M.L: Quando surgiu o interesse pela representação e
pela música?
L.L: A música sempre esteve presente na
minha casa. A minha família é muito musical. O meu pai tocava samba, compôs a
valsa de 15 anos da minha irmã mais velha. A minha mãe tocava piano e sempre
brincávamos em volta do piano e sempre cantávamos juntos. A música sempre fez
parte do ar que eu respiro.
Na
verdade, eu sempre pensei que seria médica...
A carreira de atriz foi
acontecendo, foi um desafio que o grande diretor Walter Avancini me propôs. Ele
viu-me em anúncios de TV e no espetáculo “Sempre, Sempre Mais” (que eu fazia ao
lado do Claudio Tovar) e convidou-me para um papel importante na minissérie “Rabo
de Saia” (TV Globo). Eu aceitei o convite e acabei recebendo um prémio
importante de atriz revelação. Os convites foram chegando e eu fui aceitando, sentindo-me
mais segura e posso dizer que tive muita sorte de participar em bons trabalhos,
novelas que marcaram, peças dirigidas por diretores de prestígio...
E as coisas foram
acontecendo!
M.L: Quais são as
suas influências nestas duas áreas?
L.L: Muitas! Adoro Bossa Nova. MPB (Música Popular
Brasileira). Adoro as cantoras americanas como Ella Fitzgerald... Sou da
geração dos Beatles e dos Rolling Stones que eu também adoro! Amava o Johnny
Mathis. Eu acho que fui influenciada por tudo o que tocava na minha casa.
Sempre amei música!
Como atriz, acho que a minha
maior influência é a Bibi Ferreira. Ela é a grande atriz/cantora ou cantora/atriz
do Brasil. Ela é completa! Maravilhosa!
M.L: Como atriz, faz, essencialmente, teatro e
televisão. Gostava de trabalhar mais em cinema?
L.L: Adoraria fazer mais cinema sim. Fiz muito
pouco, embora tenha feito um dos filmes de maior bilheteira no Brasil, “Os
Saltimbancos Trapalhões” (1981). Esse filme foi um dos meus primeiros trabalhos
como atriz e a banda sonora, onde eu canto diversas músicas, virou um clássico.
Todo o mundo canta “A História de uma Gata” e “Hollywood”.
M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, até agora,
tanto como atriz e como cantora?
L.L: Acho que isso não existe. Não saberia dizer qual foi o
trabalho que mais me marcou. Quando você está envolvido no projeto é tudo tão
intenso. Eu gosto do trabalho do momento, mas não posso negar que “Rabo de Saia”,
“Roque Santeiro” (TV Globo), “A Viagem” (TV Globo) e “Chamas da Vida” (TV
Record) foram muito importantes para mim e para minha carreira. Mas não tenho
preferências. Como já disse, a banda sonora do filme “Os Saltimbancos Trapalhões”
virou um clássico e por causa dela muitas pessoas chegam até mim dizendo “Você
é minha eterna Gata”. É muito bom estar na memória afetiva das pessoas e acho
que a música “A História de uma Gata” fez isso.
M.L: Entre 2008 e 2009, participou na telenovela
“Chamas da Vida” que foi exibida na TV Record, da qual interpretou a vilã
Vilma. Que recordações guarda desse trabalho?
L.L: As melhores. A Vilma foi a minha primeira
grande vilã. Foi um presente da Cristianne Fridman para mim. O texto dela era
primoroso! Foi um desafio para mim. Era uma personagem dificílima, muito
diferente de tudo o que eu havia feito em TV e fez muito sucesso. Na Internet, fizeram
listas das pérolas, frases absurdas e grosseiras que a Vilma disparava contra as
demais personagens.
M.L: “Chamas da Vida” é da autoria de Cristianne
Fridman, com quem voltou a trabalhar nas telenovelas “Vidas em Jogo” (TV
Record, (2011/2012) e “Vitória” (atualmente em exibição na TV Record). Como é trabalhar
com ela?
L.L: Adoro trabalhar com ela! Ela tem um texto
impecável. Tem uma capacidade de trabalho enorme. Os capítulos são entregues
sempre com muita antecedência o que facilita o trabalho do elenco e da
produção. Além disso tudo acho que ela confia no meu trabalho e sinto que
sempre me dá uma personagem com peso, com importância na trama. Agora na novela
“Vitória”, por exemplo, eu faço uma jovem senhora, uma avó, que sofrerá de Alzheimer.
M.L: Como vê, atualmente, a Cultura no Brasil?
L.L: Estamos atravessando uma crise grave nessa
área, mas acho que a grande responsável por isso é a péssima qualidade da educação
no nosso país. É uma pena, porque somos um país muito rico culturalmente. É um
paradoxo.
M.L: Gostava de ter feito uma carreira internacional?
L.L: Gostaria sim. Acho que qualquer atriz já
sonhou com o Óscar! Eu sonhei!
M.L: Como lida com o público que acompanha a sua
carreira há vários anos?
L.L: Eu tenho fãs que viraram amigos. Que têm o
meu telemóvel, com quem eventualmente saio para comer uma pizza e beber um chopp.
Acho que essas pessoas são um presente na minha vida. Algumas delas eu conheci
ainda meninas e que hoje estão casadas e com filhos. Eu estou agradecida a
essas pessoas e é para elas que o meu trabalho é feito.
M.L: Foi casada com o cantor Ivan Lins e é mãe do ator
e cantor Cláudio Lins. Como vê o percurso que ambos têm feito até agora?
L.L: Sou a fã nº1 do Ivan. Ele é um músico
extraordinário. O piano dele é único! As harmonias dele são uma loucura! Fico
muito orgulhosa da carreira internacional que ele construiu. Para mim o Ivan
está no mesmo patamar de Tom Jobim. Só acho que ele deveria apresentar-se mais
no Brasil e já disse isso para ele.
O Cláudio enche-nos de orgulho!!!
Ele seguiu o nosso caminho. É um belíssimo cantor e compositor e acho que a
carreira de ator também acabou sendo influenciada pelo Claudio Tovar, o meu
marido há mais de 25 anos. Atualmente, ele está em cartaz com “Elis, A Musical”
e arrasa!!!
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira seja na representação ou na música?
L.L: Acho uma escolha difícil. Não conheço ninguém que
tenha nascido para o fracasso, mas daí para chegar ao sucesso é uma caminhada
longa e complicada. É preciso estar atento. Ir atrás do seu sonho. Mantenha-se
informado. Leia tudo, veja filmes, vá ao teatro, exposições... Acho que tem que
haver empenho, estudo, dedicação e sorte. É uma carreira muito difícil, mas se
você é artista não vai conseguir viver sem arte. Tem uma
música que gravei que diz o seguinte: “se uma estrela aparecer não esconda o
seu olhar, dê a ela uma chance de brilhar...”.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito, até
agora, como atriz e como cantora?
L.L: Depois de uns 40 anos em cima de um palco posso
dizer que me sinto feliz. Gosto da vida que foi acontecendo para mim. Aprendi
muito e contínuo aprendendo todos os dias. Eu gosto de saber que tenho
credibilidade. Tenho orgulho da minha trajetória. Acho que fiz trabalhos que
marcaram, desafiei-me, cresci como artista e como pessoa. Trabalhei com pessoas
e artistas incríveis. Tive muita sorte também.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
L.L: Todos! Da vida eu quero a vida! Sempre e
sempre mais! Quero estar sempre no palco. Quero envelhecer trabalhando. Esse é
um dos privilégios da nossa carreira. Veja a Bibi fazendo espetáculos por todo
o Brasil com 90 anos e linda!
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda nesta altura da sua vida?
L.L: Acho que
gostaria muito de fazer um clássico. Quem sabe uma rainha Elizabeth... Acho sim
que falta-me fazer um grande clássico no teatro.ML
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