M.L: Quando surgiu o interesse pela Pintura?
M.A.J: O meu interesse
pela Pintura surgiu há muitos anos atrás, por volta dos 11 anos, quando eu quis
“trazer” o Mar para casa. Eu gosto muito do Mar, há muita água e muita emoção
nos meus quadros, eu comecei por pintar seixos e conchas na praia, e de facto
foi esse chamamento da água e da emoção que me levou a pintar. Outra coisa que
me levou a pintar é a cor, eu adoro a cor, a minha infância foi muito colorida,
muito mimada, muito afetiva, e eu sou uma pessoa que gosta de muita cor.
M.L: Quais são as suas influências nesta área?
M.A.J: São várias. Primeiro
são os surrealistas, sem dúvida nenhuma. O símbolo e a metáfora estão sempre
comigo, no liceu eu era conhecida como a “Menina das Metáforas”, e gosto de
transpor isso para os quadros. O plano simbólico está em primeiro lugar, sem
dúvida. Eu gosto de contar as histórias nos quadros, de fazer com que as
pessoas leiam o meu quadro com uma história. Outra coisa que me influenciou
muito foram as viagens, eu comecei a viajar muito cedo (aos 14 anos já estava
em Paris, aos 15 estava em Londres, aos 17 estava na Suécia, etc.), e durante
esse tempo todo eu visitava tudo o que era de Museus e exposições, portanto
absorvi não só o surrealismo, mas tudo o que era de pintura contemporânea que
estava a acontecer, portanto as influências foram múltiplas.
M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, até agora,
durante o seu percurso como pintora?
M.A.J: Foram, pelo menos, dois
trabalhos. Eu pintei um quadro que se chama a “Jóia do Douro” que tem um
cálice, cuja hóstia é o Vinho do Porto. É intensamente provocatório e eu gosto
muito de provocar. Ao mesmo tempo que é simbólico o Vinho do Porto é muito
minha, eu sou tripeira, tenho raízes profundas em Entre-os-Rios no Douro,
portanto é um quadro que me diz muito. Assim como o Medalhão, porque o Medalhão
que corresponde a este quadro tem a ver com a D. Antónia Ferreirinha, é o jeito
dela, é um Medalhão em prata, ouro, de estilo antigo, que tem rubis, e é
fantástico. Também destaco a “Jóia de Alice” que é um quadro sobre a
personagem-título de “Alice no País das Maravilhas” e deu origem a uma jóia
desenhada por mim toda em ouro e esmalte. Esta exposição esteve no Museu
Nacional Soares dos Reis, enquanto que a “Jóia do Douro” esteve no Palácio das
Artes e no Museu do Vinho do Porto, e penso que marcou as pessoas, porque
ninguém ficou indiferente a essas exposições.
M.L: Além da Pintura, também é escritora. Em qual
destas duas funções em que se sente melhor?
M.A.J: Se eu comecei a
pintar, por volta dos 11 anos, os tais seixos e as tais conchas, também foi por
volta dos 11 anos que eu comecei a escrever os meus primeiros poemas, apesar de
só ter publicado o meu primeiro livro aos 15. Há também um impulso de fazer com
que os meus livros tenham uma capa minha, eu gosto que um livro tenha um quadro
meu na capa, e se tenho cor e tridimensionalidade, na palavra eu tenho
histórias para contar e para narrar nos quadros, portanto elas entrecruzam-se e
vão a par.
M.L: Em 2008, fez uma representação única no Mundo ao
transformar os seus quadros em jóias, na qual decorreu no Palacete Viscondes
Balsemão sob o tema “Uma Jóia de Pessoa”, a propósito dos 120 anos do
nascimento de Fernando Pessoa, e foi elogiada pela Rainha Isabel II de
Inglaterra pela sua originalidade. Como é que se sentiu ao receber um elogio
por parte da Rainha por um trabalho seu?
M.A.J: Senti-me finalmente
recompensada. Em Portugal, ainda não fui reconhecida, o Mundo não dá por nada e
eu faço uma coisa única no Mundo, mas a Rainha Isabel II teve a gentileza de
enviar-me uma carta a elogiar o projeto e ela não aceitou uma jóia minha,
porque não podia, pois não fazia parte do protocolo. Isto foi muito bom para
mim e esse trabalho foi muito interessante, porque foi a primeira vez que o fiz
e foi marcante.
M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na área da Pintura?
M.A.J: Tem que ter
criatividade e inovação, são dois alicerces sem o qual um artista não pode
passar. Tem que criar algo diferente, porque hoje em dia toda a gente pinta,
toda a gente escreve, mas o que é que faz de realmente diferente? É isso que eu
tenho orgulho, de facto eu posso dizer que fiz algo único no Mundo.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito, até
agora, como pintora?
M.A.J: Eu acho que é um
ótimo balanço. Tenho 32 anos de Pintura, celebrei em 2012 os meus 30 anos de
Pintura na Livraria Lello que me diz muito, porque a minha fada-madrinha é a
Dalila Lello Pereira da Costa que infelizmente faleceu exatamente nessa altura,
eu já fiz exposições a nível internacional, tenho quadros no Brasil, na Índia,
nos EUA, fiz duas bienais internacionais, fui de facto essa pessoa que fez o
diferente ao transformar quadros em jóias, e espero ainda fazer muito mais em
2015.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda nesta altura da sua vida?
M.A.J: Eu vou publicar o
meu primeiro romance que vai ser sobre Fernando Pessoa e gostava que fosse
adaptado ao Cinema, porque eu quero muito ver um livro meu adaptado ao Cinema.ML
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