M.L: Quando surgiu o interesse pela Música?
S.B: Não posso dizer que
tenha ocorrido um interesse propriamente dito, porque a Música sempre foi e
sempre será, certamente, uma extensão de mim. Portanto, é-me bastante
complicado indicar uma data específica em que esse "interesse" tenha
surgido. É envolta em sons e harmonias que me sinto, realmente, feliz.
M.L: Quais são as suas referências nesta área?
S.B: São imensas. Desde os
Sonic Youth aos Clinic, do Fela Kuti ao Beck e passando por Zero 7, variam no
decorrer dos dias, dos meses e dos anos. Tenho um carinho especial pelo dream pop, post-rock, indie rock e trip-hop/downtempo. E são precisamente estes géneros musicais que, para além
do indie-folk e da Bossa Nova, tenho
explorado com maior intensidade nos últimos meses. Ao nível de artistas e
bandas em particular, sou fã assumida dos Mogwai e dos Sigur Rós. Os The
National, os Beach House e dEUS fazem parte da playlist do meu telemóvel e nas últimas semanas tenho andado a
revisitar alguns trabalhos mais antigos do Jóhann Jóhannsson e do Nils Frahm.
M.L: É vocalista, teclista e guitarrista da banda Ballard
Pond que surgiu em 2011 (https://www.facebook.com/theballardpond?fref=ts). Como é que surgiu a ideia de formar a banda?
S.B: Como surge qualquer outra
ideia na minha cabeça, do vazio (risos).
Há muito tempo que sentia a necessidade de arranjar um projeto ao qual me
agarrasse com unhas e dentes e que, paralelamente a essa vontade para
trabalhar, me desse total liberdade de improvisação. Conheci o Hugo Arco
(guitarrista), na Faculdade, que me apresentou a um amigo, o Juan Müller
(também guitarrista). Experimentámos tocar em conjunto em regime de jam session e passados poucos dias
estava constituído o projeto. Houve química musical, houve entendimento e um
objetivo comum: tocar sem qualquer compromisso.
M.L: Atualmente, os Ballard Pond preparam-se para
lançar o seu primeiro álbum. Como vê o percurso que a banda tem desenvolvido,
desde a sua formação até agora?
S.B: Avalio de uma forma
extremamente positiva. Aquando da formação da banda, o objetivo primordial
passava por transmitirmos as nossas emoções através dos nossos instrumentos sem
expectativa de retorno. Era algo muito recolhido, muito nosso e, sobretudo,
muito familiar. O panorama mudou ligeiramente quando tomámos a decisão de fazer
chegar a nossa música a outros ouvidos, organizando de raiz um concerto numa
sala multiusos. A partir daí fizemos uma espécie de residência artística, no Verão
de 2012, no Algarve, ao tocar todos os dias em contacto com a natureza, o que
nos fez evoluir bastante e ganhar coragem para dar novos passos. Seguidamente, fomos
dando alguns concertos, no Festival Termómetro 2013, no Festival Santos da Casa
2013 e mais alguns na capital. Desde finais de 2013 que, por razões pessoais e
profissionais, não temos estado no ativo, mas em breve sairá o preguiçoso,
muito aguardado e surpreendente trabalho, muito diferente do que temos vindo a
apresentar em público.
M.L: Além da Música, também tem experiência na
representação. Em qual destas atividades em que se sente melhor?
S.B: São áreas totalmente
distintas mas que se complementam. Sinto-me bem tanto numa como noutra, no entanto,
a liberdade que sinto na Música relativamente à composição, escrita e
interpretação acaba por ser maior do que na área da representação uma vez que
sou eu quem está encarregue do total processo criativo. Digamos que na Música
existe uma Sara como personagem e na representação existem as outras tantas
personagens que me vêm parar às mãos.
M.L: Entre 2010/11, participou na telenovela “Sedução”
que foi exibida na TVI, na qual interpretou a personagem Ana Mendes Soares. Que
recordações guarda desse trabalho?
S.B: Guardo muito boas
recordações e recordações menos boas. Foram nove meses de trabalho intensivo
com uma personagem que dava muitas dores de cabeça ao núcleo principal da
novela e, sobretudo, a mim. Conheci muitas pessoas boas, gente de bom coração
com quem ainda mantenho contacto, não apenas atores como também muitos elementos
da equipa técnica. No que ao lado menos bom diz respeito, o timing do arranque das gravações não foi
o melhor, uma vez que eu tinha acabado de entrar na Universidade e
encontrava-me, com muito custo, a tentar conciliar as duas coisas, por pura
teimosia. Desde cedo que ponho os estudos à frente do que quer que seja e este
foi mais um período complicado e extremamente desgastante, contudo, foi
possível e no fim consegui respirar de alívio.
M.L: Como vê, atualmente, a Música, a nível global?
S.B: Há que separar o trigo do joio e o que é
bom para mim pode não ser para outras pessoas e vice-versa, se tal ocorresse os
gostos pessoais seriam todos iguais. Que piada teria todos gostarmos das mesmas
coisas? Não discutindo qualidade, porque a minha opinião enquanto ouvinte vale
o que vale, temos é muita música e muita variedade, de todos os estilos.
Falando do caso português, que me está mais próximo, tem-se verificado uma
adesão muito maior a projetos portugueses motivada pela divulgação efetuada
pelos media. Não posso dizer que
agora é que se deu o boom da boa Música
portuguesa, boa Música sempre existiu. O que há de diferente são os meios de
divulgação e a forma como essa divulgação é feita. Enquanto há poucos anos a
rádio e a televisão se traduziam nos principais difusores da Música portuguesa
e não só, agora é a Internet (com o auxílio de toda uma panóplia de redes
sociais) o canal de eleição para a descoberta de novos projetos musicais e o
acompanhamento dos já existentes. A forma como encaramos a Internet também
mudou. Assim, vemos bandas que, há uns anos, não tinham tanta visibilidade, a
renascer, a conquistar maiores audiências por, precisamente, utilizarem
adequadamente todas as ferramentas e possibilidades que a Internet lhes
oferece.
M.L: É licenciada em Ciências da Comunicação pela
Universidade de Lisboa. Gostava de, um dia, prosseguir com uma carreira paralela
na área da Comunicação Social, caso haja essa possibilidade?
S.B: Já me encontro de
momento a explorar essa área, felizmente. Tenho vários projetos de momento, cada
um mais interessante que o outro. No entanto, para já, prefiro manter estas
duas carreiras em separado.
M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira em qualquer área artística?
S.B: Diria para nunca
deixar de acreditar no seu potencial e que não se deixasse abalar por momentos
menos bons que, certamente, surgiriam. Antes do ingresso no mundo artístico é
necessária a realização de um exercício de auto-conhecimento, visto que nem
sempre nos encontramos preparados fisicamente e psicologicamente para a pressão
que daí advém. Achamos que há aptidão mas é um engano. O Ser Humano é extraordinário
e tem capacidades que o próprio desconhece, nunca antes exploradas, logo é
preciso uma boa dose de paciência para nos descobrirmos a nós próprios com o
auxílio do nosso amigo chamado tempo.
M.L: Que balanço faz do percurso profissional que tem
desenvolvido até agora?
S.B: Sou uma mulher jovem
e tenho atualmente 15 anos de experiência na área da representação e,
paralelamente, 8 na área da Música. O que se pode tirar disto é que comecei a
trabalhar nesta área bastante cedo e por iniciativa própria. Não me queixo do
aparecimento de certos obstáculos no caminho, porque sem eles teria evoluído de
uma forma totalmente diferente. Estar parada e sem projetos é algo que me dá um
transtorno gigantesco, não consigo. Se não existe nada de momento eu trato de
inventar algo novo e que mexa com o meu raciocínio, seja na área de realização
e edição de vídeo, fotografia, design ou
escrita. Tenho alguns escritos que já quis editar profissionalmente, mas estes
são demasiado lamechas para serem tornados públicos (risos).
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
S.B: De momento,
encontro-me em fase de pré-produção do primeiro trabalho discográfico dos
Ballard Pond e, dentro de poucos dias, sairá uma curta-metragem produzida pela
ESAP (Escola Superior Artística do Porto), na qual interpretei duas
personagens. Paralelamente, tenho outro projeto, a Chartroise Portugal, que
consiste na confeção e venda de peças de vestuário e de decoração totalmente
personalizáveis e em crochet. Num futuro próximo, espero constituir a minha
própria produtora.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda nesta altura da sua vida?
S.B: Viajar mais e
conhecer outras realidades para além da que me encara todos os dias.ML
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