terça-feira, 8 de dezembro de 2015

Mário Lisboa entrevista... Bruna Diogo dos Santos

O interesse pela representação surgiu quando era muito nova, tendo subido ao palco pela 1ª vez aos 9 anos de idade, e desde aí tem desenvolvido um percurso promissor muito versátil. Sonhadora e lutadora, também tem experiência em áreas tão diferentes como, por exemplo, o Direito, a Moda e a escrita, e deseja querer mais e nunca desistir. Esta entrevista foi feita no passado dia 22 de Novembro.


M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
B.D.D.S: Eu não me recordo bem, era muito criança. Sempre gostei de fazer teatrinhos em casa, inventar diálogos, personagens, histórias para as novelas que via e fazia as cenas sozinha, fechada no quarto. Quantas vezes não me devem ter apanhado a falar sozinha! Eu aprendi a ler antes de entrar na escola, porque pedia muito aos meus avós e eles iam-me ensinando as letras. Quando aprendi o meu avô ofereceu-me um livro seu: “Este livro que vos deixo” de António Aleixo. A primeira edição de 1969. Ainda o tenho e é nele que encontrei a primeira peça pela qual me apaixonei: “Auto da Vida e da Morte”. Acabei a fazê-la imensas vezes. Aos 9 anos subi ao palco pela primeira vez, na escola. Percebi que a paixão não existia só em casa: eu tinha muito que queria mostrar àquele público todo. E percebia que queria aperfeiçoar e sentir aquilo tudo o resto da minha vida!

M.L: Quais são as suas referências, enquanto atriz?
B.D.D.S: Muitas! Nas várias vertentes que ocupam a Arte da Representação. Vejo Meryl Streep e Anthony Hopkins como dois grandes estandartes da atualidade internacional. Tenho um fascínio por James Dean, James Franco e Charlie Chaplin. Na realidade portuguesa, os nomes ainda são mais envolventes, por serem tão nossos: admiro a Eunice Muñoz, o Júlio César, o Filipe Duarte, o João Perry. São todos grandiosos, é difícil referir todos!

M.L: De tudo o que tem desenvolvido até agora a nível profissional, qual foi o mais marcante para si nomeadamente do ponto de vista emocional e pessoal?
B.D.D.S: Felizmente tenho mais do que uma coisa: tenho vários momentos e conquistas marcantes a nível pessoal e profissional. Aos 17 anos vir estudar para Lisboa foi, de ambos os pontos, uma das melhores apostas que realizei. Também o dia em que terminei o Mestrado em Direito tem uma importância única. Lutei muito pela Dissertação que escrevi e acabei com um resultado mais positivo do que esperava. Ao mesmo tempo prossegui com a minha aprendizagem no Teatro, subi ao palco com personagens que guardo com imenso amor e apostei muito na formação. Trabalhar com a Lídia Franco, o Bruno Schiappa ou Marcia Haufrecht são passagens que me marcam não apenas enquanto aprendiz de atriz, mas sem dúvida, como pessoa e mulher. Aqueles minutos de trabalho do ator, traz-nos uma perceção maior de nós. Crescemos imenso enquanto fazemos trabalho de interpretação. E depois, o apoio da minha família e amigos, e todos os momentos em que estou com eles, marcam do ponto de vista emocional. São antes de outra pessoal qualquer, aqueles que mais força me dão para abrir as asas.

M.L: Além da representação, também tem experiência em áreas tão diferentes como, por exemplo, o Direito, a Moda e a escrita. O que a move sendo muito nova a seguir áreas muito distintas?
B.D.D.S: Esta é a minha maneira de ser, sempre foi. Desde criança que não me lembro de querer ser só uma coisa. Sempre quis fazer muito mais, experimentar tudo o que pudesse para me conhecer melhor e saber se gosto ou não gosto. E se gostasse, prosseguir com isso. Escrevo desde muito cedo, é quase um vício, algo intrínseco a mim. Uma necessidade constante de explorar a minha forma de pensar e de enraizar nas folhas de papel. A ideia de criar é muito própria da minha identidade. Estou sempre a inventar alguma coisa! Sou naturalmente insatisfeita. O que pode ser uma vantagem quando pretendemos crescer tanto pessoal como profissionalmente, mas que também nos pode dar algum stress. Há que saber gerir as coisas. E eu, ao longo do tempo, tenho tentado fazê-lo. A Moda e a Fotografia surgiram mais tarde do que é comum: nunca fui muito virada para a ideia de ser modelo. Era uma “Maria-Rapaz”! Por volta dos 19 anos convidaram-me a fazer sessões fotográficas e eu experimentei. Adorei! Investi e é algo que faço essencialmente por mim. O Direito é o meu Trabalho e uma verdadeira paixão!

M.L: Como vê, hoje em dia, tanto o meio artístico como judicial a nível global?
B.D.D.S: O Mundo não vai muito bem, especialmente no meio político e judicial. Mas há uma abertura maior de ideias, uma consciencialização, uma geração potenciadora de valores e isso é maior que todas as coisas más que o Mundo possa estar a passar e é a isso que temos que nos agarrar. Acredito que temos muito para melhorar, que o Direito está a evoluir, que cada vez há mais pessoas a compreender a Arte e as diversas formas de Arte. Que estamos, verdadeiramente, a conseguir mudar um pouco o Mundo para melhor. Se calhar sou positiva demais. Mas preciso de acreditar que somos capazes.

M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
B.D.D.S: Humildade, ambição e Formação! E em primeiro lugar: experimentar! Experimentar a arte do teatro faz bem, mesmo que a pessoa não queira seguir essa área. Faz mesmo bem, e mais que não seja, serve para saber se gostamos de nos expor a um determinado ponto ou não. Conheço muitas pessoas que fazem Teatro porque se sentem bem e isso é capaz de ser a maneira mais genuína de sentir a Arte da Representação. Quem quer seguir esta profissão tem inevitavelmente que apostar na formação. Crescemos e ganhamos uma noção de palco que não se tem cá fora: ainda há a ideia de que é muito fácil construir uma personagem e não se pensa em todo o trabalho de pesquisa, de entendimento, de construção de um Mundo que existe à volta de um ser que será interpretado por nós.

M.L: Que balanço faz do percurso profissional que tem desenvolvido até agora?
B.D.D.S: Positivo! Há coisas que fiz, que não esperava já ter feito. Outras que já gostava de ter feito e ainda não fiz. Coisas que gosto que não esperava gostar, e também o contrário. Mas quero mais. Para a frente é o caminho.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
B.D.D.S: Ah, umas quantas! Gostava que o estágio de advocacia já tivesse terminado, mas não posso mudar o sistema que o faz ser tão longo. E já gostava de ter viajado até alguns locais que ainda não consegui, mas que se encontram na lista. A ideia é nunca desistir destes sonhos e lutar para que eles se realizem. Sempre.ML

sábado, 21 de novembro de 2015

"I'll See You in My Dreams"


Em 2003, o multifacetado Filipe Melo lançou-se na criação de uma curta-metragem dentro do género de terror que era pouco explorado em Portugal na altura e que hoje em dia é um clássico de culto.

Realizado pelo espanhol Miguel Ángel Vivas, "I'll See You in My Dreams" passa-se numa vila inexplicavelmente assombrada por uma praga de zombies e Lúcio (Adelino Tavares) é a única pessoa que os pode combater. Com problemas matrimoniais, esconde Ana (Sofia Aparício), a sua mulher entretanto transformada numa terrível zombie com um comportamento violento, na cave da sua casa. Entretanto, Lúcio descobre novamente o amor com Nancy (São José Correia), mas a relação está ameaçada pelas estranhas criaturas e pela ciumenta mulher. Conseguirá Lúcio resolver todos os seus problemas com uma pistola e um punhal?

"I'll See You in My Dreams" na íntegra

"I'll See You in My Dreams" em destaque no "VHS-Vilões, Heróis e Sarrabulho", com a presença de Filipe Melo

Mário Lisboa

"Os Pés no Arame" no Teatro da Trindade até 20 de Dezembro


Estreou no passado dia 19 de Novembro no Teatro da Trindade, a peça "Os Pés no Arame" que é encenada por Renato Godinho que também protagoniza ao lado de Igor Regalla, Sara Prata e Sofia Nicholson (http://www.mlisboaentrevista.blogspot.pt/2014/11/mario-lisboa-entrevista-sofia-nicholson.html).

Escrita pelo jornalista da SIC, Rodrigo Guedes de Carvalho, e em cena até 20 de Dezembro, é uma autópsia à condição humana no amor e nos (não) relacionamentos. Um universo de mundos de afetos e a falta deles, o que nos une e o que cada vez mais nos separa. O Amor, onde tudo começa e tudo acaba.

Mário Lisboa

sexta-feira, 20 de novembro de 2015

Mário Lisboa entrevista... Rita Frazão

Estreou-se na representação em 1996 com a telenovela "Roseira Brava" (RTP) e desde aí tem desenvolvido um apaixonante percurso como atriz que já conta com quase 20 anos de existência. Sonhadora e admiradora da sua arte, também tem experiência como professora na área teatral, e, atualmente, participa na telenovela "Coração D'Ouro" que está em exibição na SIC. Esta entrevista foi feita no passado dia 17 de Novembro.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
R.F: O interesse surgiu num grupo cultural de Paço de Arcos! Eu fazia alguns saraus de poesia e começamos a fazer teatro! E das primeiras experiências fiz logo uma peça que me envolveu muito, "A Birra do Morto" de Vicente Sanches! A partir daí não quis parar, tinha 15 anos e tornou-se num vício meu fazer teatro! 

M.L: Quais são as suas referências, enquanto atriz?
R.F: Quando era mais miúda a primeira atriz que me apaixonou foi a Meryl Streep no filme “África Minha” (1985)! Depois segui sempre o seu percurso e acho-a fascinante enquanto atriz! Acho que as minhas referências tendem a ir mudando mas esta é assim uma atriz que mantive como uma referência, um bom exemplo mesmo como atriz, mulher e todo seu percurso e escolhas! Muitas vezes os atores não têm escolha! Isso é sempre triste!  

M.L: De todos os trabalhos que tem feito até agora como atriz, qual foi o mais marcante para si nomeadamente do ponto de vista emocional?
R.F: Há personagens que realmente nos tocam mais, às vezes não tanto pela densidade mas até por naquele momento da nossa vida serem mais próximas! A personagem que mais me emocionou foi a Filomena (da peça “Queres Fazer Amor Comigo?”), uma mulher funcionária pública muito repreendida pela sociedade mas principalmente por ela mesma! Uma mulher sofrida e incapaz de sentir qualquer prazer pela vida! Foi um processo intenso e difícil para mim mas estas personagens difíceis de chegar são as melhores em termos de processo! Depois o resultado é muito gratificante! 

M.L: Como vê, hoje em dia, a arte da representação a nível global?
R.F: Globalmente hoje creio que os atores e atrizes se tornaram muito os reis e rainhas do pop! Mas isto é só uma ideia muito generalista! Isto acontece quando a arte é deixada para trás! Felizmente não é sempre assim! Continuo a acreditar na profissão de ator como algo realmente significativo na sociedade! Os atores comunicam e contam histórias, comovem, fazem-nos rir e chorar. São veículos, agentes, médiuns! É aqui que moram as musas da inspiração; o romantismo, a análise, a intuição, a razão, o conceptual. Admiro muito esta profissão e tenho muito respeito!

M.L: Em 2016 celebra 20 anos de carreira, desde que se estreou como atriz com a telenovela “Roseira Brava” da RTP em 1996. Que balanço faz destes 20 anos?
R.F: 20 anos! Pois nem acredito! Sinto-me uma miúda ainda! Cresci muito, enquanto ser humano essencialmente! Caí muito, levantei, desisti várias vezes, voltei a apaixonar-me. Perdi-me e encontrei-me! Sou otimista e tenho muita fé e assim nada me assusta! 

M.L: Também tem experiência como professora na área teatral. De que forma esta passagem pelo ensino artístico modificou-a tanto como atriz e como pessoa?
R.F: Dar aulas foi uma descoberta fantástica! Nunca quis ser aquela professora que vai parar ao ensino porque não consegue trabalhar na sua área. Sofri esse trauma com uma professora de biologia! Mas curiosamente tudo aconteceu em simultâneo e descobri que adoro ensinar e até sei algumas coisas... E principalmente descobri que o teatro muda mesmo muitas vidas! Fazer a diferença na vida de outras pessoas é uma dádiva muito especial! Aprendo muito a dar aulas! 

M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
R.F: Acho que é mais interessante a ideia de ser atriz do que realmente sê-lo! Acredito em talentos mas acho que nada se consegue sem trabalho e dedicação! Creio que Disciplina e empenho são as chaves para qualquer profissão.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
R.F: Sonhos vou ter sempre, muitos mesmo! Mas a nível profissional, ainda falta muita coisa e ainda bem! Pessoalmente adorava viajar num balão! Ou fazer a Route 66! Sonhos que vão chegar!ML

terça-feira, 10 de novembro de 2015

"Instruções para Voar" no Teatro Lethes até 29 de Novembro


Estreia no próximo dia 13 de Novembro no Teatro Lethes em Faro, a peça "Instruções para Voar" de Lídia Jorge, encenada pela norueguêsa Juni Dahr e protagonizada por Luís Vicente (http://mlisboaentrevista.blogspot.pt/2013/01/mario-lisboa-entrevista-luis-vicente.html) e Elisabete Martins.

Produzida pela ACTA-A Companhia de Teatro do Algarve e em cena até 29 de Novembro, retrata dois emigrantes (Luís Vicente e Elisabete Martins), de origens geográficas diversas, que se encontram num mesmo tempo e num mesmo espaço, em condições similares e contraditórias, contudo, para ambos, o centro das suas problemáticas é a figura da mãe ausente.

Mário Lisboa

terça-feira, 3 de novembro de 2015

Mário Lisboa entrevista... Marta Curado

Inicialmente pensou em fazer percurso na área cultural, mas o seu destino acabou por ser outro e há mais de 10 anos que tem desenvolvido um percurso como jornalista que começou na SIC Notícias, onde trabalhou durante 2 anos. Desde 2002 na produtora Até ao Fim do Mundo, tem colaborado com o jornalista da RTP, Mário Augusto, nos últimos 12 anos, e afirma que o jornalismo televisivo é onde se sente em casa. Esta entrevista foi feita no passado dia 29 de Outubro.

M.L: Quando surgiu o interesse pelo jornalismo?
M.C: Curiosamente nunca pensei que seria jornalista. Licenciei-me em Comunicação Social e Cultural pela Universidade Católica de Lisboa. Enquanto frequentei este curso sempre pensei que seguiria a vertente cultural. Foi depois da faculdade, e por insistência de uma amiga, que me inscrevi no CENJOR, num workshop de televisão. Alguns meses depois convidaram-me a integrar a primeira equipa de jornalistas para o arranque da SIC Notícias. Comecei como estagiária. Nunca mais deixei o jornalismo. Nem a televisão.

M.L: Quais são as suas referências nesta área?
M.C: Tenho várias. E não creio que seja justo apontar meia dúzia de nomes em detrimento de outros. Até agora tive a sorte de trabalhar com pessoas extraordinárias que foram/são determinantes na minha formação. Moldaram-me enquanto jornalista e enquanto ser humano.

M.L: Como jornalista, trabalha, essencialmente, na televisão. Gostava de, um dia, experimentar outros meios de comunicação como, por exemplo, a imprensa?
M.C: Cheguei a escrever para alguns jornais e revistas no início da carreira. Mas o jornalismo em televisão representa, antes de mais, trabalho de equipa. Isso é algo que me cativa e continua a fascinar até hoje. Definitivamente, é onde me sinto em casa.     

M.L: Tem colaborado com o jornalista da RTP, Mário Augusto, nos últimos 12 anos. Que balanço faz da sua colaboração com ele?
M.C: O melhor possível. O Mário é um profissional incansável e um homem extraordinário. Tem uma enorme capacidade de trabalho e parece que consegue estar em várias cidades ao mesmo tempo! Com ele aprendi a não desistir. Seja do que for. Venham mais doze!  

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, até agora, durante o seu percurso como jornalista?
M.C: Um documentário sobre o aquecimento global. Fui até ao arquipélago de Svalbard, no Círculo Polar Ártico. Estive em Longyearbyen, o povoado mais a norte do planeta. Onde é obrigatório levar uma caçadeira, sempre que se sai de casa, por causa dos ursos polares. Visitei os glaciares e percebi como é frágil o equilíbrio deste nosso planeta. Inesquecível! Uma experiência transformadora.

M.L: Como vê, atualmente, a Comunicação Social em Portugal?
M.C: Como em qualquer outra área existem ótimos profissionais que desenvolvem trabalhos muito válidos. Mas também temos o outro lado da moeda. Por vezes arrepia-me a forma como alguns jornalistas atiram o Código Ético e Deontológico para o caixote do lixo. Se é que alguma vez já o leram.

M.L: Fez parte da equipa-fundadora da SIC Notícias, onde trabalhou durante 2 anos. Que recordações guarda dessa experiência?
M.C: Foi uma fase emocionante da minha vida. Tinha vinte e poucos anos. Estava num projeto inovador em Portugal. Sentia que podia fazer a diferença. Tinha ainda uma ideia muito romântica do jornalismo. Todos os dias aprendia alguma coisa nova. Estava num turno que me obrigava a chegar à redação por volta das 4h00 da manhã. (E tinha energia para isso…)

M.L: Qual é a Personalidade do Cinema que gostava de entrevistar no futuro?
M.C: Tantas… todas! Por onde começar? Tenho uma lista onde anoto religiosamente os nomes dos meus entrevistados. As centenas acumulam-se, mas há milhares por fazer!

M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na área do jornalismo?
M.C: Em vez de um conselho, fazia antes uma pergunta: “Tens a certeza?”.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem desenvolvido, até agora, como jornalista?
M.C: Ainda é muito cedo para balanços… afinal, estou agora a começar!ML

quinta-feira, 29 de outubro de 2015

"Neva" no Teatro Carlos Alberto até 15 de Novembro


Estreia hoje (29 de Outubro) no Teatro Carlos Alberto no Porto, a peça "Neva" de Guillermo Calderón, encenada por João Reis e protagonizada por Lígia Roque (http://mlisboaentrevista.blogspot.pt/2014/07/mario-lisboa-entrevista-ligia-roque.html), Cristóvão Campos e Sara Barros Leitão (http://mlisboaentrevista.blogspot.pt/2012/10/mario-lisboa-entrevista-sara-barros.html).

Em cena até 15 de Novembro, este texto multipremiado inscreve-nos no "domingo sangrento" de 1905, em São Petersburgo. Enquanto a guarda do Czar abre fogo sobre uma multidão de operários que marcham pacificamente em direção ao palácio imperial, duas atrizes e um ator fecham-se num teatro para ensaiar "O Cerejal" de Anton Tchékhov. Uma delas é Olga Knipper (Lígia Roque), atriz do Teatro de Arte de Moscovo dirigido por Stanislavski e viúva do dramaturgo russo, recém-desaparecido. As duas outras personagens (Cristóvão Campos e Sara Barros Leitão) ajudam-na a recobrar o talento que julga ter perdido, recriando absurdamente a morte de Tchékhov ou discutindo técnicas de representação, ao mesmo tempo que se esforçam por recalcar o facto de os restantes atores não terem ainda chegado.

Mário Lisboa

Brevemente...

Entrevista com... Marta Curado (Jornalista)

terça-feira, 27 de outubro de 2015

Mário Lisboa entrevista... Cláudio Jordão

O interesse pela Animação surgiu muito cedo e nos últimos 18 anos tem desenvolvido um percurso como animador que passa por várias áreas audiovisuais. Realizador e fundador do estúdio KotoStudios que existe desde 2007, criou em 2014 uma curta-metragem de animação que homenageava o clássico de Ridley Scott, "Alien-O Oitavo Passageiro", a propósito dos 35 anos da sua estreia, onde fez uma extensão do seu final. Esta entrevista foi feita no passado dia 25 de Agosto.

M.L: Quando surgiu o interesse pela Animação?
C.J: Ainda antes do interesse, o fascínio, e este desde muito cedo com séries de animação como o "Conan-O Rapaz do Futuro" ou "As Maravilhosas Cidades de Ouro", além das personagens dos "Looney Tunes"; "Hanna Barbera" e de outras coisas apresentadas pelo saudoso Vasco Granja que tantos filmes de todo o Mundo nos mostrava, de onde destaco "Allegro non troppo" (1976) de Bruno Bozzetto, e muita da obra de um dos pais da animação Norman McLaren.

Ficava entusiasmadíssimo com as cores e os movimentos das personagens e pensava em como recriar algumas das coisas que via. Lembro-me em particular de um dos programas de Domingo da altura, "O Passeio dos Alegres" (RTP) que era apresentado por Júlio Isidro, onde um convidado desvendava um pouco da magia do que era para mim ainda a Animação, desfolhando para a câmara uma série de esquiços com desenhos que uns a seguir aos outros davam a ideia de movimento, e acho que dentro de mim algo explodiu!

Comecei a fazer algumas experiências com as coisas que tinha à mão, e uma em particular que gostava de fazer era pintar um pião de madeira, e depois de jogá-lo, deitar-me no chão a vê-lo rodar e observar a sequência de linhas e bolas que tinha pintado e os padrões animados que surgiam... Era o meu brinquedo ótico, uma espécie de Zootrópio, sem saber ainda o que isso era!

Os tempos de decisões para o Futuro chegaram na escolha de Cursos a seguir, e as dificuldades financeiras aliadas um pouco à ignorância de outras possibilidades fizeram-me enveredar pelo universo da Contabilidade... O que claro, se revelou uma claríssima má aposta, e portanto com alguma dificuldade mas com uma grande vontade, consegui convencer os meus pais a apostarem em mim e a me ajudarem a entrar no Curso de Arte e Design na Escola Tomás Cabreira em Faro, e depois no Curso de Design e Multimédia pela Universidade do Algarve, sendo no ano de 1993 a primeiríssima vez que toquei num computador, e fiz do Paintbrush do Windows um grande amigo, ao qual se sucederam outros amigos como o Corel Draw, o Autocad, e um amigo que destruiu a minha vida, o 3D Studio, um bicho que ainda só funcionava em ambiente DOS, mas que pela possibilidade de criação e animação de objetos me fazia esquecer de comer e dormir.

Em 1995 surge pela primeira vez um filme em Animação 3D, o "Toy Story-Os Rivais" da Pixar. Este filme foi um marco para mim, não só pela diferença que marcava em termos estéticos dos filmes em Animação até à altura, como pelo facto de ter sido feito numa tecnologia que eu próprio estava a explorar, e portanto assumi aquele ponto na minha vida como uma espécie de confirmação de um rumo a seguir.

Hoje, mais que interesse, amo a Animação, às vezes um pouco demais.

M.L: Quais são as suas referências nesta área?
C.J: As minhas referências são muito variadas, e elas revelam-se mais ou menos presentes em função sobretudo do tipo de projeto que estiver a desenvolver na altura, e do conceito estético que mais persistir na minha memória e mais me fizer entrar na história/situação que pretender ilustrar.

Por causa das séries e filmes em Animação da infância, sou fã da estética e da dinâmica do anime, e adoro o trabalho de Hayao Miyazaki e do seu Studio Ghibli; Katsuhiro Otomo; e Mamoru Oshii.

Walt Disney e Pixar são referências cada vez mais incontornáveis, pela qualidade e quantidade de propostas não só estéticas como também narrativas.

Gosto bastante também do fantástico trabalho de Alexander Petrov; e de Bill Plympton.

E claro, Salvador Dalí; Monet; Cézanne; Mondrian; (Vincent) Van Gogh; William Blake; Escher; (Pablo) Picasso; (H.R.) Giger; Rafael Bordalo Pinheiro; Bernini, entre tantos outros cujas obras me fazem viajar ao imaginar a sua obra em movimento!

M.L: Como é que se prepara para cada projeto de animação em que se envolve, tendo em conta que este tipo de projeto demora mais tempo para ser concretizado?
C.J: Com tempo precisamente. O 1º filme que fiz foi "Super-Caricas", foi a minha estreia como realizador em 2002, e fi-lo num período em que estava desempregado. Foram 9 meses fechado em casa a trabalhar sozinho, para no fim ter uma primeira experiência em Cinema que outros pudessem ver e apreciar, ou não... Joguei-me às feras basicamente! E não correu assim tão mal, o filme estreou no Festival de Avanca em 2003, e acompanha ainda hoje edições especiais e retrospetivas. Foi um dos primeiros filmes em Animação 3D em Portugal. E a inspiração foi basicamente nos jogos tradicionais da minha infância, onde voava entre jogos eletrónicos com carrinhos de Fórmula 1 ou naves espaciais, e corridas na terra com caricas. Tudo misturado, deu um puto a brincar com um jogo eletrónico de caricas que voam numas pistas muito aluadas até ao momento em que a sua mãe, já farta de o chamar para jantar, o vem buscar por uma orelha... Claro que isto foi também inspirado em factos reais!

O 2º filme "Esperânsia" em 2006, exigiu um pouco mais de investigação, quis fazer um filme Português, inspirado na sua História e na sua Cultura, estudei um pouco da Mensagem de Fernando Pessoa; um pouco de Ordens Religiosas; um pouco de Lendas de Mouras Encantadas; e de Amores Impossíveis. E durante 11 meses, desde mais ou menos das 22h às 2h da manhã e aos fins de semana (pois já não estava desempregado) trabalhei num filme que julgo ser único no género, um Fado sci-fi. Uma mulher espera à beira de um precipício que o seu amado, um guerreiro da Nova Ordem de Cristo, volte da viagem inter-dimensional onde embarcou. Espera toda a vida, e quem sabe depois!

O 3º filme "Conto do Vento" (2010), foi uma nova aventura, desta vez o argumento foi partilhado com Nelson Martins, meu amigo e sócio da nossa produtora KotoStudios. Na verdade foi o Nelson que teve a ideia original e partilhou comigo. Gostei logo à partida do mote, uma história de Bruxas contada pelo Vento. E durante cerca de 1 ano e meio deixámos embrenhar na floresta de histórias de familiares e de terras do interior para que conhecêssemos melhor os preceitos e as tradições das gentes. Fui até passar a noite de fim de ano a uma aldeia no Norte para entrar melhor no espírito. Depois, a fase de criação das personagens, que deveriam refletir também as suas vivências e profissão para que haja uma melhor identificação do público com as personagens que propomos. Foi uma fase muito estimulante pois trabalhámos com um talentoso amigo, o Filipe Lizardo, que não só concebeu visualmente as personagens, como um dia nos surpreendeu com as mesmas personagens em massa. O que foi extraordinário para a fase de modelação em 3D. A "Conto do Vento" tinha ainda uma particularidade, que nos obrigou a levar mais tempo de investigação e experimentação sobre a melhor forma de pudermos contar esta história! Queríamos que o espectador se sentisse levado pelo Vento. Filmámos o Vento em reações e em situações diversas. Analisámos o toque; a velocidade; o som; o nível de distorção; e adicionámos um pouco de Impressionismo à decisão de fazermos tudo num único plano de sequência de 12 minutos. E assim se passaram 5 anos até acharmos que estava pronto. E o resultado, é que com grande orgulho, a "Conto do Vento" conta com 23 prémios, sendo o maior prémio, sem desprimor para os outros, a presença em competição no Annecy 2011, o maior Festival de Animação do Mundo... Depois de não ter sido sequer selecionado no mais consagrado Festival de Animação em Portugal.

Seguiu-se uma outra aventura, de teor mais conceptual. "15 Bilhões de Fatias de (-t)+Deus" (2012) é o meu 4º e último filme, por enquanto, e a inspiração ocorreu a propósito das últimas descobertas da Ciência sobre o Bosão de Higgs ou a apelidada Partícula de Deus. Interesso-me bastante sobre Física Quântica, e gosto de pensar sobre a Origem do Universo quer na versão Científica quer na versão Religiosa, e por isso este último filme funde os conceitos das duas numa explicação alternativa sobre a origem do Universo. Sem qualquer pretensiosismo e de uma forma algo esquizofrénica, o filme retrata através de uma imagética própria, uma discussão familiar entre Deus e os seus Pais que basicamente não o querem deixar sair de casa (a sopa primordial antes do Big Bang), ordem a que Deus não obedece e resolve... e tal! Em termos plásticos inspirei-me nos cortes transversais frequentemente utilizados na Biologia e na Geologia, para passar a ideia de que o que vemos a cada instante são "fatias" de Tempo.

M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, até agora, durante o seu percurso na Animação?
C.J: A "Conto do Vento" sem dúvida, não só pelo desafio criativo, como pela possibilidade de trabalhar com uma equipa de amigos, desde o João Paulo Nunes e o fantástico trabalho na banda sonora e sonorização, até ao Filipe Lizardo na criação das personagens, o António Costa Valente e toda a equipa da Filmógrafo, os nossos amigos atores que connosco encenaram várias situações para melhor pudermos animar as personagens. E depois claro, a reação do público quer seja a de elogios ou críticas que também as houve. Mas diria que foi até à data o projeto com mais impacto em que participei/criei.

M.L: Em 2014, fez uma curta-metragem de animação que homenageava “Alien-O Oitavo Passageiro” (1979) de Ridley Scott a propósito dos 35 anos da sua estreia celebrados nessa altura, onde contava o seu ponto de vista do que aconteceu ao extraterrestre após o fim da longa-metragem (https://www.youtube.com/watch?v=XKXSXSdrL0M). Como vê o percurso que a saga tem desenvolvido desde o seu início até agora?
C.J: “Alien” é uma saga que se enquadra nos meus 2 géneros cinematográficos preferidos, a Ficção Científica e o Terror. E da saga, “Alien-O Oitavo Passageiro” de Ridley Scott é sem dúvida o meu preferido a vários níveis. Não é só pela fantástica colaboração de Giger na criação do mais inspirador monstro de sempre, pois todos os monstros a seguir são filhos ou parentes do Xenomorph. Como na conceção credível de Scott de um universo novo por explorar a bordo de um punhado de personagens que refletem as características e particularidades de nós próprios e nos mostram como enfrentaríamos ou não o nosso maior medo.

São várias as situações durante o filme que merecem destaque, uma das mais óbvias como é a do Xenomorph romper no peito de Kane (John Hurt) pode ser interpretada da forma mais imediata que é a ser uma cena altamente impressionante pela violência, pela surpresa e até pelo nojo que pode causar nos mais sensíveis, e isso por si só é já altamente compensador ao realizador, causar o impacto pretendido. Mas num outro layer está uma reflexão quase provocação ao espectador sobre violação, não só de mulheres (como quase aparece numa outra cena onde a cauda do Alien inicia um trajeto muito revelador pelas pernas acima de Lambert (Veronica Cartwright) como violação do Homem como espécie quer na sua integridade física quer nos seus direitos.

Sendo “Alien” um filme que aparece no pós-Vietname e em plena Guerra Fria, estas questões faziam parte da mentalidade da altura, e Scott retrata-as metaforicamente. Até o facto de Ripley (Sigourney Weaver) ser a única sobrevivente da Nostromo, é uma tomada de posição em relação aos direitos das mulheres.

Estas questões e tantas outras fazem de "Alien-O Oitavo Passageiro" um primeiro filme dificilmente superável por uma continuação, como não chega a acontecer na minha opinião com "Aliens-O Reencontro Final" (1986) de James Cameron onde a fórmula se reduziu basicamente a mais Aliens e mais armas com um apelo ao sentimento materno de Ripley por Newt (Carrie Henn) e da Rainha pelos seus filhos.

No 3º filme, repleto de problemas de produção antes e durante as filmagens, David Fincher fez o melhor que conseguiu a um guião débil na estrutura, no entanto havia algo de novo no Dragão que o filme anterior não mostrou que era a capacidade de adaptação. Vemos numa cena um Alien sair de dentro de um Touro, e é desta vez algo ainda mais bruto e mais veloz e com a capacidade de correr nas 4 patas. E vemos uma Ripley em conflito consigo mesma a partir do momento em que sabe que dentro de si se forma uma Rainha. Ela é o Homem e o Monstro, e o Monstro é agora mais Humano, e por isso ainda um maior perigo para a Humanidade, pois pode ser aproveitado como arma pelo Homem (pela Weyland Industries) e assim Ripley decide matar-se e ao monstro na cena fantástica de se jogar para dentro da fornalha no preciso momento em que a Rainha lhe rompia o peito. As questões essenciais de sobrevivência e adaptação da espécie voltam a estar no cerne da saga... Se não fossem os problemas que aconteceram antes e durante a rodagem, “Alien 3-A Desforra” (1992) poderia ficar na História com uma obra-prima.

Depois veio o 4º filme, “Alien 4-O Regresso” (1997), de Jean-Pierre Jeunet, e a escolha deste realizador eu ainda não a entendo, não creio que seja com "O Fabuloso Destino de Amélie Poulain" (2001) ou "Delicatessen" (1991), duas obras magníficas de resto, que se parte para a aventura de fazer um “Alien”. É certo que dos outros 3 realizadores dos filmes anteriores, só Cameron já tinha dado algumas provas no mesmo género de filme, mas Jeunet, acaba por ele próprio se calhar ser o Alien em toda a saga, pois faz rir em vez de aterrorizar. E parece-me que o guião tinha todo o potencial para ser uma outra grande obra pois pega ele também numa das maiores controvérsias da Humanidade, a Clonagem. Não posso dizer que não gosto, até tem momentos muito bem conseguidos como a destruição do laboratório das experiências falhadas da mistura do ADN de Ripley com o do Xenomorph, ou a cena de perseguição dos aliens debaixo de água, mas tudo cai por terra naquela terrível cena final do Alien com cara meio humana... Mau, muito mau... Bastava só terem feito as pazes com o Giger!

Quanto às atrocidades cometidas em nome da faturação rápida com a mistura de franchises como é o caso dos AVP (“Alien vs. Predador” (2004-2007), nada a dizer. Nada a dizer de bom claro está, porque é na minha opinião uma forma rápida de aniquilar os 2 melhores títulos de monstros da História do Cinema de Ficção Científica.

Em traços gerais, a Saga "Alien" é sobre colonização; sobrevivência e adaptação de uma espécie num novo ambiente.

A Saga "Predador" (1987-2010) é sobre uma espécie de guerreiros que caça outras espécies.

E agora esperemos então pelo 5º filme da saga, que obviamente me deixa muito curioso e expectante não só por ter o Neill Blomkamp como realizador, como também pelas poucas imagens conceptuais que navegam pela Internet. Preocupa-me um pouco os boatos que dizem que o argumento vai 'desprezar' os últimos 2 filmes por não serem do agrado da maioria dos fãs... Acho de alguma indelicadeza para com os realizadores e toda a equipa que participou neles com toda a dedicação, mas a ver vamos!

E entretanto, como fã, e sonhador, resolvi, a propósito do 35º aniversário do "Alien", fazer uma homenagem ao filme, e pensei que poderia estender um pouco o final do original, pois creio haver abertura para isso. O final do original acaba com Ripley a espetar um arpão no peito do Alien que com esforço tenta ainda voltar para o interior da nave. Ripley consegue aceder aos comandos da nave e queima o Alien com os propulsores que o expelem para o espaço. E pronto, ficamos nós com a ideia de que o Alien morreu. Mas terá morrido? Ash (Ian Holm), o médico e cientista que se revelou um androide, diz a determinada altura que é uma criatura excecional com um alto poder de adaptação. E portanto, nesta pequena homenagem de 4 minutos resolvi explorar essa capacidade de adaptação, fazendo com que o Alien derive pelo espaço e vá lentamente formando um casulo protetor até ser apanhado pela gravidade de um planeta. Ao entrar na atmosfera o casulo explode em pedaços e o Alien aos gritos começa aos poucos a desintegrar-se, acabando por desaparecer. Um novo dia recomeça naquele planeta, que agora conta com uma nova espécie nas partículas da sua própria atmosfera. O título começa a aparecer como no original, mas em vez de escrever ALIEN, escreve outra coisa.

M.L: Em 2007, fundou a KotoStudios que é um estúdio dedicado à animação e trabalha para qualquer área audiovisual. Como é que surgiu a ideia de fundar o estúdio?
C.J: A KotoStudios surgiu principalmente da vontade de dar largas à imaginação rodeado de amigos. Gostamos de pensar em projetos que na sua forma global constituam um desafio quer em termos plásticos quer em termos narrativos. As curtas-metragens que desenvolvemos são por excelência o laboratório ideal para esse tipo de experiências, mas aplicamos a mesma filosofia e a mesma vontade a qualquer tipo de projeto seja ele de carácter mais comercial; institucional ou promocional. Para isso contamos com um leque de colaboradores em várias áreas desde o design gráfico à fotografia, e com parcerias especializadas noutras áreas como a realidade aumentada ou o video mapping. Desta forma podemos pensar em projetos tão diversos como jogos e aplicações interativas, ou espetáculos de palco onde conseguimos misturar a performance de um artista com conteúdos multimédia específicos. Temos ainda competências nas áreas de guionismo e realização em imagem real, o que neste momento nos permite estar a desenvolver projetos para televisão e online.

M.L: Como vê, atualmente, a Animação, a nível global?
C.J: A explodir, em todas as direções, e a misturar-se com todos os géneros não só do Cinema, mas basicamente com tudo o que mexe! Nos jogos é por demais evidente: as personagens; os ambientes; e todo e qualquer elemento que despolete uma ação ou reação no jogador, tem uma animação especifica ou foi concebido para! Qualquer aplicação interativa tem no mínimo um ícone com uma pequena animação que chame a atenção para uma determinada ação. Um simples desbloquear do ecrã de um telemóvel tem um efeito animado. Mas é nas séries de TV e nos filmes onde a Animação brilha em toda a sua glória. Na conceção das personagens, onde o aspeto e a forma como se exprimem, refletem uma preocupação e um cuidado na definição psicológica de cada uma, de forma a criar um sentimento específico no espectador. Nos cenários, que mais ou menos fantasiosos ou mais ou menos realistas servem para uma maior imersão e credibilidade na proposta do mundo que se apresenta. E claro, na escrita. Escrever para um filme em Animação, não é simplesmente uma sequências de piadas. Um filme em Animação como por exemplo "Frozen-O Reino do Gelo" (2013) da Disney, tem as mesmíssimas regras de escrita que o "Alien", embora depois sirvam histórias completamente diferentes. E depois há ainda uma questão sensível que merece algum debate e que irá com certeza ser cada vez mais pertinente à medida que a tecnologia avança, e que se prende exatamente com a definição do que é um conteúdo em Animação. Pegando num exemplo muito concreto, "Game of Thrones" (HBO) é claro que se define na sua essência como uma série de ficção em imagem real num mundo de fantasia, mas uma enormíssima percentagem da série quer na manipulação digital das personagens quer dos cenários é de grosso modo Animação. Qualquer um dos 6 filmes que já vimos da Saga "Star Wars", e à medida do avanço tecnológico, foi em crescendo tornando-se cada vez mais num filme em Animação com recurso a imagem real, naquilo onde sobretudo ainda é bastante difícil controlar de forma credível, como a expressividade facial humana. Surgem cada vez mais propostas híbridas, embora possam não ser percetíveis ao espectador, pela qualidade crescente da manipulação/animação digital, e serão cada vez mais audazes e capazes de atrair o espectador para os seus mundos, com histórias e personagens mais ou menos complexas, e isso não tem mal nenhum e ainda bem que assim acontece! Mas se continuar nessa altura a tentar definir um conteúdo como Imagem Real ou Animação, vai ser muito difícil chegar a alguma conclusão! Talvez a Animação deva, em alguns conteúdos, distinguir-se claramente em termos gráficos, dos aspetos que definem o mundo real, para que seja mais fácil enquadrá-la numa categoria específica! Duas últimas considerações sobre esta questão: os apoios a financiamento de obras pelo ICA, repartem-se de grosso modo em Cinema em Imagem Real e Cinema em Animação. Eu tenho neste momento uma obra em desenvolvimento onde só me faz sentido quer pela história quer pelas personagens fazer um híbrido, e fico na dúvida não só em como apresentá-la a possível financiamento como a eventual avaliação de um júri formatado para uma só categoria! E a "Conto do Vento", foi uma curta-metragem em Animação produzida pela Kotostudios que venceu, entre vários, o MOTELx-Festival Internacional de Cinema de Terror de Lisboa em 2011. O que na altura levantou alguma polémica por se tratar precisamente de um filme em Animação! Sei que tenho uma opinião contrária à grande maioria dos Realizadores e Produtores com quem partilho a minha vida profissional, que julgam de alguma injustiça serem avaliados numa mesma secção não só por um júri de um Festival como também pelo Público, percebo, e só meramente por uma questão de organização, concordo em que se diferencie. Mas no que toca à qualidade plástica e narrativa de um determinado conteúdo, e nos dias de hoje, a Animação não só está ao lado de qualquer conteúdo em Imagem Real, como várias vezes se sobrepõe nos mesmos aspetos, e portanto, ou os conteúdos em Imagem Real se incrementam em qualidade, para fazerem fase às exigências crescentes de um Público, ou só teremos de futuro filmes em Animação sejam eles a carvão ou em manipulação!

M.L: Tem sido premiado nos últimos anos pelas suas curtas-metragens de animação. Como é a sua relação com os prémios?
C.J: São essencialmente um reflexo de um trabalho bem feito que agradou a muita gente. É claro que me deixa muito contente esse feedback, não só pelos prémios como a presença em Festivais de renome internacional onde é sempre bom receber elogios e críticas do Público em geral. Depois os prémios guardam-se, e espera-se é que o maior prémio seja a possibilidade de continuar a desenvolver mais projetos interessantes que agradem igualmente, que sejam esses também premiados e que recomece o ciclo. E que de ciclo em ciclo se tenha a felicidade de conhecer e trabalhar com pessoas que nos ensinem a fazer e ser cada vez melhores.

M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na área da Animação?
C.J: Sobretudo disponibilidade para aprender e partilhar. O mundo da Animação é tão mais 'rico' quanto maior for a Imaginação do Animador, se conseguirmos imaginar, conseguiremos quase de certeza reproduzir o que imaginámos com as ferramentas que escolhermos. Por isso é importante saber que ferramentas existem, testá-las, brincar com elas, esticá-las, dobrá-las à nossa vontade, para que se consiga dominar e domesticar o deslumbre e aplicar o conhecimento à história que se quer contar. E a procrastinação é uma coisa terrível, mas combatível com disciplina e organização. Definir tempos para determinadas tarefas e tentar executá-las com responsabilidade. Parecem coisas que nada têm a ver com Animação, mas são os pilares para se conseguir encarar a Animação como uma carreira. E depois claro, depende sobretudo das aspirações e da possibilidade financeira. É mais provável que se consiga um maior sucesso em países como a França ou os EUA, onde a Animação é cultivada pelos Governos e pelas Empresas com Escolas e Festivais de renome internacional e onde o Público que adora Animação ajuda a construção de uma Indústria, do que em Portugal onde é sempre com muito esforço e paciência que se consegue concluir um projeto, na maior parte das vezes sem qualquer ajuda do Governo nem de Investimento Privado pois infelizmente não faz parte da Cultura do nosso País. Em suma, é bastante difícil, mas com verdadeiros amigos e muita dedicação, fica mais fácil.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem desenvolvido até agora na Animação?
C.J: É positivo sem qualquer dúvida, é a possibilidade de me puder dedicar à Animação o que mais me deixa feliz, mas ainda é um balanço relativamente pequeno! Comecei a nível profissional em 1997 e o meu primeiro filme só aconteceu em 2002. Trabalho sobretudo em publicidade e isso dá-me a possibilidade de experimentar vários estilos e misturar várias técnicas de Animação. E com os avanços tecnológicos novas portas se abrem para novas experiências e por isso sinto e sei que terei sempre muito que aprender.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
C.J: Estou neste momento em fase de produção de duas curtas-metragens em Animação: "f*" que brinca com os géneros do Terror e da Ficção Científica numa metáfora à utilização do Poder, neste caso do e para o Mal; e "Sob Os Teus Olhos", uma paixão improvável em pleno Oceano Atlântico com o final das Invasões Francesas de 1808 como pano de fundo, numa homenagem em termos estéticos à Azulejaria Portuguesa. Em fase de pré-produção uma outra curta-metragem em Imagem Real e Animação, de tom bucólico e mágico, que abordará o tema da Passagem, da Mudança, e de Novos Ciclos.

Depois são vários os projetos, uns mais em segredo que outros, na fase de pré-produção, duas longas-metragens em Animação: "Kurika" e "Lusitana-DS"; dois espetáculos de palco com conteúdos híbridos que anunciaremos em breve; e uma série de ficção.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
C.J: Contribuir de facto para a criação de uma Indústria de Cinema em Portugal. Temos muita coisa boa: Bons profissionais; Excelentes cenários; Histórias fantásticas. Não temos é dinheiro, e que não venham alguns a dizer que se fazem bons filmes com trocos, isso contribui muito pouco para a criação de uma Indústria que se quer alimentada obviamente com Público, não só Português de Portugal que infelizmente é pouco, mas de todo e qualquer Português do Mundo, e obviamente com todos os outros que não sendo Portugueses, se identifiquem com as histórias que se contam. O Cinema em Portugal tem de começar a emigrar, levar para fora o que fazemos cá dentro, obviamente com a qualidade com que os de fora estão habituados, para que sejamos tomados a sério e apetecíveis aos grandes mercados. Só dessa forma conseguiremos retorno suficiente para alimentar condignamente melhores profissionais; para conseguir manter estruturas; e desenvolver estratégias. Há um longo caminho a ser feito nesse sentido, e eu gostava de sentir verdadeiramente que estou a segui-lo. Talvez com uma primeira Longa-Metragem.ML

"As Criadas" na Casa de Teatro de Sintra até 8 de Novembro


Desde 23 de Outubro que está em cena na Casa de Teatro de Sintra, a peça "As Criadas" de Jean Genet, encenada por Paula Pedregal e protagonizada por Alexandra Diogo (http://www.mlisboaentrevista.blogspot.pt/2015/06/mario-lisboa-entrevista-alexandra-diogo.html), Sofia Borges e Nuno Machado.

Escrita originalmente em 1947 e em cena até 8 de Novembro, retrata 2 irmãs (Alexandra Diogo e Sofia Borges) que trabalham como criadas numa casa. Conscientes da sua insignificância, levando uma vida de submissão, confinadas ao apartamento de uma Senhora rica, bela e bondosa que as mantém isoladas do mundo e mergulhadas na mais profunda solidão, elas sonham libertar-se da sua condição de servidão e para tal decidem matar a Patroa. Na ausência da Senhora, todas as noites se apoderam do quarto da própria, bem como das roupas e jóias, e aí ensaiam a sua morte numa representação na qual uma faz o papel de Senhora e a outra de criada. Neste jogo de faz de conta, no qual elas elegem a Senhora como objeto do seu ódio que também é amor, da sua admiração que também é inveja, descarregam todo o seu rancor e raiva mas nunca conseguem concluir a cena. No entanto, perante a iminência dos seus planos serem descobertos, acabarão por dar um desfecho inesperado às suas vidas.

Mário Lisboa

sábado, 24 de outubro de 2015

"Breviário para um Extermínio Silencioso" no Clube Estefânia até 15 de Novembro


Estreou no passado dia 22 de Outubro no Clube Estefânia em Lisboa, a peça "Breviário para um Extermínio Silencioso" de Mike Bartlett, encenada por Rui Neto (http://mlisboaentrevista.blogspot.pt/2015/06/mario-lisboa-entrevista-rui-neto.html) e protagonizada por Carla Chambel (http://mlisboaentrevista.blogspot.pt/2015/09/mario-lisboa-entrevista-carla-chambel.html), Isabel Medina (http://mlisboaentrevista.blogspot.pt/2011/09/mario-lisboa-entrevista-isabel-medina.html) e Roger Madureira.

Uma produção da Escola de Mulheres e em cena até 15 de Novembro, esta história escrita originalmente em 2008 retrata o confronto invisível entre Indivíduo e Instituição, numa sátira social, onde submissão e sobrevivência são elementos-chave e de frágil equilíbrio.

Mário Lisboa

terça-feira, 6 de outubro de 2015

Brevemente...

Entrevista com... Cláudio Jordão (Realizador/Animador)

Mário Lisboa entrevista... Elizabeth Bochmann

Filha da atriz Celia Williams e do músico Christopher Bochmann, o interesse pela representação surgiu naturalmente e nos últimos 11 anos tem desenvolvido um percurso promissor como atriz. Apaixonada pela sua arte e sedenta por novas experiências e oportunidades nesse aspeto, recentemente participou na longa-metragem de terror, "Inner Ghosts", de João Alves e está prevista para estrear em 2016, e co-protagoniza a peça "Black Comedy" de Peter Shaffer, encenada por Barbara Monteiro, e vai estar em cena entre 8 e 24 de Outubro no Estrela Hall em Lisboa. Esta entrevista foi feita no passado dia 5 de Setembro.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
E.B: Ambos os meus pais têm carreira nas artes (a minha mãe também é atriz, e o meu pai é músico), portanto, a partir de muito jovem, tive teatro e música à minha volta. Apesar de ser extremamente tímida, rapidamente descobri a alegria de me transformar noutras personagens e, como resultado, saí da casca.

M.L: Quais são as suas referências, enquanto atriz?
E.B: Creio que se pode aprender muito apenas fazendo. Eu comecei a atuar aos 12 anos, no teatro The Lisbon Players em Lisboa. Através desta experiência prática e observando os outros, acho que aprendi uma das lições mais valiosas. Aos 18 anos, fui estudar teatro na Universidade de Londres, que foi uma experiência fabulosa e adorei ter a oportunidade de aprender tanto sobre teatro e representação. Enquanto aprendi muito sobre técnicas que uso ainda agora, uma grande parte do que se ensinava eram coisas de que não gostei particularmente. Aprendi estudar as técnicas, ao ponto de descobrir o que funcionava melhor para mim. Ao longo dos anos, comecei a construir o meu próprio estilo, sendo este o que melhor se adequa a mim. Cada ator é individual, e penso que o mais importante é ser verdadeiro a si próprio, e isso cada um tem que descobrir a melhor maneira para si de o atingir.

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, até agora, durante o seu percurso como atriz?
E.B: É uma pergunta muito difícil de responder. Diferentes trabalhos têm-me marcado de maneiras diferentes, seja por causa do papel em si ou por causa da situação que me encontrava no momento da sua realização. Aos 16 anos, representei “Perdita” em “The Winter’s Tale” de (William) Shakespeare e nesse momento, foi o papel maior e mais importante que tinha alguma vez feito. Em Londres, estive numa peça que estreou a minha atuação na Inglaterra e como resultado, tive a sorte de ir para o Festival de Edimburgo em Agosto de 2010. E então veio uma série de produções depois da universidade, quando regressei para Lisboa - “Juliet” em “Romeo and Juliet”, um sonho meu desde pequena; “Relatively Speaking”, a minha primeira verdadeira comédia; “Até Amanhã!”, a minha estreia em língua portuguesa; “Eliza Doolittle” em “Pygmalion”, outro sonho; etc. Mais recentemente, estive envolvida no filme “Inner Ghosts”, que foi o meu primeiro trabalho numa longa-metragem. Sendo assim, eu não tenho um único trabalho que me tem marcado mais, todos eles têm sido extremamente importantes para mim e qualquer futuro trabalho também o será.

M.L: É filha da atriz Celia Williams e do músico Christopher Bochmann. Como vê o percurso que os seus pais têm desenvolvido até agora?
E.B: De certa forma, os meus pais foram a minha inspiração ao longo dos anos, uma vez que ambos têm trabalhado muito para chegar onde estão agora. Eles têm uma paixão pelas suas carreiras que é admirável, e acredito que é a razão pela qual chegaram aonde estão hoje.

M.L: Em 2014, protagonizou a peça “Pygmalion-Pigmalião” de George Bernard Shaw e encenada pela sua mãe, na qual inspirou o musical “My Fair Lady-Minha Linda Senhora”. Na sua opinião, acha que encontrou mais maturidade ao participar nesta peça em termos de texto, personagem e dimensão?
E.B: Cada vez mais, percebo que estou constantemente a desenvolver como atriz com cada trabalho que faço. Olho para trás e vejo trabalhos que fiz no passado e percebo que, se os repetisse agora, teriam, obviamente, maior maturidade em termos de interpretação do texto, de elaboração da personagem e de dimensões gerais de compreensão. Nesse sentido, sim, acredito que encontrei maior maturidade através da participação nesta peça, mas não necessariamente por causa da personagem ou a peça em si, mas porque vou aprendendo constantemente e vou desenvolvendo as minhas capacidades com cada peça que faço. Dito isto, representar a personagem de “Eliza Doolittle” foi um dos maiores desafios que tive até agora e trabalhei muito para ter a certeza de que estava a fazer justiça à maravilhosa personagem criada por George Bernard Shaw.

M.L: Como vê, atualmente, o teatro e o audiovisual (Cinema e Televisão), a nível global?
E.B: Acho que, infelizmente, as artes ainda são subvalorizadas como uma escolha de carreira e há uma enorme diferença entre salários e comportamento. Se tiver sucesso, é tratado como realeza e pago mais dinheiro para cada trabalho do que a maioria das pessoas pode sequer sonhar. Por outro lado, o artista que não tiver atingido esse nível de sucesso é pedido para trabalhar por quase nada, sendo que a sua paixão e o seu amor pelo trabalho é suposto valer como recompensa suficiente. Parece haver muito pouco no meio entre os dois extremos, o que torna muito difícil sustentar-se unicamente nesta carreira.

M.L: Estreou-se como atriz em 2004 com a peça “Twelfth Night-Noite de Reis” de William Shakespeare no Estrela Hall em Lisboa. Que balanço faz destes 11 anos de carreira?
E.B: Como já tenho explicado, aprendi muito ao longo dos anos através da prática, pondo as mãos na massa! Com certeza, haverá papéis que hoje em dia seria capaz de interpretar provavelmente com maior profundidade ou maturidade, mas nunca me arrependo de um único trabalho, porque cada um tem me ajudado a desenvolver e crescer como atriz e tornar-me o que sou hoje. Também não acredito que já atingi o meu melhor, vou continuar a aprender e crescer como atriz até ao dia em que me reformar, algo que espero nunca fazer!

M.L: Recentemente, participou na longa-metragem de terror, “Inner Ghosts”, de João Alves, escrita por Paulo Leite (que também produz) e conta também, por exemplo, com a participação da sua mãe. Como é que surgiu o convite para participar neste projeto?
E.B: Uma atriz amiga minha enviou-me no Facebook um link para o anúncio, uma vez que disse que estavam à procura de atores que falavam Inglês como língua-mãe, residentes em Lisboa. Escrevi-lhes um email e recebi um convite para tomar café com o Paulo (Leite) para falar do projeto. Uma coisa levou a outra, e foi-me oferecido o papel de Elsa.

M.L: Em “Inner Ghosts” interpreta Elsa, uma famosa artista gráfica que passou boa parte da sua vida a ver fantasmas e demónios e que agora tem que enfrentar uma entidade que a tem atormentado e se tornou demasiada violenta. Como é que se preparou para o papel no que diz respeito ao tema do sobrenatural?
E.B: É um tema difícil de preparar, porque faltam provas e ninguém sabe se existe ou não (só se pode acreditar ou não), mas fiz um pouco de pesquisa sobre o mundo sobrenatural e vi alguns documentários no YouTube, etc. A maior parte da preparação veio ao discutir as cenas do filme com os outros atores e vendo as opiniões diferentes que cada um tinha sobre o mundo sobrenatural. Quando se trata de coisas específicas, tais como a forma de reagir a fantasmas e demónios, teve mesmo que ser uma questão de deixar aparecer naturalmente a emoção ou reação ao fazer a cena. O exemplo mais memorável foi quando tive de gritar pela primeira vez, muito raramente tenho a oportunidade de gritar no dia-a-dia e, na realidade, nunca o tinha praticado. No primeiro take, pensei apenas, “vou deixar que o meu corpo reaja de forma natural". O grito que saiu foi incrível, eu não sabia que o tinha dentro de mim! É importante preparar o máximo possível, mas também é preciso deixar algumas coisas aparecerem naturalmente.

M.L: “Inner Ghosts” está prevista para estrear em 2016. Que expectativas têm em relação a este projeto?
E.B: Estou muito ansiosa para ver o filme! Realmente espero que seja um sucesso, não só para mim e para todos os envolvidos no filme, mas também para o cinema em Portugal e especificamente para este género. Portugal não é bem conhecido pela produção de filmes de terror, e seria fantástico se “Inner Ghosts” pudesse ser o primeiro de muitos mais projetos semelhantes.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
E.B: Estou prestes a começar os ensaios para uma peça com os The Lisbon Players (“Black Comedy” de Peter Shaffer). Além disso, tive que começar um trabalho fora do teatro por alguns meses, para ajudar a pagar as contas! Espero passar o próximo ano a alternar entre trabalho e novas experiências e oportunidades como atriz.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
E.B: Há tanta coisa que nunca fiz... Eu quero fazer tudo! Já me fizeram essa pergunta no passado e digo sempre a mesma coisa, não sei o que quero fazer, mas quando surgir algo que eu não tenha feito, então vai ser isso.ML

quarta-feira, 30 de setembro de 2015

Brevemente...

Entrevista com... Elizabeth Bochmann (Atriz)

Mário Lisboa entrevista... Carla Chambel

Estreou-se na representação em 1995 com a peça "A Disputa" de Marivaux e encenada por João
Perry no Teatro da Trindade e foi o mote para um notável percurso como atriz que já conta com 20 anos de existência e passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão (onde entrou em produções como "A Febre do Ouro Negro" (RTP), "Lusitana Paixão" (RTP), "Inspetor Max" (TVI), "A Ferreirinha" (RTP), "Até Amanhã, Camaradas" (SIC), "João Semana" (RTP), "Jura" (SIC), "Vingança" (SIC), "Resistirei" (SIC), "Bem-vindos a Beirais" (RTP), "Poderosas" (SIC). Uma das atrizes mais dotadas da sua geração, desde Dezembro de 2014 que é Vice-Presidente da Academia Portuguesa de Cinema, e co-protagoniza a peça "Breviário para um Extermínio Silencioso" de Mike Bartlett e encenada por Rui Neto, na qual vai estrear no Clube Estefânia em Lisboa no próximo dia 22 de Outubro. Esta entrevista foi feita no passado dia 20 de Setembro.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
C.C: Bom, desde pequena fui estimulada pela escola e em casa a criar um gosto pela leitura em voz alta, de poesia, prosas, a cantar. Mais tarde, já no secundário, ao ver um espetáculo do Teatro Meridional (“Ki Fatxiamu Noi Kui”, 1992) fiquei deslumbrada com aquela linguagem e, em conjunto com outros colegas, fundámos o nosso primeiro grupo de teatro. Foi então que descobri o conservatório de teatro, a dita Escola Superior de Teatro e Cinema de Lisboa, e percebi que me podia formar como atriz, aprender com mestres e tirar um curso. Também foi quando comecei a ir ver teatro a todo o lado que podia: Comuna, Bando, Meridional, Cornucópia… Foi muito importante, naquela época, ver como se fazia.

M.L: Quais são as suas referências, enquanto atriz?
C.C: Houve professores que me marcaram profundamente: António Feio, João Mota, Maria João Serrão, Luca Aprea. Mais tarde, como profissional fui aprendendo com outros colegas e há pessoas que admiro muito pela forma como trabalham, como se entregam: Miguel Seabra, Luísa Cruz, Ivo Canelas, Carla Galvão. E em todos os trabalhos vou encontrando colegas com os quais tenho pontos de afinidade e aprendizagem que também se tornam referências para mim. A Lúcia Moniz foi um destes últimos casos.

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, até agora, durante o seu percurso como atriz?
C.C: É difícil escolher. Cada trabalho é como um muro que eu tenho que estudar a melhor estratégia de como o vou escalar até conseguir chegar ao topo e transpô-lo para o outro lado. E do outro lado há tantas coisas novas para ver! São essas coisas que muitas vezes nos surpreendem durante o trabalho e que torna tudo muito mais desafiante e gratificante.

No teatro posso dizer que a “Ditosa” da “História do Gato e da Gaivota que a Ensinou a Voar”, do Teatro Meridional, foi um desses muros que deu muito gozo transpor e de certo modo voar a partir dele. E, claro que fazer uma “Julieta” de (William) Shakespeare é um sonho concretizado.

No cinema foi muito desafiante fazer a subcomissária de polícia no filme “Quarta Divisão” (2013) de Joaquim Leitão. Uma personagem muito distante de mim, que exigiu um empenho a nível físico, de destreza e atitude emocional que não pratico todos os dias.

Por último na televisão é indiscutível que a “Marina” de “Bem-vindos a Beirais” (RTP) me marcará por muito tempo, não só pelo sucesso do projeto como pelo espírito de família que se criou ao longo de dois anos e tal de gravações.

M.L: Entre 2007/08, participou na telenovela “Resistirei” que foi exibida na SIC, na qual interpretou a personagem Júlia Mascarenhas. Que recordações guarda desse trabalho?
C.C: Ironicamente o trabalho fez jus ao nome da novela. Foi um trabalho de resistência, onde o muito empenho da equipa e da produção foi posto de parte pela então nova direção da SIC. Gravámos o projeto até ao fim mesmo depois da novela sair do ar. Ainda assim guardo excelentes memórias, nomeadamente o trabalho com grandes atores como o Rui Luís Brás, o Nuno Melo, a Carla Maciel… e uma equipa incansável.

M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção nacional?
C.C: Vejo o teatro sob grandes mudanças, e no meu ponto de vista para melhor. Mas falo da vontade dos artistas em fazê-lo, não da parte de quem nos governa. Fiquei muito feliz com a iniciativa recente do Teatro Nacional D. Maria II, dirigido atualmente pelo Tiago Rodrigues, de abrir gratuitamente as portas ao público durante três dias e criar uma avalanche de filas que só mostra que as pessoas querem ir ao teatro! Essa dinâmica de proximidade é cada vez mais importante desenvolver, desmistificar o erudito da cultura. Ela é e deve ser para todos e acessível a todos!

A ficção encontra-se numa fase em que a tecnologia já permite uma produção mais simplificada e barata dos conteúdos. Ainda assim sinto que há um grande investimento nos produtos para grandes massas e investimento insuficiente para conteúdos mais alternativos. A Academia RTP está a fazer um trabalho interessante a esse nível, assim como os festivais de curtas-metragens que vão ocupando cada vez mais as programações dos cineteatros a nível nacional, dando a conhecer as jovens promessas.

M.L: Em 2015, celebra 20 anos de carreira, desde que se estreou como atriz com a peça “A Disputa” de Marivaux e encenada por João Perry no Teatro da Trindade em 1995. Que balanço faz destes 20 anos?
C.C: São 20 anos de constante aprendizagem. Gosto de trabalhar com as pessoas e por isso, retiro sempre uma aprendizagem do trabalho com elas. Isto serve para as boas experiências mas também para as menos boas. Tem sido um percurso feito de muito trabalho, muito empenho, alguns “nãos” como resposta, e felizmente muitos “sins” que me têm permitido mostrar várias valências. Gosto de saltar de companhia em companhia, não ficar no mesmo canal por muito tempo, conhecer diferentes realizadores. Isso tem tornado a minha experiência enquanto atriz muito mais rica. Tenho medo de estagnar. Julgo que a sorte também me tem acompanhado e tem colocado no meu caminho excelentes desafios que me obrigam a superar-me.

M.L: Como lida com o público que acompanha sua carreira há vários anos?
C.C: É sempre agradável quando alguém nos aborda e manifesta o seu apreço pelo nosso trabalho. Seja presencial ou virtualmente. Hoje em dia o Facebook também é um veículo para essas mensagens às quais tento responder sempre que posso. Também atento às críticas que fazem ao meu trabalho. É importante termos um ponto de vista do espetador. Perceber se o tocámos ou não e quais as razões. A verdade é que o meu trabalho é feito para eles e por isso é muito importante para mim que chegue até eles.

M.L: Recentemente, participou na série “Bem-vindos a Beirais” que está em exibição na RTP. Já alguma vez imaginou que a série tivesse o sucesso que tem tido até agora?
C.C: Não, claro que não. Há muito que a RTP estava longe de ter sucessos em ficção e muito menos em horário nobre. Foi um projeto de três meses que se transformou numa bonita viagem de mais dois anos. Houve um espírito de família que se manteve ao longo de todo o projeto. Criou-se uma família beiralense. Cada um de nós ganhou mais uma terra para além daquela em que nasceu e isso vai marcar-nos para sempre. E claro que o público foi fundamental neste processo. Ele escolheu-nos para passar a fazer parte do serão e isso orgulha-nos muito.

M.L: Desde Dezembro de 2014 que é Vice-Presidente da Academia Portuguesa de Cinema. Como vê o percurso que a Academia tem desenvolvido, desde a sua fundação em 2011 até agora?
C.C: Vejo uma vontade sincera de procura na promoção do cinema português e dos seus intervenientes. Os Prémios Sophia são a cara mais visível da Academia e sei que dão muito, mesmo muito trabalho para conseguir pô-los de pé ano após ano. O trabalho é feito a partir da disponibilidade dos elementos da direção e de uma equipa muito reduzida de produção que trabalha ao longo do ano com a Academia. Mas a Academia está a alargar a sua atuação. No ano passado já tivemos, por exemplo, os Prémios Sophia Estudante, que visam premiar o que de melhor se faz nas escolas de cinema de todo o país, apostando claramente na formação como base de aprendizagem da 7ª arte. Um dos trabalhos da Academia também tem passado por fazer e melhorar a sua comunicação, cativar novos associados, procurar mais parcerias. Desenvolve várias responsabilidades, como as de indicar os candidatos aos Óscares, ou aos Prémios Goya. Neste momento está a trabalhar, em conjunto com o ICA, na preparação do Ano do Cinema. E muito mais haveria a dizer. Há uma vontade séria e honesta em fazer melhor pelo nosso cinema. E foi isso que me cativou a entrar para a Academia e oferecer o meu modesto contributo.

M.L: Em 2011, Portugal conquistou o seu segundo Emmy com a telenovela da SIC “Laços de Sangue”, na qual trabalhou como diretora de atores. Como é que se sentiu ao saber que “Laços de Sangue” ganhou o prémio?
C.C: Muito orgulhosa, naturalmente. Foi a minha primeira e única experiência em direção de atores num projeto de ficção e senti que foi uma oportunidade única para conhecer como funciona a máquina para lá das câmaras. É completamente diferente. Ficamos com uma noção maior de como funcionam os vários setores, como se interligam. Também me permitiu conhecer a precariedade em que trabalham os técnicos. 12 horas por dia, 5 dias por semana, são 60 horas semanais. Ganharam ainda mais a minha admiração depois de ter passado por aquela experiência e por me ter sentido como um deles. Claro que depois há louros como os Emmys que são gratificantes receber, mas na verdade, no dia-a-dia, a trabalhar no duro, não significam muito.

M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
C.C: Antes da carreira que procure a formação. Ser ator é uma arte que deve ser cuidada e respeitada como qualquer outra profissão. É uma vida inconstante que se abraça, em que somos constantemente postos em causa. E há uma aprendizagem a fazer ao recebermos um “não” como resposta. Nós somos o nosso instrumento, o objeto da avaliação e por isso há que desenvolver uma estrutura forte que saiba filtrar o que é uma crítica ao nosso trabalho do que nós somos. Daí ser tão complicado quando se trata de crianças ou adolescentes. Eles estão em processo de construção do “eu” e ser demasiado elogiado ou preterido irá afetar a sua auto-estima. Apesar de todo o deslumbramento que esta profissão possa ter, tem momentos muito duros e que nos obrigam a fazer escolhas que nem sempre queremos. Depois há momentos que compensam tudo isto: o “sim” daquele casting tão difícil, aquele ensaio em que sentimos que “chegámos lá”, o aplauso do público, o recorde de audiência, uma crítica de reconhecimento.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
C.C: Neste momento estou em ensaios para um espetáculo na Escola de Mulheres. “Breviário para um Extermínio Silencioso” é uma peça a partir do original “Contractions” de Mike Bartlett. A encenação está a cargo do Rui Neto e estarei em cena com a minha querida colega e amiga Isabel Medina. Irá estrear a 22 de outubro no Clube Estefânia, em Lisboa. Ficará em cena até meados de Novembro. Logo de seguida iniciarei um novo projeto também em teatro que estreará em Março, mas deste ainda guardo segredo porque está em fase de preparação. Por isso é um regresso ao teatro muito desejado ao fim de dois anos de televisão.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
C.C: Tantas coisas. Quando tinha 15 anos e julgava que queria ser veterinária, o teatro atravessou-se na minha vida de forma tão intensa que decidi mudar o meu rumo. E isso passou a ser um mote na minha vida. Não tenho nada como adquirido. Tudo pode mudar de um momento para o outro. Tenho projetos dentro e fora da Arte que gostava de concretizar. Começo a ter um bicho aqui dentro que me diz para encenar, mas ainda não tive a coragem para me lançar. Tenho ideias para um filme e para uma série. Seria um sonho concretizá-los.ML

Fotografia: Cinéfilos.tv/Luís Silveira e Castro