segunda-feira, 16 de junho de 2014

Mário Lisboa entrevista... Catarina Matos

Olá. A próxima entrevista é com a atriz Catarina Matos. Estreou-se na representação em 1983 com o
musical "Annie" no Teatro Maria Matos, cuja encenação esteve a cargo de Armando Cortez, e desde aí tem desenvolvido um percurso como atriz que passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão (onde entrou em produções como "Cinzas" (RTP), "A Senhora das Águas" (RTP), "Amanhecer" (TVI), "Saber Amar" (TVI), "Coração Malandro" (TVI), "Mundo Meu" (TVI), "Nome de Código: Sintra" (RTP), "A Outra" (TVI), "Regresso a Sizalinda" (RTP) e "Pai à Força" (RTP). Além da representação, também é professora, estando a lecionar na escola Primeiro Ato que é especializada em Teatro Musical e, atualmente, está a participar na longa-metragem de ação "Salamandra". Esta entrevista foi feita no passado dia 4 de Junho.

M.L: Faz teatro, cinema e televisão. Qual destes géneros que mais gosta de fazer?
C.M: Sem dúvida, Cinema, embora tenha feito pouco. É (em termos de interpretação) a área com a qual mais me identifico pelo absoluto domínio das emoções face ao enquadramento (tamanho do ator face ao ecrã) e horários de trabalho. Em televisão, o trabalho é muito rápido e por vezes algo insatisfatório: “Mais dois
 takes e a minha interpretação seria excelente, penso!”. O único inconveniente do Teatro (em Portugal) tem a ver com as horas de apresentação. Não sendo notívaga (e apreciando acordar em sintonia com o sol) tenho alguma dificuldade em ter o “pico de energia” necessária para arrebatar o público às 21h30 (hora a que já encerrei os “sistemas”). Arrebato, mas “rebento-me toda”!!!

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, até agora, durante o seu percurso como atriz?
C.M: Marcam-me (normalmente) as personagens mais intensas, os trabalhos mais exigentes e aqueles raríssimos momentos de verdade e entrega absolutos em que sinto que a interpretação foi brilhante (o texto certo, a personagem certa, a contracena (com o ator/atriz) certa, o realizador certo a apanhar os melhores momentos, o melhor cameraman
 a enquadrar esses momentos, a melhor música a dar corpo ao momento (Não é fácil acontecer e depende de tantos…). Saliento a minha participação em “Às Vezes Neva em Abril” no Teatro Aberto sob direção do ENORME João Lourenço (algures no início dos anos 90) em que houve dias em que a interpretação foi de tal maneira intensa que no final do espetáculo não me conseguia sequer lembrar do que tinha feito (de tal modo deixei de ser eu!). Também gostei da personagem Dirce Santos na telenovela “A Outra” (para a TVI) por me ter dado gozo a composição de uma personagem tão distante (e histriónica). No coração, tenho a minha estreia em 1983 no musical “Annie”. Com 11 anos, foi a concretização de inúmeros sonhos: para além de poder representar, cantar e dançar profissionalmente pude fazê-lo ao lado de nomes como Nicolau Breyner, Armando Cortez, José Raposo, Manuela Maria, Noémia Costa, Rita Ribeiro, Maria João Abreu (foi também a sua estreia!)… Aprendi muito…

M.L: Como lida com a carga horária, quando grava uma telenovela?
C.M: Gosto muito de ter de estar no estúdio às 8h00 da manhã e sair às 8h00 da noite ainda que isso implique 12 horas de texto sabido, correrias, mudanças de roupa e um esgotamento absoluto de sentimentos, energia e emoções. Cansam-me mais as esperas entre cenas (que chegam a duas ou três horas…).

M.L: Em 2008, participou na telenovela “A Outra” que foi exibida na TVI, da qual interpretou a personagem Dirce Santos. Que recordações guarda desse trabalho?
C.M: Como em tudo, boas e más! Uma das melhores foi o dia em que a produtora (Rosa Guerra) me ligou, após
 o casting, a dizer que tinha sido selecionada. Depois, veio a terrível sensação de que não tinha nada a ver com esta personagem: uma cozinheira, vidente, angolana… Sou portuguesa, educada dos 3 aos 18 anos no Colégio Moderno (o do Mário Soares), fruto da classe média-alta (Pai médico-cirurgião, Mãe especialista em Educação, embaixadora para a Unesco…) em tudo o oposto da personagem. Acabei por compor a Dirce algo histriónica, mas realista. O público gostou! Diverti-me muito a fazer e dizer o que jamais diria ou faria na minha vida. Como sabe, o nome da minha profissão tanto em Francês (Jouer), como em Inglês (to Play)-(Brincar, brincar, brincar). Foi o que fiz com esta personagem.

M.L: Qual foi o momento que mais a marcou, até agora, durante o seu percurso como atriz?
C.M: O início, em 1983! Para uma criança que cresceu a ver filmes com o Fred Astaire, John Wayne e Errol Flynn, a possibilidade de concretização do sonho de também “sonhar e representar” é o momento mais marcante da minha vida!!!

M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção nacional?

C.M: Quanto à Televisão, acabo por ver mais ficção estrangeira (tanto filmes, como séries), não seguindo tanto quanto gostaria a ficção nacional. Quanto ao Teatro, e por ser Professora numa escola de Teatro Musical, tenho dado por mim, nos últimos anos, a procurar e a ver mais este Género que me fez Atriz, e que ainda está em estado embrionário. De resto, confesso-me como uma “fã” de filmes de ação, fruto de anos de trabalho físico e cultura familiar (e o género também está pouco desenvolvido em Portugal)… Não resisto a ver cerca de 3 filmes por dia…

M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
C.M: Claro e continuo a participar em projetos, embora não se possa chamar a isso “uma Carreira”. Está para estrear um filme na Austrália intitulado “The Second Coming” (
http://www.imdb.com/title/tt2678700/?ref_=nm_flmg_act_1). Fiz Cinema em Inglaterra (“Walk In The Night City”), teatro em Itália e França (“La Principessa di Fez” (eu era a Principessa) e “Macbeth”), gravei nos EUA (“Ferry Street”), filmei em Angola (O Herói (2004), http://www.imdb.com/title/tt0424142/?ref_=nm_flmg_act_10, um filme premiado no Festival de Sundance), gravei em São Tomé e Príncipe e Guiné-Bissau, trabalhei com encenadores franceses, espanhóis, ingleses, argentinos…

M.L: Em 2014, celebra 31 anos de carreira, desde que se estreou como atriz com o musical “Annie”, no Teatro Maria Matos em 1983. Que balanço faz destes 31 anos?
C.M:
Fiz sempre TUDO o que me era possível e não tenho arrependimentos!!! Por esta altura, talvez devesse estar profissional, social e economicamente mais “à frente”. Entre a falta de apoio que as Artes em geral têm, pela parte do Estado (tanto ao nível do apoio, como do reconhecimento e da educação de Públicos), como dos preconceitos que acabam por restringir o acesso a determinados papéis ou projetos, creio que estou onde só podia estar. Continuo a minha formação (estou agora em processo de Doutoramento, sempre à procura de saber mais e me tornar melhor) e creio que já terei formado, encaminhado e inspirado bastantes novos Atores para me sentir muitíssimo realizada. Tenho projetos: estou, neste momento, a preparar-me para o meu primeiro filme de Ação intitulado “Salamandra” (https://www.facebook.com/photo.php?fbid=1488537154712755&set=a.1479704418929362.1073741828.1477184135848057&type=1&fref=nfAssim), e contínuo a dar aulas na Primeiro Ato-Escola de Musicais (http://www.primeiroacto.com/). Assim, o meu balanço é positivo: faço diariamente o que gosto e tenho, diariamente, a possibilidade de transmitir todo o meu amor por esta arte. Sim, o balanço é muito positivo!

M.L: Este ano vai fazer 43 anos. Como é que se sente ao chegar a esta idade?
C.M: Muito bem!!! Ignoro os preconceitos, pois sei que não me são aplicáveis. Pelo lado externo, estou muitíssimo bem fisicamente: faço espargatas e “Aranhas” sem aquecimento, corro 5 km sem dificuldade, não tenho rugas nem cabelos brancos… Pelo lado psicológico, creio até que já vivi mais do que os 43 anos, e não há experiência, boa ou má, que me faça deixar de sentir uma criança ainda com tudo por aprender. Na realidade penso pouco na idade, tão pouco que, quando ma perguntam, tenho que fazer contas (será já da idade?!?). Vivo intensamente cada dia, desejando viver sempre mais e mais. Idade??!??

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
C.M: Estou, neste momento, em fase de treinos e coreografias para o filme “Salamandra”, e estou a orientar os meus alunos para os Exames da Trinity que farão no final do próximo mês.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
C.M: Uiiiiiii!!! Gostaria de trabalhar com o Russell Crowe, Colin Farrell, Martin Scorsese, Meryl Streep, Ridley Scott, Al Pacino, Robert DeNiro… Também gostaria de fazer “ações” (mais do que gravar cenas sentada e inativa!!!) dando uso aos meus 20 anos de prática de desportos ao nível da alta competição (peçam-me agora uma espargata, mesmo sem aquecimento e eu faço!!!). Gostava de fazer muito mais cinema. E gostava de poder mudar o nosso panorama artístico bem como aumentar o grau de instrução do público fazendo-o mais crítico e exigente.

M.L: Se não fosse a Catarina Matos, qual era a atriz que gostava de ter sido?
C.M: Gostava de ter sido… a Catarina Matos (com o talento da Meryl Streep, o sorriso da Julia Roberts, o ordenado da Angelina Jolie, o corpo da Ava Gardner ou Raquel Welsh, a aura da Marlene Dietrich, a doçura da Audrey Hepburn, o reconhecimento da Meg Ryan, a inteligência da Katherine Hepburn, a força da Michelle Rodriguez, a história familiar da Drew Barrymore, o ímpeto da Catherine Zeta-Jones, o brilho de Kate Hudson, a voz falada da Kathleen Turner, a voz cantada da Bernadette Peters ou da Jennifer Hudson, a capacidade de surpreender da Juliette Lewis)…ML

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