quarta-feira, 30 de julho de 2014

Brevemente...

Entrevista com... Denise Del Vecchio (Atriz)

Mário Lisboa entrevista... Beth Goulart

Filha do recém-falecido ator Paulo Goulart e da atriz Nicette Bruno, desde muito cedo que se interessou pela representação, tendo-se estreado como atriz em 1974 com a peça "O Efeito dos Raios Gama nas Margaridas do Campo", e desde aí tornou-se numa das mais reputadas e aclamadas atrizes da sua geração, com um percurso que passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão (onde entrou em produções como "Baila Comigo" (TV Globo), "Louco Amor" (TV Globo), "O Primo Basílio" (TV Globo), "Perigosas Peruas" (TV Globo), "O Campeão" (TV Bandeirantes), "O Clone" (TV Globo), "A Lua Me Disse" (TV Globo), "Paraíso Tropical" (TV Globo), "Três Irmãs" (TV Globo) e "Vidas em Jogo" (TV Record). Apaixonada pelo que faz, gostava de, um dia, construir um Centro Cultural que fosse uma escola de arte, e, atualmente, participa na telenovela "Vitória" que está em exibição na TV Record. Esta entrevista foi feita no passado dia 10 de Julho.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
B.G: A minha vocação artística apareceu muito cedo, as minhas brincadeiras giravam em torno do teatro com o seu potencial lúdico e mágico. Venho de uma família de artistas, os meus pais são atores, os meus irmãos também, até a minha avó. Costumava juntar os filhos dos amigos dos meus pais e criava verdadeiros espetáculos com eles, eu criava, dirigia e produzia as nossas brincadeiras. Eu também fazia teatro na escola. Um dia, o António Abujamra, um grande diretor de teatro e amigo dos meus pais, assistiu a essas apresentações, ele avisou-me que eu estrearia com ele e assim foi, aos treze anos de idade, no espetáculo "O Efeito dos Raios Gama nas Margaridas do Campo" de Paul Zindel, um texto premiado com o Prémio Pulitzer, junto da minha mãe Nicette Bruno e da minha avó Eleonor Bruno. A minha mãe recebeu todos os prémios de Melhor Atriz de 1974 e eu fui indicada para o prémio de "Revelação do Ano". Daí para frente não saí mais dos palcos, já são 40 anos de teatro.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
B.G: As minhas influências vêm de um teatro contemporâneo seguindo a linha de pesquisa como Peter Brook, Pina Bausch, Ariane Mnouchkine, Eugenio Barba ou Bob Wilson. Gosto de um teatro que se questiona, que busca uma linguagem mais universal, usando novas formas de comunicação com o espaço. Onde o corpo e a musicalidade fazem parte da dramaturgia, tem influência no conteúdo da mensagem como nas artes plásticas. Busco uma arte que interage com diversas manifestações artísticas. Na minha formação trabalhei com alguns diretores que desenvolveram as suas próprias linguagens como António Abujamra, Gerald Thomas, Jorge Takla, Amir Haddad, Celina Sodré e Enrique Díaz, entre outros.

M.L: Faz teatro, cinema e televisão. Qual destes géneros que mais gosta de fazer?
B.G: Fui criada no teatro, é a minha segunda casa e não consigo ficar muito tempo longe do palco, mas gosto muito de fazer televisão e cinema. São linguagens diferentes e todas elas têm a sua beleza e magia. Comecei muito cedo também na televisão o que dá uma intimidade com o veículo e com o público. No cinema trabalhei menos do que gostaria e aguardo sempre uma nova oportunidade para esta arte tão fascinante. Podemos aprofundar temas e discussões relevantes para a sociedade, fazer críticas, denúncias. O cinema não precisa de fazer concessões, é mais independente.

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, até agora, durante o seu percurso como atriz?
B.G: O meu último espetáculo "Simplesmente Eu, Clarice Lispector" é, sem dúvida, um divisor de águas na minha carreira. Nele apresento-me não só como atriz mas também como criadora, assino a dramaturgia e direção deste espetáculo e revelo-me em cena tanto quanto a personagem principal pois apresento as minhas ideias e os meus valores, o meu olhar e a minha estética que se misturam com o universo de Clarice Lispector. Talvez tenha sido ela que me deu o empurrão criativo do auto-conhecimento e da linguagem autoral.

M.L: Como vê, atualmente, o teatro e o audiovisual (Cinema e Televisão) no Brasil?
B.G: Passamos todos por uma renovação, o Mundo precisa de reciclar-se de tempos em tempos.

Vejo uma influência grande da Internet na maneira de ver televisão, por exemplo, agora é tudo mais interativo, com a participação do público nas decisões e definições de algumas personagens, na escolha de um grupo de música, ou na formação do casal que mais agrada. A informação atingindo a dramaturgia de uma forma mais decisiva e direta, isto tira do autor a responsabilidade total da criação, ele fica um pouco à mercê da vontade do público, a novela é um produto extremamente popular e depende da audiência. A tendência é a massificação deste produto onde a maioria é quem decide o destino da obra mas em compensação vejo o surgimento de novos autores e uma qualidade maior de imagem o que torna a TV mais parecida com o cinema.

No teatro é diferente, os autores e diretores fazem um vôo mais alto nas suas propostas criativas mas sofrem com a falta de público que assola as casas de espetáculos pelo País. Os espetáculos de maior sucesso são as comédias e os musicais salvo raras e meritórias exceções. Percebo que o público pede uma nova maneira no fazer teatral, novas linguagens, novas propostas para atrair um público diferenciado e carente. Os grupos que desenvolvem a sua pesquisa já têm o seu público cativo o que comprova a minha teoria. Precisamos de uma formação de plateia e o fomento do hábito cultural mais intenso no nosso País. Tudo começa na educação.

No cinema estamos na fase das comédias depois do sucesso dos filmes de ação que fizeram a imagem do Brasil lá fora. Agora com a participação da Globo Filmes, um numero maior de público está descobrindo o cinema nacional e o humor é um caminho que atrai a grande maioria e tem a televisão como aliada neste caminho.

M.L: Gostava de ter feito uma carreira internacional?
B.G: Acho que todos os artistas têm este sonho de expandir os seus horizontes, ampliar a sua área de ação e troca. Conhecer novas culturas e relacionar-se com elas. Afinal somos cidadãos do Mundo e quando ampliamos o nosso olhar aumentamos o nosso conhecimento e podemos trocar experiências e descobertas. É um grande desafio que gostaria muito de vivenciar!

M.L: É filha do recém-falecido ator Paulo Goulart e da atriz Nicette Bruno. Como vê o percurso que o seu pai desenvolveu até falecer e o percurso que a sua mãe tem feito até agora?
B.G: Os meus pais ajudaram a escrever a História do Teatro Brasileiro e da Televisão Brasileira. Ambos têm trajetórias de sucesso.

O meu pai participou numa das primeiras novelas da TV Globo, "A Cabana do Pai Tomás", "Verão Vermelho" (TV Globo), "Uma Rosa com Amor" (TV Globo) e inúmeras outras.

A minha mãe foi uma das grandes atrizes da TV Tupi onde fez "Éramos Seis", "A Gordinha", entre outras. Os dois trabalharam antes na TV Excelsior e juntos na TV Globo com "Mulheres de Areia", ela também ficou conhecida como a Dona Benta do "Sítio do Picapau Amarelo" (TV Globo), um grande sucesso entre as crianças, as últimas novelas foram "A Vida da Gente" (TV Globo), "Salve Jorge" (TV Globo) e "Joia Rara" (TV Globo).

O meu pai participou em grandes filmes como "O Grande Momento" (1958) de Roberto Santos e "Rio, Zona Norte" (1957) de Nelson Pereira dos Santos.

Foi no Teatro que se conheceram e fizeram a sua história, a minha mãe era dona da Companhia "Nicette Bruno e Seus Comediantes" e o meu pai foi contratado como galã, casaram e tiveram três filhos, três Teatros e realizaram várias produções de sucesso. Cada um deles deu a sua contribuição valorosa nas suas carreiras e construíram uma imagem de respeito, dignidade, talento, união e amor. Toda a nossa família é ligada às artes e isso rendeu-nos o Prémio Shell de 2006 pela contribuição ao teatro. Somos Frutos do amor deles e com eles semeamos o amor pelo Teatro e pela Humanidade. Eles são os nossos maiores exemplos!

M.L: Atualmente, participa na telenovela “Vitória” que está em exibição na TV Record, na qual interpreta a personagem Clarice. Como estão a correr as gravações?
B.G: Está indo muito bem. A Clarice é uma personagem cativante, ela é muito amorosa e maternal. Apesar da sua fragilidade ela vai contribuir para que o amor seja mais importante do que a vingança e que sempre é possível superar as dificuldades da vida.

M.L: “Vitória” é da autoria de Cristianne Fridman, com quem já tinha trabalhado na telenovela “Vidas em Jogo” (TV Record, (2011/2012). Como é trabalhar com ela?
B.G: É muito bom! A Cristianne não faz personagens óbvias, todas são ambíguas como na vida, ninguém é só bonzinho ou só malvado. Todos têm o bem e o mal dentro de si, o que faz com que fique muito mais interessante a personagem e a história que está sendo contada. Ela surpreende a todos nós, quando a gente pensa que é uma coisa ela vem e muda tudo, é instigante e divertido!

M.L: Como tem sido a reação do público a este projeto até agora?
B.G: Tem sido muito positivo, a novela está muito bem feita, com uma bela fotografia, direção, o elenco é de primeira com excelentes trabalhos. Uma novela forte com grandes emoções e denúncias. 

M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
B.G: Tenha paciência e persistência. Fazemos uma arte de resistência, enfrentamos uma série de obstáculos, nada é fácil. A concorrência é grande. Se não amar e não se dedicar ao seu ofício um outro vem e você perde o lugar. Nada é garantido, lidamos com o risco o tempo todo. Risco de não ficar bom, do público não gostar, de não conseguir dinheiro para produzir, risco da crítica destruir-te mas quando se acredita na obra estes riscos viram estímulos para que você se supere em cada trabalho, esta também é a beleza da nossa arte. É uma arte viva, depende de você e do público!

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito, até agora, como atriz?
B.G: Sou uma atriz inquieta sempre em busca de novos desafios e isso reflete-se no meu trabalho. Gosto de dar depoimento naquilo que faço, de comprometer-me com o resultado, como se assinasse em baixo do que faço. Posso errar nas minhas escolhas mas elas serão por inteiro. Gosto de intensidades e me jogo naquilo que acredito. Gosto de sair da zona de conforto e descobrir o que ainda não conheço. Encanta-me o risco do vôo!

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
B.G: Adaptei para Teatro o Livro "Perdas e Ganhos" de Lya Luft que vou dirigir com a minha mãe, este é o maior desafio deste ano. Além da novela, preparo para o ano que vem o regresso de "Simplesmente Eu, Clarice Lispector" viajando pelo Brasil e quem sabe Portugal, recebemos um convite para apresentar o espetáculo por aí, seria maravilhoso!

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
B.G: O meu grande sonho é construir um Centro Cultural que fosse uma escola de arte. Adoraria desenvolver um projeto que me desse a oportunidade de trocar experiências com profissionais de outros Países e fizéssemos um intercâmbio de conhecimentos. Trazendo para os estudantes a oportunidade de conhecer e desenvolver as suas potencialidades criativas. Ter um espaço para criar e provocar a criação! Quem sabe um dia...ML

terça-feira, 29 de julho de 2014

Brevemente...

Entrevista com... Beth Goulart (Atriz)

Mário Lisboa entrevista... Francisco Moita Flores

Olá. A próxima entrevista é com o escritor Francisco Moita Flores. Marido da atriz Filomena Gonçalves, desde muito cedo que se interessou pela escrita, tornando-se num dos mais aclamados e acarinhados escritores em Portugal, com um notável percurso na área que passa pela literatura, pelo teatro, pelo cinema e pela televisão (onde escreveu produções como "Desencontros" (RTP), "Polícias" (RTP), "Filhos do Vento" (RTP), "Ballet Rose-Vidas Proibidas" (RTP), "Esquadra de Polícia" (RTP), "A Raia dos Medos" (RTP), "Capitão Roby" (SIC), "Alves dos Reis" (RTP), "O Processo dos Távoras" (RTP), "Lusitana Paixão" (RTP), "A Ferreirinha" (RTP), "João Semana" (RTP) e "O Bairro" (TVI). Além da escrita, também tem experiência como polícia e como político, e, recentemente, escreveu o livro "Segredos de Amor e Sangue" sobre o célebre criminoso espanhol Diogo Alves que atuou na Lisboa do Século XIX e ficou conhecido como o Assassino do Aqueduto das Águas Livres. Esta entrevista foi feita no passado dia 22 de Julho.

M.L: Quando surgiu o interesse pela escrita?
F.M.F: Desde muito novo. O meu primeiro trabalho foi uma peça de teatro, escrita aos 18 anos, para a récita de finalistas do liceu que frequentava. Fui muito influenciado pelo meu professor de Português que me acompanhou durante três anos, naquilo que é hoje o 7º, 8º e 9º ano e depois, já sem me dar aulas, continuou a estimular o meu apreço pela leitura e pela escrita.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto escritor?
F.M.F: Não sei se gostar de alguns autores condicionou a minha forma de contar histórias. No que respeita à carpintaria dramática sou claramente influenciado por (William) Shakespeare, o autor de teatro que mais tocou, e toca, a minha sensibilidade. Porém, sou filho de muitos pais e de muitas mães. Fui tocado pela ironia cínica de Eça (de Queiroz), pela paixão de (Almeida) Garrett, pela estética de António Vieira, pelo génio de (Miguel) Torga e de Sophia (de Mello Breyner Andresen), pela dureza de Soeiro Pereira Gomes e de Jorge Amado, pela sátira de Bocage, pelo olhar superior de Antero (de Quental) e de (Fernando) Pessoa. Enfim, uma galeria de santos laicos que habitam a minha memória mais viva.

M.L: Escreve, essencialmente, para literatura e para televisão. Qual destes géneros que mais gosta de escrever?
F.M.F: É verdade que o romance e a televisão (séries) são a parte mais significativa da minha obra. Porém, escrevi cinco filmes e quatro peças de teatro. Neste momento estou motivado para o romance. Escrevo com maior liberdade e menos auto-censura. Porém, tudo é uma questão de técnica narrativa e gosto das duas técnicas. A finalidade é sempre a mesma: contar histórias.

M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, até agora, durante o seu percurso como escritor?
F.M.F: Pessoalmente, aquele que mais me marcou foi uma série que escrevi para a RTP chamada “A Raia dos Medos”. Contava a história da Guerra Civil de Espanha vista pelos olhos dos portugueses raianos. O sofrimento e aflição de uma Espanha dilacerada pela guerra fratricida. Ora acontece que eu sou originário da raia. Sou de Moura e tenho família de Barrancos. Recolhi testemunhos dessa época, estudei com putos filhos de espanhóis que tinham fugido da guerra, vivi a minha infância ainda sobre a ressaca desses terríveis acontecimentos e, na série, contei histórias de pessoas que conhecera quando era menino. Foi um grande envolvimento pessoal.

M.L: Foi coautor da série “Polícias” que foi exibida na RTP entre 1996 e 1997, na qual foi inspirada no caso do Estripador de Lisboa. Que recordações guarda desse trabalho?
F.M.F: Escrevi esse trabalho com o meu querido amigo Luís Filipe Costa. Foi um bom momento. Não só pela parceria como pelas histórias que íamos criando para acompanhar a história do Estripador. Tenho saudades desse tempo.

M.L: “Polícias” foi realizada por Jorge Paixão da Costa, com quem trabalhou várias vezes. Como foi trabalhar com ele?
F.M.F: O Jorge Paixão da Costa é um dos melhores realizadores portugueses e, seguramente, uma referência ímpar no que respeita à narrativa televisiva. Fizemos muitos trabalhos juntos. Entre muitos, destaco “A Ferreirinha” (RTP). Uma peça brilhante de televisão que deve muito ao talento de Paixão da Costa.

M.L: Além da escrita, também tem experiência como polícia e como político. Em qual destas funções em que se sente melhor?
F.M.F: Realizei os meus sonhos de criança. Queria ser detetive e escritor. A política não passou de uma experimentação que me deu algum prazer mas não me fascinou para dela, ou nela, fazer carreira. Fui detetive com um grande prazer. Agora estou reformado. Continuarei escritor porque é a minha vida e sem escrever ela deixa de fazer sentido.

M.L: Como vê, atualmente, a Cultura em Portugal?
F.M.F: No que respeita à cultura como produção criativa, vejo um Portugal mais forte do que há trinta ou quarenta anos. Mais jovens atentos e criadores em vários domínios da arte, da literatura à pintura. Da música à escultura. No que respeita ao Estado e à sua relação com a Cultura é uma tragédia. Inverteu-se a pirâmide de valores. O economicismo e o individualismo marca ideologicamente o poder, tornando a Cultura num epifenómeno mais ou menos desprezível.

M.L: Gostava de ter feito uma carreira internacional?
F.M.F: Gostaria de ter uma mais intensa carreira internacional. No entanto, tenho várias obras traduzidas em várias línguas e alguns livros, como foi o caso de “O Sangue da Honra” que foi editado primeiro em Itália e só depois em Portugal. Seja como for, qualquer criador tem uma costela narcísica que potencia o prazer na divulgação da sua obra e veria com bons olhos uma maior divulgação da minha obra.

M.L: Como lida com o público que acompanha sua carreira há vários anos?
F.M.F: Temos uma relação de proximidade. Viajo muito, faço muitas sessões de autógrafos, conferências, partilho com os meus leitores na medida das minhas possibilidades o que sentimos pelo trabalho que vou produzindo. Por exemplo, agora saiu o meu romance “Segredos de Amor e Sangue”. Em quinze dias esgotou a primeira edição de dez mil exemplares. Passou um mês desde o seu lançamento e vai na 2ª edição e eu, ao longo deste período, fiz dezoito sessões de autógrafos pelo país e tenho agendadas mais 20 até meados de Agosto. Como vê, há uma relação muito estreita com quem me lê.

M.L: É casado com atriz Filomena Gonçalves. Como vê o percurso que a sua esposa tem feito até agora?
F.M.F: A Filomena é uma das maiores atrizes da sua geração. Reconhecida pelo público e pela crítica. Fez trabalhos excecionais que ficarão na história da ficção portuguesa.

M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na área da escrita?
F.M.F: Não desistir e resistir. Quem está apaixonado não pode desistir porque não aparece o editor interessado ou porque se fecham portas repetidamente. É preciso ser humilde perante o nosso trabalho e interpelá-lo. Saber se valeu a pena, se pode ser melhorado, se efetivamente não é a obra-prima que nós julgamos que possa ser. Uma carreira como escritor constrói-se com muito trabalho, com muita persistência, passo a passo, e, acima de tudo, com uma grande paixão.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito, até agora, como escritor?
F.M.F: Ainda é cedo para balanços. Tenho 61 anos. Muito trabalho já feito e muito caminho para andar. Daqui por vinte anos faremos esse balanço.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
F.M.F: Estou a trabalhar num ensaio sobre investigação criminal e preparo um romance sobre Luísa de Gusmão a sair no próximo ano.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
F.M.F: Nada de especial. Tenho uma vida intensamente vivida e sinto-me como Pablo Neruda, confessando que vivi.

M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da sua vida?
F.M.F: Gostava de viver num país com mais decência. Portugal está a viver dramaticamente um dos seus mais degradantes períodos e tenho muita pena de ver os meus netos a crescerem numa terra dominada por interesses mesquinhos.ML

quarta-feira, 23 de julho de 2014

Brevemente...

Entrevista com... Francisco Moita Flores (Escritor)

Mário Lisboa entrevista... Rui Madureira

Olá. A próxima entrevista é com o escritor Rui Madureira. Interessou-se pela escrita na adolescência, e tem desenvolvido um percurso promissor como escritor que passa, essencialmente, pela literatura e pelo teatro. É também crítico de cinema no blogue "Portal Cinema", tendo começado a interessar-se pelo cinema, depois de ter visto "Titanic" (1997) de James Cameron, e, recentemente, escreveu o seu segundo livro intitulado "Depuração" que foi lançado pela recém-criada editora Coolbooks do Grupo Porto Editora. Esta entrevista foi feita no passado dia 18 de Julho.

M.L: Quando surgiu o interesse pela escrita?
R.M: O interesse pela escrita surgiu quando eu era ainda muito novo, por volta dos 15 ou 16 anos. Por essa altura comecei a escrever alguns argumentos cinematográficos que, obviamente, nunca saíram da gaveta. Mais tarde comecei a escrever alguns contos, um dos quais recebeu o terceiro prémio de um concurso literário organizado pela Faculdade de Letras da Universidade do Porto. E mais tarde ainda veio o desejo de me dedicar à escrita de romances. Percebi que alguns dos meus argumentos cinematográficos tinham potencial para se transformarem em livros, se fossem alvo de um pequeno ajuste. Foi assim que nasceu o “Abaddon”, o meu primeiro livro, e agora o “Depuração”. Basicamente, sempre quis ser um contador de histórias. Sempre quis partilhar as minhas histórias com o Mundo inteiro, de modo que a literatura foi o passo lógico a dar para atingir esse objetivo.

M.L: Quais são as suas influências nesta área?
R.M: Deixo-me influenciar essencialmente por autores do género Fantástico, como (J.R.R.) Tolkien ou J.K. Rowling. O Fantástico é o género que mais me apela e aquele em que me sinto mais à vontade enquanto escritor. Gosto da liberdade que o Fantástico proporciona ao autor, a liberdade para criar mundos diferentes, a liberdade para escrever sobre o que quer que me venha à cabeça. Mas, mais do que a literatura, o cinema é a minha grande fonte de inspiração. Foi com o cinema que cresci enquanto contador de histórias e foi com a Sétima Arte que aprendi a identificar aquilo que faz uma boa história. Por isso é que os meus livros são muito visuais. Porque tento arquitetá-los como se fossem filmes, como se fossem imagens em movimento e não propriamente palavras numa folha de papel. Filmes como “O Senhor dos Anéis” (2001-2003) e “O Exorcista” (1973), por exemplo, foram grandes influências para a construção do “Abaddon”. E o “Depuração”, que foi recentemente lançado pela editora Coolbooks, tem elementos que facilmente remetem o leitor para obras como “Poltergeist-O Fenómeno” (1982) e “Atividade Paranormal” (2007). Sem essa ligação íntima ao cinema, ser-me-ia mais difícil construir as minhas histórias.

M.L: Como escritor, escreve, essencialmente, para literatura e para teatro. Qual foi o trabalho que mais o marcou, até agora, enquanto escritor?
R.M: Não apenas por ter sido o meu primeiro livro, mas também por se tratar de uma história que já me vinha acompanhando desde os tempos da adolescência, o “Abaddon” continua a ser o trabalho que mais me marcou até à data. Foram quase dois anos a pensar exclusivamente em anjos, demónios e batalhas apocalípticas. Foi uma viagem fantástica que percorri no interior da minha própria cabeça e ainda hoje me sinto como se tivesse vivido aquelas batalhas assustadoras junto dos meus protagonistas. Essa sensação é indescritível e é um dos grandes privilégios de qualquer autor, que tem assim a oportunidade de viver múltiplas aventuras com as suas personagens.

M.L: Também é crítico de cinema no blogue “Portal Cinema” (http://www.portal-cinema.com/que foi criado em 2007. Como vê o percurso que o blogue tem feito, desde a sua criação até agora?
R.M: O “Portal Cinema” tem crescido imenso ao longo dos anos e orgulho-me muito de fazer parte da sua equipa. Começou por ser um projeto pequeno e íntimo, simplesmente para partilhar a paixão pelo cinema com meia dúzia de outros cinéfilos e depois evoluiu para algo de uma dimensão muito superior, abandonando o amadorismo e adquirindo cada vez mais contornos de projeto profissional. Ao longo dos anos, o “Portal Cinema” tem ganho um número imenso de adeptos e tem-se também destacado como um espaço de referência para quem procura críticas de cinema isentas e sérias. Os apoios ao blogue têm crescido em catadupa e tudo isto só tem sido possível graças à extraordinária dedicação do João Pinto, o administrador do blogue. Enquanto nos for possível, cá estaremos para continuar a crescer e a servir as exigências dos nossos leitores nos anos vindouros.

M.L: Começou a interessar-se pelo cinema, depois de ter visto “Titanic” (1997) de James Cameron e protagonizada por Leonardo DiCaprio e Kate Winslet. Na sua opinião, acha que esta longa-metragem tem lidado bem com a passagem do tempo, 17 anos depois da sua estreia?
R.M: O “Titanic” sempre foi um filme que suscitou reações apaixonadas por parte do público. Uns amam-no, outros odeiam-no. A verdade é que ninguém fica indiferente. Tive a oportunidade de ver o filme no cinema com 12 anos de idade e, na altura, fiquei deslumbrado. Era o espetáculo mais grandioso que alguma vez tinha visto. 17 anos mais tarde, a verdade é que ainda me deixo fascinar sempre que o revejo. Analisando-o agora com outros olhos, reconheço que tem alguns momentos de lamechice desnecessária e que nem sempre é tão subtil quanto poderia ser. Mas continua, sem sombra de dúvida, a ser um colosso cinematográfico, um dos maiores filmes da História do Cinema. A passagem do tempo não parece tê-lo envelhecido, de modo que o filme continua extremamente atual. Continua a apresentar efeitos visuais bem melhores do que muitos filmes que se fazem nos dias de hoje e continua a ser uma das fitas mais intensas e espetaculares da Sétima Arte. Nos tempos que correm, duvido que ganhasse 11 Óscares da Academia, pois os padrões mudaram ligeiramente e agora é raro ver um blockbuster atingir tanto sucesso crítico. Mas, pelo menos para mim, o “Titanic” é imortal e defendê-lo-ei com unhas e dentes até ao fim dos dias.  

M.L: Como vê, atualmente, a Cultura em Portugal?
R.M: A cultura está num estado lastimável, infelizmente. Um dos bens mais preciosos que qualquer país tem é a sua cultura, mas os nossos governantes teimam em não ver as coisas dessa forma e assassinam constantemente a alma da nação. A cultura de um país é a sua identidade. Para além do mais, a cultura serve o propósito de estimular a reflexão dos cidadãos e de espicaçar o seu desenvolvimento cognitivo, de modo que jamais se deveria olhar para a cultura como um empecilho que serve apenas para entreter meia dúzia de pessoas aos domingos de tarde. Estamos a passar por uma crise de valores que não abona a favor da cultura. Os nossos governantes só conseguem olhar para gráficos e números, e não têm a capacidade de ver que a cultura é fundamental para o equilíbrio de qualquer sociedade, dê ela lucros ou não. Já foi tempo em que as artes eram respeitadas e tidas em grande conta por quem mandava no Mundo. Hoje, infelizmente, é o dinheiro que manda. E como também ajuda manter o pessoal na ignorância para governar a bel-prazer, talvez por aí se explique também este desinvestimento na cultura portuguesa…

M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
R.M: Esse é, de facto, um sonho antigo. Gostava muito de ver os meus livros editados em diversos idiomas. Sobretudo em inglês, pois decerto a ligação ao cinema ficaria mais estreita e seria mais fácil tentar obter um acordo para uma adaptação cinematográfica. Mas para se chegar a uma carreira internacional é necessário comer muita sopa, portanto tenho de dar um passo de cada vez e ver o que o futuro me reserva.

M.L: Foi membro do júri da Secção Oficial de Cinema Fantástico na edição de 2013 do Fantasporto. Como é que se sentiu ao colaborar com um festival nomeadamente dedicado ao cinema fantástico, tendo em conta que é um género que admira bastante?
R.M: Foi uma experiência fantástica porque sou fã do Fantasporto há muitos anos e não estava à espera da oportunidade quando ela me foi anunciada. O Mário Dorminsky, o Presidente do festival, fez uma apresentação do “Abaddon” alguns meses antes do festival ter início. E como gostou bastante do livro, decidiu convidar-me a integrar o júri da Secção de Cinema Fantástico desse ano. Foi muito bom. Ter a oportunidade de conviver com personalidades do cinema e com críticos de cinema de todos os cantos do Mundo durante duas semanas não surge todos os dias. De modo que me senti um pouco nas nuvens e fiquei muito grato pela oportunidade. Fiquei também feliz por ter ajudado o festival de alguma maneira, pois, a cada ano que passa, as dificuldades para o manter de pé são cada vez maiores e todos temos de batalhar para que ele permaneça bem vivo. 

M.L: Nos últimos anos, o género fantástico tem tido um destaque enorme no audiovisual (Cinema e Televisão). Tendo em conta a situação atual no cinema norte-americano, em que os estúdios apostam frequentemente em fórmulas pré-concebidas, acha que, um dia, o público vai ficar saturado deste género específico?
R.M: O cinema é feito de ciclos. Antes do fenómeno “Twilight” (2008-2012) ter trazido de volta a paixão pelos vampiros, não podemos esquecer-nos que os filmes de vampiros estavam extintos há uma data de tempo. E bastou um empurrãozinho para que eles voltassem à carga com uma força nunca antes vista. É verdade que agora o género começa novamente a ficar um pouco saturado, de modo que muito brevemente dever-se-ão fechar as portas para muitos projetos do género Fantástico. Mas mesmo que tal coisa suceda, ele há de renascer de novo, como sempre acontece. E mesmo que os grandes estúdios decidam desistir dos projetos fantásticos durante algum tempo, acredito que projetos de qualidade incontornável não deixarão de encontrar luz verde só por causa desse abrandamento. É provável que os vampiros e lobisomens adolescentes tenham os dias contados…

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito, até agora, como escritor?
R.M: Faço um balanço minimamente positivo. É verdade que os meus livros não têm alcançado o sucesso de vendas que eu desejaria, mas é preciso entender que estou ainda no início daquilo que pode vir a ser uma carreira de escritor e o início é sempre muito difícil para quem não tem um nome definido na indústria. Aqueles mitos de que um autor atinge o estrelato logo com o primeiro livro não passam disso mesmo: mitos. Não que não possa acontecer, mas é muito, muito raro. Para quem não é conhecido e não tem um nome estabelecido na indústria, é preciso dar pequenos passos em frente e manter a esperança. A nível crítico, pelo menos, o balanço tem sido bastante positivo. Ainda ninguém teceu comentários verdadeiramente negativos a alguma das minhas obras, muito pelo contrário. Os livros têm sido bem aceites por quem os lê e, com a força do Grupo Porto Editora que está por detrás do projeto Coolbooks, tenho esperança de que o “Depuração” chegue mais longe e de que seja apreciado por mais leitores. 

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
R.M: Estou de momento a preparar um terceiro romance que será muito diferente do “Abaddon” e do “Depuração”. Insere-se igualmente no género Fantástico, mas tem como base a mitologia grega e tem alguns heróis gregos e os próprios Deuses do Olimpo como protagonistas. É um épico de fantasia em grande escala, que ainda se encontra numa fase muito precoce. Estou a ultimar o esqueleto narrativo para passar então à fase de escrita propriamente dita. Para além desse terceiro livro, tenho-me também dedicado cada vez mais ao teatro e espero ter a oportunidade de consumar alguns projetos enquanto ator.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
R.M: Gostava muito de abraçar uma carreira de ator e ter a possibilidade de adquirir experiência nessa área, seja através do teatro, da televisão ou do cinema. Gostava também imenso de trabalhar numa adaptação teatral ou cinematográfica de um dos meus livros, algo que é um sonho antigo e que talvez tenha a possibilidade de se concretizar nos próximos tempos.ML

sábado, 19 de julho de 2014

Brevemente...

Entrevista com... Rui Madureira (Escritor)

Mário Lisboa entrevista... Lais Corrêa

Olá. A próxima entrevista é com a atriz brasileira Lais Corrêa. Desde muito cedo que se interessou pela representação, e tem desenvolvido um versátil e reputado percurso como atriz que passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão. Além da representação, também tem experiência como encenadora, diretora de atores, coach e bailarina, e trabalhou como coach e como diretora de atores nas telenovelas "Laços de Sangue" (SIC) e o remake de "Dancin' Days" (SIC), e, atualmente, protagoniza o monólogo "Viúvas de Maridos Vivos" que esteve em cena no Teatro MuBE Nova Cultural em São Paulo entre os dias 2 de Maio e 1 de Junho e está agora a tentar iniciar uma digressão. Esta entrevista foi feita no passado dia 13 de Junho.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
L.C: O meu interesse pela representação surgiu desde sempre. Lembro-me desde pequena de vestir-me com "figurinos" e ficar em frente ao espelho criando várias situações imaginárias...

M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
L.C: As minhas influências são da vida e das trocas com as pessoas maravilhosas em que tive o presente da vida de cruzarem no meu caminho.

M.L: Faz teatro, cinema e televisão. Qual destes géneros que mais gosta de fazer?
L.C: Eu gosto muito dos 3 veículos, mas sinto que o teatro está mais na "nossa mão". Temos que lidar com qualquer tipo de situação, sem direito a "cortes" e a "refazermos outro take". Acho que o teatro é muito a arte do ator.

O cinema fica mais na mão do diretor, porque não importa o que façamos, é sempre ele que decide como vai ficar o resultado final.

A TV cada vez mais está na mão dos patrocinadores, nas obras abertas fica para o público, enfim, o ator obedece mais o cronograma no tempo que for determinado pelos autores e diretores. Tudo isto não exclui o trabalho do ator, que quanto mais estiver preparado, mais conseguirá dominar o que quer que lhe seja exigido.

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, até agora, durante o seu percurso como atriz?
L.C: Todos os trabalhos que fiz marcaram-me, de verdade. Claro que uns mais que outros, mas cada um quando termina, deixa sempre a sensação de vazio. Uns deixam muito mais saudades, mas todos marcam na aprendizagem.

M.L: Além da representação, também tem experiência como encenadora, diretora de atores, coach e bailarina. Em qual destas funções em que se sente melhor?
L.C: Realmente, eu sinto-me privilegiada, porque só faço o que gosto. O que não for "dar prazer" ou "troca" e "aprendizagem" eu não aceito. Eu entrego-me muito em tudo o que faço e se não for para ser feliz, não vale a pena.

M.L: Trabalhou como coach e como diretora de atores nas telenovelas portuguesas “Laços de Sangue” (2010/2011) e o remake de “Dancin’ Days” (2012/2013) que foram coproduções da SIC e da TV Globo executadas pela SP Televisão. Que recordações guarda destes dois trabalhos?
L.C: "Laços de Sangue" foi, para mim, um grande presente. Foi a minha primeira vez em Portugal, com pessoas encantadoras e competentes e fui muito bem recebida por todos. Tenho recordações muito emocionantes dessa temporada. Não é a toa que ganhamos um Emmy, porque a harmonia era uma constante entre todos, atores, equipa, direção e técnica.

"Dancin' Days" já não teve o mesmo astral, mas eu sempre procuro tirar de tudo o que faço uma lição para a vida.

M.L: Depois de ter trabalhado nestas duas telenovelas, qual foi a impressão que teve do trabalho desenvolvido na ficção televisiva portuguesa?
L.C: Acho que vocês têm atores maravilhosos, com equipas competentes e guerreiras. A minha impressão foi muito boa, e senti que a maioria queria e quis esta troca de informações. Tivemos trocas de verdade, e foi muito bom.

M.L: Como vê, atualmente, o teatro e o audiovisual (Cinema e Televisão) no Brasil?
L.C: Não só no Brasil, eu acho que a TV em geral, infelizmente está numa fase cultural paupérrima, cheia de futilidades e massificada. Acho que ela representa o Mundo em que estamos vivendo, onde todos procuram os mesmos hábitos, as mesmas opiniões, as mesmas vontades. Quem pensa e quer algo diferente é praticamente "linchado" verbalmente pelas tão usadas "Redes Sociais". Cada povo tem o que busca, quer e merece, acho a nossa TV aberta uma pobreza culturalmente falando.

Espero que voltemos a querer e procurar a diversidade. Criticarmos as diferenças através da nossa arte, também é a nossa função e missão. Como disse anteriormente, hoje em dia esta "liberdade de expressão" faz com que as pessoas que discordam de alguma coisa, agridam fortemente aos seus contrários, mas a maioria agride "sem assinar em baixo".

Nós somos de uma profissão onde receber críticas assinadas em baixo faz parte, e serve para nossa reflexão, então não entendo muito esta "coragem" escondida por trás de computadores e nomes falsos tão "normais atualmente".

No Cinema, estamos numa caminhada boa e produtiva, com muitas coisas acontecendo.

Na TV, agora temos uma Lei que obriga a Produção Nacional em TVs pagas, o que melhorou o mercado também, com produções de novas séries, incentivando o mercado para todos.

No Teatro, como sempre, tudo muito difícil. Mas sempre existirão "os apaixonados por esta Arte", que nunca desistem de tentar para que o espetáculo continue. A luta com as TVs pagas, Internet, falta de apoio, fica cada vez mais dura, mas eu tenho a grande esperança que o Teatro nunca morrerá. Tomara!!!

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito, até agora, como atriz?
L.C: Como atriz talvez pudesse ter realizado mais coisas, mas por outro lado a diversidade da minha carreira fez com que eu estivesse em várias áreas diferentes dentro da arte, a minha Atriz ganhou MUITO com tudo isto.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
L.C: Acabei de terminar uma temporada no Teatro MuBE Nova Cultural aqui em São Paulo, com o monólogo "Viúvas de Maridos Vivos" da autoria do Semi Faiad, onde faço 3 mulheres. Agora vamos tentar viajar com este espetáculo. Tomara que dê certo. Eu sinto muito prazer em representar estas mulheres que são tão verdadeiras na nossa sociedade de hoje pelo Mundo.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
L.C: Eu tenho como norma deixar a vida seguir o seu rumo, até porque quando queremos "remar contra a maré" fica muito difícil a caminhada. Acho que a maturidade trás isto. Não quero dizer que não tenho sonhos e que não luto por eles, mas procuro também sentir os ventos da vida para saber onde é melhor navegar em cada momento. Sempre penso que gostaria de estar numa produção cinematográfica europeia ou americana com um guião e atores ótimos.

M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da sua vida?
L.C: Sempre penso que gostaria de passar um tempo fora do Brasil. Já morei em Nova Iorque por 6 anos e também já viajei bastante por este mundão de Deus, mas por ter a alma meio cigana, gosto muito de viajar e viver, sentir, trocar, aprender com outros povos e suas culturas. Como disse anteriormente e como diz uma letra de música brasileira, "deixa a vida me levar, vida leva eu".ML

domingo, 13 de julho de 2014

Brevemente...

Entrevista com... Lais Corrêa (Atriz)

Mário Lisboa entrevista... Joana Santos

Olá. A próxima entrevista é com a atriz Joana Santos. Estreou-se na representação em 2006 ao participar na telenovela "Fala-me de Amor" (TVI), mas notabilizou-se em 2010 ao protagonizar, juntamente com Diana Chaves e Diogo Morgado, a telenovela "Laços de Sangue" (SIC) que ganhou o Emmy Internacional na categoria de Telenovela em 2011, e a partir daí tornou-se numa das atrizes mais promissoras da sua geração, com um percurso que passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão (onde também entrou em produções como "Ilha dos Amores" (TVI), "Rebelde Way" (SIC), "Um Lugar para Viver" (RTP) e "Dancin' Days" (SIC). Recentemente, participou na peça "A Noite" de José Saramago e produzida pela Yellow Star Company, e, atualmente, participa na telenovela "Mar Salgado" que vai estrear brevemente na SIC e é a 3ª coprodução entre o canal e a TV Globo (depois de "Laços de Sangue" e "Dancin' Days"). Esta entrevista foi feita no passado dia 17 de Maio no Teatro Rivoli no Porto.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
J.S: Não foi uma coisa que surgiu, quando era muito pequena, surgiu realmente, quando fiz uma novela para a TVI (“Fala-me de Amor” (2006), eu tinha 19 anos. Foi aí que eu comecei a ver que gostava de representar, de fazer aquilo que faço hoje em dia, porque acho que sou um bocadinho impulsiva na minha vida, na representação, sou muito emocional e eu acho que foi uma forma inconsciente de começar na representação.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
J.S: Eu gosto muito da Cate Blanchett, porque é camaleónica, gosto mesmo de atores que sejam camaleónicos, que se entregam completamente às personagens de tal forma que deixam de ser eles próprios e passam a ter outra identidade, e conseguimos separar o ator da personagem e naquele momento estamos a ver as personagens. E também gosto do Daniel Day-Lewis, porque de todas as personagens que ele faz entrega-se de tal maneira que deixa de ser ele próprio e cada personagem é completamente diferente uns dos outros. São duas referências que tenho.

M.L: Faz teatro, cinema e televisão. Qual destes géneros que mais gosta de fazer?
J.S: É diferente. No teatro, todos os dias são diferentes, apesar de ser sempre o mesmo texto, a energia do público é diferente, portanto o espetáculo vai ocorrer de maneira diferente, as energias de cada ator são diferentes, portanto todos os dias é uma experiência nova e é isso que enriquece o teatro. Na televisão, é a rapidez com que se gere as emoções, mas também é uma escola. Eu gostava de fazer mais cinema, mas em Portugal é um bocado difícil. Mas não consigo dizer o que é que eu gosto mais.

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, até agora, durante o seu percurso como atriz?
J.S: “Laços de Sangue” (SIC).

M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção nacional?
J.S: Há cada vez mais ficção nacional e, hoje em dia, há muita concorrência e acho que isso é muito bom e isso faz com que as pessoas podem optar mais o que querem ver, há mais escolha, e no que diz respeito aos atores e aos técnicos há muito mais trabalho, e acho que na ficção começa-se cada vez mais a fazer produtos melhores, acho que há um controlo maior sobre a qualidade.

Em relação ao teatro, acho que temos muitos bons grupos de teatro em Portugal, eu tenho uma referência que é a Mala Voadora em termos de encenação, de cenografia, são muito bons naquilo que fazem, e acho que temos grandes grupos de teatro, temos muito bons atores, temos tido peças cada vez melhores, acho que tanto de um lado como do outro têm muita força.

M.L: Em 2016, celebra 10 anos de carreira, desde que se estreou como atriz com a telenovela “Fala-me de Amor” da TVI em 2006. Que balanço faz destes 10 anos?
J.S: Faço um bonito balanço, porque não comecei logo no topo, fui subindo uma escada de cada vez. “Laços de Sangue” foi, de facto, a novela que me trouxe cá para cima e olhando para trás acho que fiz as coisas bem feitas, não me deixei deslumbrar, porque é fácil deixamo-nos deslumbrar por este mundo e temos que saber ter os pés bem assentes na terra. Eu sou uma pessoa muito simples e humilde, ainda tenho um longo caminho para percorrer, mas acho que, até agora, tem corrido bem.

M.L: Como lida com o público que acompanha a sua carreira nos últimos anos?
J.S: Tem sido muito bom. Todo o feedback que tenho do público, tenho recebido bastantes elogios. Recentemente, recebi um grande elogio de uma senhora que veio ter comigo e disse-me que já gostava de me ver na televisão, mas que ainda gostava mais de me ver no teatro, isso foi espetacular. E sou muito acarinhada pelas pessoas na rua, mesmo quando interpretei uma vilã, as pessoas gostaram do papel e sabem distinguir a ficção da realidade.

M.L: Na altura em que estava a gravar “Laços de Sangue”, foi entrevistada por Aguinaldo Silva (na altura o supervisor de texto da telenovela) para o blogue do próprio (http://asdigital.tv.br/portal/?page_id=1354). Como é que se sentiu ao ser entrevistada por um dos mais conceituados autores de telenovelas no Brasil?
J.S: Primeiro foi os elogios que ele me deu e senti-me lisonjeada de ele ter reconhecido o meu trabalho e de querer trabalhar comigo…

M.L: Qual o conselho que daria, nesta altura, a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
J.S: Que tenha calma, que não queira tudo de uma só vez e que estude.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
J.S: Viajar mais.ML

sexta-feira, 11 de julho de 2014

Brevemente...

Entrevista com... Joana Santos (Atriz)

Mário Lisboa entrevista... Lígia Roque

Olá. A próxima entrevista é com a atriz Lígia Roque. Desde muito cedo que se interessou pela representação, tendo-se estreado como atriz profissional em 1992, e desde aí tem desenvolvido um percurso que passa, essencialmente, pelo teatro. Além da representação, também é encenadora e professora, e, atualmente, participa na peça "As Ondas" de Virginia Woolf e encenada pela atriz Sara Carinhas, da qual vai ser reposta em Lisboa brevemente. Esta entrevista foi feita no passado dia 11 de Junho.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
L.R: Desde muito nova que me interessei pela representação. Apesar de ter sido uma aluna muito cumpridora e bem-educada, lembro-me de estar irreverentemente em cima de uma carteira a personificar, à maneira de “Charlot”, o (Adolf) Hitler. Lia os meus textos em voz alta para a turma, organizava danças e teatros para as festas do liceu. Acho que sempre quis ser bailarina e atriz.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
L.R: Eu sofro as minhas influências à maneira de (August) Strindberg: um pandemónio de referências das mais diversas origens e feitios. Cada encontro com outro artista, cada livro, cada peça, cada pensamento, cada acaso me desviam despudoradamente do meu caminho, do meu caráter.

M.L: Faz, essencialmente, teatro. Gostava de trabalhar mais no audiovisual (Cinema e Televisão)?
L.R: Há um tempo no teatro que me é fundamental, um relógio biológico a que me habituei, mas a vertigem da rapidez do audiovisual é muito atrativa. São maneiras de representar diferentes a partir da mesma matriz. Não me preocupa tanto onde trabalho mas como e com quem trabalho. Não gostaria nunca de estar sempre a fazer a mesma coisa, isso é a única certeza que tenho.

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, até agora, durante o seu percurso como atriz?
L.R: Eu costumo dizer que é o próximo e estou mesmo a dizer a verdade. Quanto maior ou mais complexo é o papel, mais peças tem o puzzle e mais possibilidades de jogo, mas às vezes há momentos especiais na vida de uma pessoa que tornam a quantidade de linhas de uma personagem um barômetro irrelevante. Devo dizer que gostei sempre de interpretar as minhas personagens, mesmo quando o trabalho corria mal, todas me marcaram porque todas contribuíram com as suas caraterísticas para a minha vida. Houve uma que me ensinou a rir alto, outra que me ensinou a sofrer com dignidade, outra a fugir de mim própria, outra a desejar homens e outra a matá-los. Algumas surpreenderam-me pela clareza com que falaram de mim e outras ensinaram-me a esconder coisas. E muitas tiveram colegas maravilhosos que me ensinaram que todas devam estar sempre muito bem acompanhadas.

M.L: Em 2010, participou na peça “A Gaivota” de Anton Tchékhov, com encenação de Nuno Cardoso e esteve em cena no Teatro Nacional São João no Porto. Que recordações guarda desse trabalho?
L.R: Guardo más recordações e boas recordações. As más não são para aqui chamadas, obviamente, e as boas são as que guardo de todos os espetáculos: a minha tentativa de encontrar de uma forma o mais surpreendente possível uma possibilidade ficcional de existência em cena, a construção de um puzzle criativo de ações a partir de palavras no papel, o nascimento de um “Frankenstein” a partir de pedaços de texto dos autores, do encenador, dos atores, de todos os seres com que me cruzei, enquanto a peça se construía. Guardo ainda muito boas recordações dos aquecimentos físicos e da vista para o rio.

M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção nacional?
L.R: A tentar desesperadamente existir com dignidade artística num clima de asfixia política e monetária.

M.L: Gostava de ter feito uma carreira internacional?
L.R: Apesar de ter trabalhado com artistas de outras nacionalidades e noutros países, gostava de o ter feito muito mais, embora isso continue sempre presente nas minhas expectativas de colaboração.

M.L: Este ano celebra 22 anos de carreira, desde que se estreou como atriz profissional em 1992. Que balanço faz destes 22 anos?
L.R: Tempo só o do teatro e balanço só o da dança. Foram 22 anos a acertar escolhas boas ou más e a tentar ser o mais feliz que me foi possível. E acho que consegui de um modo geral.

M.L: Além da representação, também é encenadora e professora. Em qual destas funções em que se sente melhor?
L.R: Gosto também muito de encenar e de ensinar. Como atriz sinto-me sempre mais frágil do que como encenadora, tenho muito mais dúvidas. Como professora sinto que faço um trabalho imediato mais importante. É uma trilogia que se completa: odiaria ter de optar só por uma função.

M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
L.R: Que seja sério no seu trabalho, que nunca se fique pelas primeiras impressões, que leia e procure novas formas de fazer, que treine o corpo, a voz e a alma e que procure o seu prazer e o prazer dos outros, um prazer culto, inteligente e fruidor.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
L.R: Neste momento, interessam-me novas dramaturgias que pensem o Mundo e que pretendo encenar. Tenho um projeto para mais tarde com o João Reis, como atriz e pelo qual tenho imenso entusiasmo. Vou ainda repor em Lisboa, “As Ondas”, a partir de Virginia Woolf, encenado pela Sara Carinhas com As Causas Comuns da Cristina Carvalhal.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
L.R: Tantas coisas hoje e mais amanhã e mais depois de amanhã. É esse desejo que me faz avançar, no teatro: querer fazer o que ainda não fiz e continuar a descobrir e a imaginar coisas que ainda não fiz e que quero mesmo muito fazer.ML

segunda-feira, 7 de julho de 2014

Mário Lisboa entrevista... Bruno José

Olá. A próxima entrevista é com o produtor Bruno José. Desde muito cedo que se interessou pelo audiovisual, tendo começado a trabalhar na televisão com a série "Capitão Roby" (SIC, (2000), e desde aí tem desenvolvido um percurso que passa, essencialmente, pela televisão. Na televisão, trabalhou na NBP (atual Plural), e, atualmente, trabalha na SP Televisão, onde exerce a função de diretor-geral e trabalhou como produtor em produções como "Podia Acabar o Mundo" (SIC), "Perfeito Coração" (SIC), "Cidade Despida" (RTP), "Laços de Sangue" (SIC) e "Bem-Vindos a Beirais" (RTP), e gostava de internacionalizar a produtora e torná-la ainda maior. Esta entrevista foi feita no passado dia 30 de Junho.

M.L: Quando surgiu o interesse pelo audiovisual?
B.J: Desde criança que sempre tive um fascínio pela televisão, mas nunca imaginei que viesse a trabalhar na área. O meu percurso passou pela licenciatura em Relações Internacionais e só depois de ter trabalhado na Unidade de Espetáculos da Expo’98 e nas Festas de Lisboa de 1999, é que surgiu um convite para integrar a equipa de produção da série “Capitão Roby” (SIC). Como nunca tinha trabalhado em televisão e tinha muita curiosidade, aceitei de imediato.

M.L: Quais são as suas influências nesta área?
B.J: São muitas as pessoas que me influenciaram na área da produção, mas no que respeita à ficção nacional, não posso deixar de referir nomes como o do Raúl Soares, Rosana Rasera, Pedro Miranda e Bruno Oliveira, bem como dos realizadores Manuel Amaro da Costa, Patrícia Sequeira, Sérgio Graciano e Jorge Cardoso.

M.L: Trabalha, essencialmente, na televisão. Gostava de, um dia, trabalhar numa produção cinematográfica?
B.J: Fiz uma média-metragem com o Sérgio Graciano, o Tiago Marques e o Joaquim Horta, intitulada “Ivanov Shortcut” e o processo foi muito interessante. Para além de ser um grande consumidor de cinema, tenho uma avidez enorme de conhecimento, daí que isso também passe por uma experiência numa produção cinematográfica maior.

M.L: Na televisão, trabalhou na NBP (atual Plural), e, atualmente, trabalha na SP Televisão, onde exerce a função de diretor-geral. Que balanço faz do tempo em que está na produtora?
B.J: O balanço é muito positivo. A SP Televisão é uma produtora que respeita muito os seus colaboradores e motiva-nos todos os dias. Esta relação de confiança que existe há sete anos é um desafio contínuo que nos obriga a querer fazer melhor e a tornarmo-nos melhores profissionais. Atualmente, os projetos da SP Televisão são sinónimo de qualidade e inovação, porque somos uma produtora independente e temos de ser mais criativos e produzir melhor. Como costumamos dizer na SP Televisão, “o sucesso faz-se com as pessoas certas”.

M.L: A SP Televisão é presidida pelo António Parente que faz parte do grupo que criou a indústria da ficção nacional e com quem já tinha trabalhado na NBP. Na sua opinião, qual é o legado que o próprio deixa na ficção televisiva portuguesa (tendo em conta que ele é cofundador das duas produtoras)?
B.J: O grande legado que o António Parente deixa na ficção televisiva portuguesa é exatamente o da criação de uma indústria de ficção. Ele é um visionário e o responsável pelo desenvolvimento da produção de ficção nacional. Atualmente, os atores têm um mercado televisivo muito maior do que aquele que existia nos anos 80 e o número de profissionais que trabalham nesta área é muito considerável. Eu próprio sou um “filho” desta mudança de paradigma. Por outro lado, é inegável que o aumento da qualidade da ficção televisiva também se deve à perseverança do António Parente e ao seu saudável desassossego, que acredito que nos levará ainda mais longe.

M.L: A SP Televisão existe, desde 2007. Como vê o percurso que a produtora tem feito, desde a sua fundação até agora?
B.J: A SP Televisão tem feito um percurso admirável e em sete anos de atividade foram produzidas 16 séries e 8 novelas. Inclusive, alguns dos nossos projetos foram vendidos para o mercado internacional e conquistaram prémios, sendo de destacar o Emmy Internacional ganho pela novela “Laços de Sangue” (SIC). Neste momento, mantemos uma parceria de trabalho com a RTP e a SIC, começámos a produzir para os canais por cabo e em breve vamos estar a produzir entretenimento. Tudo isto é resultado de um grande investimento da SP Televisão e do know-how dos nossos profissionais. 

M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, até agora, durante o seu percurso como produtor?
B.J: A novela “Perfeito Coração” (SIC) deixa muitas saudades e as séries “Cidade Despida” (RTP) e “Bem-Vindos a Beirais” (RTP) são projetos dos quais me orgulho muito.

M.L: Foi produtor da telenovela “Podia Acabar o Mundo” que foi exibida na SIC entre 2008 e 2009, da qual foi a primeira produção da SP Televisão para o canal. Que recordações guarda desse trabalho?
B.J: Nesta novela, a maior recordação é a do ambiente de trabalho que tínhamos. A equipa e o elenco eram maravilhosos e estávamos todos conscientes que tínhamos de fazer uma excelente novela para conquistar um novo horário de ficção nacional.

M.L: Como vê, atualmente, o audiovisual em Portugal?
B.J: Atualmente, o setor audiovisual está num patamar de qualidade muito maior e cada vez mais competitivo internacionalmente. Produz-se mais e melhor em Portugal, devido à inovação tecnológica e à profissionalização dos recursos humanos. Temos talento nacional.

M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
B.J: Nunca pensei nisso. Na minha vida, as coisas foram sempre acontecendo umas atrás das outras e nunca tive tempo para pensar numa carreira internacional. E acho que o meu processo de aprendizagem e de realização pessoal ainda não se esgotou em Portugal, muito pelo contrário.

M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na área do audiovisual?
B.J: O conselho que posso dar é que é necessário ter vocação, formação, exigência e brio profissional, abertura para levar a cabo uma aprendizagem contínua e procurar trabalhar com os melhores profissionais da área.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito, até agora, como produtor?
B.J: O facto de ter começado como assistente de produção e depois ter desempenhado as funções de produtor de elenco, produtor de locais, produtor de exteriores, planificação, chefe de produção e diretor de produção deu-me um conhecimento vasto sobre esta área. Toda esta base aliada à diplomacia da minha formação universitária e à dedicação no trabalho, moldou seguramente a minha forma de estar no meio empresarial. Até ao momento, acho que tenho tido muita sorte no meu percurso, graças às empresas onde trabalhei e aos profissionais com quem me cruzei e que apostaram em mim.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
B.J: Neste momento, começámos a gravar a nova novela da SIC, “Mar Salgado”, e estamos a preparar a segunda temporada da novela da RTP, “Os Nossos Dias”.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
B.J: Profissionalmente, gostava de ajudar a internacionalizar a SP Televisão, torná-la numa empresa ainda maior e encetar mais projetos diferenciadores e novos formatos. No meio disto tudo, gostava de fazer uma viagem pela Austrália.

M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da sua vida?
B.J: Gostava que o tempo dilatasse para o dobro, para poder fazer ainda mais coisas.ML

sábado, 5 de julho de 2014

Mário Lisboa entrevista... Fátima Medina

Olá. A próxima entrevista é com a ex-profissional da RTP Fátima Medina. Prima da atriz Isabel Medina, desde muito cedo que se interessou pela Comunicação Social, embora não tivesse consciência disso, tendo concorrido a um concurso público para locutores de televisão promovido pela RTP, da qual ganhou, e a partir daí trabalhou no canal entre 1977 e 2006, onde exerceu, por exemplo, a função de jornalista, tornando-se numa das mais memoráveis profissionais que já passaram pela RTP. Depois de ter saído da RTP, foi sócia gerente da loja Sign-A-Rama Portugal entre 2005 e 2009 e adjunta do Gabinete do Presidente do Supremo Tribunal de Justiça entre 2010 e 2013. Esta entrevista foi feita no passado dia 26 de Junho.

M.L: Quando surgiu o interesse pela Comunicação Social?
F.M: Desde cedo, era ainda adolescente, embora não tivesse consciência disso. O que acontecia era que quando estudava, lia e interpretava o que estava escrito no livro de estudo, fazendo-o para alguém, através de uma câmara imaginária, “posicionada” como se de um estúdio de televisão se tratasse. Só muito mais tarde, quando me começaram a fazer este tipo de perguntas, é que tomei consciência. Na altura era apenas para comunicar o que estava a aprender.

M.L: Quais foram as suas influências nesta área?
F.M: Penso que nenhumas. Quando a RTP fez o anúncio de que estavam a abrir um concurso público para locutores de televisão, nem me passou pela cabeça concorrer. Estava a estudar e queria terminar o meu curso, a minha Mãe sempre me ensinou que o que aprendemos é a nossa mais-valia e que ninguém nos tira esse capital, nem nos pode cobrar imposto. Fica connosco e é a nossa riqueza intemporal. Devo à minha Mãe essa grande aprendizagem. Mas os amigos insistiram, levaram-me a um fotógrafo, convenceram-me a tirar fotos e a enviar o Curriculum Vitae para a RTP… depois de duas fases de testes, sem qualquer cunha, lá fiquei selecionada num grupo de 14, de entre 2.500 candidatos/as.

M.L: Entre 1977 e 2006, trabalhou na RTP, onde exerceu, por exemplo, a função de jornalista. Que balanço faz do tempo em que trabalhou no canal?
F.M: Um balanço muito bom. Vesti mesmo a camisola, aliás como muitos colegas meus, embora a casa não tivesse qualquer cultura de Empresa, no sentido de ter uma Missão, Valores, e soubesse motivar os seus quadros que eram excelentes nas diversas áreas, tão técnicas quanto se pode imaginar que uma televisão exigisse. Há alguns anos atrás nem se pedia que a Gestão fizesse parte dos Currículos dos decisores, o que fez com que muitos dinheiros públicos se desperdiçassem. Mas fizeram-se coisas maravilhosas, e eramos como família! Trabalhávamos e ainda nos divertíamos. Aprendi muito, tecnicamente, sobre Comunicação e até sobre relações humanas, essas sempre complexas. Para mim era de certa forma, um grande privilégio trabalhar numa casa tão criativa, uma área onde me sinto como peixe dentro de água: fazíamos milagres de imaginação, de espetáculo, de comunicação! Estive na RTP até 2006, altura em que me despeço, em que consigo convencer o Presidente (na altura o Dr. Almerindo Marques) a deixar-me sair. O que o Presidente me disse na altura era que “não deixava sair mais nenhuma cara de referência e que eu ficava”. Assunto encerrado. Confesso que me senti elogiada e reconhecida no meu trabalho ao longo de 28 anos na RTP, numa empresa que não tinha por hábito este tipo de elogios… Mas o meu sonho era ir mais além, e três meses mais tarde, voltei a falar com o Presidente, e muita explicação depois, e a garantia de que não ia para a concorrência (SIC e TVI), lá me deixou rescindir o contrato de trabalho.

M.L: A RTP celebrou, recentemente, 57 anos de existência. Como vê o percurso que o canal tem feito, desde a sua fundação até agora?
F.M: A RTP foi a pioneira, e a grande escola de televisão. De lá saíram os trabalhadores que fizeram a SIC, a TVI e mais tarde, outros canais por cabo. No início, a RTP era uma pequena família que, no final da emissão, e de acordo com ex-colegas meus mais velhos do que eu, e que estiveram nos primórdios da Empresa, “fechavam a porta dos Estúdios à chave e iam todos tomar um copo, para descontrair e chamar o sono”. A RTP será sempre uma referência e com as novas necessidades de gestão de meios técnicos, recursos humanos e Conhecimento, poderá ser ainda melhor.

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, durante o tempo em que trabalhou na RTP?
F.M: Muitos, porque trabalhei na RTP1, mas também estive no lançamento da RTP Internacional, fiz ainda parte de uma equipa multidisciplinar que negociou com a TV Cabo novas tecnologias, a televisão interativa de que não se falava sequer na época, uma vez mais, a RTP foi pioneira. Depois de ter sido locutora, fui jornalista, apresentadora, fiz reportagem em direto, dei aulas às “vedetas” de Angola, no Centro de Formação da RTP aos jornalistas que apresentavam os principais programas informativos em Angola. Todos os trabalhos me marcaram, porque tive a oportunidade de ter valências multidisciplinares hoje em dia, o tal capital de cultura e conhecimento que ninguém me tira nem com impostos (risos).

M.L: Como vê, atualmente, a Comunicação Social em Portugal?
F.M: Necessária, como convém a qualquer sociedade que se queira democrática. 

M.L: É prima da atriz Isabel Medina. Como vê o percurso que a sua prima tem feito até agora?
F.M: Um percurso muito bom, foi minha colega na RTP durante anos, a Isabel é uma atriz cheia de valências, uma mulher do seu tempo, gosto muito dela!

M.L: Também foi sócia gerente da loja Sign-A-Rama Portugal entre 2005 e 2009 e adjunta do Gabinete do Presidente do Supremo Tribunal de Justiça entre 2010 e 2013. Que recordações guarda destas duas experiências?
F.M: Boas recordações, como gosto que aconteça. Ambas foram mais-valias de aprendizagem.

O ter sido sócia maioritária de uma Empresa, de ter ido aos EUA aprender gestão, marketing, finanças e áreas operacionais necessárias, foi uma experiência fascinante: adorei o que fiz, apesar de ter atravessado o princípio desta crise económica, de ter tido menor sorte na sociedade, mas que acabei por vencer com dois novos sócios que já estavam no mercado há tempos e trabalhavam.

Quanto ao Supremo Tribunal, tive a sorte e a oportunidade de trabalhar com o então Presidente, Conselheiro Noronha Nascimento, um homem inteligente e culto, que aceitou muitas das minhas sugestões para o melhoramento da Comunicação Institucional, de que eu era responsável. Passámos a dar resposta a todos os pedidos da Comunicação Social num período médio de meia hora, se o processo mediático em causa não estivesse em Segredo de Justiça, e porque é público por lei, o jornalista recebia essa informação diretamente no email profissional. Isto evitou grandes especulações de quem conta o Processo defendendo só uma das partes, e fez gestão de Recursos Humanos e de dinheiro, porque os funcionários do Tribunal deixaram de perder tempo a imprimir processos extensos, e a atender jornalistas para preenchimento dos formulários de acreditação de cada um.

M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na área da Comunicação Social?
F.M: Tem que ter vocação, e não pensar que ser jornalista é moda, ou que ser jornalista é sinónimo de se trabalhar em televisão e ser conhecido. Tem que ser imparcial, independente, cumprir o Código Deontológico do jornalista, e gostar do que faz.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
F.M: Viajar por lugares que ainda não visitei, cumprir objetivos de Cidadania, contribuir para causas justas, embora estes últimos, os tenha sempre feito ao longo da vida…

M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da sua vida?
F.M: Como o Presidente do Supremo se jubilou, por Lei cai também todo o Gabinete, e eu caí com ele, como Adjunta do Presidente para a Comunicação Institucional, fui considerada de confiança, logo não renovaram o mandato, apesar destas nomeações não serem, nem devem ser, partidárias. Gostava que este meu País tivesse maior capacidade de emprego para os jovens e para os quadros altamente especializados, que acabam também por ficar sem emprego. Gostava por isso que o meu próximo emprego fosse numa área de ainda maior responsabilidade, porque sempre geri a minha carreira, e que o pudesse encontrar em breve. Estou por isso disponível para todos os desafios e oportunidades.ML