quarta-feira, 26 de dezembro de 2018

Mário Lisboa entrevista... Edgar Pêra

O cinema surgiu muito cedo na sua vida, iniciando o seu percurso cinematográfico nos anos 80, e desde então tornou-se num dos realizadores portugueses mais versáteis e mais singulares das últimas três décadas, com uma visão muito própria sobre o próprio Cinema e o Mundo em geral. Trabalhador incansável, gostava de ter férias prolongadas, e recentemente realizou a longa-metragem "Caminhos Magnétykos", que é baseada na obra de Branquinho da Fonseca, com um elenco que inclui, por exemplo, o francês Dominique Pinon e o brasileiro Ney Matogrosso, e foi premiada recentemente nos Caminhos do Cinema Português. Esta entrevista foi feita, por via email, no passado dia 5 de Outubro.

M.L: Quando surgiu o interesse pelo Cinema?
E.P: “Supercalifragilisticoespialidoso”. Ainda me lembro desta eskanifobétyka palavra, que aprendi aos seis anos enquanto assistia a “Mary Poppins” (1964), o primeiro filme que vi, no Cinema Imperial,  “o melhor cinema de segunda ordem de Lisboa” segundo a propaganda da altura. Acredito que o primeiro filme que vimos deixa um imprinting na memória do espectador, e é bitola para todos os filmes vistos posteriormente. Olhando para trás acho que aquela mistura de animação e live action influenciou-me de forma subterrânea, enquanto espectador e enquanto criador. Para mim cinema é território do imaginário e “Mary Poppins” cultivou esse gosto. Quando tinha 10 anos pediram-me para escrever uma redacção sobre as minhas férias. O meu texto resumia-se à descrição, em 4 ou 5 páginas, de um filme que tinha visto, “Waterloo” (1970). A memória mais intensa das minhas férias tinha sido um filme. Acho que também é revelador.

M.L: Quais são as suas referências nessa área?
E.P: Despertei para o cinema como cinéfilo aos 13 anos, logo depois do 25 de Abril de 1974. Assistia diariamente, com o meu irmão, durante as férias, às sessões duplas no cinema (semi) ao ar livre de Monte Gordo. Foi lá que vi “Roma de Fellini” (1972) e “Belle de Jour” (1967), de (Luis) Buñuel. Passei a ter uma ideia radicalmente diferente do cinema, do que (também) podia ser cinema. Depois, seguiram-se os ciclos do Palácio Foz e da Gulbenkian. Ia 3 vezes (às vezes 4) por dia ao cinema e via ciclos integrais de cinematografias desconhecidas (lembro-me do ciclo de cinema belga, ou seria suíço? Provavelmente os dois). Vi (Sergei) Eisenstein, (Dziga) Vertov, (Lev) Kuleshov, (Jacques) Tourneur, (François) Truffaut, (Jean-Luc) Godard, (Robert) Bresson, (Alfred) Hitchcock, (Howard) Hawks, Fritz Lang, (Carl) Dreyer, (Alain) Resnais (o meu cineasta francês favorito) e tantos mais. Lembro-me de ver (e ouvir) o “Eraserhead” (1977) na Cinemateca e no fim éramos apenas meia-dúzia. O (David) Lynch ainda não estava na moda. A banda sonora deste filme teve um grande impacto sobre o meu modo de criar ambientes sonoros totalmente recriados na montagem.

M.L: Como realizador, é de certa maneira um investigador no que toca a explorar diferentes formas cinematográficas. A seu ver, qualquer realizador/a devia tomar esse tipo de posição em relação a fazer cinema, ou para si é uma necessidade?
E.P: Qualquer realizador, que veja o cinema enquanto arte, terá de procurar a sua cine-identidade e procurar novas formas de abordar os mesmos problemas, combinando processos e metodologias utilizadas no passado. Para mim isso é um cineasta, um artista das imagens (e sons) em movimento.

M.L: Em 2014, realizou a comédia “Virados do Avesso” que foi o seu primeiro filme mais comercial, tendo ultrapassado os 100.000 espectadores, e foi produzido pelo falecido Nicolau Breyner que também fez um cameo no filme. Que recordações guarda de trabalhar com ele?
E.P: Muito afável. Gostava de improvisar, tal como eu. “Virados do Avesso” foi uma oportunidade para demonstrar que conseguia fazer filmes populares, e não apenas filmes vanguardistas. Já o tinha feito com “Oito Oito” para a SIC Filmes em 2001; gosto deste tipo de desafios de dialogar com espectadores não necessariamente cinéfilos.

"Virados do Avesso": Nuno Melo, Isabel Medina, Marina Albuquerque, Philippe Leroux, Jorge Corrula, Edgar Pêra, Diogo Morgado, Melânia Gomes, Nicolau Breyner, Diana Monteiro
M.L: Tem sido homenageado ao longo dos anos, e no âmbito de uma homenagem que o Indie Lisboa lhe fez em 2006, o crítico e programador alemão Olaf Möller escreveu o seguinte: Sobre Edgar Pêra pode certamente dizer-se “muito diferente daquele que vemos como “correcto”, “válido” dentro da cultura do cinema, “realista” no sentido cinematográfico e sócio-político. Mais precisamente: Edgar Pêra é diferente de tudo o que sabemos sobre Portugal.”. Sendo uma pessoa terra a terra, como é que se sente, quando é tanto homenageado como elogiado?
E.P: Sinto-me bem. É bom ver o trabalho reconhecido, sem ter de fazer concessões. No caso do Olaf Möller é um reconhecimento centuplicado, dado que ele é um dos maiores conhecedores do cinema global de todos os tempos, uma espécie de Indiana Jones das cinematografias perdidas. Foi graças ao interesse do Olaf pelos meus filmes, que o Indie fez a minha retrospectiva em 2006. Também fiquei muito grato ao António Preto, quando dedicou tanto tempo da sua vida à retrospectiva em Serralves. São duas pessoas que não conhecia, que conheceram primeiros os meus filmes e só depois a minha pessoa, pelo que sei que gostam do meu trabalho sem fazerem qualquer tipo de favor. A amizade só surgiu depois.


M.L: Costuma trabalhar com certos actores e o Nuno Melo era um deles. Como olha para o percurso que ele desenvolveu até ao seu falecimento em 2015?
E.P: O Nuno foi o actor com quem mais trabalhei, filmávamos a toda a hora, mesmo que fosse só para os meus arquivos. Era a nossa kino-ginástica e era uma forma de cimentarmos a nossa amizade e cumplicidade, preparando-nos para filmes futuros. Geralmente tínhamos tendência natural para o disparate e a comédia. “O Barão” (2011) foi um enorme esforço de contenção para ambos. Valeu a pena. Muito poderia dizer sobre o trabalho do Nuno, mas é sobretudo a falta do amigo o que mais sinto.


M.L: Adaptou Branquinho da Fonseca para o cinema mais do que uma vez. O que o fascina neste autor em particular?
E.P: O seu desalinhamento, a fusão de realismo com surrealismo através de imagens do pensamento.

M.L: Escreveu a ideia original para o guião da média-metragem “Um Passo, Outro Passo e Depois…” (1991), de Manuel Mozos e protagonizada pelo falecido Canto e Castro. Como é que surgiu esta história na altura?
E.P: Essa história surgiu de um projecto geracional de 4 filmes, concebido por mim e em cumplicidade com cineastas “emergentes”, na tentativa de trabalharmos em conjunto e provarmos que o todos é mais do que a soma das partes. Um escrevia a história, outro o argumento e outro realizava. Fui posto fora desse cine-comboio por um responsável da RTP e o Manuel Mozos foi o único dessa geração que se atreveu a pegar numa história minha para esse projecto. O Manuel é um poeta.

Canto e Castro em "Um Passo, Outro Passo e Depois..."

M.L: Iniciou em 2010 uma intensa pesquisa no formato 3D. Que conclusão é que tirou ao explorar este formato específico nestes últimos anos?
E.P: Que é um formato muito interessante de explorar mas muito difícil de exibir. No entanto continuo a fazer filmes em 3D, apesar dessa contrariedade.


M.L: Tendo também experiência na docência, qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira cinematográfica?
E.P: Trabalhar todos os dias. Filmar sempre que possível, sob diferentes identidades. Descobrir cine-personas dentro de si. Não desistir e apresentar projectos muito bem preparados. Tenho um lema: “Um Não é o primeiro degrau de um Sim”.

M.L: Que balanço faz do percurso cinematográfico que tem desenvolvido até agora?
E.P: Positivo, mas podia ser melhor. Não consigo garantir o meu futuro a médio prazo, andamos sempre com a corda na garganta, a correr atrás do prejuízo... Mas não me posso queixar, mantive a minha independência, o que infelizmente não é frequente no nosso meio. Tenho amigos, colegas da escola de cinema, a viver em quartos e hosteis, outros em negócios que não têm nada a ver com a sua profissão. É degradante. Primeiro graças aos meus pais, e depois graças  a uma longa lista de amigos e cúmplices pude continuar o meu trabalho, sem parar, mesmo que sem dinheiro.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
E.P: Férias de um mês ou mais. Já não o faço desde a post-adolescência. Os últimos anos então têm sido infernais em termos de trabalho. E como se sabe o Inferno está cheio de desejos que queríamos ver cumpridos. Nunca trabalhei tanto em tantos projectos ao mesmo tempo. Também há alturas que tenho a tentação de realizar um filme neo-realista poético, só para provar que consigo fazer, mas depois ganho juízo.ML

Esta entrevista não está sob o novo Acordo Ortográfico

terça-feira, 6 de novembro de 2018

"O Deus da Carnificina" no Teatro Sá da Bandeira até 18 de Novembro


Está em cena até ao próximo dia 18 de Novembro no Teatro Sá da Bandeira no Porto, a peça "O Deus da Carnificina" de Yasmina Reza, encenada por Diogo Infante (https://mlisboaentrevista.blogspot.com/2014/06/mario-lisboa-entrevista-diogo-infante.html), e protagonizada pelo próprio, Rita Salema, Patrícia Tavares (https://mlisboaentrevista.blogspot.com/2016/05/mario-lisboa-entrevista-patricia-tavares.htmle Pedro Laginha.


Estreada em Março passado no Teatro da Trindade, "O Deus da Carnificina" já tinha sido encenada em Portugal por João Lourenço no Teatro Aberto em 2009 e também foi adaptada ao cinema por Roman Polanski em 2011, e é sobre dois casais (Alberto/Bernardete & Verónica/Miguel) que se encontram para resolver um incidente protagonizado pelos seus filhos menores. Mas à medida que o encontro vai progredindo, ambos os casais deixam cair as suas máscaras e revelam a verdadeira natureza deles. Essencialmente, é uma peça sobre a hipócrisia e de até que ponto podemos chegar para defendermos os nossos interesses.

Rita Salema ("Bernardete") & Diogo Infante ("Alberto")
Patrícia Tavares ("Verónica")



Mário Lisboa

domingo, 4 de novembro de 2018

"Desculpa, Não Percebi"


Termina hoje (4 de Novembro) no Teatro da Comuna, mas depois vai em digressão, o espetáculo "Desculpa, Não Percebi" que é da autoria de Diana Costa e Silva, Isabel Medina (https://mlisboaentrevista.blogspot.com/2011/09/mario-lisboa-entrevista-isabel-medina.html) e Rafaela Covas e protagonizado por Diana Costa e Silva, Rafaela Covas, Raquel Oliveira e DJ Tita Machado.

Estreado no passado dia 17 de Outubro, "Desculpa, Não Percebi" é um espetáculo em que as próprias intervenientes levantam e se interrogam sobre vários aspetos da vida. Questões como "Quem sou eu? Quem és tu? Quem somos nós? Quantos sou eu? Quantos és tu? Quantos somos nós? Quero brincar. Queres brincar? Como é que te sentiste?" são levantadas e que definem os seus próprios caminhos.

Diana Costa e Silva, Rafaela Covas, Raquel Oliveira


Mário Lisboa

quinta-feira, 4 de outubro de 2018

"Os Lobos" (1998/99)


1998 foi um ano muito marcante por várias razões (a Expo 98 e o Mundial 98 são exemplos disso), e Portugal estava mais do que nunca otimista em relação ao futuro. Mas no que toca à teledramaturgia portuguesa, 1998 marcou o regresso do falecido ator/autor Francisco Nicholson à escrita de telenovelas após uma ausência de 6 anos com "Os Lobos", que a então NBP produziu para a RTP e em Novembro de 2018 celebra 20 anos da sua estreia.


"Os Lobos" é, para mim, uma das melhores telenovelas portuguesas de todos os tempos, com uma trama de proporções shakespearianas, e um retrato da sociedade portuguesa de então que só o Francisco Nicholson podia fazer, pois ele era um dos que melhor retratava Portugal tal como é na verdade. É uma telenovela onde tanto a parte técnica como a parte narrativa são boas de maneira igual e o seu incrível elenco liderado pelo carismático Sinde Filipe é um dos meus favoritos no que toca às telenovelas.

João Lagarto, Henrique Viana, Diogo Infante, Sinde Filipe, Sofia Alves, Manuela Maria, Patrícia Tavares, Fernanda Serrano
Diogo Infante e Sinde Filipe respetivamente como o ambicioso "Jorge Lobo" e o seu avô "Lourenço Lobo"
Sofia Alves como "Sabrina Venâncio"
Ana Brito e Cunha e Paula Mora respetivamente como "Raquel Lobo" e "Salomé Lobo"
São 200 episódios de uma telenovela que cada vez que a vejo numa reposição faz-me sempre sentir bem, o que é um bom sinal. "Os Lobos" é um forte exemplo da chamada "literatura televisiva", que havia muito nos primórdios das telenovelas em Portugal, e acho que faz muita falta autores como Francisco Nicholson, que era bastante ousado nas suas histórias, e eu estou esperançoso que haja mais telenovelas como "Os Lobos" no futuro.

Reportagem da TV Guia sobre "Os Lobos" - 1ª Parte
Reportagem da TV Guia sobre "Os Lobos" - 2ª Parte
Sinde Filipe no lançamento de "Os Lobos"


Mário Lisboa

sábado, 21 de julho de 2018

Mário Lisboa entrevista... António Borges Correia

Interessou-se desde muito cedo pelo audiovisual, tendo-se iniciado nessa área nos anos 90 e desde então tem desenvolvido um percurso bastante sólido como realizador, conciliando frequentemente cinema e televisão. A nível televisivo, trabalha atualmente na Plural Entertainment Portugal, e recentemente realizou a longa-metragem "As Horas de Luz", que teve a sua estreia mundial na última edição do IndieLisboa, e a telenovela "A Herdeira", que está atualmente em exibição na TVI. Esta entrevista foi feita no passado dia 11 de Julho.

M.L: Quando surgiu o interesse pelo audiovisual?
A.B.C: Muito cedo, em criança, mas só na juventude é que decidi que queria estudar cinema, apesar de ter entrado no Conservatório um pouco tarde (com 22 anos), pois nessa altura fui obrigado a cumprir o serviço militar. Mas desde muito cedo comecei a interessar-me por filmes. Onde vivia, havia dois cinemas (Academia Almadense e Incrível Almadense). Creio que a maior parte do tempo, em criança e jovem, era passado nessas salas de cinema ou na rua com amigos. Mas o meu espaço de liberdade e evasão era a sala de cinema.

M.L: Quais são as suas referências nessa área?
A.B.C: Há imensas. A maior parte das referências foram acontecendo na Escola de Cinema onde nos apaixonamos pelos (Jean-Luc) Godard, (Jean) Renoir, (Robert) Bresson, (Michelangelo) Antonioni, (John) Ford). Mas isto é um fenómeno que não se interrompe. Ainda hoje continuo a ser surpreendido por filmes ou séries que me influenciam, porque os criadores que questionam a gramática cinematográfica e que a confrontam para lhe acrescentar algo nunca deixarão de existir. São esses os objetos que me interessam, aqueles que usam os códigos para corrompê-los. Também me interesso pelo cruzamento das linguagens documental e ficcional, de que modo estão balizadas e até que ponto estamos sempre a encenar ou a falsear uma situação para obter um resultado. Até que ponto não estaremos a partir da mesma essência?

M.L: Tem coordenado produções televisivas na atual Plural Entertainment Portugal desde 2008. O que é que tem aprendido ao exercer esse tipo de função nesta última década?
A.B.C: Acima de tudo, manter o equilíbrio entre as realidades artísticas e orçamentais, mas também, manter a calma quando aparecem imprevistos e relativizar as coisas menos boas. Neste meio, como em outros meios, aprende-se muito sobre a natureza humana, principalmente no que diz respeito à gestão dos egos.


M.L: Uma das primeiras telenovelas que realizou foi “A Senhora das Águas”, que a RTP exibiu entre 2001/02. Que recordações guarda desse projeto em particular?
A.B.C: Creio que foi mesmo a minha primeira novela. Antes só tinha feito séries. O que me vem à memória desde logo é o facto de ser uma equipa muito unida. E o elenco era muito especial. O ambiente era espetacular. Foram 6 meses a rir.



M.L: Realizou o documentário “Antes de a Vida Começar”, sobre a atriz Isabel de Castro, e que estreou após o seu falecimento em Novembro de 2005. 13 anos depois, houve alguma coisa que conseguiu extrair da sua interação com a própria naquela altura?
A.B.C: A Isabel foi uma atriz enorme que sempre quis passar despercebida. Fez vinte e tal filmes em Espanha e não se reconhecia nos cartazes da Gran Vía em Madrid. Bastantes vezes dizia “carreiras… só de autocarros”. É impossível esquecê-la. O documentário que fiz com ela, sobre ela, ensinou-me, sobretudo, aquilo que é uma pessoa a não se dar muita importância a si própria, mas, ao mesmo tempo, tentar alcançar uma relativa liberdade.



M.L: Nestes tempos difíceis, retratar histórias humanas é cada vez mais uma urgência no cinema?
A.B.C: Sim, talvez, mas mais importante que a história é a abordagem que se escolhe. No cinema ou qualquer arte o que faz sentido é usar as suas próprias ferramentas. No cinema, as ferramentas são a Câmara e a Montagem e o objetivo de um filme deve procurar uma reflexão sobre essas ferramentas e sobre o mundo onde vivemos. O cinema não serve para alienar nem para comer pipocas.

M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira no meio audiovisual?
A.B.C: Que tenha coragem para isso e no momento de desistir que siga em frente. Faça em vez de se queixar.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem desenvolvido até agora como realizador?
A.B.C: Não faço a mais pequena ideia. Isso é trabalho para quem analisa, escreve e critica.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
A.B.C: Ler e meditar todos os dias.ML

quinta-feira, 12 de julho de 2018

sábado, 26 de maio de 2018

"Macbeth"


Uma das experiências teatrais mais memoráveis que eu tive em 2017 foi esta versão de "Macbeth", a chamada "peça escocesa" de William Shakespeare, que foi encenada por Nuno Carinhas e protagonizada por João Reis como a ambiciosa personagem-título.


Desde que me lembro que William Shakespeare é um dos meus autores favoritos, pois as suas histórias sempre me despertaram interesse e têm tudo o que eu espero de uma história nomeadamente a nível narrativo. Para além de serem histórias com temas muitíssimo pertinentes. E é principalmente por ser um fã de Shakespeare que no verão de 2017 eu estava com enormes expectativas em relação a "Macbeth", pois por incrível que pareça foi a primeira vez que fui ver Shakespeare em teatro, e sempre tive curiosidade em relação a "Macbeth", à sua história e às suas personagens, e na altura eu fiquei imensamente agradado com o que vi principalmente a encenação, o desempenho do elenco e o ambiente sombrio em termos de tom. A única desilusão que eu tive na altura ao ver "Macbeth", foi a Lady Macbeth (Emília Silvestre), pois achei que esta versão da personagem não correspondia à ideia que eu tinha dela, mas ao ver a peça pela segunda vez eu passei a compreender melhor a Lady Macbeth.

Emília Silvestre como a igualmente ambiciosa "Lady Macbeth"

"Macbeth" é um exemplo do quanto o trabalho que William Shakespeare desenvolveu em vida ainda é muito atual e é para mim uma das melhores histórias que envolvem ambição, poder, corrupção e vingança que o Mundo já alguma vez viu.

O grandioso elenco de "Macbeth"

Mário Lisboa

domingo, 22 de abril de 2018

Mário Lisboa entrevista... Rui Pedro Tendinha

O Cinema é a sua grande paixão desde muito cedo, ficando amigo do chamado "monstro" segundo o próprio, o que o levou à Comunicação Social, e desde aí tornou-se num dos mais carismáticos jornalistas/críticos de cinema em Portugal, com uma genuidade e uma acessibilidade só comparável ao igualmente carismático Mário Augusto. Com alguma experiência na realização, apresenta desde 2013 o programa "Cinetendinha" que é exibido tanto na SIC Radical como nos Canais TVCine e Séries, e gostava de desenvolver uma ideia de residências artísticas de Cinema. Esta entrevista foi feita na Biblioteca Municipal de Santa Maria da Feira.

M.L: Quando surgiu o interesse tanto pela Comunicação Social como pelo Cinema?
R.P.T: Eu acho que foi o Cinema que me levou para a Comunicação Social, porque eu desde criança fiquei amigo do “monstro”. O Cinema é um “monstro”, o Cinema em si simboliza, atrai e molda a vida, e a dada altura o Cinema foi um espelho que eu tive para ver os outros e ver a vida. No fundo, não era só um entretenimento. Mesmo desde criança, era algo vital, era quase uma bolsa de oxigénio. E a partir de muito cedo, o Cinema foi de facto uma atração fatal para mim.

M.L: Quais são as suas referências nestas duas áreas?
R.P.T: Eu acho que o discurso de alguém que escreve sobre cinema tem que ter uma vertente pessoal e tem que ter uma componente também de relação muito pessoal com o objeto de arte. Nesse sentido, eu gosto de textos que me desafiem, pelo menos enquanto leitor, a pôr-me no lugar do objeto de arte, e isso para mim é o que me dá mais gozo quando leio críticas, e nesse sentido eu gosto muito do Peter Travers, da falecida Pauline Kael. No Cinema, eu gosto de pensar que ninguém é sagrado, eu não ponho ninguém intocável, mas claro que eu tenho os meus próprios ídolos como, por exemplo, o David Lynch e o (Stanley) Kubrick.

M.L: De tudo o que tem feito até agora tanto na Comunicação Social como no Cinema, houve algum trabalho em particular que foi tanto divertido como pessoal de se fazer?
R.P.T: Eu gostei muito de arrancar com o “Cinetendinha”, que foi uma ideia que o Pedro Boucherie Mendes me propôs e que era precisamente mostrar o que é o meu dia-a-dia de uma forma informal e verdadeira e isto é muito gozo. Em 2016, eu pude ir aos Óscares e achava que era uma coisa inacessível e de repente estava lá ao lado das estrelas todas, e fui também aos Independent Spirit Awards e esse tipo de coisas, para alguém que cresceu a amar o cinema, é forte.


Rui Pedro Tendinha na altura dos Óscares 2016
M.L: Também tem alguma experiência na realização. Gostava de, um dia, desenvolver uma carreira paralela como realizador?
R.P.T: Quando eu faço cinema documental, tenho feito de uma ordem de muita encomenda. Eu não tenho aspirações artísticas, quando faço os documentários. A minha vocação é escrever sobre cinema.

M.L: Em 2012, escreveu o livro sobre auto-ajuda no cinema “100 Filmes Que Podem Mudar a Sua Vida”. 6 anos depois da publicação do livro, acha que as pessoas ainda podem precisar de auto-ajuda no que toca ao cinema?
R.P.T: Eu podia fazer outro volume, mas agora se me desafiarem para escrever um livro, eu gostava de escrever um livro de entrevistas. Uma pessoa está triste, com depressão, que vá ao cinema, faz bem ir ao cinema.



M.L: Numa era muito tecnológica, complexa e sombria e em que o Cinema está muito mais evento, acha que o Cinema ainda pode ter capacidade de dar alegria e emoção como no passado?
R.P.T: É verdade que o Cinema está muito mais evento, mas há sempre lugar para tudo, há sempre um lado de resistência, e festivais como o Festival de Cinema Luso-Brasileiro de Santa Maria da Feira são um bom exemplo de haver ainda quem faça um cinema pessoal, experimental, de ensaio. O Cinema pode ter sempre um grande ponto de interrogação e de questionamento a nível artístico e nesse sentido poderá sempre haver esse cinema mais mainstream, mas há de haver sempre esse lado mais resistente.

M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira seja na Comunicação Social ou no Cinema?
R.P.T: A Comunicação Social está a viver momentos difíceis. O jornalismo é uma profissão que se desvalorizou quer se queira quer não. Temos que ser todos muito mais analíticos. O jornalismo parece que sobre isso está a ganhar ao jornalismo de pensamento e isso é uma pena. Eu acho que o jornalista tem que ter uma opinião e tem que ter uma coisa que, por exemplo, o Eduardo Prado Coelho tinha que era o cálculo de não só dizer uma opinião, mas de pensamento, de fluição sobre o mundo que vê. Hoje em dia, como temos tantos acessos às críticas e aos sites, nós precisamos é de seletores que pensem e que não façam só o trabalho preguiçoso. Esse é o meu conselho que eu dou.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem desenvolvido até agora como jornalista de cinema?
R.P.T: Abdiquei da minha vida pessoal, passo a vida a viajar, eu já tive três divórcios e nunca consegui ser pai, porque o Cinema absorveu-me.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
R.P.T: Eu gostava muito de fazer uma ideia de residências artísticas de Cinema. É uma utopia.ML

segunda-feira, 16 de abril de 2018

sábado, 31 de março de 2018

Lucinda Loureiro


Para terminar Março, o mês da Mulher, aqui deixo um texto que a atriz/encenadora/diretora de atores Lucinda Loureiro escreveu no passado dia 26 de Março a meu pedido sobre a Mulher em si.

"Pediu o Mário Lisboa que escrevesse sobre a mulher e as dificuldades para singrar.

Bom, resolvi falar sobre mim, sendo eu um reflexo de outras mulheres.

Tenho que andar uns anos para trás, ao tempo da minha infância e juventude.

Fui criada no seio de uma família tradicional, da alta burguesia, e alguns dos meus antepassados, estavam ligados às artes. Música, pintura, fotografia, escrita. Mas, só uma bisavó, ganhava o seu sustento e depois de ficar viúva, dando aulas de piano.

Eu e os meus irmãos, éramos cinco, costumávamos brincar dizendo que nós éramos a ÍNCLITA GERAÇÃO. Todos tínhamos algum talento para as artes. O irmão mais velho, dizia poesia, o segundo desenhava muito bem, eu gostava de dançar, de ver teatro na televisão, e de escrever. A minha irmã, adorava ballet e o mais novo música. Como era habitual numa pequena cidade do Interior, e com o contexto familiar que me rodeava, estava destinado para mim, estudar, talvez até ao 3º ano da faculdade, mais não me exigiam, e depois casar e ter filhos. Quando cheguei ao antigo 5º ano do liceu, actual 9º ano de escolaridade. Comecei a dizer que queria ir para o conservatório de teatro. Ui, ui nem pensar afirmaram os meus pais. Fiquei triste mas não tive outro remédio senão calar e continuar a acalentar em segredo este sonho. Recusava e por vezes era castigada quando não executava as tarefas femininas que me destinavam. Em vez de coser ou passar a ferro, passava horas a ler. Era certo e sabido que havia confusão lá em casa. Quando se deu o 25 de Abril aderi de imediato a tudo o que até então eu desconhecia. Encontrei nessa época o meu propósito de vida. Contestei a autoridade paternal, e comecei o meu caminho em direcção à liberdade de pensamento, ao movimento de emancipação da mulher.

Quando já em 1977 chegou a Viseu um grupo de actores, e um deles foi viver para a casa da minha sogra, sim porque eu casei muito cedo e tive um filho ainda com 16 anos. Fruto da minha ingenuidade, e desconhecimento dos métodos para não engravidar. Aliás estava proibida de abordar sequer o tema pílula com a minha mãe. Bom, mas ele foi para lá e de imediato lhe disse da minha vontade de ser actriz. Sorte a minha, passados meia dúzia de meses, uma das actrizes regressou a Lisboa, e eu pude ir a um ensaio a convite do grupo de teatro para mostrar o que valia. Fiquei feliz, feliz. O problema a seguir era anunciar aos meus pais a minha decisão. Claro que mais uma vez, foi muito mal aceite. Apesar de apreciarem e de à sua maneira incentivarem a vida cultural, ter uma filha actriz era outra coisa. As meninas de bem não iam para o teatro. Muito bem, pensei eu, deixarei de ser uma menina de bem, e passei a integrar o grupo de teatro a Centelha, assim se chamava. E foi o melhor que fiz. Aprendi, conheci muita gente do mundo das artes, logo nos dois anos que estive nesse grupo. Após este período comecei a sentir mais uma vez que Viseu não me chegava. Tinha que partir. Agora o problema era outro. Com um filho pequeno enquanto estava rodeada de família, eram eles que tomavam conta dele na minha ausência, mas levá-lo comigo para outra cidade, era mais complicado. Ainda por cima, tinha chegado o momento de me separar. Demorei algum tempo a tomar uma decisão, mas lá fui para o Porto. Deixei o meu filho com os meus pais, e fui estudar Secretariado e Gestão. Mas o teatro sempre na minha mira. Um dia, estava a estudar ao mesmo tempo que ouvia rádio, e eis senão quando, anunciam que o Teatro Experimental do Porto, precisava de uma actriz. Saí de imediato de casa e apresentei-me no Teatro. Fiquei nesse mesmo dia. Nada disse aos meus pais, porque tive que abandonar os estudos, e só os convidei para a estreia. Lá foram. E correu melhor do que esperava, porque começaram a perceber que eu não ia desistir. E para não me alongar muito, vou resumir o resto. Cedo o Porto ficou pequeno. O meu sonho sempre foi vir para Lisboa. Aqui continuou a colocar-se à questão sentida anteriormente. Como fazer teatro e criar o meu filho? Lá fui conseguindo, umas vezes levando-o comigo. Chegando mesmo a dormir no camarim.

Como actriz tive quase sempre o apoio dos meus colegas, quer em termos pessoais quer artísticos. Nunca me senti discriminada. Só quando comecei eu, a encenar ou fazer direcção de actores é que me apercebi que ainda muita coisa estava por fazer. Era preciso continuar a lutar pelo nosso lugar de mulheres criativas e que também sabíamos dirigir e estar à frente dos projectos a que nos propúnhamos. Hoje, ainda há muita desigualdade, continuaremos a lutar.

Lucinda Loureiro"

Sem dúvida nenhuma, uma MULHER lutadora e corajosa. Muito obrigado, Lucinda.
Mário Lisboa

domingo, 11 de março de 2018

"A Senhora das Águas" (2001/02)


Manuel Arouca é, desde os "Jardins Proibidos" (TVI) original, um dos meus autores favoritos e algumas das minhas telenovelas favoritas são da sua autoria e uma delas é "A Senhora das Águas", que está atualmente em reposição na RTP Memória.

                                        
Exibida originalmente entre 2001/02, "A Senhora das Águas" foi a última telenovela da RTP produzida pela NBP (atual Plural Entertainment Portugal) e estreou no mesmo dia que a telenovela "Filha do Mar" (TVI), também escrita por Manuel Arouca e produzida pela NBP, mas infelizmente não teve o sucesso que merecia.


"A Sónia é me particularmente querida por ter sido o 1º e talvez o único papel menos simpático que desempenhei."
Sofia Nicholson sobre a sua personagem Sónia Mendes Bernardes em "A Senhora das Águas" numa entrevista para o "Mário Lisboa entrevista..." em Outubro de 2014.

Eu ouvi falar de "A Senhora das Águas" na altura da sua estreia e lembro-me da sua campanha de promoção e quando finalmente consegui ver a telenovela na RTP Memória numa reposição em 2009, eu gostei logo de imediato por várias razões nomeadamente a nível narrativo e visual (por falar a nível visual, o cenário de Viseu é sem dúvida uma das coisas boas que "A Senhora das Águas" tem). Eu tenho que salientar também o fantástico figurino da igualmente fantástica Teresa Alves nomeadamente o da protagonista Mercês Vargas (Luísa Cruz).



"De “A Senhora das Águas” guardo as melhores recordações. 1ª: a minha personagem era muito maluca, divertida e também tinha um bocadinho de maldade, o que enriquecia imenso as situações. Depois, porque gravei os exteriores na vila de Santar ao lado de Viseu, onde passei parte da minha infância. Depois, os meus colegas e a equipa eram do melhor. Grandes profissionais e gente boa."
Lucinda Loureiro ("Ondina de Jesus Trolha") sobre "A Senhora das Águas" numa entrevista para o "Mário Lisboa entrevista..." em Dezembro de 2012.

"A Senhora das Águas" leva o seu tempo para desenvolver a sua trama e as suas personagens e tem um lado místico fortíssimo e também um elenco muitíssimo bom encabeçado por uma fantástica Luísa Cruz a estrear-se naquela altura nas telenovelas.

Amélia Videira como Ilda, a Senhora das Águas
Luísa Cruz e o brasileiro Oscar Magrini como o par romântico Mercês e Lucas
Simone de Oliveira como "Maria dos Prazeres"
A brasileira Juliana Baroni como "Cláudia Cardoso Lobo"
Virgílio Castelo, também diretor-geral da NBP na altura, como "João Manuel" na primeira fase de "A Senhora das Águas"
Eu ainda hoje tenho imenso carinho por "A Senhora das Águas", pois infelizmente já não se fazem telenovelas como esta hoje em dia, e para terminar aqui deixo a canção-título do lendário Carlos Mendes que é a minha favorita de toda a telenovela.


Mário Lisboa

quinta-feira, 8 de março de 2018

8 de Março, o Dia Internacional da Mulher


Hoje (8 de Março) é o Dia Internacional da Mulher e é um dia que eu levo em consideração há já bastante tempo, pois a Mulher é um ser muito lutador, muito especial e, sem dúvida nenhuma, é também um ser muito superior ao Homem. Mas, infelizmente, a Mulher ainda é muito menosprezada, apesar dos progressos que têm havido para inverter isso, e a propósito de homenagear este fantástico ser e o seu dia especial, eu convidei a realizadora/produtora independente Isabel Pina, que é uma das minhas grandes amigas e faz anos precisamente hoje, para escrever um texto sobre a Mulher em si.


"8/3/2018 M U L H E R

Respondendo ao desafio do blogger de cinema Mário Lisboa, deixo aqui uma pequena reflexão acerca deste 8 de março de 2018.

Habituei-me ao longo dos anos a ser felicitada duplamente neste dia; pelo meu aniversário e pela minha condição de mulher. E todos os anos assisto a iniciativas que têm como propósito enaltecer a condição da mulher e recordar o porquê desta efeméride neste dia. Mas este ano há algo de diferente, há algo a mais; primeiro porque completo um daqueles aniversários com um número bem redondo, e depois paira algo de novo no ar a querer cumprir-se para que sejam operadas mudanças efetivas no coletivo global.

Uma das indústrias que potencialmente mais influencia as consciências no mundo - a do cinema - colocou na voz de muitas protagonistas do meio uma mensagem de urgência na questão da igualdade no tratamento das mulheres em relação aos homens. É sem dúvida um tema de referência da atualidade.

Em novembro último, 700.000 trabalhadoras agrícolas escreveram uma carta aberta de apoio à causa das atrizes vítimas de assédio sexual. Depois de a lerem, os membros da Time’s Up sentiram a necessidade de direcionar os seus esforços ao resto do mundo.

“Se este grupo de mulheres não consegue lutar pelas outras mulheres, que não têm tanto poder nem privilégios, quem irá conseguir?” questionou Shonda Rhimes, produtora executiva de séries de televisão.

O Time’s Up é gerido por voluntárias e composto por grupos de trabalho, com diferentes focos. Entre as voluntárias do Time’s Up estão as atrizes Ashley Judd, Eva Longoria, America Ferrera, Natalie Portman, Emma Stone, Kerry Washington e Reese Witherspoon.

“Estamos finalmente a ouvir-nos umas às outras, a ver-nos umas às outras e agora a dar as mãos pela solidariedade umas pelas outras e por todas as outras mulheres que não se sentem vistas nem ouvidas”, afirmou a atriz Reese Witherspoon.

Desde essa altura para cá, em vários eventos mediáticos de cinema, este tema é recuperado e apesar destas mulheres se dizerem muitas vezes frustradas pelos resultados não tão imediatos, garantem que não vão desistir. Tenho esperança que o movimento continue e que não haja volta atrás.

Já me aconteceu ter de me apresentar sumariamente, e quando isso acontece, costumo dizer algo com que me identifico bastante: “Olá, eu sou a Isabel, e sou do signo Peixes, e como tal, sou uma sonhadora”. E é bem verdade, sou uma sonhadora, e quando não estou a sonhar, é porque estou ocupada a cumprir os meus sonhos. E um dos sonhos que tenho é ver o artigo 1º da Declaração Universal dos Direitos do Homem [e Mulher] cumprido na sua íntegra – “todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para os outros em espírito de fraternidade”. A propósito do dia de hoje, também sonho que os artigos 2º e 23º possam ser cumpridos – “Todos os seres humanos podem invocar os direitos e as liberdades proclamados na presente Declaração, sem distinção alguma, nomeadamente, de raça, de cor, de sexo, de língua, de religião, de opinião política ou outra, de origem nacional ou social, de fortuna, de nascimento, ou de qualquer outra situação. Além disso, não será feita nenhuma distinção fundada no estatuto político, jurídico ou internacional do país ou do território independente, sob tutela ou sujeito a alguma limitação de soberania.” […] “2. Todos têm direito, sem discriminação alguma, a salário igual por trabalho igual.”

Sendo eu M U L H E R, nada melhor do que ter um bocadinho de voz neste dia tão especial, e recordar a voz da rainha do soul, Aretha Franklin, a pedir “just a little bit… RESPECT”. 

Termino com uma reflexão de uma das mulheres que mais influenciou o mundo positivamente: “Por vezes sentimos que aquilo que fazemos não é senão uma gota de água no mar. Mas o mar seria menor se lhe faltasse uma gota.” Madre Teresa de Calcutá.

Xi-coração da Isabel Pina"


Mário Lisboa

segunda-feira, 29 de janeiro de 2018

Heath Ledger, o Joker do Século XXI


Na passada segunda-feira (22 de Janeiro) celebrou-se 10 anos desde que o inesquecível ator australiano Heath Ledger faleceu devido a uma overdose e, ultimamente, eu tenho pensado nele, pois não só era um dos atores que me marcaram no meu tempo de adolescente como também era um talento imenso que lutou muito em vida para ser levado a sério como ator e não ser considerado apenas uma cara bonita, e este texto é apenas uma pequena homenagem a aquele que, como o título acima refere, é o Joker do Século XXI.


Eu ouvi falar pela primeira vez de Heath Ledger em 2000, quando estreou "O Patriota", o épico realizado por Roland Emmerich e protagonizado pelo seu compatriota Mel Gibson, onde Ledger era o filho do próprio. Tinha eu 10 anos na altura. Mas só o vi num filme pela primeira vez, quando a SIC exibiu "10 Coisas Que Odeio em Ti" (1999), e ainda hoje eu acho que o Ledger era a melhor parte deste popular clássico teen.
                                    


Heath Ledger como o inesquecível rebelde "Patrick Verona" 
À medida que eu fui crescendo, Heath Ledger sempre me impressionava seja, por exemplo, em "Coração de Cavaleiro" (2001), "Monster's Ball-Depois do Ódio" (2001), "Os Irmãos Grimm" (2005) e o aclamado "O Segredo de Brokeback Mountain" (2005), que mudou a sua vida tanto a nível pessoal como profissional e lhe valeu em 2006 uma nomeação para o Óscar de Melhor Ator.

William Thatcher (Heath Ledger) - "Coração de Cavaleiro"

Sonny Grotowski (Heath Ledger) - "Monster's Ball-Depois do Ódio"

Jacob Grimm (Heath Ledger) - "Os Irmãos Grimm"

Ennis Del Mar (Heath Ledger) - "O Segredo de Brokeback Mountain"
No que toca ao agora clássico "O Cavaleiro das Trevas" (2008), esse era um dos meus filmes mais antecipados desse ano e eu lembro-me muito bem do impacto gigantesco que o filme teve nessa altura e quando o vi eu adorei imenso por várias razões nomeadamente a premiada e icónica interpretação de Heath Ledger como o tresloucado Joker. Apesar de eu ter um especial carinho pela versão de Jack Nicholson desta personagem em "Batman" (1989), pois eu cresci a ver esta versão mais do que uma vez, eu acho sinceramente que o Joker de Ledger é a versão definitiva no que toca às novas gerações e também o facto de ser uma versão muito profunda e sombria.

Heath Ledger como "Joker" numa magnífica interpretação que ficou para a História recente do Cinema


Heath Ledger é uma de várias personalidades públicas que faleceram quando estavam na flor da idade e ainda tinham muito para dar, cuja interpretação de Joker imortalizou-o como ator, mas, como fã do trabalho de Ledger, eu aconselhava às novas gerações para irem além do Joker e conhecerem um pouco melhor o trabalho deste carismático aussie.


Mário Lisboa