M.L: Quando surgiu o interesse pela escrita?
M.A: O interesse para a
escrita foi-me incutido por uma professora quando eu tinha cerca de 12 anos. Ela
própria disse que eu ia escrever um livro e isso motivou-me a ser um escritor.
M.L: Quais são as suas referências nesta área?
M.A: Eça (de Queiroz) foi
o primeiro grande mestre, mas outros marcaram-me como Camilo Castelo
Branco, Erico Veríssimo, Jorge Amado, (Ernest) Hemingway.
M.L: De todos os trabalhos que tem feito até agora
como escritor, qual foi o que teve um enorme impacto em si para toda a vida?
M.A: O que está a ter mais
impacto é este da "Jacinta: A Profecia" que a Oficina do Livro acabou
de editar. Viajar pelo mundo psicológico e espiritual da Jacinta é algo que nos
marca para sempre.
M.L: Em 1996, co-escreveu a telenovela “Primeiro Amor”
que foi exibida na RTP e retratou, por exemplo, a corrupção futebolística. Já
alguma vez imaginou que este tipo de corrupção estaria hoje em dia na ordem do
dia em Portugal, tendo em conta que não era propriamente muito falada há 20
anos atrás?
M.A: A corrupção é um flagelo
que atinge a humanidade globalmente, a do futebol nos anos 90 já era uma
realidade muito forte, talvez mais camuflada do que hoje em dia. Hoje a
corrupção é-nos apresentada como algo com que temos que conviver, uma
naturalidade assustadora.
M.L: Como olha, hoje em dia, para o meio artístico
desde as últimas 3 décadas?
M.A: No meu meio, escrita
de livros e guiões, nos livros, dá a sensação por vezes que interessa
mais a visibilidade de quem escreve do que propriamente a sua arte para
escrever (não era assim há 3 décadas), no guionismo, houve uma forte profissionalização,
é cada vez mais um trabalho de equipa, sujeito a técnicas que exigem muito
treino e rotinas. O perigo é que às vezes se perde a "alma".
M.L: Passou pela advocacia, antes de se enveredar inteiramente
pela escrita. Já alguma vez se arrependeu de ter deixado essa área?
M.A: Mais os meus filhos, porque
a atividade como escritor e guionista é muito instável. Financeiramente sim,
até porque sou de uma geração que fez muito dinheiro na advocacia.
M.L: Em 1995, escreveu o livro “O Desejado” que era
uma ficção sobre o ressurgimento de D. Sebastião na atualidade dos anos 90.
Como é que surgiu na altura a ideia de escrever este livro?
M.A: É uma boa pergunta, mas
penso que “O Desejado” foi uma experiencia literária a pensar numa novela na
área do "fantástico", uma espécie de "Roque Santeiro" (TV
Globo) à portuguesa. Não resultou nem uma coisa nem outra, mesmo que tenha-me
dado imenso gozo escrever "O Desejado".
M.L: Nasceu na África portuguesa (Moçambique), onde passou
os primeiros anos da sua infância e inspirou alguns dos seus trabalhos
literários e televisivos. A seu ver, o continente africano em geral poderá ter
a paz serena que merece há imenso tempo?
M.A: Em relação ao
continente africano, sobretudo aquele que nos é mais chegado, pôs o dedo na
ferida. Essa paz e prosperidade, só com o fim da corrupção, em termos
imediatos, só com um verdadeiro milagre. Eu como amo África e sobretudo
Moçambique tenho essa fé.
M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na área da escrita?
M.A: Se tiver o dom e o
talento, ter poucas expectativas financeiras, ter paciência, perseverança,
humildade, sempre atento, e ter muita capacidade de observação e trabalho.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem desenvolvido
até agora como escritor?
M.A: Não consigo fazer
esse balanço. Deixo para que os outros o façam.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda nesta altura da sua vida?
M.A:
O que gostava, já não posso fazer, que era ter sido um craque do Benfica. Atualmente gostava
de uma coisa que nunca tive, estabilidade financeira e com isso poder ler
muito e muito e consequentemente escrever muito e muito.ML
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