M.L: Como é que surgiu o interesse pela representação?
C.S: Isso não é assim uma
coisa que surgiu assim de repente. Foi lentamente e com interesse e gosto por
fazer coisas na escola, no liceu e depois mais claramente na faculdade, onde de
fato fiz parte de um grupo cénico dos estudantes de Direito e aí assim as
coisas começaram a ter de tomar de fato um aspeto mais claro sobre a
representação para além de anteriormente a isso, durante o todo o tempo de
faculdade ter tido uma oportunidade de colaborar em muitos programas de rádio,
portanto só voz, mas em que se fazia entre peças e adaptações de romances de
língua portuguesa na altura para a Emissora Nacional que agora é a RDP.
M.L: Quais são as suas grandes influências, enquanto
atriz?
C.S: Acho que não tenho.
Acho que as minhas grandes influências não são grandes, são todas, são todas as
pessoas e com todas as pessoas se pode aprender… De qualquer modo houve pessoas
importantes pelo caminho: ao nível de atores, o Armando Cortez que foi uma
pessoa muito importante e depois outras pessoas como o João Perry… É difícil
apanhar muitos nomes nesta altura, porque eu acho que todas as pessoas me têm
ensinado muita coisa, todas as pessoas têm de fato coisas para dar sobretudo as
pessoas com mais saber fazer destas coisas, com mais técnica, com mais talento
também, mas a técnica e a experiência da profissão é uma coisa muito importante
que uma pessoa pode de fato estar sempre atento e há muitas pessoas que podem
de fato ajudar e dar coisas sem saber às vezes que estão a dar.
M.L: Fez teatro, cinema e televisão. Qual destes
géneros que lhe dá mais gosto de fazer?
C.S: Gosto de laranjas, gosto de bacalhau cozido e
gosto de carne assada, portanto isto não tem nada a ver umas coisas com as
outras… Aliás, em resumo gosto de comer e no caso destas coisas gosto de
representar, portanto são modos diferentes de o fazer em situações diferentes.
O cinema tem uma técnica e um modo de estar, a televisão é assim uma coisa
engraçada, porque é um mergulhar de repente e já está, tem que ser ali logo e o
teatro é um trabalho mais demorado, de certo modo profundo… É diferente, só que
tudo técnicas diferentes, mas representar é representar… Mas pode-se escolher,
não tenho a versão em nenhuma destas coisas pelo contrário… Qualquer um dos
meios (Cinema, Teatro e Televisão) gosto. Até gosto de fazer rádio.M.L: Qual foi o trabalho num destes géneros que a marcou, durante o seu percurso como atriz?
C.S: Tal como disse em relação às pessoas, todos os trabalhos nos podem deixar ensinamentos no sentido de como se faz ou como não se faz e é sempre dinâmico o trabalho de representação e o trabalho de agarrar um espetáculo, uma peça de teatro ou um guião… É sempre diferente, as pessoas vão evoluindo e com elas evoluem a sua maneira de “atacar” os vários trabalhos…
M.L: Já fez telenovelas. Este é um género televisivo
que mais gosta de fazer?
C.S: Como já lhe disse,
tudo tem vantagens e desvantagens. Tudo tem coisas que nós gostamos mais e
coisas que nós gostamos menos, mas gosto de fazer telenovelas e gosto de fazer
séries… A telenovela é mais condensada e portanto mais cuidada, embora seja
mais condensada é mais cuidada, porque há mais atenção a dar às coisas que são
mais curtas… A outra é uma história que tem que esticar e que tem que abranger
muitas perspetivas e portanto é mais rápida a fazer, porque tem mais coisas a
abranger, mas gosto de fazer telenovelas. Não há dúvida nenhuma.
M.L: Como lida com a carga horária, quando grava uma
telenovela?
C.S: Enquanto nós estamos
a trabalhar dum modo geral, a carga horária não pesa muito, mas quando acabamos,
5 minutos depois de acabar, a coisa fica muito pesada. Mas enquanto nós estamos
a trabalhar, este trabalho é um trabalho que ele próprio regenera muito a
energia pessoal… Claro que as pessoas cansam-se também, mas regenera muito a
energia, o trabalho de representar… Ele próprio gera uma adrenalina própria que
gera a energia e portanto ajuda a continuar.
M.L: Um dos seus trabalhos mais marcantes em televisão
foi a telenovela “Os Lobos” (RTP), onde interpretou a personagem Inês. Que
recordações guarda desse trabalho?
C.S: Foi há uns largos anos. Não sei se terá sido um
dos mais importantes ou não, mas recordo com muito prazer. Foi talvez uma das
primeiras telenovelas que eu fiz com uma ponderação própria, de intervenção e
portanto lembro-me disso com saudade… Não porque gostaria de voltar atrás, mas
porque foi de fato uma boa experiência.M.L: “Os Lobos” é da autoria de Francisco Nicholson. Como foi trabalhar com ele?
C.S: Eu não trabalhei com o Francisco Nicholson. O guião era dele, quem faz o guião muitas vezes acaba por não se encontrar. Agora acontece menos isso, mas muitas vezes as pessoas acabam por não se encontrar com a pessoa que escreve… De qualquer modo, gosto imenso do Francisco Nicholson e sempre me dei muito bem com ele, mas mais ao nível de colegas.
M.L: Qual foi o momento que mais a marcou, durante o
seu percurso como atriz?
C.S: Eu acho que a vida
nos corre como a água quer dizer não tem assim sobressaltos, se tivesse
sobressaltos era sobressaltos pela negativa… Também pode haver se calhar
momentos muito importantes (um prémio ou uma coisa qualquer…), mas de um modo
geral as coisas correm mais ou menos tranquilamente… Com alegrias, com
tristezas, mas nada assim de muito sobressaltante e de muito marcante para
aparecer aquele marco assim muito grande… Não sei, acho que não.
M.L: Como vê atualmente o teatro e a ficção nacional?
C.S: Lá vão indo. Mas
também não tenho um olhar assim muito negativo em relação a isso… Eu acho que o
teatro tem sobrevivido com todas as dificuldades sobretudo de situação
financeira, mas tem sobrevivido e tem avançado e a prova é isso: vim de Lisboa
para o Porto trabalhar por alguma razão, porque é forte o apelo e em relação à
ficção há muita gente nova e isso é muito bom, quer dizer nova, não é por serem
novos, mas por serem novos a aparecer, portanto há de fato (no cinema
particularmente) muito mais nomes… Há muita gente de
fato a aparecer e portanto eu acho que isso é um sinal de interesse das
próprias pessoas em fazerem coisas. Não tem sido efetivamente muito positivo é
o apoio dado a estas coisas do ponto de vista das super-estraturas (dos
Governos, dos Ministérios), não tem sido fácil… Eu acho que até tem sido muito
difícil, quase que desapareceu… Neste momento (estamos a falar em Setembro de
2012), praticamente existe uma certa vontade de apoio destas entidades
governamentais oficiais para apoiar e para mostrarem que estão interessados em
fomentar estas artes performativas. Mas não sei, não me parece de qualquer modo
que esteja à beira de desaparecer. Qualquer delas pelo contrário.
C.S: Não faço ideia nenhuma. Se calhar gostava, mas não tenho a certeza, não experimentei, portanto é um bocado difícil e nestas coisas da língua (como eu não sou bilingue, embora fale algumas línguas para além da minha), estas coisas que tem uma interferência muito forte da língua às vezes é difícil, a pessoa fica “limitada”, quer dizer com a própria língua nós sabemos fazer coisas e dizer coisas e surpresávamos de uma maneira muito mais genuína e muito mais profunda e muito mais imediata e muito melhor do que uma língua que não é nossa por muito bem que a gente saiba falar a não ser de fato de casos de pessoas que tenham tido uma experiência de vida que as tornam bilingues (bilingue não só por falar duas línguas, mas porque as duas línguas são equivalentes), quer dizer a pessoa expressa-se e dá de si com a mesma energia com uma língua ou com uma outra… Mas não sei, não sei responder, não posso falar muito sobre aquilo que não sei, toda a gente gostaria de fazer um filme com o Woody Allen, por exemplo e de quem gosto muito, o Martin Scorsese e com o (Pedro) Almodóvar, porque é um homem com uma sensibilidade muito especial relativamente às mulheres… É evidente que a pessoa gostava, mas eu acho que há sempre um passo a menos dado, quando se está a falar uma língua que não é nossa a não ser que se fizesse o filme na minha língua e depois que as dobrassem… Não era a mesma coisa, mas para mim dava-me prazer.
M.L: Atualmente está a participar na peça “Casas
Pardas” de Maria Velho da Costa, com adaptação e dramaturgia de Luísa Costa
Gomes e encenação de Nuno Carinhas e que vai estar em cena no Teatro Nacional
S. João no Porto entre os dias 6 e 23 de Dezembro. Como estão a correr os
ensaios?
C.S: Os ensaios estão a
correr muito bem. É muito interessante, porque é um texto extraordinário de uma
escritora extraordinária chamada Maria Velho da Costa. Penso que a adaptação da
Luísa Costa Gomes é maravilhosa e com uma leitura de um texto com o qual eu
estou em completa sintonia. O Nuno Carinhas é um encenador extraordinário, é um
paraíso, é um oásis nesta terra trabalhar com uma pessoa como ele (não quer
dizer que não haja mais oásis, mas ele é um oásis certamente) e portanto estou
mesmo muito satisfeita.
M.L: Como é que surgiu o convite para participar nesta
peça?
C.S: Tem que perguntar a
ele, porque eu não sei. Quando ele me convidou, eu disse logo que sim. Agora
como é que surgiu, ele é que sabe.
M.L: “Casas Pardas” conta com a participação de atores
como Anabela Teixeira, Emília Silvestre, Rute Miranda, Leonor Salgueiro e Jorge
Mota. Como é trabalhar com eles?
C.S: Quanto melhor são os parceiros, melhor é para toda a gente. Estas
coisas da representação não se ganha por evidência: ou uma pessoa é muito boa e
depois as outras não são tão boas… Não, não é, é quanto melhor, melhor… Quanto
mais experiência, quanto mais tudo isso tiver o parceiro, melhor é o trabalho
de cada um. É muito intercâmbio, isso é um intercâmbio positivo ou negativo se
for em coisas desagradáveis, mas a nível de trabalho é muito intercâmbio…
Está-se sempre a ganhar todos os dias, é um “toma lá, dá cá” em que se o “toma
lá…” for bom, o “dá cá” vai ser melhor… Alimentam-se mutuamente, é intercâmbio…
Dizem os ingleses: “to act is to react”
(“representar é reagir”). E isto é
muito verdade, portanto se houver uma boa motivação, quanto melhor for a
motivação, melhor vai ser a reação, portanto está certo.
M.L: Que expectativas têm em relação a esta peça?
C.S: Chegar ao fim e espero
que as pessoas entendam e que gostem dela, claro. Mas isso é sempre para todas
as peças, não é em particular nesta peça. As peças fazem-se para serem vistas e
para serem entendidas e portanto é isso que se espera de um espetáculo teatral.
Um espetáculo teatral é feito para ser visto, é por isso que é expectado, para
ser olhado, para ser ouvido, para ser recebido. Portanto, é isso que eu espero
que esta peça consiga. Às vezes, os espetáculos teatrais não conseguem passar,
não conseguem ser entendidos, não conseguem ser compreendidos. Espero que esta
não tenha esse problema. Não tem, com certeza. Pelo contrário.
M.L: Foi presença regular nas produções da autoria de
Francisco Moita Flores. Que recordações guarda dessa colaboração?
C.S: Muito boas
recordações e tenho muita pena que elas não continuem. A produtora do Moita
Flores que era a Antinomia não se aguentou, que é muito frequente neste país:
as coisas boas às vezes não têm oportunidade de continuar a viver. Tenho muita
pena, porque eram de fato produções em que eu gostei muito de estar e digo isso
muito frequentemente ao Moita Flores que quando ele voltar está perdoado e que
quero que ele volte e que conte comigo (recentemente, Francisco Moita Flores
escreveu uma série policial para a TVI intitulada “O Bairro” que vai estrear
brevemente).
M.L: No passado dia 24 de Março (Dia Mundial do
Teatro) foi homenageada pela Junta de Freguesia de Carnide. Como é que se
sentiu ao saber que ia ser homenageada pela Junta?
C.S: Eu corria o risco de
quase não saber que ia ser homenageada e que eles preparavam-se para fazer isso
com uma certeza absoluta no dia em que eu fosse levada a pretexto de qualquer outra
coisa. Por acaso, uns dias antes disseram-me, porque tiveram receio que a coisa
corresse mal ou que tivesse alguma coisa para fazer e que eu não pudesse
aparecer, portanto acabaram por dizer. Mas foi uma coisa muito agradável. É
difícil falar sobre isso, mas foi de fato uma coisa maravilhosa.
M.L: Em 2011, Portugal conquistou o seu segundo Emmy
com a telenovela da SIC “Laços de Sangue” da qual participou. Como vê este
reconhecimento internacional?
C.S: É sobretudo
importante no sentido de divulgação das coisas portuguesas que podem ter a
vantagem de fato de ampliar o conhecimento que os outros têm das nossas
realizações, das nossas obras e isso é muito importante. Por um lado, é
importante, porque é agradável ser reconhecido… Os prémios servem para isso,
para mostrar o reconhecimento das instâncias que os produzem relativamente ao
trabalho de quantas pessoas ou de outros relativos como é o caso da novela e
isso é importante e ao nível internacional é sempre importante. Nós estamos num
mundo cada vez mais “pequeno” e portanto as informações chegam mais rapidamente
a todo o lado e portanto eu acho importante ser visto e ser reconhecido e saber
que pode haver intercâmbio…
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na representação?
C.S: Pense no que é que gosta de fazer, naquilo que
gostaria que fosse a sua vida, como é que quer viver como atriz ou como ator…
Então vá estudar, vá-se preparar, trabalhe muito e seja uma pessoa… Trabalhe,
faça aquilo que gosta e faça-se uma pessoa por esse meio, por essa via… Em todo
o mundo em que se pratique este tipo de atividade, nós podemos estar com imenso
trabalho e ter grandes reconhecimentos, mas a seguir estar um mês, dois meses,
um ano sem nada a acontecer… Obviamente, não há uma relação de causa e efeito…
Não há, portanto é um bocado difícil. Vamos ter de inventar um novo percurso da
carreira, como os autocarros tivessem ser para mudar de linha.
M.L: Quais são os seus próximos projetos (para além de
“Casas Pardas”)?
C.S: Estou à espera de ter
um bocadinho de tempo para pensar nisso. Talvez existem coisas, mas é preciso de ter tempo
precisamente para isso. Para poder escolher, para poder pensar naquilo que se
pode querer fazer ou não e depois também depende muito das coisas que vão
acontecendo pelo caminho. Por exemplo, não fui eu que planeei fazer as “Casas
Pardas”, fui alguém que me convidou e com quem eu estive absolutamente em
sintonia e com uma perspetiva que me agradou imenso logo de imediato sem
qualquer reserva. Nem mesmo deixar Lisboa para ir ao Porto e vim mesmo
alegremente sozinha, porque é um tempo, é um período não muito longo e também
continua depois.ML
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