segunda-feira, 12 de janeiro de 2015

Mário Lisboa entrevista... Isabel Maria

Desde muito cedo que se interessou pelo Fado e nos últimos anos tem desenvolvido um percurso muito promissor como fadista, tendo lançado em 2011 o seu primeiro álbum intitulado "Viver é Bom". Lutadora e apaixonada pela sua arte, também trabalha como polícia, e, atualmente, está a trabalhar no seu segundo álbum que se vai chamar "Geração Fado". Esta entrevista foi feita na Biblioteca Municipal de Santa Maria da Feira.

M.L: Quando surgiu o interesse pelo Fado?
I.M: Um dia lembro-me de quando era ainda pequenina e fui numa excursão com os meus pais e recordo um café antigo, era Verão e trazia calções e mal chegava com os pés ao chão sentada numa cadeira. Recordo que era um senhor de bigode com os olhos fechados e com músicos atrás dele e os versos que cantou tocaram-me muito que nunca mais os esqueci e a partir daí apaixonei-me pelo Fado.

"PORQUE CHORAS CRIANCINHA
EM CIMA DESSE PENEDO
QUERO IR AO CEMITÉRIO
MAS SOZINHA TENHO MEDO"

"O QUE VAIS LÁ TU FAZER
SE LÁ NÃO MORA NINGUÉM
MORA SIM SENHOR COVEIRO
A CAMPA DE MINHA MÃE"

M.L: Quais são as suas influências, enquanto fadista?
I.M: Depois dessa altura como ouvíamos muito rádio, na altura mais a Rádio Renascença, era a Amália (Rodrigues) que mais me despertava a atenção e ainda bem, pois é e será sempre a nossa grande Diva do Fado.

M.L: Em 2011, lançou o seu primeiro álbum intitulado “Viver é Bom”. Como foi a adesão do público ao seu trabalho de estreia na altura do seu lançamento?
I.M: Foi um trabalho com bastante qualidade, pois trabalhei com uns dos melhores profissionais do mercado tais como Custódio Castelo e Carlos Garcia, com Fernando Nunes nos Estúdios Pé de Vento.

M.L: Tendo em conta que atua, essencialmente, como fadista, gostava de, um dia, experimentar outros estilos musicais?
I.M: Eu amo o Fado e acho que é a expressão musical que se adapta mais ao meu timbre, mas adorava experimentar o Samba, o Flamenco, como também outro tipo de expressão ou até fazer misturas de Fado... Porque não?! Também gosto de Morna, Kizomba, Rock, Jazz... No fundo, adoro Música e sem ela seriamos muito mais cinzentos e nervosos. Às vezes deixam mensagens no meu Facebook a dizer que a minha Música acalma e eu fico muito lisonjeada.

M.L: Como vê, atualmente, a Música, a nível global?
I.M: Acho que se faz muito boa Música e às vezes o mal é que as oportunidades são abertas a quem aparece nas TVs e locais de visibilidade, existem muitos músicos na sombra fantásticos e de grande qualidade, contudo vejo com muito bons olhos o que se tem feito e mesmo sem muitos apoios o pessoal da Música continua a trabalhar e a fazer coisas muito interessantes.

M.L: Além de ser fadista, também trabalha como polícia. Na sua opinião, acha que vale a pena ingressar numa carreira musical, tendo em conta as dificuldades nos tempos atuais?
I.M: Trabalho desde os meus 16 anos e fui estudar à noite desde então, e depois de muitas profissões pois sempre lutei pela minha independência, ingressei na PSP em 1998 e sou Agente da PSP há cerca de 16 anos, o Fado está mais presente na minha vida desde 2011, data em que gravei o meu 1º trabalho discográfico, adorava poder fazer da Música como a minha atividade principal, mas é muito difícil viver da Música atualmente.

M.L: Recentemente, Carlos do Carmo recebeu um Grammy Latino de Carreira e foi alvo de um documentário que brevemente vai estrear comercialmente. Sendo admiradora dele, como vê estas homenagens que o próprio recebeu, tanto a nível nacional como internacional?
I.M: O Carlos do Carmo é para mim uma grande referência e uma personalidade que gostaria de um dia conhecer. Em relação aos prémios, fico muito orgulhosa por ele e gostava que Portugal o considerasse mais, pois normalmente só se fazem estátuas depois de mortos, com a exceção de Cristiano Ronaldo que o merece claro, mas Carlos do Carmo também merece todas as homenagens possíveis em vida.  

M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na área da Música?
I.M: Tem de amar o que faz, não pode ter medo de arriscar, tem de trabalhar muito e é dos meios que conheço com uma concorrência mais feroz. Por isso muita Força.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito, até agora, como fadista?
I.M: Confesso que já ponderei em desistir, as adversidades como disse de uma concorrência feroz, desiludiu-me muito, não existem muitos amigos no meio, tive que adquirir proteção para isso, mas o amor pelo Fado superou essa desilusão e estou cá para continuar. Estou neste momento a gravar o meu segundo trabalho discográfico que terá o nome de "Geração Fado", este nome porque a minha filhota de 9 anos, Sara Inês, já canta e muito bem e resolvi incluir a voz dela neste trabalho, pois já me tem acompanhado a cantar em vários espetáculos pelo País, já cantou no Teatro Sá da Bandeira e no Coliseu do Porto, como também já participou comigo em duas reportagens na SIC e na TVI, onde também cantou. 

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
I.M: Como acabei de dizer tenho em mãos a gravação de “Geração Fado” com a Sara Inês de 9 anos, nos Estúdios T com o meu amigo Teófilo Granja, que vai passar por vários temas já conhecidos como outros originais e é um álbum que vai incluir vários músicos com vários instrumentos, profissionais e amigos e está a dar-me muito prazer fazer este trabalho.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
I.M: Assim de repente... Não me lembro de nada, talvez um Cruzeiro... Estou a brincar (risos)… Em relação ao Fado, tenho estes planos recentes em mente, depois o que vier e vier por bem eu estarei aqui de braços abertos para analisar e pensar e se gostar… aceito e vou em frente... sempre com cabeça e um passinho de cada vez para não tropeçar...ML

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