segunda-feira, 23 de junho de 2014

Mário Lisboa entrevista... Diogo Infante

Olá. A próxima entrevista é com o ator Diogo Infante. Estreou-se como ator profissional em 1989 com a peça "As Sabichonas" no Teatro Nacional D. Maria II, e desde aí tornou-se num dos mais reputados e brilhantes atores da sua geração, com um percurso que passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão (onde entrou em produções como "A Banqueira do Povo" (RTP), "Na Paz dos Anjos" (RTP), "Os Lobos" (RTP), "A Jóia de África" (TVI), "Regresso a Sizalinda" (RTP), "Noite Sangrenta" (RTP), "Depois do Adeus" (RTP) e "Mundo ao Contrário" (TVI). Além da representação, também é encenador e apresentador, e foi diretor artístico do Teatro Maria Matos entre 2006 e 2008 e do Teatro Nacional D. Maria II entre 2008 e 2011, e, atualmente, protagoniza o espetáculo "Ode Marítima" de Álvaro de Campos e com direção cénica de Natália Luíza, da qual está em digressão, e também participa na telenovela "O Beijo do Escorpião" que está em exibição na TVI. Esta entrevista foi feita no passado dia 26 de Maio.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
D.I: Desde miúdo que me sentia atraído pelo mundo do espetáculo. Adorava ver na televisão aqueles filmes musicais dos anos 50. “Serenata à Chuva” (1952) é o meu favorito!

M.L: Quais são as suas influências, enquanto ator?
D.I: São sobretudo anglo-saxónicas. Não só pela proximidade com a língua, mas porque via muito cinema americano. O registo naturalista era algo que me agradava e que procurei reproduzir afincadamente no início da minha carreira. Mais tarde quando tive a oportunidade de começar a viajar descobri o teatro inglês, o teatro clássico e o prazer da palavra, os textos, a respiração. Tento no fundo integrar estes dois universos na minha forma de representar.

M.L: Faz teatro, cinema e televisão. Qual destes géneros que mais gosta de fazer?
D.I: Teatro. Essa é a grande escola. Não só porque nos dá tempo para descobrir o que está para além do texto, mas porque podemos aprofundar os jogos, a contracena. Depois porque é uma arte viva, efêmera, de partilha com um público real, que sente e respira connosco. É uma grande injeção de adrenalina.

M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, até agora, durante o seu percurso como ator?
D.I: Não consigo eleger apenas um. Houve vários que me marcaram por razões diferentes. O que lhe posso dizer é que o espetáculo que estou neste momento a fazer, "Ode Marítima" de Álvaro de Campos, é provavelmente o mais exigente e mais difícil que já fiz e que me dá proporcionalmente um grande prazer, apesar de ficar literalmente de rastos!

M.L: Entre 1998 e 1999, participou na telenovela “Os Lobos” que foi exibida na RTP, da qual interpretou a personagem Jorge Lobo. Que recordações guarda desse trabalho?
D.I: Trabalhei com o extraordinário Armando Cortez. Foi um trabalho que me deu muito gozo. Fazia um malandro, ambicioso e manipulativo, mas que no fundo tinha bom coração. No final foge com a rapariga pobre por quem se apaixona e deixa a noiva pendurada no altar!

M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção nacional?
D.I: São realidades distintas.

O Teatro, como as outras artes performativas, sobrevive com muitas dificuldades. A falta de capacidade de produção teve como resultado imediato, estruturas fechadas, espetáculos com muito poucos atores e com estéticas necessariamente muito pobres. Houve um enorme retrocesso numa área já de si pouco reconhecida e valorizada.

A ficção nacional tem um papel essencial nas programações dos canais generalistas, sobretudo através das telenovelas que são o género mais rentável. As séries, são poucas e tem sido a RTP, como lhe compete, a fazer essa despesa.

O cinema português está praticamente parado, apesar do reconhecimento internacional que os poucos filmes produzidos conseguem granjear.

M.L: Em 2014, celebra 25 anos de carreira, desde que se estreou como ator profissional com a peça “As Sabichonas” no Teatro Nacional D. Maria II em 1989. Que balanço faz destes 25 anos?
D.I: Sinto-me muito felizardo por poder fazer aquilo de que gosto e por ter o reconhecimento do público pelo meu esforço e dedicação. Espero poder completar pelo menos mais vinte e cinco anos de atividade, com trabalho, saúde e muito amor!

M.L: Como lida com o público que acompanha a sua carreira há vários anos?
D.I: Agora bastante melhor. Consegui vencer a minha timidez inicial que me deixava pouco à vontade e projetava muitas vezes uma imagem pouco acessível e distante. Hoje recebo com muito prazer os gestos e as palavras de carinho que me dirigem e tento olhar sempre nos olhos das pessoas com quem falo, para que sintam que realmente estou ali, agradecido pelo reconhecimento que me dão. 

M.L: Além da representação, também é encenador e apresentador, e foi diretor artístico do Teatro Maria Matos entre 2006 e 2008 e do Teatro Nacional D. Maria II entre 2008 e 2011. Em qual destas funções em que se sente melhor?
D.I: São funções distintas que pressupõem graus de responsabilidade também distintos.

A encenação é um ato de paixão, é uma urgência em fazer aquela peça e em trabalhar com aquelas pessoas.

As direções artísticas foram uma oportunidade que não quis dispensar, de por em prática ideias e projetos artísticos específicos, pensados para as estruturas em causa e encontrar os caminhos e as equipas certas para provar que era possível criar novas correntes de público com uma programação exigente e de qualidade. Em ambos os casos (Maria Matos e D. Maria II) foram desafios que me deram um enorme prazer, onde aprendi imenso e dos quais tenho muito orgulho nos resultados alcançados.

M.L: Em 2005, participou na longa-metragem “Animal” que marcou a estreia da realizadora, produtora e guionista francesa Rose Bosch (escreveu o guião da longa-metragem “1492-Cristóvão Colombo” (1992) de Ridley Scott) na realização. Como foi trabalhar com ela?
D.I: Foi ótimo. A Rose confiou em mim e acabou por me dar um dos protagonistas do filme, depois de ter tido uma discussão com um ator americano e de este se ter despedido. Tive um dia para me preparar e acabei por conseguir fazer uma personagem que há muito desejava: um psicopata.

M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
D.I: Procurar formação adequada. Por mais jeito que se possa ter, ou por mais bonito que se seja, não chega. Não chega para quem deseja ser um ator a vida toda. É fundamental termos um aprofundado auto-conhecimento e adquirir e desenvolver instrumentos que nos dêem a capacidade de responder com profissionalismo às muitas solicitações que a profissão de ator pressupõe. Noções de corpo, voz, técnicas de representação, dramaturgia, História do teatro, etc., são apenas algumas das disciplinas que um futuro ator deve abordar para enfrentar uma profissão que, felizmente, é cada vez mais exigente!

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
D.I: Vou continuar com a digressão de “Ode Marítima”, que regressará a Lisboa em Setembro. E em Outubro começarei os ensaios de “Cyrano de Bergerac” que estreará em Janeiro no TNDM II.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
D.I: Realizar um filme!ML

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