Estreou-se na representação em 1997 com o espectáculo "
O Triálogo ou o vortex cor-de-rosa" no Teatro da Comuna e desde então nunca mais parou. Lutadora e dedicada, também tem acumulado experiência nas diferentes formas de dirigir, tendo-se estreado na realização com o documentário "Terra" em 2018, e recentemente participou no díptico "A Verdade"/"A Mentira", que esteve em cena no Teatro Aberto durante quatro meses e está nomeado para o Globo de Ouro de Melhor Actor de Teatro (Miguel Guilherme). Esta entrevista foi feita, por via email, no passado dia 4 de Junho.
M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
J.B: Desde muito pequena
que ia muito ao teatro, com a minha mãe. Ia ao Festival de Teatro de Almada,
desde muito pequena. Sou de Almada, um concelho que nos anos 80/90 sempre
apoiou muito o teatro e a música, havia muitos grupos de teatro amador. No 9º
ano escolhi a opção de teatro na escola e fui aluna da Luísa Cruz. Foi a minha
primeira professora de teatro! Na altura comecei logo a fazer teatro amador.
Tive um grupo de teatro que se chamava B.O.T.A.-Brigada Organizada de Teatro
Actual. Fazíamos imensos espectáculos. Adorávamos ensaiar, criar...
M.L: Quais são as suas referências, enquanto actriz?
J.B: A Luísa Cruz
é sem dúvida uma delas. Foi muito bom para mim, a primeira vez que trabalhei
com a Luísa. O mais curioso é que estava a fazer um espectáculo com ela, quando
soube que estava grávida do meu primeiro filho. 9 anos mais tarde, ele
estreia-se no cinema, com a Luísa a fazer de sua mãe, no filme “Pedro”, de Laís
Bodanzky.
M.L: Estreou-se como actriz em 1997, com o espectáculo
“O Triálogo ou o vortex cor-de-rosa”, no Teatro da Comuna. Que balanço faz
destes últimos 22 anos?
J.B: São 22 anos
de resistência, em que nunca deixei de trabalhar, mas a inconstância inerente a
esta profissão é o mais desgastante! Principalmente quando não há políticas
culturais que defendam verdadeiramente as artes.
M.L: Sendo uma mulher do pós-25 de Abril, o que é que
aprendeu ao criar o seu monólogo “Coragem Hoje, Abraços Amanhã”, no que toca à
condição feminina?
J.B: Aprendi muito. Foi um
trabalho intenso de recolha de testemunhos de mulheres que foram presas e
torturadas. Há testemunhos e histórias que eu não fazia ideia, mas aconteceram
e não foi assim há tanto tempo. O mais interessante para mim, foi poder dar voz
a essas mulheres. Perceber como suportaram aqueles momentos duros. Gostava
muito de escrever outro monólogo sobre “o outro lado”. Sobre as “pides” que
torturavam. Perceber o que as moviam, o que sentiam! Mas não é fácil! Algumas
dessas mulheres ainda são vivas, mas vivem totalmente no anonimato.
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Joana Brandão no monólogo "Coragem Hoje, Abraços Amanhã" |
M.L: Foi premiada em 2017 com o Prémio Autores de
Melhor Actriz de Teatro pela peça “Constelações”, onde deu um discurso muito
emotivo. Que recordações guarda desse momento em particular?
J.B: Como achei que não ia
ganhar, pensei no que gostaria de dizer, caso ganhasse, mas não me preparei
muito. O espectáculo era muito bonito, muito intenso. A minha personagem tinha
cancro. No dia do primeiro ensaio eu tinha ido ao funeral de um amigo. O meu
discurso foi emotivo porque dediquei o prémio a esse amigo, que morreu de
cancro e à minha amiga (sua mulher), que esteve sempre ao lado dele.
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Pedro Laginha e Joana Brandão na peça "Constelações" |
M.L: Recentemente co-protagonizou o díptico “A
Verdade”/“A Mentira”, de Florian Zeller e encenado por João Lourenço, que
esteve em cena no Teatro Aberto durante quatro meses. Este díptico foi uma
revelação para si no que toca a explorar a natureza das relações?
J.B: Não foi uma
revelação. Com 41 anos a ficção já não me surpreende. A natureza das relações
humanas no dia-a-dia é bem mais complicada!
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Patrícia André, Joana Brandão, Paulo Pires e Miguel Guilherme |
M.L: A encenação/direcção de atores e o ensino têm
sido uma constante descoberta para si principalmente como pessoa?
J.B: A encenação requer
muito trabalho. Muitas escolhas, opções, procura de uma linguagem e forma de
contar uma história. Sobre o que quero falar. A direcção de actores e a docência
(que faço há muitos anos) prende-se mais com a capacidade de poder despertar
ferramentas interiores nos outros. Uma verdadeira descoberta para mim foi a
realização do meu documentário “Terra”. Percebi que é bem mais confortável
estar “do outro lado” da câmara!
M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na representação?
J.B: Verem muitos
espectáculos (teatro e não só), lerem muitas peças de teatro e outro tipo de
literatura, irem muito ao cinema, exposições, etc. e nunca se deixarem
deslumbrar!
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda nesta altura da sua vida?
J.B: Escrever e realizar uma longa-metragem, mas já
estou a tratar disso!ML
Esta entrevista não está sob o novo Acordo Ortográfico