sábado, 21 de junho de 2014

Mário Lisboa entrevista... Natacha de Noronha

Olá. A próxima entrevista é com a atriz Natacha de Noronha. Estreou-se na representação em 1991 e desde aí tem desenvolvido um percurso como atriz que passa, essencialmente, pelo teatro. Além da representação, também tem experiência como assistente de encenação, produtora e figurinista, e em 2008 fundou, juntamente com Anna Carvalho e Carlos Piecho, a companhia Gteatro. Esta entrevista foi feita no passado dia 11 de Maio.


M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
N.D.N: Aos 15 anos, quando os meus amigos resolveram juntar-se a um grupo de jograis que se estava a formar. E como fazíamos muitas coisas interessantes juntos, lá fui.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
N.D.N: Tudo e todos. Tanto grandes interpretações de atores como situações do quotidiano. Essencialmente, o Sentimento, real ou ficcionado (para mim no exercício da minha profissão), é sempre real.

M.L: Faz, essencialmente, teatro. Gostava de trabalhar mais no audiovisual (Cinema e Televisão)?
N.D.N: Gosto muito de ser dirigida e de novas abordagens e conceitos. Estabeleço então para mim o meu próprio desafio: absorver, tomar como meu o que me é pedido que seja na linguagem estética e técnica que me é proposta.

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, até agora, durante o seu percurso como atriz?
N.D.N: Não sei especificar trabalhos, mas foram vários os momentos de transcendência, tanto em palco, como em teatro de rua como em cinema.

M.L: Além da representação, também tem experiência como assistente de encenação, produtora e figurinista. Em qual destas funções em que se sente melhor?
N.D.N: Atriz. Absolutamente.

M.L: Qual foi o momento que mais a marcou, até agora, durante o seu percurso como atriz?
N.D.N: O período que sucedeu os quatro anos que fiz de pausa da representação para descanso, e durante os quais fui convidada a assinar uma coluna de crítica de teatro para uma publicação de artes enquanto trabalhava intensamente no “backstage” como figurinista, assistente de encenação, apoio à cenografia e adereços. A aprendizagem resultante da constante observação e intervenção de um ponto de vista exterior revelou-se surpreendente.

M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção nacional?
N.D.N: Melhores dias virão, mas piores também já os vi. Prevalecem os interesses (sejam eles de que natureza forem…) e os círculos herméticos, mas… como sempre penso, “a coisa há-de se compor”.

M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
N.D.N: Com a internacionalização da carreira advém o seu reconhecimento fora de portas e o seu reforço “cá dentro”. É sempre um bom caminho. Melhor será que não sejamos reconhecidos “cá dentro” apenas porque nos valorizaram em terras estrangeiras! Mas penso que este raciocínio é válido para qualquer profissão.

M.L: Em 2014, celebra 23 anos de carreira, desde que se estreou como atriz no teatro em 1991. Que balanço faz destes 23 anos?
N.D.N: “Segue o teu coração” nem sempre é um conselho sensato, mas 23 anos depois de uma “mera experiência” que logo se revelou apaixonante, este era O conselho.

M.L: Em 2008, fundou a companhia Gteatro, juntamente com Anna Carvalho e Carlos Piecho. Como é que surgiu a ideia de fundar a companhia?
N.D.N: Após o término de um projeto onde trabalhávamos os três, numa luzidia manhã de um domingo de Maio tive uma autêntica epifania (um pouco lírica a descrição, mas à distância é assim mesmo que me parece): convidei o Carlos Piecho, com quem já trabalhava há mais de dez anos, a criar o nosso próprio projeto. Queríamos mais uma pessoa e convidámos a Anna Carvalho.

M.L: Que balanço faz do percurso que a companhia tem feito, desde a sua fundação até agora?
N.D.N: Obviamente oscilante com o panorama político nacional, mas sempre assente no princípio do auto-sustento. Nunca fomos uma companhia de repertório comercial, temos um universo próprio e temos como lema “O teatro vai”. O amadurecimento foi uma consequência natural da passagem dos anos, houve ajustes no nosso trabalho, em nós, entre nós, já várias pessoas passaram por mim e pelo Carlos e todas deixaram um legado positivo.

M.L: Qual foi a pessoa que mais a marcou, até agora, durante o seu percurso como atriz?
N.D.N: Várias pessoas marcaram o meu percurso, duas delas definindo-lhe pontos de viragem (Carlos Piecho e José Pinho) e uma muito especial, apoiando-me nas minhas decisões (a minha Mãe).

M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
N.D.N: Mais vale tentar nem que depois se tenha de arrepiar caminho, do que passar uma vida inteira a dizer “O meu sonho era ter sido ator…”.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
N.D.N: O meu próximo projeto, já quase a estrear (estamos já nos ensaios gerais) é o meu filho Vicente.

Entretanto, outros projetos de palco e cinema avançarão, há sempre uma fila deles.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
N.D.N: Uma longa-metragem.ML

Fotografia: Francisco Vaz Fernandes

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