segunda-feira, 9 de maio de 2016

Mário Lisboa entrevista... Manuel Arouca

Nascido em Moçambique, o interesse pela escrita surgiu muito cedo ao ser incutido por uma professora, e nas últimas 3 décadas tem deixado a sua marca tanto a nível literário como televisivo como um dos mais reputados e marcantes autores no panorama artístico português. Casado e com 3 filhos, gostava de ter sido um craque do Benfica, e recentemente escreveu o livro "Jacinta: A Profecia" que retrata a vida da pastora de Fátima, Jacinta Marto. Esta entrevista foi feita no passado dia 6 de Maio.

M.L: Quando surgiu o interesse pela escrita?
M.A: O interesse para a escrita foi-me incutido por uma professora quando eu tinha cerca de 12 anos. Ela própria disse que eu ia escrever um livro e isso motivou-me a ser um escritor.

M.L: Quais são as suas referências nesta área?
M.A: Eça (de Queiroz) foi o primeiro grande mestre, mas outros marcaram-me como Camilo Castelo Branco, Erico Veríssimo, Jorge Amado, (Ernest) Hemingway.

M.L: De todos os trabalhos que tem feito até agora como escritor, qual foi o que teve um enorme impacto em si para toda a vida?
M.A: O que está a ter mais impacto é este da "Jacinta: A Profecia" que a Oficina do Livro acabou de editar. Viajar pelo mundo psicológico e espiritual da Jacinta é algo que nos marca para sempre.

M.L: Em 1996, co-escreveu a telenovela “Primeiro Amor” que foi exibida na RTP e retratou, por exemplo, a corrupção futebolística. Já alguma vez imaginou que este tipo de corrupção estaria hoje em dia na ordem do dia em Portugal, tendo em conta que não era propriamente muito falada há 20 anos atrás?
M.A: A corrupção é um flagelo que atinge a humanidade globalmente, a do futebol nos anos 90 já era uma realidade muito forte, talvez mais camuflada do que hoje em dia. Hoje a corrupção é-nos apresentada como algo com que temos que conviver, uma naturalidade assustadora.


M.L: Como olha, hoje em dia, para o meio artístico desde as últimas 3 décadas?
M.A: No meu meio, escrita de livros e guiões, nos livros, dá a sensação por vezes que interessa mais a visibilidade de quem escreve do que propriamente a sua arte para escrever (não era assim há 3 décadas), no guionismo, houve uma forte profissionalização, é cada vez mais um trabalho de equipa, sujeito a técnicas que exigem muito treino e rotinas. O perigo é que às vezes se perde a "alma".      

M.L: Passou pela advocacia, antes de se enveredar inteiramente pela escrita. Já alguma vez se arrependeu de ter deixado essa área?
M.A: Mais os meus filhos, porque a atividade como escritor e guionista é muito instável. Financeiramente sim, até porque sou de uma geração que fez muito dinheiro na advocacia.

M.L: Em 1995, escreveu o livro “O Desejado” que era uma ficção sobre o ressurgimento de D. Sebastião na atualidade dos anos 90. Como é que surgiu na altura a ideia de escrever este livro?
M.A: É uma boa pergunta, mas penso que “O Desejado” foi uma experiencia literária a pensar numa novela na área do "fantástico", uma espécie de "Roque Santeiro" (TV Globo) à portuguesa. Não resultou nem uma coisa nem outra, mesmo que tenha-me dado imenso gozo escrever "O Desejado".


M.L: Nasceu na África portuguesa (Moçambique), onde passou os primeiros anos da sua infância e inspirou alguns dos seus trabalhos literários e televisivos. A seu ver, o continente africano em geral poderá ter a paz serena que merece há imenso tempo?
M.A: Em relação ao continente africano, sobretudo aquele que nos é mais chegado, pôs o dedo na ferida. Essa paz e prosperidade, só com o fim da corrupção, em termos imediatos, só com um verdadeiro milagre. Eu como amo África e sobretudo Moçambique tenho essa fé.

M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na área da escrita?
M.A: Se tiver o dom e o talento, ter poucas expectativas financeiras, ter paciência, perseverança, humildade, sempre atento, e ter muita capacidade de observação e trabalho.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem desenvolvido até agora como escritor?
M.A: Não consigo fazer esse balanço. Deixo para que os outros o façam.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
M.A: O que gostava, já não posso fazer, que era ter sido um craque do Benfica. Atualmente gostava de uma coisa que nunca tive, estabilidade financeira e com isso poder ler muito e muito e consequentemente escrever muito e muito.ML

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