M.L: Quando surgiu o interesse pela Comunicação
Social?
F.M: Desde cedo, era ainda
adolescente, embora não tivesse consciência disso. O que acontecia era que
quando estudava, lia e interpretava o que estava escrito no livro de estudo,
fazendo-o para alguém, através de uma câmara imaginária, “posicionada” como se
de um estúdio de televisão se tratasse. Só muito mais tarde, quando me começaram
a fazer este tipo de perguntas, é que tomei consciência. Na altura era apenas
para comunicar o que estava a aprender.
M.L: Quais foram as suas influências nesta área?
F.M: Penso que nenhumas. Quando a
RTP fez o anúncio de que estavam a abrir um concurso público para locutores de
televisão, nem me passou pela cabeça concorrer. Estava a estudar e queria
terminar o meu curso, a minha Mãe sempre me ensinou que o que aprendemos é a
nossa mais-valia e que ninguém nos tira esse capital, nem nos pode cobrar imposto.
Fica connosco e é a nossa riqueza intemporal. Devo à minha Mãe essa grande
aprendizagem. Mas os amigos insistiram, levaram-me a um fotógrafo,
convenceram-me a tirar fotos e a enviar o Curriculum Vitae para a RTP… depois
de duas fases de testes, sem qualquer cunha, lá fiquei selecionada num grupo de
14, de entre 2.500 candidatos/as.
M.L: Entre 1977 e 2006, trabalhou na RTP, onde
exerceu, por exemplo, a função de jornalista. Que balanço faz do tempo em que
trabalhou no canal?
F.M: Um balanço muito bom. Vesti
mesmo a camisola, aliás como muitos colegas meus, embora a casa não tivesse
qualquer cultura de Empresa, no sentido de ter uma Missão, Valores, e soubesse
motivar os seus quadros que eram excelentes nas diversas áreas, tão técnicas
quanto se pode imaginar que uma televisão exigisse. Há alguns anos atrás nem se
pedia que a Gestão fizesse parte dos Currículos dos decisores, o que fez com
que muitos dinheiros públicos se desperdiçassem. Mas fizeram-se coisas
maravilhosas, e eramos como família! Trabalhávamos e ainda nos divertíamos.
Aprendi muito, tecnicamente, sobre Comunicação e até sobre relações humanas,
essas sempre complexas. Para mim era de certa forma, um grande privilégio
trabalhar numa casa tão criativa, uma área onde me sinto como peixe dentro de
água: fazíamos milagres de imaginação, de espetáculo, de comunicação! Estive na
RTP até 2006, altura em que me despeço, em que consigo convencer o Presidente (na
altura o Dr. Almerindo Marques) a deixar-me sair. O que o Presidente me disse
na altura era que “não deixava sair mais nenhuma cara de referência e que eu
ficava”. Assunto encerrado. Confesso que me senti elogiada e reconhecida no meu
trabalho ao longo de 28 anos na RTP, numa empresa que não tinha por hábito este
tipo de elogios… Mas o meu sonho era ir mais além, e três meses mais tarde,
voltei a falar com o Presidente, e muita explicação depois, e a garantia de que
não ia para a concorrência (SIC e TVI), lá me deixou rescindir o contrato de
trabalho.
M.L: A RTP celebrou, recentemente, 57 anos de
existência. Como vê o percurso que o canal tem feito, desde a sua fundação até
agora?
F.M: A RTP foi a pioneira, e a
grande escola de televisão. De lá saíram os trabalhadores que fizeram a SIC, a
TVI e mais tarde, outros canais por cabo. No início, a RTP era uma pequena
família que, no final da emissão, e de acordo com ex-colegas meus mais velhos
do que eu, e que estiveram nos primórdios da Empresa, “fechavam a porta dos
Estúdios à chave e iam todos tomar um copo, para descontrair e chamar o sono”. A
RTP será sempre uma referência e com as novas necessidades de gestão de meios
técnicos, recursos humanos e Conhecimento, poderá ser ainda melhor.
M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, durante o
tempo em que trabalhou na RTP?
F.M: Muitos, porque trabalhei na
RTP1, mas também estive no lançamento da RTP Internacional, fiz ainda parte de
uma equipa multidisciplinar que negociou com a TV Cabo novas tecnologias, a
televisão interativa de que não se falava sequer na época, uma vez mais, a RTP
foi pioneira. Depois de ter sido locutora, fui jornalista, apresentadora, fiz
reportagem em direto, dei aulas às “vedetas” de Angola, no Centro de Formação
da RTP aos jornalistas que apresentavam os principais programas informativos em
Angola. Todos os trabalhos me marcaram, porque tive a oportunidade de ter
valências multidisciplinares hoje em dia, o tal capital de cultura e
conhecimento que ninguém me tira nem com impostos (risos).
M.L: Como vê, atualmente, a Comunicação Social em
Portugal?
F.M: Necessária, como convém a
qualquer sociedade que se queira democrática.
M.L: É prima da atriz Isabel Medina. Como vê o
percurso que a sua prima tem feito até agora?
F.M: Um percurso muito bom, foi minha
colega na RTP durante anos, a Isabel é uma atriz cheia de valências, uma mulher
do seu tempo, gosto muito dela!
M.L: Também foi sócia gerente da loja Sign-A-Rama Portugal
entre 2005 e 2009 e adjunta do Gabinete do Presidente do Supremo Tribunal de
Justiça entre 2010 e 2013. Que recordações guarda destas duas experiências?
F.M: Boas recordações, como gosto
que aconteça. Ambas foram mais-valias de aprendizagem.
O
ter sido sócia maioritária de uma Empresa, de ter ido aos EUA aprender gestão, marketing, finanças e áreas operacionais
necessárias, foi uma experiência fascinante: adorei o que fiz, apesar de ter
atravessado o princípio desta crise económica, de ter tido menor sorte na
sociedade, mas que acabei por vencer com dois novos sócios que já estavam no
mercado há tempos e trabalhavam.
Quanto
ao Supremo Tribunal, tive a sorte e a oportunidade de trabalhar com o então
Presidente, Conselheiro Noronha Nascimento, um homem inteligente e culto, que
aceitou muitas das minhas sugestões para o melhoramento da Comunicação
Institucional, de que eu era responsável. Passámos a dar resposta a todos os
pedidos da Comunicação Social num período médio de meia hora, se o processo
mediático em causa não estivesse em Segredo de Justiça, e porque é público por
lei, o jornalista recebia essa informação diretamente no email profissional. Isto evitou grandes especulações de quem conta
o Processo defendendo só uma das partes, e fez gestão de Recursos Humanos e de
dinheiro, porque os funcionários do Tribunal deixaram de perder tempo a
imprimir processos extensos, e a atender jornalistas para preenchimento dos
formulários de acreditação de cada um.
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na área da Comunicação Social?
F.M: Tem que ter vocação, e não
pensar que ser jornalista é moda, ou que ser jornalista é sinónimo de se
trabalhar em televisão e ser conhecido. Tem que ser imparcial, independente, cumprir
o Código Deontológico do jornalista, e gostar do que faz.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
F.M: Viajar por lugares que ainda não visitei, cumprir objetivos de Cidadania,
contribuir para causas justas, embora estes últimos, os tenha sempre feito ao
longo da vida…
M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da
sua vida?
F.M: Como o Presidente
do Supremo se jubilou, por Lei cai também todo o Gabinete, e eu caí com ele,
como Adjunta do Presidente para a Comunicação Institucional, fui considerada de
confiança, logo não renovaram o mandato, apesar destas nomeações não serem, nem
devem ser, partidárias. Gostava que este meu País tivesse maior capacidade de
emprego para os jovens e para os quadros altamente especializados, que acabam
também por ficar sem emprego. Gostava por isso que o meu próximo emprego fosse
numa área de ainda maior responsabilidade, porque sempre geri a minha carreira,
e que o pudesse encontrar em breve. Estou por isso disponível para todos os
desafios e oportunidades.ML
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