sábado, 30 de julho de 2016

Álvaro Fugulin: Mário Lisboa entrevista... Nicolau Breyner


Falecido no passado dia 14 de Março, o lendário ator Nicolau Breyner faria hoje 76 anos de idade e a propósito do seu aniversário e de prestar homenagem a uma figura maior do que a vida que ainda hoje tem muita importância para mim, eu publico aqui no "Mário Lisboa entrevista..." uma entrevista que o Nico me concedeu no Hotel InterContinental no Porto 1 semana antes do seu falecimento e que foi feita originalmente para um documentário que eu estou a desenvolver sobre o falecido realizador de televisão brasileiro Álvaro Fugulin, com quem o Nicolau Breyner trabalhou principalmente nos tempos da sua produtora NBP (atual Plural Entertainment Portugal).
M.L: Quando conheceu o Álvaro Fugulin?
N.B: Poucos dias depois de ele chegar a Portugal, confesso que não sei que ano é que foi. Depois ele trabalhou para mim na NBP (atual Plural) e foi uma amizade de uma série de anos muito sincera, muito leal e muito bem-disposta. Ele era uma pessoa fantástica, além de que era um grande profissional, com imensa graça, com grande senso de humor e era uma pessoa aberta que era fácil de gostar dela. Eu fui muito amigo dele.

M.L: De todos os trabalhos/momentos que teve com o Álvaro, principalmente nos tempos da NBP, qual foi o mais marcante de todos?
N.B: Não faço a mínima ideia. A televisão é uma atividade inconstante a momentos marcantes pela positiva ou pela negativa. Um dia de televisão passam-se tantas coisas que não faço ideia qual é que terá sido o mais marcante. O mais marcante para mim foi ter conhecido aquele ser humano maravilhoso, aquela pessoa espantosa e aquele grande profissional.

M.L: O Álvaro Fugulin trabalhou na NBP até ao seu falecimento em Outubro de 2002. Como é que se sentiu quando soube que ele faleceu muito novo?
N.B: Eu já não estava na NBP na altura. Mas eu não estava em Portugal quando ele faleceu, estava a filmar penso que em Espanha. Foi um choque para mim, porque ele era um homem novíssimo, se bem que eu soubesse que ele tinha um problema de coração, cheio de força, com tanta coisa para dar e para viver e foi realmente uma perda muito grande.

M.L: O Álvaro foi um dos que contribuíram para a criação de uma pequena indústria de ficção nacional. Como vê o legado dele para as gerações futuras de profissionais do audiovisual?
N.B: Como disse é uma das pessoas que pela sua atividade como realizador ajudou a consolidar um projeto que nós começamos de fazer ficção em Portugal, portanto ele tem que ser olhado como uma das pessoas que também contribuiu para esse impulso.


M.L: Se estivesse com o Álvaro num dia qualquer de hoje em dia, o que é que diria a ele?
N.B: Eu não sei o que nós estávamos a dizer, mas estávamos a rir com certeza. O que dizia também não era muito relevante, mas estávamos com certeza a rir que era uma coisa que nós fazíamos constantemente mesmo quando estávamos a trabalhar.ML

Eu e Nicolau Breyner, um momento verdadeiramente inesquecível para mim de conhecer pessoalmente um dos meus grandes ídolos e também uma das minhas grandes influências.

quarta-feira, 27 de julho de 2016

Brevemente...

Entrevista com... João Perry (Ator)

Mário Lisboa entrevista... Filomena Gonçalves

A representação surgiu na sua vida devido à necessidade de se expressar e tem desenvolvido um percurso como atriz que já conta com 3 décadas de existência e passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão (onde entrou em produções como "Chuva na Areia" (RTP), "Palavras Cruzadas" (RTP), "Passerelle" (RTP), "Ricardina e Marta" (RTP), "Telhados de Vidro" (TVI), "Verão Quente" (RTP), "Desencontros" (RTP), "Primeiro Amor" (RTP), "Filhos do Vento" (RTP), "Ballet Rose-Vidas Proibidas" (RTP), "Esquadra de Polícia" (RTP), "A Raia dos Medos" (RTP), "Alves dos Reis" (RTP), "Sonhos Traídos" (TVI), "O Processo dos Távoras" (RTP), "Lusitana Paixão" (RTP), "A Ferreirinha" (RTP), "Vila Faia" (RTP), "Morangos com Açúcar" (TVI), "Doida por Ti" (TVI). É casada desde 1998 com o escritor Francisco Moita Flores. Esta entrevista foi feita no passado dia 2 de Julho.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
F.G: Não sei bem. A representação surgiu na sequência de uma necessidade de me expressar, passando primeiro por outras artes (fotografia, dança, música, canto) que experimentei com maior ou menor grau de empenho. Todas elas concorreram para me levar até à representação. Penso que não fui eu que decidi ser atriz, foram as artes da representação que me decidiram aceitar.

M.L: Quais são as suas referências, enquanto atriz?
F.G: Muitos dos colegas com quem tive o privilégio de trabalhar e me ensinaram tudo o que sei. Armando Cortez, Henrique Canto e Castro, Nicolau Breyner, Manuela Maria, Eunice Muñoz, Pompeu José, Raul Solnado, Graça Bessa, António Rodrigues e tantos outros professores e amigos que são as minhas referências de trabalho e de profissionalismo.

M.L: Houve um trabalho específico que tenha provocado exigência e talvez algum desgaste emocional em si ao longo do seu percurso como atriz?
F.G: Todos sem exceção, por um motivo ou por outro, puseram à prova as minhas capacidades​. Nem todos me exigiram o mesmo esforço mas todos me entregaram alguma coisa preciosa pela qual valeu a pena lutar. Alguns devolveram-me a alegria da recompensa do aplauso e do reconhecimento, outros nem tanto. Sinto-me grata à minha profissão, pelo que me tem dado e não conheço outro modo de trabalhar, sem ser com uma entrega total. Por isso, não, não há um que se destaque.

M.L: Em 2002, participou na telenovela “Sonhos Traídos” que foi exibida na TVI, na qual interpretou a personagem Maria de Lurdes Pereira. Tendo em conta que era uma personagem ciumenta para com o marido e que não conseguiu grandes feitos na vida, como é que se preparou na altura para o papel no sentido de tentar entender a Maria de Lurdes e as suas motivações?
F.G: Não compete ao ator/atriz fazer juízos de valor à sua personagem, mas sim, compreender-lhe as motivações, dentro das circunstâncias em que é posta. Que me lembre, a Maria de Lurdes era uma dona de casa, costureira por necessidade, com uma instrução básica, preterida pelo marido, a lutar por manter o lar enquanto trabalhava e criava um filho sozinha. Uma mulher como tantas outras, guerreira do quotidiano, sem nome nos jornais, nem medalhas no 10 de Junho, mas que, são o tecido mais profundo da sociedade. Creio que a função narrativa da personagem era esta mesma. O conflito da Maria de Lurdes é com a alteração de paradigmas que vêm abalar o seu pequeno mundo, desestabilizando a sua relação com os outros e consigo. Um mundo que ela não sabe, ou não quer compreender, acabando cruelmente louca e encarcerada. Isto, foi o que eu compreendi da Maria de Lurdes. Se ela não alcança grandes feitos, ou se é ciumenta, não sei, provavelmente será isso e também tantas outras coisas. A verdade é que não há luz sem escuridão. Nunca uma personagem, tal como as pessoas em que se inspira, é totalmente "boa" ou "má", feliz ou infeliz, "escura" ou "clara". É essa a função do ator/atriz. Extrair todos os cambiantes possíveis dentro do espectro da personagem. Compete ao espectador avaliar a verdade da representação do ator/atriz identificando-se ou não com a "verdade" da personagem.

   Filomena Gonçalves como "Maria de Lurdes Pereira" em "Sonhos Traídos" (0:03)

M.L: A meu ver, tem sido muito subestimada como atriz ao longo das últimas 3 décadas de representação. Acha que, um dia, lhe vão dar um maior reconhecimento a nível artístico?  
F.G: Não me sinto subestimada, mas sim, feliz, com o percurso que me foi possível fazer, pelo qual lutei e continuo a lutar. Sinto-me estimada por colegas, dentro e fora de cena, das mais diferentes idades ou proveniências. Respeitada pelo público que não me esqueceu, apesar das maiores ou menores ausências, a que nos votamos. O que me move é a esperança de alcançar melhor, construir mais, quando e sempre que houver oportunidade. É um caminho que se vai percorrendo com as armas e a bagagem que vamos tendo e ainda há muito para fazer. Não estou preocupada com o julgamento do tempo, nem nunca trabalhei para alcançar reconhecimento, mas tão só, com honestidade, tentar ultrapassar os diferentes desafios e obstáculos que se vão apresentando, ao longo da minha carreira. Os criadores aprendem a resiliência, estão preparados para aceitar a crítica, não esperam unanimidade e tentam viver com graça os altos e baixos da vida. Não sei se correspondo a este retrato mas são estas as linhas que me orientam.

M.L: Desde 1998 que é casada com Francisco Moita Flores. Como olha para o percurso tanto artístico como policial e político que o seu marido tem desenvolvido até agora?
F.G: Não olho. Os meus olhos são os da companheira que aceitou partilhar a vida com alguém que ama e admira. É um olhar íntimo, pessoal, não sobre a carreira mas o homem.

Filomena Gonçalves e Francisco Moita Flores

M.L: Que balanço faz do percurso que tem desenvolvido até agora como atriz?
F.G: É de facto o tempo para balanço no Deve e Haver da minha carreira. Tenho consciência dos erros que cometi e não quero voltar a fazer, do que está bem e pode ser explorado e melhorado. 

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
F.G: Uma só? De um modo genérico pretendo dedicar-me aos erros.ML

quinta-feira, 21 de julho de 2016

Brevemente...

Entrevista com... Filomena Gonçalves (Atriz)

"Die Hard-Assalto ao Arranha-Céus" (1988)


No passado dia 15 de Julho, celebrou-se o 28º Aniversário de "Die Hard-Assalto ao Arranha-Céus", o clássico de ação e suspense non-stop realizado por John McTiernan, que na altura já vinha de 2 longas-metragens seguidas ("Nómadas" (1986) e "Predador" (1987), e que tornou a então estrela televisiva Bruce Willis numa super-estrela internacional ao interpretar John McClane, um dos maiores heróis cinematográficos de todos os tempos que embora não era nada musculado não deixava de ser badass na mesma.

Co-escrito pelo lusodescendente Steven E. de Souza a partir do livro "Nothing Lasts Forever" de Roderick Thorp, eu descobri muito novinho esta gigantesca montanha-russa cinematográfica e desde aí tem sido um dos filmes da minha vida, onde atingiu praticamente a perfeição nomeadamente na parte narrativa e técnica e também no desenvolvimento das personagens. Além de McClane, há outras personagens por quem tenho preferência também como, por exemplo, a decisiva e independente Holly Gennaro-McClane (Bonnie Bedelia), o grande vilão Hans Gruber (Alan Rickman), o vingativo terrorista Karl (Alexander Godunov), o simpático polícia Al Powell (Reginald VelJohnson) que era o grande aliado de McClane, e o polícia burocrático Dwayne T. Robinson (Paul Gleason).

Alan Rickman, Bruce Willis, John McTiernan
Para mim, um dos melhores filmes passados na época natalícia de todos os tempos, "Die Hard-Assalto ao Arranha-Céus" tornou-se numa referência para o cinema de ação e deu origem a 4 sequelas (as 2 últimas são dispensáveis a meu ver). Recomendável para qualquer cinéfilo que se preze e com uma grande banda sonora do falecido Michael Kamen, para terminar cito a frase mais memorável de todo o filme e uma das minhas favoritas de qualquer filme ("Yippee Ki-Yay, Mother Fucker!").

Michael Kamen - "Die Hard-Assalto ao Arranha-Céus"

O grande tema natalício que se pode ouvir no fim do filme

Mário Lisboa

terça-feira, 12 de julho de 2016

Mário Lisboa entrevista... Sofia Grillo

Já dizia muito nova que queria ser atriz, de acordo com a Mãe, e nas últimas 2 décadas tem desenvolvido um percurso muito respeitável na representação que passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão (onde entrou em produções como "Vidas de Sal" (RTP), "Filhos do Vento" (RTP), "A Lenda da Garça" (RTP), "Ganância" (SIC), "O Processo dos Távoras" (RTP), "Anjo Selvagem" (TVI), "Coração Malandro" (TVI), "Baía das Mulheres" (TVI), "Tempo de Viver" (TVI), "Deixa-me Amar" (TVI), "Casos da Vida" (TVI), "Olhos nos Olhos" (TVI), "Sentimentos" (TVI), "Sedução" (TVI), "Louco Amor" (TVI), "Belmonte" (TVI). Estreou-se como apresentadora ao substituir Felipa Garnel na apresentação do extinto talk-show da TVI Ficção, "Face to F@ce", e atualmente está no ar na TVI como atriz tanto na telenovela "Santa Bárbara" como na série "Massa Fresca". Esta entrevista foi feita no passado dia 21 de Junho.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
S.G: Em criança! A minha Mãe conta que eu muito pequenina já dizia que queria ser atriz.

M.L: Quais são as suas referências, enquanto atriz?
S.G: São muitas... O Nicolau Breyner foi a primeira pessoa que me dirigiu. É uma referência para mim. É uma falta grande para todos nós. Ficou um grande vazio na ficção nacional.

Nicolau Breyner e Sofia Grillo
M.L: De todos os trabalhos que tem feito até agora como atriz, qual foi o que a deixou imensamente orgulhosa do que fez?
S.G: A "Beatriz" da Telenovela "Belmonte" (TVI) foi uma personagem que me deu muito gozo fazer e que teve grande impacto! Foi difícil criar aquela personagem mas acho que o resultado foi positivo.

M.L: Entre 2004/05, participou na telenovela “Baía das Mulheres” que foi exibida na TVI, na qual interpretou a vilã Vera Moraes. Sendo licenciada em Direito, reviu-se na Vera nesse aspeto da advocacia, apesar de que era uma personagem duvidosa com alguns assuntos por resolver?
S.G: A Vera não era uma personagem com muitos escrúpulos... Não me identifiquei enquanto licenciada em Direito, mas foi muito aliciante o desempenho!

Sofia Grillo como "Vera Moraes" ao lado de Tozé Martinho em "Baía das Mulheres"
M.L: Fez formação tanto em Paris como em Nova Iorque e participou em várias produções audiovisuais francesas. Apesar de se ter baseado a sua carreira essencialmente em Portugal, gostava de, no futuro, apostar mais no estrangeiro como atriz?
S.G: Faço de vez em quando produções francesas e gosto muito! Gostava de continuar... Mas onde gosto de trabalhar é mesmo em Portugal! É para mim mais interessante interpretar personagens na nossa língua mãe.

M.L: Interpretou uma produtora de televisão em “Sedução” (TVI) que foi a última telenovela portuguesa escrita por Rui Vilhena. O que é que aprendeu na parte dos bastidores após ter interpretado a Carmo Sampaio?
S.G: Que é um ambiente muito stressante!!! Trabalha-se muito e com muita pressão!!! Não sei se era capaz...

São José Correia, Maria João Bastos, Sofia Grillo
M.L: Como lida com o público que tem acompanhado a sua carreira nas últimas 2 décadas?
S.G: Muito bem! É para ele que trabalhamos, sem o apoio do público não somos nada. A minha relação tem sido muito saudável e honesta. Fico agradecida por isso.

M.L: Estreou-se como apresentadora no extinto talk-show da TVI Ficção, “Face to F@ce”, onde substituiu Felipa Garnel. Que recordações guarda dessa experiência?
S.G: Aprendi muito!!! Ouvi histórias extraordinárias… Foi uma experiência fantástica.

Sofia Grillo entrevista Mónica Sintra em "Face to F@ce"

M.L: Em 2014, “Belmonte” foi nomeada para o Emmy Internacional na categoria de Telenovela. Como é que se sentiu ao saber que “Belmonte” recebeu essa nomeação?
S.G: Muito feliz! Foi muito merecido. Nós trabalhamos para isso... Tivemos um enredo e atores maravilhosos...

M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
S.G: Trabalho, dedicação e amor por esta arte... E sobretudo não desistir ao primeiro "não". Manter a Fé.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem desenvolvido até agora como atriz?
S.G: Balanço positivo. Tenho tido um percurso muito feliz e estou agradecida por isso. Sobretudo agradecida ao público que me tem acompanhado durante estes anos com grande fidelidade.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
S.G: Gostava de voltar ao Teatro! Tenho muitas saudades de pisar o palco!ML

domingo, 10 de julho de 2016

Brevemente...

Entrevista com... Sofia Grillo (Atriz)

Mário Lisboa entrevista... Paula Pais

Estreou-se como atriz profissional em 1991 e tem desenvolvido nos últimos 25 anos um percurso muito diversificado que passa por áreas tão diferentes como, por exemplo, o teatro, o cinema, a televisão, as dobragens e as locuções. Também passou pelo desporto, onde desenvolveu a prática de Ginástica Desportiva de Competição e Andebol como atleta federada, e integra o elenco da longa-metragem independente, "O Tempo e Dez Mulheres", que está em desenvolvimento pelo realizador/produtor/guionista João Paulo Simões. Esta entrevista foi feita no passado dia 17 de Junho.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
P.P: Aos 13 anos, quando tive a disciplina de Drama Educativo no Colégio de Odivelas, foi como um íman.

M.L: Quais são as suas referências, enquanto atriz?
P.P: Juliette Binoche, que é uma atriz completa, e Rita Blanco.

M.L: De todos os trabalhos que tem feito até agora como atriz, houve algum que tenha um imenso carinho até hoje?
P.P: Tenho carinho por vários, mas a "Rua Sésamo" (RTP) foi e é muito especial. Interpretei a Gata Tita como se fosse um ser humano em gato, manipulei e dei voz a esta personagem, tudo gravado em direto com as outras personagens, nos estúdios da Tóbis, foi um grande desafio aprender a técnica Jim Henson, e uma oportunidade única de trabalhar com Kermit Love e Jim Kroupa, da Children’s Television Workshop (atual Sesame Workshop). Fui escolhida pelos americanos por casting, tive de passar por várias provas, e a seguir (eu a Gata Tita, Jorge o Ferrão, e o Luís Velez o Poupas) ainda tivemos formação intensiva da técnica Jim Henson. Depois fui escolhida para fazer "New Year’s Eve on Sesame Street" para a Children’s Television Workshop. Fui convidada para ir trabalhar para a “Sesame Street” nos EUA, mas infelizmente por razões pessoais não foi possível ir.

M.L: Em 1996, estreou-se nas telenovelas com “Primeiro Amor” que foi exibida na RTP, na qual interpretou a personagem Adélia. Que recordações guarda da sua estreia nesse género específico?
P.P: Também fui escolhida por casting e foi muito bom para mim porque tive a oportunidade de contracenar com o grande Nicolau Breyner, e dirigida pelo grande Armando Cortez, infelizmente estes dois monstros da representação já não estão cá, mas deixaram uma marca enorme no nosso panorama artístico, e eu tive o privilégio de ter trabalhado com estes dois grandes artistas que me ensinaram muito.


M.L: Na área desportiva, desenvolveu a prática de Ginástica Desportiva de Competição e Andebol como atleta federada. A seu ver, as novas gerações de atores deviam praticar Desporto como um complemento na representação?
P.P: Acho a prática desportiva opcional, mas o exercício físico é fundamental, ajuda-nos a ter melhor controlo e mais consciência do nosso corpo, melhor coordenação e resistência tanto física como mental, e faz-nos sentir bem e mais saudáveis, logo melhor preparados para viajar na transformação das várias personagens. 

M.L: Trabalhou com Raoul Ruiz na longa-metragem “Combate de Amor em Sonho” em 2000. Como vê o percurso que ele desenvolveu até falecer em 2011?
P.P: Sim! Produção de Paulo Branco, mais um grande artista com quem tive o privilégio de trabalhar, grande realizador e autor, também, de filmes diferentes, filosóficos e surrealistas. É uma referência muito importante no mundo do cinema e em particular para os estudantes de cinema.

M.L: Em 2016, celebra 25 anos de carreira, desde que se estreou como atriz profissional em 1991. Que balanço faz destes 25 anos?
P.P: Tenho uma experiência profissional muito variada, consegui fazer várias coisas que gosto muito, como teatro, cinema, telenovelas, séries televisivas, dobragens, locuções, contar histórias, dizer poesia, e também publicidade, gosto de olhar para trás e ver tanta coisa diferente que fiz, sinto-me realizada e feliz por isso! Mas quero continuar a fazer mais e mais, e nunca desistir independentemente de todas as dificuldades.

M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
P.P: Estudar, fazer uma licenciatura em teatro, assim têm mais hipóteses de arranjar trabalho.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
P.P: O que realmente me dá prazer é interpretar! Seja de que forma for, mas tenho uma paixão pelo cinema, por isso quero fazer mais cinema.ML

sábado, 9 de julho de 2016

Brevemente...

Entrevista com... Paula Pais (Atriz)

Mário Lisboa entrevista... Judite Costa

O interesse pela representação surgiu naturalmente e tem desenvolvido um percurso como atriz que ainda tem muito para dar. Tem tido também experiência em outras áreas como a produção e recentemente co-protagonizou a curta-metragem "Quarto em Lisboa" de Francisco Carvalho e que foi considerado o Melhor Filme Português pelo Fantasporto. Esta entrevista foi feita no passado dia 17 de Junho.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
J.C: Não posso dizer a famosa frase ''desde que nasci'' (pelos seis anos queria ser florista e astronauta!). Mas vá, desde muito nova! Não sei como surgiu essa ideia, sei que quando surgiu fez todo o sentido e fiz de tudo para incluir os estudos teatrais na minha formação escolar.

M.L: Quais são as suas referências, enquanto atriz?
J.C: Tive vários professores maravilhosos, que me servem como referência e torna-se difícil nomeá-los. Mas vou arriscar dizer João Paulo Costa e Maria João Vicente. Mas num meio que apela tanto à criatividade também vou buscar referências à música; ou então "aquele ator naquele filme"; toda uma panóplia.

M.L: De todos os trabalhos que tem feito até agora como atriz, houve algum que lhe encheu as medidas?
J.C: Ainda sou muito nova e ainda tenho um longo percurso pela frente... Por isso, cada espetáculo, cada trabalho é mais uma aprendizagem! No entanto, posso dizer que, apesar do palco ser a "Mãe", eu me identifico mais com o trabalho em cinema. É um processo que me ''enche mais as medidas''.

M.L: Como olha, hoje em dia, para o meio artístico pelo menos desde os últimos 6 anos em que trabalha como atriz?
J.C: Eu considero que tenho uma relação descomprometida com o meio artístico, porque como todos sabem, viver como atriz é muito difícil ou quase impossível. Tenho o meu trabalho e quando surge uma oportunidade que possa coincidir (ou que permita largar tudo) vou atrás. Mas sinto que a relação cultural-sociedade falha dos dois lados. Não há subsídios nem apoios (mostra que as pessoas não percebem o verdadeiro valor da cultura e não falo só do valor humano! Há cidades que vivem da cultura), mas ao mesmo tempo sinto que há uma falha na comunicação com o público em alguns espetáculos (o que acaba por afastar as pessoas do Teatro).

M.L: Tem tido experiência em outras áreas como, por exemplo, a produção. De que forma estas experiências alternativas têm sido gratificantes para si?
J.C: Muito gratificantes! É um trabalho que me dá muito gosto de fazer.

M.L: Recentemente, a curta-metragem “Quarto em Lisboa” de Francisco Carvalho, na qual co-protagonizou, foi considerado o Melhor Filme Português pelo Fantasporto. Como é que se sentiu ao saber dessa premiação?
J.C: Fiquei muito feliz, é claro! O Francisco Carvalho é um excelente realizador e estava rodeado por uma bela equipa. É sempre um grande orgulho saber que o nosso trabalho é bem recebido e que fomos capazes de dar vida às ideias do Francisco.

Judite Costa como "Joana" em "Quarto em Lisboa"
M.L: Que balanço faz do percurso que tem desenvolvido até agora como atriz?
J.C: Um balanço muito positivo! Conheci pessoas maravilhosas, tive experiências fantásticas... A pessoa que sou hoje em dia deve-se a esse mesmo percurso! 

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
J.C: Gostava muito de tirar um curso de interpretação para cinema e de entrar numa Longa-Metragem!ML

domingo, 3 de julho de 2016

Brevemente...

Entrevista com... Judite Costa (Atriz)

Mário Lisboa entrevista... Mafalda Pereira

Começou a trabalhar na representação muito nova e tem desenvolvido um percurso como atriz com uma enorme determinação e empenho, lutando por um Mundo artisticamente melhor. Filha da artista plástica Deolinda Almeida, como atriz tem-se baseado essencialmente entre Portugal e Inglaterra e também tem desenvolvido um lado mais empreendedor ao criar vários projetos artísticos. Recentemente, participou em "The Misanthrope", a peça de Molière que celebra o seu 350º Aniversário em 2016 e que foi produzida pelos The Lisbon Players com quem tem trabalhado ultimamente. Esta entrevista foi feita no passado dia 17 de Junho.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
M.P: Quando comecei a fazer teatro aos onze anos percebi que era a arte que me permitia desfrutar o melhor de mim enquanto ser humano, o prazer que me dá e ao mesmo a subjetividade e o facto de provavelmente nunca saber avaliar o que é certo ou errado, apenas o que é espontâneo ou não. Das artes é a que mais conforto e paz de espírito me dá, costumo dizer que é um vírus, um amor platónico, uma adição sem o qual não sei quem sou nem quero ser.

M.L: Quais são as suas referências, enquanto atriz?
M.P: Apesar de ser uma jovem atriz portuguesa, a Sara Barros Leitão tem para mim tudo o que uma geração de atores deve seguir, uma dedicação, um profissionalismo, um amor à arte e um exemplo do que de mais belo se faz pela representação e pelos seus.

Quanto a atores mais internacionais, tenho muitas referências, cresci fascinada com a versatilidade de muitos atores que arriscam pela ousadia e transformação total em cada papel, e é isso que procuro para mim, não me repetir.

M.L: De todos os trabalhos que tem feito até agora como atriz, houve algum que a tenha feito questionar o Mundo e o que está à sua volta?
M.P: O mais recente, a "Maggy" na série "Lavender". Sinto que me salvou internamente, estava num timing meio instável a nível pessoal, à espera de um resultado de uma biópsia. Chegou o guião para eu ler, e quando eu antes tinha pensado que caso fosse grave iria abster-me de tratamentos que me iriam torturar mais que um cancro, ao ler a força de uma doente como sempre me imaginei, forte, e não derrotada como me estava a sentir antes de ler o guião, decidi, que quando eu tiver de passar por algo assim, serei a "Maggy" novamente!

Sempre quis rapar o cabelo em personagem, sinto que é um privilégio, ainda não surgiu oportunidade que me permita abraçar a personagem nesse sentido, mas aguardo por algo assim.

Todas as personagens que vou fazendo são maneiras de viver mais do que viveria se não fosse atriz, questiono sempre, não a personagem, mas o mundo à sua volta, à "nossa" volta.

M.L: Como atriz, tem-se baseado essencialmente entre Lisboa e Londres. Do ponto de vista artístico, Portugal devia aprender mais com a Inglaterra?
M.P: Sem dúvida, estamos sempre atrasados, somos pequenos, temos mais potencial do que aquele a que nos permitimos, nós fazemos mais com menos, mas a mentalidade é o que mais está lento, dou um exemplo muito prático, um ator, a não ser por questões contratuais jamais deveria ter de dar a idade num casting, em Inglaterra fala-se em "Playing Age", é ridículo que ainda tenhamos que ser julgados pela data em que nascemos, e depois somos chamados para castings para o qual não temos o perfil físico, porque um número não nos define... Para não falar que tudo o que se faz em termos de queimar imagem é bem mais imediato, lá está, mentalidade. O cinema independente, ou as produções académicas entre tantas outras são normalmente pagas lá, mesmo que simbolicamente, e cá, nem despesas na maioria das vezes. Eu quando tirei design também tive de pagar o meu material, acho que mais ainda deveríamos pagar de alguma forma às pessoas que dão vida aos nossos trabalhos, à semelhança do que se faz lá fora mais do que se faz cá dentro.

M.L: Tem trabalhado ultimamente com os The Lisbon Players que têm passado por tempos difíceis. Como olha para o percurso que a companhia tem desenvolvido desde 1947 até agora?
M.P: Eu já só gosto de estar em palco em inglês, o português é uma língua, quase que sagrada, é como trabalhar talha dourada, é difícil encontrar projetos aliciantes na nossa língua, já o inglês em palco, está agora em extinção... E é uma vergonha, Lisboa está cada segundo mais cosmopolita, por isso é que não sinto falta do multiculturalismo de Londres, mas é uma miséria abater a companhia mais antiga e completamente autossustentável que são os The Lisbon Players, capitalismo e miséria são sinónimos nesta história, se por ventura eu deixo de poder trabalhar em inglês por aqui, ou volto para fora ou hei de fazer com que algo de novo surja por cá.

O elenco e a equipa de "The Misanthrope", a mais recente produção dos The Lisbon Players 
M.L: Em paralelo com o seu trabalho como atriz, também tem desenvolvido um lado mais empreendedor ao criar vários projetos artísticos. A Mafalda empreendedora é indissociável à Mafalda atriz?
M.P: Frequentemente tento reconcentrar-me na exigência da profissão, no entanto, o que acontece muito é que surgem necessidades de mercado a mim e aos meus colegas que me fazem mexer em projetos e ideias que nos dêem melhores condições ou que simplesmente não nos deixem estagnar.

O grupo que criei em Londres ou iniciativas que tenho guardadas em mente, só não estão na mesa por personagens que vão roubando a prioridade e também pela falta de meios para os concretizar da maneira que quero, mas quando houver tempo e dinheiro, passo a redundância, volto a mexer neles, o mercado português precisa de evoluir, expandir, e nós atores temos responsabilidade também.

M.L: É filha da artista plástica Deolinda Almeida. Como vê a evolução que a sua mãe tem tido até agora nesta área específica?
M.P: Eu só tenho um dom assumido, herdei as mãos da minha mãe, que pinta como ninguém, eu vejo-a como uma artista pura, em estado bruto, sinto que jamais se adaptará ao sistema, e essa é uma forma de expressão que vai fazer com que o valor que o trabalho tem não tenha todo o reconhecimento que merece, eu vejo constante evolução plástica, mas em como todas as artes vejo falta de exposição das obras e visão que está por descobrir pelo público em geral.

M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
M.P: Que como a Fernanda Montenegro diz, que questione os motivos pelo qual o faz, oiço muitos jovens atores a dizerem que começaram pela fama, e que mudaram, primeiro sinto que ao o admitirem que demonstram maturidade, mas ao mais leve indício de desequilíbrio voltam a demonstrar qual o chamamento base, na minha opinião, frágil. O que aconselho, sim, aos restantes, que deixem que a cegueira canse os de espírito volátil, e que vivam o momento, em paz com cada dádiva que é uma nova personagem, nós pensamos demasiado, "onde é que vou chegar", importante é nunca parar de viver o presente, as oportunidades vêm para quem não desiste e é sensato ao saber que não vai viver disto, mas que se acontecer, melhor, mas que não conte com o sustento da arte, nem com a fama... Não acredito em talento, nem em sorte, acredito em profissionalismo e dedicação.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem desenvolvido até agora como atriz?
M.P: Olhar para trás é muito importante, não com rancor nem com presunção, mas como quem em vez de fazer uma lista de coisas a fazer, mas sim de pequenas conquistas que se vão fazendo, eu fiz esse exercício em Londres, tinha acabado de ter um colega a entrar em "Game of Thrones" porque o sugeri para um casting, trabalhar como parceira de cena com o James Phelps, um dos gémeos do "Harry Potter", ou até mesmo ter estendido a roupa ou ter sido paga por uma curta-metragem que acabou à hora prevista, enfim, devemos pensar mais se estamos no caminho certo para estar bem no momento. O dia de amanhã não interessa, eu estou pronta para personagens novas, o que mais tenho medo é de me repetir, sinto que não o costumo fazer apesar das limitações de oportunidades, sinto que estou em constante evolução, é nisso em que acredito, é isso que procuro.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
M.P: Quero muito fazer mais Cinema e Televisão, cada vez mais e mais. Não me deixaram entrar nos Estados Unidos por terem visto na Internet que sou atriz mas um dia, as "fronteiras" hão de cair.

Quero poder fazer conteúdos em Portugal que sejam mais internacionais, quero que o mundo, e as línguas dentro da arte que é universal seja uma, e que eu a possa continuar a representar, cá dentro ou lá fora de igual maneira. Quero poder trabalhar num mercado em Portugal que não é industrial, mas sim de valor e genuíno, quero moldar, formar, expandir a nossa arte às histórias que conto enquanto atriz, quero ter um trabalho reconhecido de valor, o valor que despertar nos que se revêm nas minhas personagens, para isso preciso que continuem a apostar no meu percurso.ML

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