segunda-feira, 22 de junho de 2015

Mário Lisboa entrevista... Rui Neto

Estreou-se na representação em 1999 com a peça "O Achamento" e desde aí tornou-se num dos atores mais dotados da sua geração, com um percurso que passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão (onde entrou em produções como "O Último Beijo" (TVI), "Queridas Feras" (TVI), "Floribella" (SIC), "Vingança" (SIC), "Resistirei" (SIC), "Sedução" (TVI), "Sinais de Vida" (RTP), "Sol de Inverno" (SIC) e "Água de Mar" (RTP). Além da representação, também tem experiência como encenador, e, recentemente, participou na peça "Amor e Informação" de Caryl Churchill, encenada por João Lourenço e foi premiada com o Prémio Autores na categoria de Melhor Espetáculo de Teatro. Esta entrevista foi feita no passado dia 14 de Junho.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
R.N: Foi por acaso. As praxes da Faculdade levaram-me até ao grupo de teatro da Faculdade e daí a curiosidade e o gosto que fui criando fizeram-me procurar mais formação e encarar o percurso artístico como uma possibilidade profissional. Sempre fui tímido e recatado. Nunca fui um espalha-brasas com uma grande “latosa”. Mas sempre gostei muito de ler e de brincar. De alguma forma entretinha-me nas minhas próprias brincadeiras e nas histórias que imaginava. Talvez tenha sido o primeiro passo para a criatividade artística.

M.L: Quais são as suas referências, enquanto ator?
R.N: O meu avô. Foi a pessoa que me ensinou a brincar, que perdeu tempo a contar-me histórias intermináveis, que me fazia sonhar com universos onde tudo era possível. É a ele que dedico o meu trabalho como ator, que me inspira a ser melhor ator e melhor pessoa. Claro que agora há inúmeros autores e artistas que me inspiram. (Samuel) Beckett talvez seja o autor onde me revejo mais no tipo de universo criativo.   

M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, até agora, durante o seu percurso como ator?
R.N: Muitas vezes o trabalho que mais marca está também ligado ao período da vida em que se está. Uma coisa influencia a outra. Tive projetos que pela dificuldade em entrar neles foram extremamente marcantes. E outros que foram marcantes, porque estava a atravessar um período mais complicado a nível pessoal. Houve um atelier ainda no tempo da minha formação na ESTC, que me marcou muito pela descoberta que foi para mim enquanto ator. Era um trabalho sobre o “Macbeth”, de (William) Shakespeare. A intensidade e profundidade do trabalho que estava a ser orientado pela atriz e encenadora Joana Craveiro ainda hoje reconheço a marca que deixou.

M.L: Em 2007, participou na telenovela “Vingança” que foi exibida na SIC, na qual interpretou a personagem Fernando Semedo. Que recordações guarda desse trabalho?
R.N: Foi uma novela que fiz no decorrer do último ano do curso de ator na ESTC - o chamado Conservatório. Lembro-me de me sentir um canastrão e de achar que era exagerado chorar em quase todas as cenas, mas de alguma forma isso marcou essa personagem e acabou por fazer sentido. Lembro-me sobretudo de alguns momentos especiais na contracena com alguns atores que tive o privilégio de trabalhar, como a Carla Chambel, Paula Mora, Nuno Melo, Diogo Morgado, Filomena Cautela… que muitas vezes me inspiravam com o seu trabalho.

M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção nacional?
R.N: Naquilo que conheço, acho que há muita gente nova a mexer-se para ver os seus projetos concretizados, muitos criadores e atores que se juntam e dinamizam projetos artísticos de valor. Quanto às companhias, certamente passam por períodos complicados com cortes nos subsídios, e cada vez mais se torna complicado desenvolver uma programação coerente, e como ator ser chamado para produções teatrais... pois há cada vez menos meios e recorrem aos da “casa”. Em termos de ficção nacional, acho que as coisas estão bem lançadas e parece-me que existem diversos projetos com alguma diversidade em cada um dos canais, ainda que pudessem apostar mais em séries e noutros formatos que não novelas.

M.L: Em 2015, celebra 16 anos de carreira, desde que se estreou como ator com a peça “O Achamento” em 1999. Que balanço faz destes 16 anos?
R.N: Dizes que são 16 anos? Eu não sei. Não os contei. Parece que foi ontem. E para mim foi ontem. O balanço que faço é um bom balanço. Acho que tive boas oportunidades de trabalho, mas também uns pais que me apoiaram financeiramente. Creio que consegui fazer um trabalho diversificado em várias vertentes. Tenho pena de não ter tido maior fluidez nas oportunidades que foram surgindo, mas ainda assim não me posso queixar, porque de uma forma geral sempre consegui ter trabalho. A vida artística e sobreviveres dela, parece depender mais de vontades exteriores, lobbies, gostos, manias, birras, fetiches, agentes e oportunidades do que de valores relativos às competências e resultados artísticos, e solidez profissional. Neste País a nossa profissão não é reconhecida como deveria ser. Os artistas são trabalhadores a recibo verde, sem direitos nenhuns. A profissão não tem quem a defenda, quem crie estatutos profissionais, quem ponha em causa estruturas e entidades patronais no sentido de proteção de uma classe artística. Em Portugal só dois ou três têm carreiras sólidas, os outros ou são marcas com 100 mil Likes no Facebook ou ninguém sabe quem és.

M.L: Além da representação, também tem experiência como encenador. Em qual destas atividades em que se sente melhor?
R.N: A encenação é uma extensão do meu trabalho como ator. Não surgiu por uma decisão “ai agora vou encenar”. Aconteceu porque num determinado período tinha escrito um texto, e achei que faria sentido levá-lo a cena e dá-lo a conhecer ao público, e como era um monólogo demasiado íntimo, achei que não tinha distanciamento para ser eu a interpretá-lo. Quando dei por mim tinha escolhido um ator, estava a dirigi-lo e tinha estreia marcada. As responsabilidades de ser ator ou encenador são próximas e muito distintas em simultâneo. Como ator acabo por ser mais “egocentrado” na minha pesquisa, nas orientações do encenador que me dirigir. Como encenador, acabo por ter de me relacionar e delegar mais a uma equipa. E os nervos são diferentes: como ator é o medo de falhar, de não conseguir, é um medo pessoal; como encenador é um medo que as coisas falhem, que os outros não consigam, um medo mais exterior. 

M.L: Recentemente, participou na peça “Amor e Informação” de Caryl Churchill e encenada por João Lourenço, na qual interpretou múltiplas personagens. Na sua opinião, acha que devia haver mais produções teatrais diferentes e não-convencionais como esta?
R.N: Não acho este espetáculo particularmente diferente. A peça em si, foge um pouco à norma, devido à sua estrutura. Mas há milhares de peças que fogem à norma. E mesmo uma peça convencional poderá resultar num espetáculo extraordinariamente inesperado, ou exatamente o oposto,  dependendo de quem o encene. Cada vez existem mais “criadores” e menos “encenadores”. Os criadores talvez sejam artistas mais livres para inventar o teatro com balizas mais alargadas do que o texto aponta, cruzando diversas disciplinas artísticas que nem sempre são convocadas num teatro mais clássico. Acho que cada vez mais é esse o teatro que temos. Talvez nem todos tenham a sorte de terem a visibilidade que o “Amor e Informação” teve. Mas que existe bastante diversidade, lá isso existe. Fruto do desemprego e falta de apoios, muitos atores tiveram de se tornar criadores dos seus próprios projetos, dando origem a uma geração de uma vasta diversidade de estilos e estéticas, muito para além das companhias teatrais.

M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
R.N: Se achares que não tens nada a dizer, nada a acrescentar, ao panorama artístico então não percas tempo e vai fazer outra coisa. Se achares que sim, então aprende inglês e vai para fora. É difícil em todo o lado, a diferença é que lá fora quando tiveres uma oportunidade irás ser notado por ela. Cá ninguém quer realmente saber. É muito provável que tenhas talento e não tenhas trabalho. Não confundas ser ator com ser famoso. Não confundas ser um borracho com ter talento. Mentaliza-te que podes ter que ser tu a criar o teu próprio trabalho, e que não terás nunca um subsídio de desemprego. 

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
R.N: Irei lançar o meu primeiro livro, com dois textos para teatro, no dia 24 de Junho, no Teatro da Trindade. Irei estrear uma criação minha, “Mechanical Monsters”, de 17 de Julho até 26 de Julho, no Teatro da Comuna, com apoio da Fundação Calouste Gulbenkian.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
R.N: Artisticamente, gostava de fazer cinema, como ator. Gostava de conseguir realizar alguns projetos de teatro importantes que estão na gaveta. Gostava de trabalhar com o Miguel Seabra.


Pessoalmente, gostava de ser pai e de ter disponibilidade financeira para fazer uma viagem longa, atravessar o Atlântico, ou pela Ásia.ML

Fotografia: Conceição Nunes

domingo, 21 de junho de 2015

Brevemente...

Entrevista com... Rui Neto (Ator)

Fotografia: Conceição Nunes

Mário Lisboa entrevista... Alexandra Diogo

O interesse pela representação surgiu muito cedo e nos últimos 24 anos tem desenvolvido um considerável percurso como atriz que passa, essencialmente, pelo teatro, pela televisão e pelas dobragens. Mãe da atriz Sara Mendes Vicente, desde 2008 que tem trabalhado mais na Companhia de Teatro de Sintra/Chão de Oliva, onde vai regressar em Setembro com a peça "As Criadas" de Jean Genet e encenada por Paula Pedregal. Esta entrevista foi feita no passado dia 19 de Maio.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
A.D: Foi um processo que se desenvolveu em mim de forma inconsciente. Era um hábito ir ao teatro, ao cinema, ao bailado, a concertos... No meu núcleo familiar era habitual. O meu pai partilhava comigo estes seus gostos. Lembro-me que conversávamos muito sobre o que víamos, ouvíamos, mesmo em casa... Ele não dispensava a música, punha um vinil, e, havia uma sinfonia de Tchaikovsky que ele gostava particularmente, e de Mahler também, e íamos conversando sobre aquilo, sobre filmes... E depois, na família, próxima, havia gente ligada ao meio, do teatro e da televisão, portanto era um assunto habitual... Mas eu comecei pela Dança. Entrei no Conservatório com 11 anos. Houve, na altura uma boa preocupação do Estado quanto ao ensino artístico e era possível fazer as aulas de bailado e a escola. Passados cinco anos essa preocupação estatal acabou e, como eu, ficou muita gente sem poder concluir o curso. Só quem teve dinheiro para entrar em escolas particulares pôde conciliar horários e continuar caminho.

M.L: Quais são as suas referências, enquanto atriz?
A.D: Não consigo dissociar a minha profissão da pessoa que sou e, pessoalmente trago comigo boas referências. O meu pai, um Ser Humano maravilhoso, sempre disponível para os outros, impressionante, mesmo, e a minha filha, Sara Mendes Vicente, uma jovem linda, cheia de força e de coragem, uma valente, um exemplo de resistência. Admiro-a muito. E o meu marido, um exemplo de persistência, e de resistência também. Profissionalmente fico fascinada com o Al Pacino, Meryl Streep, Ian McKellen, James Dean em "Fúria de Viver" (1955), aquele "Hey Stella!" do Marlon Brando em "Um Elétrico Chamado Desejo" (1951), um grito que se entranha... Fica-nos na pele. Somos um produto do que passamos, do que passa por nós e do que fazemos com tudo isso. É muito belo. E, mais nomes que dissesse, das mais variadas áreas, das artes à Política, seria sempre injusta, porque ia esquecer-me de tanta gente que trago comigo e tantos outros que ainda não conheço.

M.L: Faz, essencialmente, teatro e televisão. Gostava de trabalhar mais em cinema?
A.D: Faço essencialmente teatro e dobragens de animação. Em telenovela tenho participações em quase todas elas, mas pequenas cenas. Apenas em duas fiz parte do elenco. Sim, gostaria muito, mesmo, de trabalhar em cinema. Mas o cinema, como todas as outras artes estão com inúmeras dificuldades em sobreviver, e compreendo que precisem de audiências, e as audiências são feitas através dos nomes mais conhecidos. Já não compreendo da mesma forma que isto comece a ser uma prática no teatro, e seja já assumidamente a prática da produção televisiva. O teatro terá de se impor de outras formas, com os apoios estatais, obviamente, pois faz um serviço público e muito comunitário, através de boa divulgação nos meios de comunicação, e a gravação de teatro em televisão poderia ser uma ajuda ao gosto e à criação de públicos. E no ensino, nas escolas, se houvesse um bom investimento por parte do Estado no ensino, o teatro sairia a ganhar. A produção televisiva quanto à sua qualidade está um caos. Os conteúdos são inúmeras vezes idênticos e de muito pouca qualidade. As pessoas não “crescem” em nada, não acrescentam nada ao seu conhecimento, isto numa perspetiva cultural. Pelo contrário, acho que regridem. Acho que há diversos tipos de “lápis azul”. É a minha opinião.

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, até agora, durante o seu percurso como atriz?
A.D: Tenho um percurso extenso, mas só desde há uns 6 anos tive de facto as minhas melhores oportunidades. Tanto quanto às personagens que me foram distribuídas como relativamente ao tipo de trabalho consciente, organizado e burilado, que é a forma como decorrem os processos de trabalho na Companhia de Teatro de Sintra/Chão de Oliva, com quem tenho participado mais ultimamente. De há seis anos a esta parte tem sido nesta casa que tenho crescido, e por isso todos eles me marcaram muito, desde “As Três Irmãs”, “A Voz Humana”, a que eu hoje gostava de me atirar novamente, aos sketches do Karl Valentin em “E a cabeça tem de ficar?”, etc.

M.L: Entre 2009/2010, participou na telenovela “Perfeito Coração” que foi exibida na SIC, na qual interpretou a vilã Filipa. Que recordações guarda desse trabalho?
A.D: Do “Perfeito Coração” guardo comigo a recordação de querer ir mais além naquela personagem, o que não foi na altura possível. A personagem tinha alguma relevância, mas não tão grande que fosse exequível “perder-se” mais tempo com ela. A produção em televisão é uma vertigem constante, todos os segundos contam, e, se a cena saiu correta, não há possibilidade de a tentar melhor, porque já ficou certo assim. Mas tive pena, porque era uma personagem engraçada de trabalhar e podia dar pano para mangas.

M.L: É mãe da atriz Sara Mendes Vicente. Como vê o percurso que a sua filha tem desenvolvido até agora?
A.D: A Sara tem tido algumas oportunidades, que ela própria tem construído, não lhe apareceram apenas por sorte. Em 2008, estava na Universidade Nova de Lisboa e a fazer um Curso de Teatro em simultâneo. É uma grande lutadora. Filmou “Últimos Dias” (2009), uma curta-metragem da autoria e realização de Vasco Rosa, que estreou e esteve em cartaz no Cinema City Alvalade, na SIC gravou a “Lua Vermelha” (2010/2012), e a par disto participou com os Lisbon Players, dobrou séries de animação na Dialectus, na Pim Pam Pum, na MDL, enfim… a Sara é barra, como se costuma dizer, a dobrar, é uma atriz extremamente competente e rápida, e isso agrada imenso aos estúdios, claro.

M.L: Em 2010, protagonizou o monólogo “A Voz Humana” de Jean Cocteau, encenado pelo seu marido João de Mello Alvim e produzido pela Companhia de Teatro de Sintra/Chão de Oliva, onde tem trabalhado mais desde 2008. Na sua opinião, de que forma este texto mantém-se atual, tendo em conta o seu retrato da solidão?
A.D: “A Voz Humana”, do Cocteau, é um desafio monstruoso. Fala de solidão e é ele próprio também um exercício solitário para a atriz. A contracena não existe, é o telefone, e o que ela imagina que alguém do outro lado possa estar a dizer, esforço que também é exigido ao espectador. É tudo “Um”, repare, uma mulher, uma qualquer mulher, sem adornos na representação, uma mulher anónima, um telefone, um espaço limitado como área de representação… acho que foi um “grito” do Jean Cocteau, partiu segundo recordo da altura em que andei em pesquisas, de várias divergências dentro do meio artístico que ele frequentava, da crítica também… quer dizer, o teatro é uma comunhão, uma cerimónia, repare, e ali deixa de haver a comunhão, porque, mesmo o espectador vê-se confrontado com um exercício solitário. Hoje em dia, a solidão é também um assunto muito presente, todo o tipo de solidão. Há acessos a tudo e mais alguma coisa em termos de tecnologias, há inúmeras pessoas que nos rodeiam a cada minuto, e muitos de nós vivemos completamente isolados na mesma. Penso, entre outras coisas que, a velocidade, a forma vertiginosa como vivemos, a necessidade enganosa do imediato e de que tudo tem de ser muito rápido, nos isola, porque nos desvia da profundidade de algumas coisas na vida que têm mesmo de ser pensadas e refletidas. Esta forma de vida tem-nos sido imposta aos poucos, e não é inocente.

M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
A.D: Que tenha um “Plano B” à mão. Continua a ser muitíssimo difícil ser artista, seja de que área se trate. E não é exclusivo do nosso país, atenção.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem desenvolvido, até agora, como atriz?
A.D: Um balanço com coisas positivas e com coisas menos positivas. Gostaria muito de ter tido algumas oportunidades mais cedo. Só se cresce trabalhando.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
A.D: Estou a preparar um projeto meu, que não sei ainda quando vou ter pronto, “O Conto da Ilha Desconhecida”, do José Saramago, para espaços convencionais (salas de espetáculo), e não convencionais (Escolas, Bibliotecas, etc.), e em Setembro vou voltar a trabalhar na Companhia de Teatro de Sintra/Chão de Oliva para “As Criadas”, do Jean Genet, juntamente com a Sofia Borges, encenação da Paula Pedregal e cenografia do Miguel Gorjão Clara.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
A.D: Gostaria de trabalhar no estrangeiro, em teatro, em cinema, gostaria de trabalhar ainda mais em dobragens, adoro gravar desenhos animados, e, olhe, gostaria de poder viver tranquila na minha atividade profissional, que continua sendo uma atividade intermitente, menos no que respeita às obrigações fiscais, essas são obrigatórias e implacáveis.

E também quero agradecer-lhe a oportunidade que me deu para deixar aqui estas minhas palavras, Mário.ML

sábado, 20 de junho de 2015

Brevemente...

Entrevista com... Alexandra Diogo (Atriz)

Mário Lisboa entrevista... Sara Butler

O interesse pela Música surgiu naturalmente e nos últimos 8 anos tem desenvolvido um percurso nessa área que chegou ao seu ponto mais alto em 2011 ao formar, juntamente com Hugo Arco e Juan Müller, a banda Ballard Pond que, atualmente, está a preparar-se para lançar o seu primeiro álbum. Licenciada em Ciências da Comunicação pela Universidade de Lisboa, também tem experiência na representação, e a nível pessoal gostava de viajar mais e conhecer outras realidades. Esta entrevista foi feita no passado dia 9 de Junho.

M.L: Quando surgiu o interesse pela Música?
S.B: Não posso dizer que tenha ocorrido um interesse propriamente dito, porque a Música sempre foi e sempre será, certamente, uma extensão de mim. Portanto, é-me bastante complicado indicar uma data específica em que esse "interesse" tenha surgido. É envolta em sons e harmonias que me sinto, realmente, feliz.

M.L: Quais são as suas referências nesta área?
S.B: São imensas. Desde os Sonic Youth aos Clinic, do Fela Kuti ao Beck e passando por Zero 7, variam no decorrer dos dias, dos meses e dos anos. Tenho um carinho especial pelo dream pop, post-rock, indie rock e trip-hop/downtempo. E são precisamente estes géneros musicais que, para além do indie-folk e da Bossa Nova, tenho explorado com maior intensidade nos últimos meses. Ao nível de artistas e bandas em particular, sou fã assumida dos Mogwai e dos Sigur Rós. Os The National, os Beach House e dEUS fazem parte da playlist do meu telemóvel e nas últimas semanas tenho andado a revisitar alguns trabalhos mais antigos do Jóhann Jóhannsson e do Nils Frahm.

M.L: É vocalista, teclista e guitarrista da banda Ballard Pond que surgiu em 2011 (https://www.facebook.com/theballardpond?fref=ts). Como é que surgiu a ideia de formar a banda?
S.B: Como surge qualquer outra ideia na minha cabeça, do vazio (risos). Há muito tempo que sentia a necessidade de arranjar um projeto ao qual me agarrasse com unhas e dentes e que, paralelamente a essa vontade para trabalhar, me desse total liberdade de improvisação. Conheci o Hugo Arco (guitarrista), na Faculdade, que me apresentou a um amigo, o Juan Müller (também guitarrista). Experimentámos tocar em conjunto em regime de jam session e passados poucos dias estava constituído o projeto. Houve química musical, houve entendimento e um objetivo comum: tocar sem qualquer compromisso.

M.L: Atualmente, os Ballard Pond preparam-se para lançar o seu primeiro álbum. Como vê o percurso que a banda tem desenvolvido, desde a sua formação até agora?
S.B: Avalio de uma forma extremamente positiva. Aquando da formação da banda, o objetivo primordial passava por transmitirmos as nossas emoções através dos nossos instrumentos sem expectativa de retorno. Era algo muito recolhido, muito nosso e, sobretudo, muito familiar. O panorama mudou ligeiramente quando tomámos a decisão de fazer chegar a nossa música a outros ouvidos, organizando de raiz um concerto numa sala multiusos. A partir daí fizemos uma espécie de residência artística, no Verão de 2012, no Algarve, ao tocar todos os dias em contacto com a natureza, o que nos fez evoluir bastante e ganhar coragem para dar novos passos. Seguidamente, fomos dando alguns concertos, no Festival Termómetro 2013, no Festival Santos da Casa 2013 e mais alguns na capital. Desde finais de 2013 que, por razões pessoais e profissionais, não temos estado no ativo, mas em breve sairá o preguiçoso, muito aguardado e surpreendente trabalho, muito diferente do que temos vindo a apresentar em público.

M.L: Além da Música, também tem experiência na representação. Em qual destas atividades em que se sente melhor?
S.B: São áreas totalmente distintas mas que se complementam. Sinto-me bem tanto numa como noutra, no entanto, a liberdade que sinto na Música relativamente à composição, escrita e interpretação acaba por ser maior do que na área da representação uma vez que sou eu quem está encarregue do total processo criativo. Digamos que na Música existe uma Sara como personagem e na representação existem as outras tantas personagens que me vêm parar às mãos.

M.L: Entre 2010/11, participou na telenovela “Sedução” que foi exibida na TVI, na qual interpretou a personagem Ana Mendes Soares. Que recordações guarda desse trabalho?
S.B: Guardo muito boas recordações e recordações menos boas. Foram nove meses de trabalho intensivo com uma personagem que dava muitas dores de cabeça ao núcleo principal da novela e, sobretudo, a mim. Conheci muitas pessoas boas, gente de bom coração com quem ainda mantenho contacto, não apenas atores como também muitos elementos da equipa técnica. No que ao lado menos bom diz respeito, o timing do arranque das gravações não foi o melhor, uma vez que eu tinha acabado de entrar na Universidade e encontrava-me, com muito custo, a tentar conciliar as duas coisas, por pura teimosia. Desde cedo que ponho os estudos à frente do que quer que seja e este foi mais um período complicado e extremamente desgastante, contudo, foi possível e no fim consegui respirar de alívio.

M.L: Como vê, atualmente, a Música, a nível global?
S.B: Há que separar o trigo do joio e o que é bom para mim pode não ser para outras pessoas e vice-versa, se tal ocorresse os gostos pessoais seriam todos iguais. Que piada teria todos gostarmos das mesmas coisas? Não discutindo qualidade, porque a minha opinião enquanto ouvinte vale o que vale, temos é muita música e muita variedade, de todos os estilos. Falando do caso português, que me está mais próximo, tem-se verificado uma adesão muito maior a projetos portugueses motivada pela divulgação efetuada pelos media. Não posso dizer que agora é que se deu o boom da boa Música portuguesa, boa Música sempre existiu. O que há de diferente são os meios de divulgação e a forma como essa divulgação é feita. Enquanto há poucos anos a rádio e a televisão se traduziam nos principais difusores da Música portuguesa e não só, agora é a Internet (com o auxílio de toda uma panóplia de redes sociais) o canal de eleição para a descoberta de novos projetos musicais e o acompanhamento dos já existentes. A forma como encaramos a Internet também mudou. Assim, vemos bandas que, há uns anos, não tinham tanta visibilidade, a renascer, a conquistar maiores audiências por, precisamente, utilizarem adequadamente todas as ferramentas e possibilidades que a Internet lhes oferece.

M.L: É licenciada em Ciências da Comunicação pela Universidade de Lisboa. Gostava de, um dia, prosseguir com uma carreira paralela na área da Comunicação Social, caso haja essa possibilidade?
S.B: Já me encontro de momento a explorar essa área, felizmente. Tenho vários projetos de momento, cada um mais interessante que o outro. No entanto, para já, prefiro manter estas duas carreiras em separado.

M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira em qualquer área artística?
S.B: Diria para nunca deixar de acreditar no seu potencial e que não se deixasse abalar por momentos menos bons que, certamente, surgiriam. Antes do ingresso no mundo artístico é necessária a realização de um exercício de auto-conhecimento, visto que nem sempre nos encontramos preparados fisicamente e psicologicamente para a pressão que daí advém. Achamos que há aptidão mas é um engano. O Ser Humano é extraordinário e tem capacidades que o próprio desconhece, nunca antes exploradas, logo é preciso uma boa dose de paciência para nos descobrirmos a nós próprios com o auxílio do nosso amigo chamado tempo.

M.L: Que balanço faz do percurso profissional que tem desenvolvido até agora?
S.B: Sou uma mulher jovem e tenho atualmente 15 anos de experiência na área da representação e, paralelamente, 8 na área da Música. O que se pode tirar disto é que comecei a trabalhar nesta área bastante cedo e por iniciativa própria. Não me queixo do aparecimento de certos obstáculos no caminho, porque sem eles teria evoluído de uma forma totalmente diferente. Estar parada e sem projetos é algo que me dá um transtorno gigantesco, não consigo. Se não existe nada de momento eu trato de inventar algo novo e que mexa com o meu raciocínio, seja na área de realização e edição de vídeo, fotografia, design ou escrita. Tenho alguns escritos que já quis editar profissionalmente, mas estes são demasiado lamechas para serem tornados públicos (risos).

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
S.B: De momento, encontro-me em fase de pré-produção do primeiro trabalho discográfico dos Ballard Pond e, dentro de poucos dias, sairá uma curta-metragem produzida pela ESAP (Escola Superior Artística do Porto), na qual interpretei duas personagens. Paralelamente, tenho outro projeto, a Chartroise Portugal, que consiste na confeção e venda de peças de vestuário e de decoração totalmente personalizáveis e em crochet. Num futuro próximo, espero constituir a minha própria produtora.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
S.B: Viajar mais e conhecer outras realidades para além da que me encara todos os dias.ML

terça-feira, 16 de junho de 2015

"O Mundo Cai aos Bocados (e ainda assim as pessoas apaixonam-se)"


Depois de em 2010 terem criado a homenagem ao filmnoir, "Tejo"(http://www.mlisboaentrevista.blogspot.pt/2014/01/tejo.html), o realizador Henrique Pina e o guionista Francisco Baptista reuniram-se novamente para criarem a curta-metragem "O Mundo Cai aos Bocados (e ainda assim as pessoas apaixonam-se)" que conta com a participação de atores como Albano Jerónimo, Joana Solnado, o Maestro António Victorino D'Almeida e José Wallenstein.

Vencedor do Prémio de Melhor Ficção Nacional no Porto7-Festival Internacional de Curtas-Metragens do Porto, este poderoso drama é sobre um assassino profissional (Albano Jerónimo) e a mulher do contrabandista mais poderoso do País (Joana Solnado) que procuram a fuga de uma vida sem salvação.

















Mário Lisboa

quinta-feira, 4 de junho de 2015

Mário Lisboa entrevista... Celia Williams

Natural de Inglaterra, interessou-se pela representação quando era mais nova, e nas últimas 3 décadas tem desenvolvido um considerável percurso como atriz que passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão (onde entrou em produções como "Os Homens da Segurança" (RTP), "Equador" (TVI), "Morangos com Açúcar" (TVI), "Uma Família Açoreana" (RTP) e "Jardins Proibidos" (TVI). Recentemente participou na longa-metragem de terror, "Inner Ghosts", de João Alves e conta com a participação de atores como a sua filha Elizabeth Bochmann, Norman MacCallum e Amanda Booth, cuja estreia está prevista para ainda este ano. Esta entrevista foi feita no passado dia 17 de Maio.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
C.W: Quando eu era mais nova. Eu fui levada pelos meus pais a ver inúmeras peças, bailados e óperas. Com 6 anos de idade fiz o papel de “Maria” na peça de natividade na minha primeira escola. No regresso para casa depois da apresentação comecei a chorar (não me lembro disso, foi a minha mãe que me contou). Quando os meus pais perguntaram-me porquê, respondi: “Nunca mais vou ser a “Maria”. Isso foi a minha primeira experiência daquela depressão pós-espetáculo que entretanto já sofri tantas vezes. Acho que a minha paixão pela representação está no sangue.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
C.W: O meu modo de interpretar é muito natural. Há muitos atores cujo trabalho admiro muito. Estes incluem os grandes mestres clássicos como Helen Mirren, Judi Dench, Imelda Staunton, Mark Rylance, Simon Russell Beale e Vanessa Redgrave. Muitas vezes vejo uma performance excecional de um ator talvez totalmente desconhecido, mas aprendo sempre alguma coisa dele/a.

M.L: Faz teatro, cinema e televisão. Qual destes géneros que mais gosta de fazer?
C.W: Os três géneros são muito diferentes. Eu tenho feito muito teatro e é um meio que particularmente gosto, onde cada interpretação é diferente e cada público é diferente, dando reações diariamente diferentes ao que se passa no palco. Em teatro não há espaço para “Corta! Vou repetir esta cena, não gostei do que fiz”. Contudo, quando tenho estado a fazer muito teatro, anseio pelo cinema ou pela televisão novamente, e vice-versa.

M.L: Em 2011, participou na longa-metragem “A Morte de Carlos Gardel” de Solveig Nordlund e baseada no livro, com o mesmo título, da autoria de António Lobo Antunes, na qual interpretou a personagem Claudia. Que recordações guarda desse trabalho?
C.W: Foi uma experiência muito interessante e bastante desafiante, tendo em conta que tinha que encontrar emoções muito profundas com pouco tempo de preparação, por exemplo, numa cena em que o meu “filho” morre e no funeral dele. Gostei de ter o privilégio de trabalhar com Solveig Nordlund; ela teve uma ideia clara do que estava a procurar; a sua realização era perspicaz e ajudou-me bastante. É uma grande realizadora.

M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção nacional?
C.W: Há muitas coisas de grande valor e muito bem-feitas, por exemplo no Festival de Almada e outros. Mas Portugal não tem, nem nunca teve, acho eu, um grande público fiel ao teatro, como seria o caso de Londres ou Nova Iorque. É por isso, talvez, que muitas companhias e indivíduos que fazem teatro aqui optam antes por uma peça ou uma ideia que chama atenção, que procura chocar, quer pelo texto, quer pela encenação, em vez de optar por uma peça de qualidade, eventualmente mais tradicional, procurando tirar-lhe a totalidade do seu conteúdo dramático, filosófico e humano, com simplicidade e bom gosto. Não tenho nada contra o teatro experimental, de maneira nenhuma, mas acho que devia haver mais diversificação nos palcos portugueses. Sinto que a improvisação de que os atores tanto gostam, acaba geralmente por interessar mais aos próprios do que ao público, uma espécie de exercício-umbigo.

No que diz respeito à Televisão nacional, penso que a produção em Portugal tem melhorado imenso nos últimos tempos. No entanto, em relação às telenovelas, sinto que existe uma tendência de optar pelo gesto mais sensacional e mais “giro”, quase sempre afastando-se da vida real, e acabando por atingir o denominador comum mais baixo em termos de gosto e de qualidade. Recentemente, uma grande atriz, amiga minha, teve que filmar uma cena em que chorava bastante. Depois do take, o realizador disse-lhe que precisava de repetir a cena, porque enquanto chorava parecia menos bonita! Pode ser que as dificuldades financeiras sejam em grande parte responsáveis pela falta de oportunidades e daí de qualidade. Os cortes na Cultura são cada vez maiores, o trabalho é cada vez mais difícil de encontrar, e as companhias exploram cada vez mais o talento disponível. A quantidade de ofertas de trabalho apresentadas como oportunidades, mas sem, ou quase sem, pagamento é enorme; ninguém pensaria em fazer propostas desta natureza a um banqueiro ou a um advogado!

M.L: Vive em Portugal, mas nasceu em Inglaterra. O que a levou a querer viver em Portugal?
C.W: Uma logística simples. Já tinha vivido no Brasil por dois anos logo depois de casada, aprendi a falar português. Depois quisemos passar mais algum tempo noutro país antes de regressar para o Reino Unido. O meu marido encontrou emprego aqui. Uma coisa levou a outra e temos estado aqui desde então.

M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
C.W: Eu diria que deve estar totalmente louco, porque há tão pouco trabalho e quase tudo mal pago. Mas dito isto, eu compreenderia completamente qualquer pessoa que estaria seriamente interessada numa carreira na representação, tendo em conta que eu própria tenho sido louca o suficiente para prosseguir com este percurso, já lá vão mais de 30 anos.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem desenvolvido, até agora, como atriz?
C.W: Talvez seja para outros dizerem, aqueles que têm visto o meu trabalho tanto no teatro e como no ecrã!

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
C.W: A partir do mês passado a minha agenda está vazia em termos de trabalho. Acabei de fazer o papel da Amanda Wingfield em “The Glass Menagerie” de Tennessee Williams, um desafio para qualquer atriz e um trabalho que adorei. Também passei o último mês a fazer uma longa-metragem de terror como protagonista intitulada “Inner Ghosts”. Foi uma experiência intensa, um desafio enorme e um prazer inesperado.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
C.W: Há vários papéis que eu gostaria de interpretar. Talvez a peça “Quem Tem Medo de Virginia Woolf?” de (Edward) Albee ou “Fantasmas” de (Henrik) Ibsen, ou um dos relativamente poucos papéis interessantes para atrizes da minha idade, não me sinto preparada ainda para papéis de tipo avozinha! Gosto igualmente de papéis de comédia ou de tragédia: são géneros que ambos merecem uma dedicação completa. Sobretudo depois da minha experiência mais recente, gostaria de enfrentar mais papéis desafiantes no cinema e na televisão. Quem sabe o que é que poderá surgir? Acima de tudo, gostaria de agora, passados estes anos todos, ter umas ofertas boas, feitas com base na minha experiência e no trabalho já realizado, e não por razões mais superficiais.ML