M.L: Quando surgiu o interesse pela escrita?
I.G: Desde sempre. Na 3ª
classe escrevi uma peça de teatro. Na adolescência também, além de alguns
poemas em papéis soltos. Comecei pelo jornalismo em 1994, sem nunca imaginar
vir parar ao argumento, em 2004, onde me sinto como peixe na água.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto
guionista?
I.G: Acima de tudo o mundo
real. As histórias que vivo, que me rodeiam e que rodeiam quem está à minha
volta. Desde os amigos à senhora do supermercado e/ou ao casal que janta a meu
lado no restaurante. Leio também sobre tudo um pouco. Quem escreve tem a
obrigação de ter os horizontes abertos e “ver Mundo”.
M.L: Trabalha, essencialmente, na televisão. Gostava
de trabalhar em outras áreas como, por exemplo, o cinema?
I.G: O meu trabalho de
televisão é mais vasto, mas conto já com alguns trabalhos como ghost writer. Confesso que o cinema
seria uma experiência, mas almejo mais a escrita de livros da minha autoria.
M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, durante o
seu percurso como guionista?
I.G: O trabalho que mais
me marcou foi sem dúvida o “Espírito Indomável” (TVI) que escrevi com a Mafalda
Ferreira, a Andreia Vicente e a Cláudia Marques, sob a batuta da Sandra Santos.
Foi uma história complexa, mas muito bem intricada, que me deu muitíssimo gozo
escrever.
M.L: Em 2005, escreveu, juntamente com Rui Vilhena,
Raquel Oliveira e George C. Martins, a telenovela “Ninguém como Tu” que foi exibida
na TVI. Que recordações guarda desse trabalho?
I.G: Foi a minha primeira
experiência como argumentista. Foram 11 meses de escrita muito intensa onde
aprendi muita coisa e descobri que tinha muito mais capacidades para a área do
que alguma vez pensara. Foi sem dúvida uma surpresa. Apaixonei-me pelo
argumento.
M.L: Como vê, atualmente, a ficção nacional?
I.G: Do pouco que tenho
acompanhado e, embora saiba que a Troika
também chegou à ficção nacional, acho que é importante ousar. É preciso, à
semelhança da ficção americana, por exemplo, ter novas histórias, testando
novos modelos e novas formas de as abordar. Se queremos que o público seja
ainda mais exigente temos de o levar a isso. Quem se habitua às séries
americanas, por exemplo, sabe disso.
M.L: Desde o passado dia 16 de Maio que vive em
Inglaterra. O que a levou a querer deixar Portugal e iniciar uma nova fase da
sua vida?
I.G: Esta decisão já
estava tomada há muito tempo e só não se realizou mais cedo por motivos
pessoais. O meu marido veio trabalhar e, obviamente, que a família ter-se-ia de
reunir, mais cedo ou mais tarde. A situação em Portugal, infelizmente,
empurra-nos para estas tomadas de decisão, mas encaro esta fase como uma
aventura. Como outra maneira de abrir os meus horizontes e poder levar isso
também para a minha escrita.
M.L: Nestes últimos tempos, que diferenças é que
encontrou, até agora, entre Portugal e Inglaterra?
I.G: Muitas. Em Inglaterra
a sociedade é deveras organizada. O verdadeiro by the book, enquanto que em Portugal, somos especialistas “no
desenrasca”. No que diz respeito à área da televisão a produção é fantástica.
Há programas tão simples como desenhar para o colega de equipa adivinhar. Coisas
extremamente simples que com uma boa produção e um apresentador desenvolto,
funcionam lindamente. Os anúncios publicitários são também, para quem gosta de
os ver, um verdadeiro elixir de criatividade. Obviamente que isto também é
reflexo de um país com mais poder financeiro que o nosso e que tem uma
multiculturalidade imensa.
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na área do guionismo?
I.G: É importante que quem
queira ser guionista/argumentista tenha noção de que não escreve para si mesmo
e que não tenha a presunção de que apenas a sua visão do mundo é válida.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito, até
agora, como guionista?
I.G: Faz em Outubro deste
ano dez anos que comecei a escrever o “Ninguém como Tu”. A cada projeto novo
dou toda a energia, como se fosse o primeiro, e cada vez mais tenho a certeza
de que nasci, entre outras coisas, também para fazer isto.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda nesta altura da sua vida?
I.G: Tanta coisa… mas gostava de escrever algo que
desperte a nossa consciência para as inevitabilidades da vida, para o facto de
não as controlarmos, mas controlarmos a maneira como reagimos a tudo o que nos
acontece. No Mundo que temos hoje urge usar todas as técnicas que temos para
passar mensagens e deixar de lado as histórias antigas.ML
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