M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
D.I: Desde miúdo que me sentia
atraído pelo mundo do espetáculo. Adorava ver na televisão aqueles filmes
musicais dos anos 50. “Serenata à Chuva” (1952) é o meu favorito!
M.L: Quais são as suas influências, enquanto ator?
D.I: São sobretudo
anglo-saxónicas. Não só pela proximidade com a língua, mas porque via muito
cinema americano. O registo naturalista era algo que me agradava e que procurei
reproduzir afincadamente no início da minha carreira. Mais tarde quando tive a
oportunidade de começar a viajar descobri o teatro inglês, o teatro clássico e
o prazer da palavra, os textos, a respiração. Tento no fundo integrar estes
dois universos na minha forma de representar.
M.L: Faz teatro, cinema e televisão. Qual destes
géneros que mais gosta de fazer?
D.I: Teatro. Essa é a grande
escola. Não só porque nos dá tempo para descobrir o que está para além do
texto, mas porque podemos aprofundar os jogos, a contracena. Depois porque é
uma arte viva, efêmera, de partilha com um público real, que sente e respira
connosco. É uma grande injeção de adrenalina.
M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, até agora,
durante o seu percurso como ator?
D.I: Não consigo eleger
apenas um. Houve vários que me marcaram por razões diferentes. O que lhe posso dizer
é que o espetáculo que estou neste momento a fazer, "Ode Marítima" de
Álvaro de Campos, é provavelmente o
mais exigente e mais difícil que já fiz e que me dá proporcionalmente um grande
prazer, apesar de ficar literalmente de rastos!
M.L: Entre 1998 e 1999, participou na telenovela “Os
Lobos” que foi exibida na RTP, da qual interpretou a personagem Jorge Lobo. Que
recordações guarda desse trabalho?
D.I: Trabalhei com o
extraordinário Armando Cortez. Foi um trabalho que me deu muito gozo. Fazia um
malandro, ambicioso e manipulativo, mas que no fundo tinha bom coração. No
final foge com a rapariga pobre por quem se apaixona e deixa a noiva pendurada
no altar!
M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção nacional?
D.I: São realidades
distintas.
O Teatro, como as outras
artes performativas, sobrevive com muitas dificuldades. A falta de capacidade
de produção teve como resultado imediato, estruturas fechadas, espetáculos com
muito poucos atores e com estéticas necessariamente muito pobres. Houve um
enorme retrocesso numa área já de si pouco reconhecida e valorizada.
A ficção nacional tem um
papel essencial nas programações dos canais generalistas, sobretudo através das
telenovelas que são o género mais rentável. As séries, são poucas e tem sido a
RTP, como lhe compete, a fazer essa despesa.
O cinema português está
praticamente parado, apesar do reconhecimento internacional que os poucos
filmes produzidos conseguem granjear.
M.L: Em 2014, celebra 25 anos de carreira, desde que
se estreou como ator profissional com a peça “As Sabichonas” no Teatro Nacional
D. Maria II em 1989. Que balanço faz destes 25 anos?
D.I: Sinto-me muito
felizardo por poder fazer aquilo de que gosto e por ter o reconhecimento do público
pelo meu esforço e dedicação. Espero poder completar pelo menos mais vinte e
cinco anos de atividade, com trabalho, saúde e muito amor!
M.L: Como lida com o público que acompanha a sua
carreira há vários anos?
D.I: Agora bastante
melhor. Consegui vencer a minha timidez inicial que me deixava pouco à vontade
e projetava muitas vezes uma imagem pouco acessível e distante. Hoje recebo com
muito prazer os gestos e as palavras de carinho que me dirigem e tento olhar
sempre nos olhos das pessoas com quem falo, para que sintam que realmente estou
ali, agradecido pelo reconhecimento que me dão.
M.L: Além da representação, também é encenador e
apresentador, e foi diretor artístico do Teatro Maria Matos entre 2006 e 2008 e
do Teatro Nacional D. Maria II entre 2008 e 2011. Em qual destas funções em que
se sente melhor?
D.I: São funções distintas
que pressupõem graus de responsabilidade também distintos.
A encenação é um ato de
paixão, é uma urgência em fazer aquela peça e em trabalhar com aquelas pessoas.
As direções artísticas
foram uma oportunidade que não quis dispensar, de por em prática ideias e projetos
artísticos específicos, pensados para as estruturas em causa e encontrar os
caminhos e as equipas certas para provar que era possível criar novas correntes
de público com uma programação exigente e de qualidade. Em ambos os casos
(Maria Matos e D. Maria II) foram desafios que me deram um enorme prazer, onde
aprendi imenso e dos quais tenho muito orgulho nos resultados alcançados.
M.L: Em 2005, participou na longa-metragem “Animal”
que marcou a estreia da realizadora, produtora e guionista francesa Rose Bosch (escreveu o guião da longa-metragem “1492-Cristóvão
Colombo” (1992) de Ridley Scott) na realização. Como foi trabalhar com ela?
D.I: Foi ótimo. A Rose
confiou em mim e acabou por me dar um dos protagonistas do filme, depois de ter
tido uma discussão com um ator americano e de este se ter despedido. Tive um
dia para me preparar e acabei por conseguir fazer uma personagem que há muito
desejava: um psicopata.
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na representação?
D.I: Procurar formação
adequada. Por mais jeito que se possa ter, ou por mais bonito que se seja, não
chega. Não chega para quem deseja ser um ator a vida toda. É fundamental termos
um aprofundado auto-conhecimento e adquirir e desenvolver instrumentos que nos
dêem a capacidade de responder com profissionalismo às muitas solicitações que
a profissão de ator pressupõe. Noções de corpo, voz, técnicas de representação,
dramaturgia, História do teatro, etc., são apenas algumas das disciplinas que
um futuro ator deve abordar para enfrentar uma profissão que, felizmente, é
cada vez mais exigente!
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
D.I:
Vou continuar com a digressão de “Ode Marítima”, que regressará a Lisboa em
Setembro. E em Outubro começarei os ensaios de “Cyrano de Bergerac” que
estreará em Janeiro no TNDM II.M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
D.I: Realizar um filme! ML
Sem comentários:
Enviar um comentário