
o primeiro grande mestre, mas outros marcaram-me como Camilo Castelo
Branco, Erico Veríssimo, Jorge Amado, (Ernest) Hemingway.
M.L: De todos os trabalhos que tem feito até agora
como escritor, qual foi o que teve um enorme impacto em si para toda a vida?
M.A: O que está a ter mais
impacto é este da "Jacinta: A Profecia" que a Oficina do Livro acabou
de editar. Viajar pelo mundo psicológico e espiritual da Jacinta é algo que nos
marca para sempre.
M.L: Em 1996, co-escreveu a telenovela “Primeiro Amor”
que foi exibida na RTP e retratou, por exemplo, a corrupção futebolística. Já
alguma vez imaginou que este tipo de corrupção estaria hoje em dia na ordem do
dia em Portugal, tendo em conta que não era propriamente muito falada há 20
anos atrás?
M.A: A corrupção é um flagelo
que atinge a humanidade globalmente, a do futebol nos anos 90 já era uma
realidade muito forte, talvez mais camuflada do que hoje em dia. Hoje a
corrupção é-nos apresentada como algo com que temos que conviver, uma
naturalidade assustadora.
M.L: Como olha, hoje em dia, para o meio artístico
desde as últimas 3 décadas?
M.A: No meu meio, escrita
de livros e guiões, nos livros, dá a sensação por vezes que interessa
mais a visibilidade de quem escreve do que propriamente a sua arte para
escrever (não era assim há 3 décadas), no guionismo, houve uma forte profissionalização,
é cada vez mais um trabalho de equipa, sujeito a técnicas que exigem muito
treino e rotinas. O perigo é que às vezes se perde a "alma".
M.L: Passou pela advocacia, antes de se enveredar inteiramente
pela escrita. Já alguma vez se arrependeu de ter deixado essa área?
M.A: Mais os meus filhos, porque
a atividade como escritor e guionista é muito instável. Financeiramente sim,
até porque sou de uma geração que fez muito dinheiro na advocacia.
M.L: Em 1995, escreveu o livro “O Desejado” que era
uma ficção sobre o ressurgimento de D. Sebastião na atualidade dos anos 90.
Como é que surgiu na altura a ideia de escrever este livro?
M.A: É uma boa pergunta, mas
penso que “O Desejado” foi uma experiencia literária a pensar numa novela na
área do "fantástico", uma espécie de "Roque Santeiro" (TV
Globo) à portuguesa. Não resultou nem uma coisa nem outra, mesmo que tenha-me
dado imenso gozo escrever "O Desejado".
M.L: Nasceu na África portuguesa (Moçambique), onde passou
os primeiros anos da sua infância e inspirou alguns dos seus trabalhos
literários e televisivos. A seu ver, o continente africano em geral poderá ter
a paz serena que merece há imenso tempo?
M.A: Em relação ao
continente africano, sobretudo aquele que nos é mais chegado, pôs o dedo na
ferida. Essa paz e prosperidade, só com o fim da corrupção, em termos
imediatos, só com um verdadeiro milagre. Eu como amo África e sobretudo
Moçambique tenho essa fé.
M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na área da escrita?
M.A: Se tiver o dom e o
talento, ter poucas expectativas financeiras, ter paciência, perseverança,
humildade, sempre atento, e ter muita capacidade de observação e trabalho.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem desenvolvido
até agora como escritor?
M.A: Não consigo fazer
esse balanço. Deixo para que os outros o façam.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda nesta altura da sua vida?
M.A:
O que gostava, já não posso fazer, que era ter sido um craque do Benfica. Atualmente gostava
de uma coisa que nunca tive, estabilidade financeira e com isso poder ler
muito e muito e consequentemente escrever muito e muito.ML
sábado, 7 de maio de 2016
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