M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
C.W: Quando eu era mais
nova. Eu fui levada pelos meus pais a ver inúmeras peças, bailados e óperas. Com 6 anos de idade fiz o papel de “Maria” na peça de natividade
na minha primeira escola. No regresso para casa depois da apresentação comecei
a chorar (não me lembro disso, foi a minha mãe que me contou). Quando os meus
pais perguntaram-me porquê, respondi: “Nunca mais vou ser a “Maria”. Isso foi a
minha primeira experiência daquela depressão pós-espetáculo que entretanto já
sofri tantas vezes. Acho que a minha paixão pela representação está no sangue.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
C.W: O meu modo de
interpretar é muito natural. Há muitos atores cujo trabalho admiro muito. Estes
incluem os grandes mestres clássicos como Helen Mirren, Judi Dench, Imelda
Staunton, Mark Rylance, Simon Russell Beale e Vanessa Redgrave. Muitas vezes vejo uma performance excecional de um ator talvez
totalmente desconhecido, mas aprendo sempre alguma coisa dele/a.
M.L: Faz teatro, cinema e televisão. Qual destes
géneros que mais gosta de fazer?
C.W: Os três géneros são muito diferentes. Eu tenho feito muito
teatro e é um meio que particularmente gosto, onde cada interpretação é diferente
e cada público é diferente, dando reações diariamente diferentes ao que se
passa no palco. Em teatro não há espaço para “Corta! Vou repetir esta cena, não
gostei do que fiz”. Contudo, quando tenho estado a fazer muito teatro, anseio
pelo cinema ou pela televisão novamente, e vice-versa.
M.L: Em 2011, participou na longa-metragem “A Morte de
Carlos Gardel” de Solveig Nordlund e baseada no livro, com o mesmo título, da
autoria de António Lobo Antunes, na qual interpretou a personagem Claudia. Que
recordações guarda desse trabalho?
C.W: Foi uma experiência
muito interessante e bastante desafiante, tendo em
conta que tinha que encontrar emoções muito profundas com pouco tempo de preparação,
por exemplo, numa cena em que o meu “filho” morre e no funeral dele. Gostei de
ter o privilégio de trabalhar com Solveig Nordlund; ela teve uma ideia clara do
que estava a procurar; a sua realização era perspicaz e ajudou-me bastante. É
uma grande realizadora.
M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção
nacional?
C.W: Há muitas coisas de grande valor e muito bem-feitas, por
exemplo no Festival de Almada e outros. Mas Portugal não tem, nem nunca teve,
acho eu, um grande público fiel ao teatro, como seria o caso de Londres ou Nova
Iorque. É por isso, talvez, que muitas companhias e indivíduos que fazem teatro
aqui optam antes por uma peça ou uma ideia que chama atenção, que procura chocar,
quer pelo texto, quer pela encenação, em vez de optar por uma peça de
qualidade, eventualmente mais tradicional, procurando tirar-lhe a totalidade do
seu conteúdo dramático, filosófico e humano, com simplicidade e bom gosto. Não
tenho nada contra o teatro experimental, de maneira nenhuma, mas acho que devia
haver mais diversificação nos palcos portugueses. Sinto que a improvisação de
que os atores tanto gostam, acaba geralmente por interessar mais aos próprios
do que ao público, uma espécie de exercício-umbigo.
No que diz respeito à
Televisão nacional, penso que a produção em Portugal tem melhorado imenso nos
últimos tempos. No entanto, em relação às telenovelas, sinto que existe uma tendência
de optar pelo gesto mais sensacional e mais “giro”, quase sempre afastando-se
da vida real, e acabando por atingir o denominador comum mais baixo em termos
de gosto e de qualidade. Recentemente,
uma grande atriz, amiga minha, teve que filmar uma cena em que chorava
bastante. Depois do take, o realizador
disse-lhe que precisava de repetir a cena, porque enquanto chorava parecia
menos bonita! Pode ser que as dificuldades financeiras sejam em grande parte
responsáveis pela falta de oportunidades e daí de qualidade. Os cortes na Cultura
são cada vez maiores, o trabalho é cada vez mais difícil de encontrar, e as
companhias exploram cada vez mais o talento disponível. A quantidade de ofertas
de trabalho apresentadas como oportunidades, mas sem, ou quase sem, pagamento é
enorme; ninguém pensaria em fazer propostas desta natureza a um banqueiro ou a
um advogado!
M.L: Vive em Portugal, mas nasceu em Inglaterra. O que
a levou a querer viver em Portugal?
C.W: Uma logística simples. Já tinha vivido no Brasil por dois
anos logo depois de casada, aprendi a falar português. Depois quisemos passar
mais algum tempo noutro país antes de regressar para o Reino Unido. O meu
marido encontrou emprego aqui. Uma coisa levou a outra e temos estado aqui
desde então.
M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na representação?
C.W: Eu diria que deve
estar totalmente louco, porque há tão pouco trabalho e quase tudo mal pago. Mas
dito isto, eu compreenderia completamente qualquer pessoa que estaria
seriamente interessada numa carreira na representação, tendo em conta que eu própria
tenho sido louca o suficiente para prosseguir com este percurso, já lá vão mais
de 30 anos.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem desenvolvido,
até agora, como atriz?
C.W: Talvez seja para
outros dizerem, aqueles que têm visto o meu trabalho tanto no teatro e como no
ecrã!
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
C.W: A partir do mês passado a minha agenda está vazia em termos
de trabalho. Acabei de fazer o papel da Amanda Wingfield em “The Glass
Menagerie” de Tennessee Williams, um desafio para qualquer atriz e um trabalho
que adorei. Também passei o último mês a fazer uma longa-metragem de terror como
protagonista intitulada “Inner Ghosts”. Foi uma experiência intensa, um desafio
enorme e um prazer inesperado.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda nesta altura da sua vida?
C.W: Há vários papéis que eu gostaria de interpretar. Talvez
a peça “Quem Tem Medo de Virginia Woolf?” de (Edward) Albee ou “Fantasmas” de
(Henrik) Ibsen, ou um dos relativamente poucos papéis interessantes para
atrizes da minha idade, não me sinto preparada ainda para papéis de tipo avozinha!
Gosto igualmente de papéis de comédia ou de tragédia: são géneros que ambos merecem
uma dedicação completa. Sobretudo depois da minha experiência mais recente, gostaria
de enfrentar mais papéis desafiantes no cinema e na televisão. Quem sabe o que
é que poderá surgir? Acima de tudo, gostaria de agora, passados estes anos
todos, ter umas ofertas boas, feitas com base na minha experiência e no
trabalho já realizado, e não por razões mais superficiais.ML
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