M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
A.M: Desde muito pequena. A
minha mãe tinha uma aluna que dizia que queria ser atriz e levou-me a ver a
primeira peça que essa aluna fez, eu tinha 5 anos, e a partir daí fiquei completamente
fascinada. Essa atriz é a Flávia Gusmão e estreei-me profissionalmente com ela.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
A.M: Eu gosto muito de
estudar e sempre que posso vou fazendo workshops
e reciclando os meus conhecimentos e vou experimentando várias técnicas. A
última técnica sobre a qual eu me debrucei foi a de Michael Chekhov, mas é uma
ferramenta como outra qualquer. Não consigo definir as minhas influências, mas
antes várias correntes que contribuem depois para as minhas ferramentas de
trabalho.
M.L: Faz, essencialmente, teatro e cinema. Gostava de
trabalhar mais em televisão?
A.M: Eu trabalhei bastante
em televisão, durante um período, e é um trabalho diferente, muito exigente.
Estou diferente, estou mais velha, tenho uma filha, e agora que fiz uma pausa e
estive mais focada no teatro, gostava de voltar a fazer televisão.
M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, até agora,
durante o seu percurso como atriz?
A.M: Eu tenho que referir
“A Casa da Bernarda Alba” no (Teatro) São Luiz em 2005, foi encenado pelo Diogo
Infante e pela Ana Luísa Guimarães, e foi o meu primeiro espetáculo
profissional. Eu tinha 18 anos e foi um processo muito rico com quem me
identifiquei muito e aprendi imenso e contínuo a olhar para esta experiência
com carinho e com muitas saudades.
M.L: Em 2010, participou na curta-metragem “Tejo” de
Henrique Pina, da qual interpretou a personagem M. Que recordações guarda desse
trabalho?
A.M: As melhores. Era um
projeto sem dinheiro, o Francisco Batista (o
guionista de “Tejo”) contactou-me para saber se eu estaria interessada em
participar, ele enviou-me o guião e adorei. Acho que há muito poucas pessoas a
escrever bom cinema e a escrever boas curtas-metragens e eu fiquei logo
fascinada. Eles são maravilhosos, têm uma capacidade de trabalho incrível, a
rodagem decorreu maravilhosamente, não houve problemas, gostei muito de trabalhar
com o Filipe Duarte, a equipa toda era incrível, e eu acho o resultado final
maravilhoso. Eu adoro essa curta-metragem.
M.L: “Tejo” foi feita sem dinheiro e também contou com
as participações de Miguel Seabra, Ana Bustorff e Rosa do Canto. Como vê esta
generosidade do elenco em geral em participar nesta curta-metragem sem
remuneração?
A.M: Na nossa vida,
enquanto atores, há muitas coisas que nós temos que fazer como todas as pessoas,
porque estamos a trabalhar, temos que viver, e como qualquer pessoa temos que
pôr comida na mesa, mas há uma parte que nós nunca podemos abdicar que é o
nosso prazer, enquanto artistas, a nossa vontade de fazer coisas boas, coisas
com que nos identifiquemos, e muitas vezes não temos tantas oportunidades de o fazer
na nossa vida profissional. É cada vez mais difícil manter sempre associadas a
questão dos ganhos materiais com os ganhos artísticos, e nesta experiência nós
ganhamos muito artisticamente e pessoalmente.
M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção
nacional?
A.M: Acho que estamos
aproximar de um momento em que vai ser preciso reformular muitas coisas que têm
feito e perceber o que é que vai acontecer. Não há subsídios, não há Ministério
da Cultura, e eu acho que nós temos que pensar muito bem no caminho que estamos
a tentar traçar com o teatro.
A ficção televisiva, salvo
honrosas exceções, tem um formato mais de entretenimento do que um formato de
qualidade.
M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
A.M: Quando era mais
pequena gostava, mas agora não. Obviamente, há pessoas com quem gostava de
trabalhar como o (Pedro) Almodóvar, o (Quentin) Tarantino ou o Woody Allen, mas
ter uma carreira internacional não é uma das minhas prioridades.
M.L: Em 2015, celebra 10 anos de carreira, desde que
se estreou como atriz profissional com a peça “A Casa da Bernarda Alba”, no
Teatro São Luiz em 2005. Que balanço faz destes 10 anos?
A.M: Não sei fazer
balanços. Estou feliz, acho que aprendi muito, quero continuar aprender cada
vez mais e espero poder continuar a trabalhar.
M.L: Qual o conselho que daria, nesta altura, a alguém
que queira ingressar numa carreira na representação?
A.M: Estudar ao longo do
tempo, construir uma auto-confiança quase blindada (é uma coisa extremamente
importante para se conseguir sobreviver neste meio), e nunca perder a tentativa
de fazer sempre o melhor em cada trabalho.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda nesta altura da sua vida?
A.M: Em termos profissionais, eu gostava de fazer uma
longa-metragem, que nunca fiz em 10 anos de carreira.ML
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