M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
L.C: O meu interesse pela
representação surgiu desde sempre. Lembro-me desde pequena de vestir-me com
"figurinos" e ficar em frente ao espelho criando várias situações
imaginárias...
M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
L.C: As minhas influências
são da vida e das trocas com as pessoas maravilhosas em que tive o presente da
vida de cruzarem no meu caminho.
M.L: Faz teatro, cinema e televisão. Qual destes
géneros que mais gosta de fazer?
L.C: Eu gosto muito dos 3
veículos, mas sinto que o teatro está mais na "nossa mão". Temos que
lidar com qualquer tipo de situação, sem direito a "cortes" e a
"refazermos outro take". Acho
que o teatro é muito a arte do ator.
O cinema fica mais na mão
do diretor, porque não importa o que façamos, é sempre ele que decide como vai
ficar o resultado final.
A TV cada vez mais está na
mão dos patrocinadores, nas obras abertas fica para o público, enfim, o ator obedece
mais o cronograma no tempo que for determinado pelos autores e diretores. Tudo
isto não exclui o trabalho do ator, que quanto mais estiver preparado, mais
conseguirá dominar o que quer que lhe seja exigido.
M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, até agora,
durante o seu percurso como atriz?
L.C: Todos os trabalhos
que fiz marcaram-me, de verdade. Claro que uns mais que outros, mas cada um
quando termina, deixa sempre a sensação de vazio. Uns deixam muito mais
saudades, mas todos marcam na aprendizagem.
M.L: Além da representação, também tem experiência
como encenadora, diretora de atores, coach
e bailarina. Em qual destas funções em que se sente melhor?
L.C: Realmente, eu
sinto-me privilegiada, porque só faço o que gosto. O que não for "dar prazer"
ou "troca" e "aprendizagem" eu não aceito. Eu entrego-me muito
em tudo o que faço e se não for para ser feliz, não vale a pena.
M.L: Trabalhou como coach e como diretora de atores nas telenovelas portuguesas “Laços
de Sangue” (2010/2011) e o remake de
“Dancin’ Days” (2012/2013) que foram coproduções da SIC e da TV Globo
executadas pela SP Televisão. Que recordações guarda destes dois trabalhos?
L.C: "Laços de
Sangue" foi, para mim, um grande presente. Foi a minha primeira vez em
Portugal, com pessoas encantadoras e competentes e fui muito bem recebida por
todos. Tenho recordações muito emocionantes dessa temporada. Não é a toa que
ganhamos um Emmy, porque a harmonia era uma constante entre todos, atores,
equipa, direção e técnica.
"Dancin' Days"
já não teve o mesmo astral, mas eu sempre procuro tirar de tudo o que faço uma
lição para a vida.
M.L: Depois de ter trabalhado nestas duas telenovelas,
qual foi a impressão que teve do trabalho desenvolvido na ficção televisiva
portuguesa?
L.C: Acho que vocês têm
atores maravilhosos, com equipas competentes e guerreiras. A minha impressão
foi muito boa, e senti que a maioria queria e quis esta troca de informações. Tivemos
trocas de verdade, e foi muito bom.
M.L: Como vê, atualmente, o teatro e o audiovisual
(Cinema e Televisão) no Brasil?
L.C: Não só no Brasil, eu
acho que a TV em geral, infelizmente está numa fase cultural paupérrima, cheia
de futilidades e massificada. Acho que ela representa o Mundo em que estamos
vivendo, onde todos procuram os mesmos hábitos, as mesmas opiniões, as mesmas vontades.
Quem pensa e quer algo diferente é praticamente "linchado" verbalmente
pelas tão usadas "Redes Sociais". Cada povo tem o que busca, quer e
merece, acho a nossa TV aberta uma pobreza culturalmente falando.
Espero que voltemos a querer
e procurar a diversidade. Criticarmos as diferenças através da nossa arte,
também é a nossa função e missão. Como disse anteriormente, hoje em dia esta
"liberdade de expressão" faz com que as pessoas que discordam de
alguma coisa, agridam fortemente aos seus contrários, mas a maioria agride
"sem assinar em baixo".
Nós somos de uma profissão
onde receber críticas assinadas em baixo faz parte, e serve para nossa
reflexão, então não entendo muito esta "coragem" escondida por trás
de computadores e nomes falsos tão "normais atualmente".
No Cinema, estamos numa
caminhada boa e produtiva, com muitas coisas acontecendo.
Na TV, agora temos uma Lei que obriga a Produção Nacional em TVs pagas, o que melhorou o mercado também, com produções de novas séries, incentivando o mercado para todos.
No Teatro, como sempre,
tudo muito difícil. Mas sempre existirão "os apaixonados por esta
Arte", que nunca desistem de tentar para que o espetáculo continue. A luta
com as TVs pagas, Internet, falta de apoio, fica cada vez mais dura, mas eu
tenho a grande esperança que o Teatro nunca morrerá. Tomara!!!
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito, até
agora, como atriz?
L.C: Como atriz talvez
pudesse ter realizado mais coisas, mas por outro lado a diversidade da minha carreira
fez com que eu estivesse em várias áreas diferentes dentro da arte, a minha
Atriz ganhou MUITO com tudo isto.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
L.C: Acabei de terminar
uma temporada no Teatro MuBE Nova Cultural aqui em São Paulo, com o monólogo
"Viúvas de Maridos Vivos" da autoria do Semi Faiad, onde faço 3
mulheres. Agora vamos tentar viajar com este espetáculo. Tomara que dê certo. Eu
sinto muito prazer em representar estas mulheres que são tão verdadeiras na
nossa sociedade de hoje pelo Mundo.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
L.C: Eu tenho como norma
deixar a vida seguir o seu rumo, até porque quando queremos "remar contra
a maré" fica muito difícil a caminhada. Acho que a maturidade trás isto.
Não quero dizer que não tenho sonhos e que não luto por eles, mas procuro
também sentir os ventos da vida para saber onde é melhor navegar em cada
momento. Sempre penso que gostaria de estar numa produção cinematográfica europeia
ou americana com um guião e atores ótimos.
M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da
sua vida?
L.C:
Sempre penso que gostaria de passar um tempo fora do Brasil. Já morei em Nova
Iorque por 6 anos e também já viajei bastante por este mundão de Deus, mas por
ter a alma meio cigana, gosto muito de viajar e viver, sentir, trocar, aprender
com outros povos e suas culturas. Como disse anteriormente e como diz uma letra
de música brasileira, "deixa a vida me levar, vida leva eu".ML
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