sábado, 5 de julho de 2014

Mário Lisboa entrevista... Fátima Medina

Olá. A próxima entrevista é com a ex-profissional da RTP Fátima Medina. Prima da atriz Isabel Medina, desde muito cedo que se interessou pela Comunicação Social, embora não tivesse consciência disso, tendo concorrido a um concurso público para locutores de televisão promovido pela RTP, da qual ganhou, e a partir daí trabalhou no canal entre 1977 e 2006, onde exerceu, por exemplo, a função de jornalista, tornando-se numa das mais memoráveis profissionais que já passaram pela RTP. Depois de ter saído da RTP, foi sócia gerente da loja Sign-A-Rama Portugal entre 2005 e 2009 e adjunta do Gabinete do Presidente do Supremo Tribunal de Justiça entre 2010 e 2013. Esta entrevista foi feita no passado dia 26 de Junho.

M.L: Quando surgiu o interesse pela Comunicação Social?
F.M: Desde cedo, era ainda adolescente, embora não tivesse consciência disso. O que acontecia era que quando estudava, lia e interpretava o que estava escrito no livro de estudo, fazendo-o para alguém, através de uma câmara imaginária, “posicionada” como se de um estúdio de televisão se tratasse. Só muito mais tarde, quando me começaram a fazer este tipo de perguntas, é que tomei consciência. Na altura era apenas para comunicar o que estava a aprender.

M.L: Quais foram as suas influências nesta área?
F.M: Penso que nenhumas. Quando a RTP fez o anúncio de que estavam a abrir um concurso público para locutores de televisão, nem me passou pela cabeça concorrer. Estava a estudar e queria terminar o meu curso, a minha Mãe sempre me ensinou que o que aprendemos é a nossa mais-valia e que ninguém nos tira esse capital, nem nos pode cobrar imposto. Fica connosco e é a nossa riqueza intemporal. Devo à minha Mãe essa grande aprendizagem. Mas os amigos insistiram, levaram-me a um fotógrafo, convenceram-me a tirar fotos e a enviar o Curriculum Vitae para a RTP… depois de duas fases de testes, sem qualquer cunha, lá fiquei selecionada num grupo de 14, de entre 2.500 candidatos/as.

M.L: Entre 1977 e 2006, trabalhou na RTP, onde exerceu, por exemplo, a função de jornalista. Que balanço faz do tempo em que trabalhou no canal?
F.M: Um balanço muito bom. Vesti mesmo a camisola, aliás como muitos colegas meus, embora a casa não tivesse qualquer cultura de Empresa, no sentido de ter uma Missão, Valores, e soubesse motivar os seus quadros que eram excelentes nas diversas áreas, tão técnicas quanto se pode imaginar que uma televisão exigisse. Há alguns anos atrás nem se pedia que a Gestão fizesse parte dos Currículos dos decisores, o que fez com que muitos dinheiros públicos se desperdiçassem. Mas fizeram-se coisas maravilhosas, e eramos como família! Trabalhávamos e ainda nos divertíamos. Aprendi muito, tecnicamente, sobre Comunicação e até sobre relações humanas, essas sempre complexas. Para mim era de certa forma, um grande privilégio trabalhar numa casa tão criativa, uma área onde me sinto como peixe dentro de água: fazíamos milagres de imaginação, de espetáculo, de comunicação! Estive na RTP até 2006, altura em que me despeço, em que consigo convencer o Presidente (na altura o Dr. Almerindo Marques) a deixar-me sair. O que o Presidente me disse na altura era que “não deixava sair mais nenhuma cara de referência e que eu ficava”. Assunto encerrado. Confesso que me senti elogiada e reconhecida no meu trabalho ao longo de 28 anos na RTP, numa empresa que não tinha por hábito este tipo de elogios… Mas o meu sonho era ir mais além, e três meses mais tarde, voltei a falar com o Presidente, e muita explicação depois, e a garantia de que não ia para a concorrência (SIC e TVI), lá me deixou rescindir o contrato de trabalho.

M.L: A RTP celebrou, recentemente, 57 anos de existência. Como vê o percurso que o canal tem feito, desde a sua fundação até agora?
F.M: A RTP foi a pioneira, e a grande escola de televisão. De lá saíram os trabalhadores que fizeram a SIC, a TVI e mais tarde, outros canais por cabo. No início, a RTP era uma pequena família que, no final da emissão, e de acordo com ex-colegas meus mais velhos do que eu, e que estiveram nos primórdios da Empresa, “fechavam a porta dos Estúdios à chave e iam todos tomar um copo, para descontrair e chamar o sono”. A RTP será sempre uma referência e com as novas necessidades de gestão de meios técnicos, recursos humanos e Conhecimento, poderá ser ainda melhor.

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, durante o tempo em que trabalhou na RTP?
F.M: Muitos, porque trabalhei na RTP1, mas também estive no lançamento da RTP Internacional, fiz ainda parte de uma equipa multidisciplinar que negociou com a TV Cabo novas tecnologias, a televisão interativa de que não se falava sequer na época, uma vez mais, a RTP foi pioneira. Depois de ter sido locutora, fui jornalista, apresentadora, fiz reportagem em direto, dei aulas às “vedetas” de Angola, no Centro de Formação da RTP aos jornalistas que apresentavam os principais programas informativos em Angola. Todos os trabalhos me marcaram, porque tive a oportunidade de ter valências multidisciplinares hoje em dia, o tal capital de cultura e conhecimento que ninguém me tira nem com impostos (risos).

M.L: Como vê, atualmente, a Comunicação Social em Portugal?
F.M: Necessária, como convém a qualquer sociedade que se queira democrática. 

M.L: É prima da atriz Isabel Medina. Como vê o percurso que a sua prima tem feito até agora?
F.M: Um percurso muito bom, foi minha colega na RTP durante anos, a Isabel é uma atriz cheia de valências, uma mulher do seu tempo, gosto muito dela!

M.L: Também foi sócia gerente da loja Sign-A-Rama Portugal entre 2005 e 2009 e adjunta do Gabinete do Presidente do Supremo Tribunal de Justiça entre 2010 e 2013. Que recordações guarda destas duas experiências?
F.M: Boas recordações, como gosto que aconteça. Ambas foram mais-valias de aprendizagem.

O ter sido sócia maioritária de uma Empresa, de ter ido aos EUA aprender gestão, marketing, finanças e áreas operacionais necessárias, foi uma experiência fascinante: adorei o que fiz, apesar de ter atravessado o princípio desta crise económica, de ter tido menor sorte na sociedade, mas que acabei por vencer com dois novos sócios que já estavam no mercado há tempos e trabalhavam.

Quanto ao Supremo Tribunal, tive a sorte e a oportunidade de trabalhar com o então Presidente, Conselheiro Noronha Nascimento, um homem inteligente e culto, que aceitou muitas das minhas sugestões para o melhoramento da Comunicação Institucional, de que eu era responsável. Passámos a dar resposta a todos os pedidos da Comunicação Social num período médio de meia hora, se o processo mediático em causa não estivesse em Segredo de Justiça, e porque é público por lei, o jornalista recebia essa informação diretamente no email profissional. Isto evitou grandes especulações de quem conta o Processo defendendo só uma das partes, e fez gestão de Recursos Humanos e de dinheiro, porque os funcionários do Tribunal deixaram de perder tempo a imprimir processos extensos, e a atender jornalistas para preenchimento dos formulários de acreditação de cada um.

M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na área da Comunicação Social?
F.M: Tem que ter vocação, e não pensar que ser jornalista é moda, ou que ser jornalista é sinónimo de se trabalhar em televisão e ser conhecido. Tem que ser imparcial, independente, cumprir o Código Deontológico do jornalista, e gostar do que faz.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
F.M: Viajar por lugares que ainda não visitei, cumprir objetivos de Cidadania, contribuir para causas justas, embora estes últimos, os tenha sempre feito ao longo da vida…

M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da sua vida?
F.M: Como o Presidente do Supremo se jubilou, por Lei cai também todo o Gabinete, e eu caí com ele, como Adjunta do Presidente para a Comunicação Institucional, fui considerada de confiança, logo não renovaram o mandato, apesar destas nomeações não serem, nem devem ser, partidárias. Gostava que este meu País tivesse maior capacidade de emprego para os jovens e para os quadros altamente especializados, que acabam também por ficar sem emprego. Gostava por isso que o meu próximo emprego fosse numa área de ainda maior responsabilidade, porque sempre geri a minha carreira, e que o pudesse encontrar em breve. Estou por isso disponível para todos os desafios e oportunidades.ML

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