Entrevista com... Elizabeth Bochmann (Atriz)
quarta-feira, 30 de setembro de 2015
Mário Lisboa entrevista... Carla Chambel
Estreou-se na representação em 1995 com a peça "A Disputa" de Marivaux e encenada por João
Perry no Teatro da Trindade e foi o mote para um notável percurso como atriz que já conta com 20 anos de existência e passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão (onde entrou em produções como "A Febre do Ouro Negro" (RTP), "Lusitana Paixão" (RTP), "Inspetor Max" (TVI), "A Ferreirinha" (RTP), "Até Amanhã, Camaradas" (SIC), "João Semana" (RTP), "Jura" (SIC), "Vingança" (SIC), "Resistirei" (SIC), "Bem-vindos a Beirais" (RTP), "Poderosas" (SIC). Uma das atrizes mais dotadas da sua geração, desde Dezembro de 2014 que é Vice-Presidente da Academia Portuguesa de Cinema, e co-protagoniza a peça "Breviário para um Extermínio Silencioso" de Mike Bartlett e encenada por Rui Neto, na qual vai estrear no Clube Estefânia em Lisboa no próximo dia 22 de Outubro. Esta entrevista foi feita no passado dia 20 de Setembro.
Fotografia: Cinéfilos.tv/Luís Silveira e Castro
Perry no Teatro da Trindade e foi o mote para um notável percurso como atriz que já conta com 20 anos de existência e passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão (onde entrou em produções como "A Febre do Ouro Negro" (RTP), "Lusitana Paixão" (RTP), "Inspetor Max" (TVI), "A Ferreirinha" (RTP), "Até Amanhã, Camaradas" (SIC), "João Semana" (RTP), "Jura" (SIC), "Vingança" (SIC), "Resistirei" (SIC), "Bem-vindos a Beirais" (RTP), "Poderosas" (SIC). Uma das atrizes mais dotadas da sua geração, desde Dezembro de 2014 que é Vice-Presidente da Academia Portuguesa de Cinema, e co-protagoniza a peça "Breviário para um Extermínio Silencioso" de Mike Bartlett e encenada por Rui Neto, na qual vai estrear no Clube Estefânia em Lisboa no próximo dia 22 de Outubro. Esta entrevista foi feita no passado dia 20 de Setembro.
M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
C.C: Bom, desde pequena
fui estimulada pela escola e em casa a criar um gosto pela leitura em voz alta,
de poesia, prosas, a cantar. Mais tarde, já no secundário, ao ver um espetáculo
do Teatro Meridional (“Ki Fatxiamu Noi Kui”, 1992) fiquei deslumbrada com
aquela linguagem e, em conjunto com outros colegas, fundámos o nosso primeiro
grupo de teatro. Foi então que descobri o conservatório de teatro, a dita
Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa, e percebi que me podia formar
como atriz, aprender com mestres e tirar um curso. Também foi quando comecei a
ir ver teatro a todo o lado que podia: Comuna, Bando, Meridional, Cornucópia… Foi
muito importante, naquela época, ver como se fazia.
M.L: Quais são as suas referências, enquanto atriz?
C.C: Houve professores que
me marcaram profundamente: António Feio, João Mota, Maria João Serrão, Luca
Aprea. Mais tarde, como profissional fui aprendendo com outros colegas e há
pessoas que admiro muito pela forma como trabalham, como se entregam: Miguel
Seabra, Luísa Cruz, Ivo Canelas, Carla Galvão. E em todos os trabalhos vou
encontrando colegas com os quais tenho pontos de afinidade e aprendizagem que
também se tornam referências para mim. A Lúcia Moniz foi um destes últimos
casos.
M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, até agora,
durante o seu percurso como atriz?
C.C: É difícil escolher. Cada
trabalho é como um muro que eu tenho que estudar a melhor estratégia de como o
vou escalar até conseguir chegar ao topo e transpô-lo para o outro lado. E do
outro lado há tantas coisas novas para ver! São essas coisas que muitas vezes
nos surpreendem durante o trabalho e que torna tudo muito mais desafiante e
gratificante.
No teatro posso dizer que
a “Ditosa” da “História do Gato e da Gaivota que a Ensinou a Voar”, do Teatro
Meridional, foi um desses muros que deu muito gozo transpor e de certo modo
voar a partir dele. E, claro que fazer uma “Julieta” de (William) Shakespeare é
um sonho concretizado.
No cinema foi muito desafiante
fazer a subcomissária de polícia no filme “Quarta Divisão” (2013) de Joaquim
Leitão. Uma personagem muito distante de mim, que exigiu um empenho a nível
físico, de destreza e atitude emocional que não pratico todos os dias.
Por último na televisão é
indiscutível que a “Marina” de “Bem-vindos a Beirais” (RTP) me marcará por
muito tempo, não só pelo sucesso do projeto como pelo espírito de família que
se criou ao longo de dois anos e tal de gravações.
M.L: Entre 2007/08, participou na telenovela
“Resistirei” que foi exibida na SIC, na qual interpretou a personagem Júlia
Mascarenhas. Que recordações guarda desse trabalho?
C.C: Ironicamente o trabalho
fez jus ao nome da novela. Foi um trabalho de resistência, onde o muito empenho
da equipa e da produção foi posto de parte pela então nova direção da SIC.
Gravámos o projeto até ao fim mesmo depois da novela sair do ar. Ainda assim
guardo excelentes memórias, nomeadamente o trabalho com grandes atores como o
Rui Luís Brás, o Nuno Melo, a Carla Maciel… e uma equipa incansável.
M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção
nacional?
C.C: Vejo o teatro sob
grandes mudanças, e no meu ponto de vista para melhor. Mas falo da vontade dos
artistas em fazê-lo, não da parte de quem nos governa. Fiquei muito feliz com a
iniciativa recente do Teatro Nacional D. Maria II, dirigido atualmente pelo
Tiago Rodrigues, de abrir gratuitamente as portas ao público durante três dias
e criar uma avalanche de filas que só mostra que as pessoas querem ir ao teatro!
Essa dinâmica de proximidade é cada vez mais importante desenvolver, desmistificar
o erudito da cultura. Ela é e deve ser para todos e acessível a todos!
A ficção encontra-se numa
fase em que a tecnologia já permite uma produção mais simplificada e barata dos
conteúdos. Ainda assim sinto que há um grande investimento nos produtos para
grandes massas e investimento insuficiente para conteúdos mais alternativos. A
Academia RTP está a fazer um trabalho interessante a esse nível, assim como os
festivais de curtas-metragens que vão ocupando cada vez mais as programações dos
cineteatros a nível nacional, dando a conhecer as jovens promessas.
M.L: Em 2015, celebra 20 anos de carreira, desde que
se estreou como atriz com a peça “A Disputa” de Marivaux e encenada por João
Perry no Teatro da Trindade em 1995. Que balanço faz destes 20 anos?
C.C: São 20 anos de
constante aprendizagem. Gosto de trabalhar com as pessoas e por isso, retiro
sempre uma aprendizagem do trabalho com elas. Isto serve para as boas
experiências mas também para as menos boas. Tem sido um percurso feito de muito
trabalho, muito empenho, alguns “nãos” como resposta, e felizmente muitos
“sins” que me têm permitido mostrar várias valências. Gosto de saltar de
companhia em companhia, não ficar no mesmo canal por muito tempo, conhecer
diferentes realizadores. Isso tem tornado a minha experiência enquanto atriz
muito mais rica. Tenho medo de estagnar. Julgo que a sorte também me tem
acompanhado e tem colocado no meu caminho excelentes desafios que me obrigam a
superar-me.
M.L: Como lida com o público que acompanha sua
carreira há vários anos?
C.C: É sempre agradável
quando alguém nos aborda e manifesta o seu apreço pelo nosso trabalho. Seja
presencial ou virtualmente. Hoje em dia o Facebook também é um veículo para
essas mensagens às quais tento responder sempre que posso. Também atento às
críticas que fazem ao meu trabalho. É importante termos um ponto de vista do
espetador. Perceber se o tocámos ou não e quais as razões. A verdade é que o
meu trabalho é feito para eles e por isso é muito importante para mim que
chegue até eles.
M.L: Recentemente, participou na série “Bem-vindos a
Beirais” que está em exibição na RTP. Já alguma vez imaginou que a série
tivesse o sucesso que tem tido até agora?
C.C: Não, claro que não.
Há muito que a RTP estava longe de ter sucessos em ficção e muito menos em
horário nobre. Foi um projeto de três meses que se transformou numa bonita
viagem de mais dois anos. Houve um espírito de família que se manteve ao longo
de todo o projeto. Criou-se uma família beiralense. Cada um de nós ganhou mais
uma terra para além daquela em que nasceu e isso vai marcar-nos para sempre. E
claro que o público foi fundamental neste processo. Ele escolheu-nos para
passar a fazer parte do serão e isso orgulha-nos muito.
M.L: Desde Dezembro de 2014 que é Vice-Presidente da
Academia Portuguesa de Cinema. Como vê o percurso que a Academia tem
desenvolvido, desde a sua fundação em 2011 até agora?
C.C: Vejo uma vontade
sincera de procura na promoção do cinema português e dos seus intervenientes.
Os Prémios Sophia são a cara mais visível da Academia e sei que dão muito,
mesmo muito trabalho para conseguir pô-los de pé ano após ano. O trabalho é
feito a partir da disponibilidade dos elementos da direção e de uma equipa
muito reduzida de produção que trabalha ao longo do ano com a Academia. Mas a
Academia está a alargar a sua atuação. No ano passado já tivemos, por exemplo,
os Prémios Sophia Estudante, que visam premiar o que de melhor se faz nas
escolas de cinema de todo o país, apostando claramente na formação como base de
aprendizagem da 7ª arte. Um dos trabalhos da Academia também tem passado por
fazer e melhorar a sua comunicação, cativar novos associados, procurar mais
parcerias. Desenvolve várias responsabilidades, como as de indicar os
candidatos aos Óscares, ou aos Prémios Goya. Neste momento está a trabalhar, em
conjunto com o ICA, na preparação do Ano do Cinema. E muito mais haveria a
dizer. Há uma vontade séria e honesta em fazer melhor pelo nosso cinema. E foi
isso que me cativou a entrar para a Academia e oferecer o meu modesto contributo.
M.L: Em 2011, Portugal conquistou o seu segundo Emmy
com a telenovela da SIC “Laços de Sangue”, na qual trabalhou como diretora de
atores. Como é que se sentiu ao saber que “Laços de Sangue” ganhou o prémio?
C.C: Muito orgulhosa,
naturalmente. Foi a minha primeira e única experiência em direção de atores num
projeto de ficção e senti que foi uma oportunidade única para conhecer como funciona
a máquina para lá das câmaras. É completamente diferente. Ficamos com uma noção
maior de como funcionam os vários setores, como se interligam. Também me
permitiu conhecer a precariedade em que trabalham os técnicos. 12 horas por
dia, 5 dias por semana, são 60 horas semanais. Ganharam ainda mais a minha
admiração depois de ter passado por aquela experiência e por me ter sentido como
um deles. Claro que depois há louros como os Emmys que são gratificantes receber,
mas na verdade, no dia-a-dia, a trabalhar no duro, não significam muito.
M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na representação?
C.C: Antes da carreira que
procure a formação. Ser ator é uma arte que deve ser cuidada e respeitada como
qualquer outra profissão. É uma vida inconstante que se abraça, em que somos
constantemente postos em causa. E há uma aprendizagem a fazer ao recebermos um
“não” como resposta. Nós somos o nosso instrumento, o objeto da avaliação e por
isso há que desenvolver uma estrutura forte que saiba filtrar o que é uma
crítica ao nosso trabalho do que nós somos. Daí ser tão complicado quando se
trata de crianças ou adolescentes. Eles estão em processo de construção do “eu”
e ser demasiado elogiado ou preterido irá afetar a sua auto-estima. Apesar de
todo o deslumbramento que esta profissão possa ter, tem momentos muito duros e
que nos obrigam a fazer escolhas que nem sempre queremos. Depois há momentos
que compensam tudo isto: o “sim” daquele casting
tão difícil, aquele ensaio em que sentimos que “chegámos lá”, o aplauso do
público, o recorde de audiência, uma crítica de reconhecimento.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
C.C: Neste momento estou
em ensaios para um espetáculo na Escola de Mulheres. “Breviário para um
Extermínio Silencioso” é uma peça a partir do original “Contractions” de Mike Bartlett.
A encenação está a cargo do Rui Neto e estarei em cena com a minha querida
colega e amiga Isabel Medina. Irá estrear a 22 de outubro no Clube Estefânia, em
Lisboa. Ficará em cena até meados de Novembro. Logo de seguida iniciarei um
novo projeto também em teatro que estreará em Março, mas deste ainda guardo
segredo porque está em fase de preparação. Por isso é um regresso ao teatro
muito desejado ao fim de dois anos de televisão.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda nesta altura da sua vida?
C.C: Tantas coisas. Quando
tinha 15 anos e julgava que queria ser veterinária, o teatro atravessou-se na
minha vida de forma tão intensa que decidi mudar o meu rumo. E isso passou a
ser um mote na minha vida. Não tenho nada como adquirido. Tudo pode mudar de um
momento para o outro. Tenho projetos dentro e fora da Arte que gostava de
concretizar. Começo a ter um bicho aqui dentro que me diz para encenar, mas
ainda não tive a coragem para me lançar. Tenho ideias para um filme e para uma
série. Seria um sonho concretizá-los.MLFotografia: Cinéfilos.tv/Luís Silveira e Castro
segunda-feira, 21 de setembro de 2015
Mário Lisboa entrevista... Carlos Neves
O interesse pelo audiovisual surgiu quando frequentou um curso de operadores de vídeo no Centro de Formação da RTP e desde aí tem desenvolvido um percurso nessa área que já conta com 3 décadas de existência e muita experiência em géneros tão diferentes. Realizador e operador de câmara, trabalhou, por exemplo, na produtora Plural Entertainment Portugal (ex-NBP) entre 1994 e 2010, e profissionalmente gostava de fazer muito mais e melhor e ainda voltar a realizar. Esta entrevista foi feita no passado dia 28 de Agosto.
M.L: Quando surgiu o interesse pelo audiovisual?
C.N: Enquanto fazia o 12º ano
de escolaridade na Escola d’Artes Decorativas António Arroio tive a
oportunidade de frequentar em simultâneo um curso de operadores de vídeo no
Centro de Formação da RTP. Aí foi “amor à primeira vista”, apaixonei-me pelo
trabalho de câmara e nunca mais deixei de fazer televisão.
M.L: Quais são as suas influências nesta área?
C.N: A minha primeira
influência foi o realizador Herlander Peyroteo com quem tive o privilégio de aprender,
primeiro no CF e depois na produtora TV5 Megahertz onde fiz a minha primeira
série televisiva “Cobardias” (RTP). Depois mais tarde na produtora Edipim, conheci
o meu outro mentor, o realizador Nuno Teixeira. Estes dois senhores tão
diferentes no estilo (clássico/moderno) e na atitude, ensinaram-me as bases do
que era trabalhar em televisão tanto na forma como no conteúdo e desde a
maneira de estar ao rigor com que lidavam com todo o processo foram sem dúvida
as minhas maiores referências. Tinham em comum o gosto pela ficção.
M.L: No audiovisual, tem trabalhado em géneros tão
diferentes. De todos os géneros que tem trabalhado até agora, qual é o que
prefere mais?
C.N: Sem dúvida alguma, a
ficção.
M.L: Ao longo das últimas 3 décadas tem desempenhado
tanto as funções de operador de câmara como de realizador. Em qual destas
atividades em que se sente melhor?
C.N: Assumir as funções de
realizador é sem dúvida o mais gratificante, no entanto confesso que por vezes
me é difícil dissociar isso da operação de câmara.
Trabalhar em equipa com atores
e técnicos é fantástico, poder moldar os diferentes componentes quer artísticos
quer técnicos de forma a poder narrar a história conforme a visualizámos é o
gozo supremo.
M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, até agora,
durante o seu percurso profissional?
C.N: Provavelmente “A Jóia
de África” (TVI), tanto a nível pessoal como profissional.
M.L: Foi co-realizador da telenovela “Tempo de Viver” que
foi exibida na TVI entre 2006/07. De que forma este projeto foi gratificante
para si a nível de reconstituição histórica (11/9/2001)?
C.N: Foi um desafio lançado
pelo coordenador do projeto e o autor do guião, o grau de dificuldade na
execução do que estava escrito ao nível da reconstituição histórica e do
contexto da história foi de facto um aliciante extra, apesar de achar que não
se coaduna com o contexto da produção de telenovela, não é justo hipotecar num
primeiro episódio o orçamento de um projeto inteiro. O resultado foi impactante
mas efémero do ponto de vista da narrativa… Outro exemplo disso foi a novela
“Olhos nos Olhos” (TVI), tempestades com ventos ciclónicos, acidentes de
automóvel, derrocada de edifício, etc… tudo no 1º episódio.
Vale a pena também fazer
referência a um outro projeto que do ponto de vista da reconstituição histórica
teve tanto ou mais impacto e que creio ter sido bem mais equilibrado. As cenas
do primeiro episódio da telenovela “Dei-te Quase Tudo” (TVI) relativo ao 25 de
Abril de 1974.
M.L: Como vê, atualmente, o audiovisual, a nível
global?
C.N: Com bastante apreensão,
salvo honrosas exceções, é gerido por pessoas que pouco ou nada têm
conhecimento do que consta realmente em todo o processo produtivo, como tal e
por ignorância, não reconhecem nem sabem identificar a importância nem a
especificidade dos diferentes “papéis” que cada um deve representar nesse
processo, em resultado disso vulgarizam-se as funções, desrespeitam-se os mais
experientes e cometem-se erros banais de forma consistente.
No final vêm-nos dizer que
não há dinheiro e que a culpa é da crise! Quando na realidade nunca como agora
dispusemos de tantas ferramentas para agilizar o processo, ou de técnicos e atores
que fruto do percurso que fizeram, acumularam uma experiência e conhecimento
que é menosprezado apenas por ser inconveniente.
Os restantes (que gerem e
tomam decisões) são condicionados pelo mercado e acabam a alinhar pelo mesmo
diapasão, apesar de aqui ou ali se lhes vislumbrar o sonho de um dia fazer as
coisas de forma diferente.
M.L: Entre 1994 e 2010, trabalhou na produtora Plural
Entertainment Portugal (ex-NBP). Como vê o percurso que a produtora tem
desenvolvido, desde a sua fundação até agora?
C.N: Foi na sua origem
fundamental para o despertar de forma consistente, do que agora se chama de
Ficção Nacional, reuniu os profissionais que na altura apostaram nesse sonho de
fazer ficção contra a corrente que dizia que não era rentável e apostava
maioritariamente no entretenimento.
O tempo veio mostrar que o
sonho era possível, depois de termos conquistado primeiro na RTP e depois na
TVI a liderança nas audiências com conteúdos produzidos pela NBP veio o natural
reconhecimento e apetência pela empresa. Surgiu então o vínculo à Media Capital
e perdeu-se a independência de produzir conteúdos para os diferentes canais e
eventualmente a aposta (que quanto a mim seria um sonho tornado realidade) de
produzir independentemente (nessa altura produzíamos séries para a RTP1 e SIC e
telenovelas para a TVI e RTP1) e através da NBP Internacional os nossos
conteúdos tinham já um mercado interessante. O crescimento massivo da produção
de telenovelas em detrimento de outros formatos na minha opinião foi um passo
atrás naquilo que tinha sido até então a evolução da empresa. Mais tarde com a
saída do António Parente da gestão da empresa houve um sentimento misto de que
se poderia inverter o rumo das coisas pela necessidade de renovar ou que tudo
se iria desmoronar por falta de liderança e objetivos firmes. O que veio a
suceder depois aliado à conjuntura económica veio condicionar a produção e até
agora pouco ou nada de novo nos trouxe.
M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na área do audiovisual?
C.N: Que diversifiquem a
sua área de conhecimentos e contactos, o nosso mercado é mínimo e muito
fechado. O protecionismo praticado por diferentes grupos numa lógica de
sobrevivência não ajuda à evolução/progressão, poucos são os que conseguem
singrar por mérito sem ter de passar por se sentirem inconvenientes.
M.L: Que balanço faz do percurso profissional que tem
desenvolvido até agora?
C.N: Sinto-me realizado e
orgulhoso com o percurso que fiz até agora, mas faço tensões de fazer muito
mais e melhor…
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
C.N: Continuar todos os
dias a batalhar por novos desafios e a aventurar-me por terrenos desconhecidos…
Sempre com o olho em eventuais mudanças/oportunidades na área da produção de
conteúdos, em particular na ficção nacional.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda nesta altura da sua vida?
C.N: Voltar a Realizar.ML
segunda-feira, 14 de setembro de 2015
domingo, 13 de setembro de 2015
Mário Lisboa entrevista... Margarida Rodrigues
Iniciou-se na Fotografia em 2012 e desde aí tem desenvolvido um percurso como fotógrafa que promete chegar a grandes voos. Além da Fotografia, também tem experiência na psicologia e na ilustração, e recentemente lançou o livro “With the Absolute Heart of the Poem of Life” que é um
projecto de fotografia sobre a Geração Beat que surgiu nos finais dos anos
50/inícios dos anos 60. Esta entrevista foi feita no passado dia 17 de Agosto.
Esta entrevista não foi convertida sob o novo Acordo Ortográfico.
M.L: Quando surgiu o interesse pela Fotografia?
M.R: Em 2012.
M.L: Quais são as suas influências nesta área?
M.R: Cinema; o meu
objectivo de futuro. A minha mãe. E eu.
M.L: Desde 2012 que trabalha como fotógrafa. Como é
que é a sua rotina em termos de preparação para um trabalho fotográfico?
M.R: Difícil e desafiante.
Sou produtora de todos os meus trabalhos, o que torna o trabalho simultaneamente
mais orgânico e genuíno. Control freak
por excelência, penso que só poderia ser assim uma vez que cada fotografia que
elaboro contém uma linguagem um pouco hermética. É um puzzle pessoal bastante simbólico que monto e que estou preparada
rapidamente para desconstruir ao convidar pessoas para o executar, cuja energia
é fundamental para que o produto final aconteça.
M.L: Além da Fotografia, também tem experiência na
psicologia e na ilustração. Em qual destas actividades em que se sente melhor?
M.R: Melhor? Em todas. Provavelmente
estarei muito bem também noutras tantas. Tenho a certeza que a minha vida é
infinitamente insuficiente para tudo o que tenho capacidade para fazer; mas foi
algo que aprendi a aceitar e confirmar ou desmentir até um dia morrer. Por
agora, aprendo a ler marés e correntes e fazer não só o que gosto mas o que
entendo que é necessário.
Fiz um mestrado em
psicologia educacional; na realidade penso que já nasci psicóloga como todos
nós. Todos temos a capacidade de curar o próximo se o quisermos fazer. Fui
psicóloga fora da lei (portanto sem estágio para a ordem dos psicólogos) e orgulho-me
de todo o meu trabalho durante esses três anos. E continuaria a fazê-lo caso
houvesse oportunidade. Com um cenário de psicólogos a visitar escolas em modo
de veterinários de aldeia, com famílias na corda bamba como manda a tradição e
idosos a viverem no profundo isolamento, penso que seria necessária. Eu e
tantos que neste momento não o estão a fazer.
Tudo surge da necessidade.
Comecei a ilustrar pela necessidade de fazer frente à visão extremamente
simplista que encontro frequentemente na ilustração infanto-juvenil. Ganham
muitos prémios, elaboram “objectos” muito bonitos, mas ao observar narrativas
do género “era uma vez um sapo” e temos uma ilustração na página oposta,
fabulosa, minimalista de um sapo, acho que mais um neurónio na cabeça de uma criança
morreu. Penso que esse mesmo neurónio morreu devido à corrente pedagógica made
in Piaget que defende que não devemos ou não podemos fazer mais do que nos
compete. Ora, durante a Universidade descobri a perspectiva de (Lev) Vygotsky
que resumidamente defende que se quiser dançar antes de andar, nada o deve
deter nem mesmo a própria incapacidade. As minhas ilustrações são sempre
acompanhadas de narrativas também criadas por mim, normalmente recebidas com
uma torcida de nariz pela maior parte das pessoas. Eu compreendo que as
editoras tenham medo de gastar muito dinheiro em impressões megalómanas, que
não tenha nome de mercado e que os pais queiram proteger as crianças de
determinados conteúdos crus e frontais como as minhas histórias. Crus e
frontais como os pais não querem que as crianças sejam.
A fotografia surgiu não só
do meu pânico face a uma crescente visualização de uma versão cartoonesca do
corpo humano (que nada tem a ver com perfeição), mas também como um desafio
colocado a mim mesma. Abandonei no 11º ano a escola de artes que frequentava.
Achei de forma lúcida que tudo já tinha sido inventado e que o máximo que
poderia fazer seria boa qualidade de reciclagem, e que por isso deveria
escolher uma profissão útil. Hoje, passados uns bons anos, depois de nunca ter
deixado de criar, decidi de forma teimosa mentir a mim mesma e sem formação
criar imagens. Fotografia requer mais qualquer coisa de fluido que eu não
tenho, nem quero ter. Crio imagens para passar uma mensagem, mais do que criar
algo bonito. Na tentativa de evitar a desvalorização geral de tudo, da
banalização geral de tudo, de provocar um olhar atento não tanto por aquilo que
o meu trabalho exibe, mas pelo que esconde.
Numa sinopse simpática,
curta e grossa: sinto-me melhor onde me sinto necessária, e onde a minha
capacidade pode responder a essa necessidade. É a coisa simples da minha vida
ser tanto mais missão do que procura do prazer ou fuga à dor. Estou cansada de
repetições, gostava que outros também o estivessem.
M.L: Como vê, actualmente, a Fotografia, a nível
global?
M.R: Vejo como tudo. Com a
fé imensa de ser surpreendida no meio do déjà
vu que envia um suicida para destino previsível. É um peso enorme que se
carrega quando toda a gente só procura leveza. Isto aplica-se à fotografia. Mas
a teimosia puxa-me para o amanhã.
M.L: Recentemente, lançou o livro “With the Absolute Heart of the Poem of Life” que é um
projecto de fotografia sobre a Geração Beat que surgiu nos finais dos anos
50/inícios dos anos 60. Como é que surgiu a ideia de criar este projecto?
M.R: Cada vez que me fazem essa questão, escolho sempre um
caminho diferente. Tenho 3 linhas de aterragem. A primeira resposta é: pela
memória. Trabalhei com adolescentes durante os últimos anos que achavam a Lady
Gaga a coisa mais avant-garde do
“pedaço”. Quando se dá explicações de História, uma disciplina extremamente mal
tratada e sentida como uma mancha de bolor ou uma bola de naftalina, o desafio
é sempre a dobrar: o de tentar fazer entender que o presente depende do que
queremos ocultar lá atrás por falta de interesse da plateia. Neste contexto,
certo dia numa aula, um miúdo disse “os hippies
é que eram hardcore”. E pensei nos
notáveis renascentistas que brilham à frente de gerações de cientistas e
artistas geniais envoltos em trevas nos séculos anteriores que os empurraram
até ao século XV. E pensei na Beat Generation que numa América branca
desafiaram e desconstruíram o sonho americano através do seu talento ou
ausência dele em viver e criar. Ao seu lado, a geração de 60 foi apenas uma
consequência directa, uma explosão de marketing.
Este tema é-me querido; a importância da memória, a importância de testemunhas,
para que a única coisa que aprendemos com a História não seja que aprendemos nada
com ela.
A segunda razão foi mais
recente. Em 2012 comecei a ter pesadelos com algo que se tinha passado em 2004.
Uma tentativa de violação sofrida enquanto estudante de intercâmbio nos EUA.
Escapei com uma joelhada e decidi fazer o caminho de volta a pé até casa da minha
família adoptiva. Mas era longe, e perdida durante umas 3 horas, parei após uma
longa caminhada num alfarrabista que de forma certeira achou que “tinha olhos
de peixe” e que precisava de algum conforto em livros. E por isso,
ofereceu-mos. E sim, eram do Jack (Kerouac), Allen (Ginsberg) e (William S.) Burroughs.
E outros sobre astrologia, um interesse que descobrimos ter em comum. Voltei
para casa a pé onde me esperava o gato zarolho da família. Ao pé dele fiquei o
resto do dia a ler as ofertas do velho sulista. Foram o meu conforto a milhares
de km de casa e por isso estou-lhes eternamente grata. O que nos leva à
terceira e última razão - a do agradecimento. Podemos sempre parar esta roda de
energia que nos alimenta o ego e nunca retribuirmos, mas prefiro agradecer
sempre, mesmo ao desconhecido, morto ou anónimo, a inspiração e apoio. A arte
está cá para isso.
M.L: Como tem sido a reacção do público ao “With the Absolute Heart of the Poem of Life”, desde o seu
lançamento até agora?
M.R: É a melhor pergunta
feita até agora, porque o público sou eu. Fiz o livro para mim e para quem vier
a descobri-lo. Tenho consciência que não criei algo de fácil consumo. Por isso
para responder à pergunta, o melhor a dizer é que tem sido difícil. Sem apoio da
editora (entre outros entraves), sem acessória de imprensa ou qualquer tipo de
publicidade o que costumo fazer é perseguir pessoas. Daí o auto-desígnio de stalker. Persigo apresentadores de
programas culturais, revistas, magazines, etc. O que não é sempre garantido bem
como a morte, por isso tenta-se até acabar com a paciência das pessoas. Como
diz a minha mãe “as árvores morrem de pé”, e estou apenas no início.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem desenvolvido
nos últimos 3 anos como fotógrafa?
M.R: Bom, sempre bom.
Estou sempre a aprender cada vez que tiro uma fotografia. Que o universo me
permita tempo suficiente para aprender mais.
M.L: Quais são os seus próximos projectos?
M.R: Dos que posso falar,
tentar editar um livro de ilustração e trabalhar no argumento de um filme. Actualmente,
estou a trabalhar num projecto de fotografia sobre sexualidade chamado Casa 8. Stay
tuned.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda nesta altura da sua vida?
M.R: Ser
psicóloga ao serviço da educação pela arte, um conceito que anda a morrer aos
poucos graças a poucos recursos e à falta de “inspiração” de quem a devia espalhar
pelo país. Aprender a fazer plastinação, trabalhar numa casa funerária e ter
uma filha. Os filmes, as ilustrações e as fotografias surgirão pelo meio.MLEsta entrevista não foi convertida sob o novo Acordo Ortográfico.
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