M.L: Quando surgiu o interesse pelo audiovisual?
C.N: Enquanto fazia o 12º ano
de escolaridade na Escola d’Artes Decorativas António Arroio tive a
oportunidade de frequentar em simultâneo um curso de operadores de vídeo no
Centro de Formação da RTP. Aí foi “amor à primeira vista”, apaixonei-me pelo
trabalho de câmara e nunca mais deixei de fazer televisão.
M.L: Quais são as suas influências nesta área?
C.N: A minha primeira
influência foi o realizador Herlander Peyroteo com quem tive o privilégio de aprender,
primeiro no CF e depois na produtora TV5 Megahertz onde fiz a minha primeira
série televisiva “Cobardias” (RTP). Depois mais tarde na produtora Edipim, conheci
o meu outro mentor, o realizador Nuno Teixeira. Estes dois senhores tão
diferentes no estilo (clássico/moderno) e na atitude, ensinaram-me as bases do
que era trabalhar em televisão tanto na forma como no conteúdo e desde a
maneira de estar ao rigor com que lidavam com todo o processo foram sem dúvida
as minhas maiores referências. Tinham em comum o gosto pela ficção.
M.L: No audiovisual, tem trabalhado em géneros tão
diferentes. De todos os géneros que tem trabalhado até agora, qual é o que
prefere mais?
C.N: Sem dúvida alguma, a
ficção.
M.L: Ao longo das últimas 3 décadas tem desempenhado
tanto as funções de operador de câmara como de realizador. Em qual destas
atividades em que se sente melhor?
C.N: Assumir as funções de
realizador é sem dúvida o mais gratificante, no entanto confesso que por vezes
me é difícil dissociar isso da operação de câmara.
Trabalhar em equipa com atores
e técnicos é fantástico, poder moldar os diferentes componentes quer artísticos
quer técnicos de forma a poder narrar a história conforme a visualizámos é o
gozo supremo.
M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, até agora,
durante o seu percurso profissional?
C.N: Provavelmente “A Jóia
de África” (TVI), tanto a nível pessoal como profissional.
M.L: Foi co-realizador da telenovela “Tempo de Viver” que
foi exibida na TVI entre 2006/07. De que forma este projeto foi gratificante
para si a nível de reconstituição histórica (11/9/2001)?
C.N: Foi um desafio lançado
pelo coordenador do projeto e o autor do guião, o grau de dificuldade na
execução do que estava escrito ao nível da reconstituição histórica e do
contexto da história foi de facto um aliciante extra, apesar de achar que não
se coaduna com o contexto da produção de telenovela, não é justo hipotecar num
primeiro episódio o orçamento de um projeto inteiro. O resultado foi impactante
mas efémero do ponto de vista da narrativa… Outro exemplo disso foi a novela
“Olhos nos Olhos” (TVI), tempestades com ventos ciclónicos, acidentes de
automóvel, derrocada de edifício, etc… tudo no 1º episódio.
Vale a pena também fazer
referência a um outro projeto que do ponto de vista da reconstituição histórica
teve tanto ou mais impacto e que creio ter sido bem mais equilibrado. As cenas
do primeiro episódio da telenovela “Dei-te Quase Tudo” (TVI) relativo ao 25 de
Abril de 1974.
M.L: Como vê, atualmente, o audiovisual, a nível
global?
C.N: Com bastante apreensão,
salvo honrosas exceções, é gerido por pessoas que pouco ou nada têm
conhecimento do que consta realmente em todo o processo produtivo, como tal e
por ignorância, não reconhecem nem sabem identificar a importância nem a
especificidade dos diferentes “papéis” que cada um deve representar nesse
processo, em resultado disso vulgarizam-se as funções, desrespeitam-se os mais
experientes e cometem-se erros banais de forma consistente.
No final vêm-nos dizer que
não há dinheiro e que a culpa é da crise! Quando na realidade nunca como agora
dispusemos de tantas ferramentas para agilizar o processo, ou de técnicos e atores
que fruto do percurso que fizeram, acumularam uma experiência e conhecimento
que é menosprezado apenas por ser inconveniente.
Os restantes (que gerem e
tomam decisões) são condicionados pelo mercado e acabam a alinhar pelo mesmo
diapasão, apesar de aqui ou ali se lhes vislumbrar o sonho de um dia fazer as
coisas de forma diferente.
M.L: Entre 1994 e 2010, trabalhou na produtora Plural
Entertainment Portugal (ex-NBP). Como vê o percurso que a produtora tem
desenvolvido, desde a sua fundação até agora?
C.N: Foi na sua origem
fundamental para o despertar de forma consistente, do que agora se chama de
Ficção Nacional, reuniu os profissionais que na altura apostaram nesse sonho de
fazer ficção contra a corrente que dizia que não era rentável e apostava
maioritariamente no entretenimento.
O tempo veio mostrar que o
sonho era possível, depois de termos conquistado primeiro na RTP e depois na
TVI a liderança nas audiências com conteúdos produzidos pela NBP veio o natural
reconhecimento e apetência pela empresa. Surgiu então o vínculo à Media Capital
e perdeu-se a independência de produzir conteúdos para os diferentes canais e
eventualmente a aposta (que quanto a mim seria um sonho tornado realidade) de
produzir independentemente (nessa altura produzíamos séries para a RTP1 e SIC e
telenovelas para a TVI e RTP1) e através da NBP Internacional os nossos
conteúdos tinham já um mercado interessante. O crescimento massivo da produção
de telenovelas em detrimento de outros formatos na minha opinião foi um passo
atrás naquilo que tinha sido até então a evolução da empresa. Mais tarde com a
saída do António Parente da gestão da empresa houve um sentimento misto de que
se poderia inverter o rumo das coisas pela necessidade de renovar ou que tudo
se iria desmoronar por falta de liderança e objetivos firmes. O que veio a
suceder depois aliado à conjuntura económica veio condicionar a produção e até
agora pouco ou nada de novo nos trouxe.
M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na área do audiovisual?
C.N: Que diversifiquem a
sua área de conhecimentos e contactos, o nosso mercado é mínimo e muito
fechado. O protecionismo praticado por diferentes grupos numa lógica de
sobrevivência não ajuda à evolução/progressão, poucos são os que conseguem
singrar por mérito sem ter de passar por se sentirem inconvenientes.
M.L: Que balanço faz do percurso profissional que tem
desenvolvido até agora?
C.N: Sinto-me realizado e
orgulhoso com o percurso que fiz até agora, mas faço tensões de fazer muito
mais e melhor…
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
C.N: Continuar todos os
dias a batalhar por novos desafios e a aventurar-me por terrenos desconhecidos…
Sempre com o olho em eventuais mudanças/oportunidades na área da produção de
conteúdos, em particular na ficção nacional.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda nesta altura da sua vida?
C.N: Voltar a Realizar.ML
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