M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
J.B: Desde muito pequena
que ia muito ao teatro, com a minha mãe. Ia ao Festival de Teatro de Almada,
desde muito pequena. Sou de Almada, um concelho que nos anos 80/90 sempre
apoiou muito o teatro e a música, havia muitos grupos de teatro amador. No 9º
ano escolhi a opção de teatro na escola e fui aluna da Luísa Cruz. Foi a minha
primeira professora de teatro! Na altura comecei logo a fazer teatro amador.
Tive um grupo de teatro que se chamava B.O.T.A.-Brigada Organizada de Teatro
Actual. Fazíamos imensos espectáculos. Adorávamos ensaiar, criar...
M.L: Quais são as suas referências, enquanto actriz?
J.B: A Luísa Cruz
é sem dúvida uma delas. Foi muito bom para mim, a primeira vez que trabalhei
com a Luísa. O mais curioso é que estava a fazer um espectáculo com ela, quando
soube que estava grávida do meu primeiro filho. 9 anos mais tarde, ele
estreia-se no cinema, com a Luísa a fazer de sua mãe, no filme “Pedro”, de Laís
Bodanzky.
M.L: Estreou-se como actriz em 1997, com o espectáculo
“O Triálogo ou o vortex cor-de-rosa”, no Teatro da Comuna. Que balanço faz
destes últimos 22 anos?
J.B: São 22 anos
de resistência, em que nunca deixei de trabalhar, mas a inconstância inerente a
esta profissão é o mais desgastante! Principalmente quando não há políticas
culturais que defendam verdadeiramente as artes.
M.L: Sendo uma mulher do pós-25 de Abril, o que é que
aprendeu ao criar o seu monólogo “Coragem Hoje, Abraços Amanhã”, no que toca à
condição feminina?
J.B: Aprendi muito. Foi um
trabalho intenso de recolha de testemunhos de mulheres que foram presas e
torturadas. Há testemunhos e histórias que eu não fazia ideia, mas aconteceram
e não foi assim há tanto tempo. O mais interessante para mim, foi poder dar voz
a essas mulheres. Perceber como suportaram aqueles momentos duros. Gostava
muito de escrever outro monólogo sobre “o outro lado”. Sobre as “pides” que
torturavam. Perceber o que as moviam, o que sentiam! Mas não é fácil! Algumas
dessas mulheres ainda são vivas, mas vivem totalmente no anonimato.
M.L: Foi premiada em 2017 com o Prémio Autores de
Melhor Actriz de Teatro pela peça “Constelações”, onde deu um discurso muito
emotivo. Que recordações guarda desse momento em particular?
Joana Brandão no monólogo "Coragem Hoje, Abraços Amanhã" |
J.B: Como achei que não ia
ganhar, pensei no que gostaria de dizer, caso ganhasse, mas não me preparei
muito. O espectáculo era muito bonito, muito intenso. A minha personagem tinha
cancro. No dia do primeiro ensaio eu tinha ido ao funeral de um amigo. O meu
discurso foi emotivo porque dediquei o prémio a esse amigo, que morreu de
cancro e à minha amiga (sua mulher), que esteve sempre ao lado dele.
Pedro Laginha e Joana Brandão na peça "Constelações" |
M.L: Recentemente co-protagonizou o díptico “A
Verdade”/“A Mentira”, de Florian Zeller e encenado por João Lourenço, que
esteve em cena no Teatro Aberto durante quatro meses. Este díptico foi uma
revelação para si no que toca a explorar a natureza das relações?
J.B: Não foi uma
revelação. Com 41 anos a ficção já não me surpreende. A natureza das relações
humanas no dia-a-dia é bem mais complicada!
Patrícia André, Joana Brandão, Paulo Pires e Miguel Guilherme |
M.L: A encenação/direcção de atores e o ensino têm
sido uma constante descoberta para si principalmente como pessoa?
J.B: A encenação requer
muito trabalho. Muitas escolhas, opções, procura de uma linguagem e forma de
contar uma história. Sobre o que quero falar. A direcção de actores e a docência
(que faço há muitos anos) prende-se mais com a capacidade de poder despertar
ferramentas interiores nos outros. Uma verdadeira descoberta para mim foi a
realização do meu documentário “Terra”. Percebi que é bem mais confortável
estar “do outro lado” da câmara!
M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na representação?
J.B: Verem muitos
espectáculos (teatro e não só), lerem muitas peças de teatro e outro tipo de
literatura, irem muito ao cinema, exposições, etc. e nunca se deixarem
deslumbrar!
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda nesta altura da sua vida?
J.B: Escrever e realizar uma longa-metragem, mas já
estou a tratar disso!MLEsta entrevista não está sob o novo Acordo Ortográfico
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