M.L: Quando surgiu o interesse pelo jornalismo?
A.J: Quando eu tinha 13 anos, havia na Escola Secundária de
Cinfães (de onde eu sou natural) uma rádio da escola e comecei a trabalhar na
rádio, por causa de um professor que me convidou para ir para lá. Era o
Engenheiro Nuno, de quem guardo boas memórias. E a partir daí, comecei a fazer
coisas na rádio e não demorou muito tempo a vir trabalhar no Porto para a Rádio
Comercial Norte. Depois da Rádio Comercial Norte, aos 18 anos fui para a Antena
1 e estou lá, desde então, muitas vezes, tenho trabalhado fora da Antena 1, mas
mantendo sempre aqui o meu trabalho, tenho feito coisas na área da televisão,
na área da escrita… Basicamente, o meu interesse pelo jornalismo começa de uma
forma acidental e depois torna-se numa paixão.
M.L: Quais são as suas influências, enquanto
jornalista?
A.J: São todos os grandes
jornalistas que fazem todos os dias o seu trabalho sem cederem a pressões, sem
privilegiarem grupos económicos, sem privilegiarem grupos políticos. São todos os
que fazem, diariamente, um trabalho de permanente procura da verdade.
M.L: Trabalha, essencialmente, na rádio. Gostava de
ter trabalhado mais em outros meios de comunicação como, por exemplo, a
imprensa?
A.J: Tive algumas experiências na imprensa. Eu confesso que a
partir do momento em que se começa a trabalhar na rádio como comecei aos 13
anos começamos pela prática a ficar muito formatados para escrever para falar,
escrever para dizer. E escrever para dizer, ao fim de tantos anos como eu faço,
acaba por ser quase natural, o que não me retira a obrigação de, sempre que
escrevo alguma coisa para outros lerem, a ter cuidado com aquilo que escrevo,
de cumprir regras de português e ser o mais claro possível. Isso, para mim, não
é tão fácil, não é tão “natural” como escrever para a rádio, mas tive a
oportunidade de ter uma atividade mais permanente na área da imprensa, nunca me
senti especialmente seduzido por isso, assim como nunca me deslumbrou, por
exemplo, a televisão, apesar de ter feito várias coisas na televisão.
M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, durante o
seu percurso como jornalista?
A.J: Vários. Eu tenho um
percurso, enquanto jornalista, que me fez passar por variadíssimas situações e
todas elas diferentes. Cada uma no seu registo, com muitos desencantos e com
muito prazer.
M.L: Como vê, atualmente, a Comunicação Social em
Portugal?
A.J: Está muito presa em
interesses económicos. Nesta altura, há na Comunicação Social em Portugal
(salvo algumas exceções) uma proximidade muito grande entre os interesses dos
grupos económicos com aquilo que a imprensa reproduz e isso é bastante
perigoso.
M.L: Gostava de ter feito uma carreira internacional?
A.J: Adorava ter sido
correspondente em Nova Iorque, em Paris ou em Londres, mas nunca tive oportunidade.
M.L: Qual foi o momento que mais o marcou, durante o
seu percurso como jornalista?
A.J: A queda da Ponte de Entre-os-Rios. Estive lá duas semanas,
sem vir a casa, sem praticamente dormir. Num momento muito difícil para o país,
muito difícil para aquelas pessoas e com uma particularidade: eu sou natural de
uma zona muito próxima de Entre-os-Rios, portanto conheço muito bem aquela
região, não conhecia ninguém que tivesse falecido no acidente, mas digamos que
a dor daquelas pessoas naquela altura era também a minha dor, sentia aquilo
como tivesse sido também um acidente comigo. Portanto, foi o momento mais
marcante. Mas houve outros: Os dez anos do 11 de Setembro, o 11 de Março em
Espanha, e agora mais recentemente a cobertura das cerimónias fúnebres de
Nelson Mandela, na Africa do Sul…
M.L: Atualmente, apresenta na Antena 1 o programa
“Antena Aberta” que teve uma versão televisiva que
apresentou, juntamente, com Eduarda Maio e que terminou em 2011 com o fim da
RTPN (atual RTP Informação). Como está a correr o programa?
A.J: Está a correr exatamente igual ao que corria até então. Quando
veio da TSF para a Antena 1, a Eduarda Maio começou a fazer este espaço
interativo, depois a direção da rádio decidiu que eu o fizesse, e o espaço
ficou sempre (quase sempre), até hoje, a ser editado a partir do Porto.
Basicamente, eu sempre fiz o “Antena Aberta”, desde 2008 até agora.
Pessoalmente, eu nunca gostei da versão televisiva do “Antena Aberta”. A decisão
não era minha, portanto tinha apenas que cumprir ordens. Nunca gostei da versão
televisiva, no sentido plástico da coisa, eu acho que nunca houve interesse de
investir neste simultâneo entre a rádio e a televisão, porque, do ponto de
vista do formato televisivo, o programa era bastante pobre e podia ter tido
melhoramentos, ao nível da imagem. Foi,
no entanto, o primeiro programa a ser feito em simultâneo, e depois de quebrado
esse simultâneo, sinceramente, acho que ficou a perder, quer a rádio, quer a
televisão, porque a televisão conseguia ter uma visibilidade junto de um
público que está em movimento àquela hora, ter uma visibilidade junto de um
público que não tem que pagar a um distribuidor de televisão por cabo para
terem informação com a marca da RTP. A rádio fica a perder na medida em que
também perde visibilidade na televisão, mas, pessoalmente, não estou nada
insatisfeito pelo facto de não estar a fazer o programa na televisão.
M.L: Qual foi a situação mais embaraçosa que o marcou,
até agora, durante o seu percurso como jornalista?
A.J: Tive várias. Muitas
delas decorrentes devido ao facto de eu estar a fazer um programa em direto com
as características do “Antena Aberta”. Pelo menos duas vezes, fui maltratado no
ar, chamaram-me nomes, de pessoas que eu não conheço, não faço a ideia de que
tipo de motivação é que tinham para dizerem aquilo, eu acho que têm,
obviamente, algum défice educacional para terem tido esse comportamento. Foram
situações desagradáveis, mas ultrapassei-as com imensa tranquilidade e eu acho
que esses foram os momentos mais desagradáveis. Não me recordo de outros.
M.L: Como vê, hoje em dia, Portugal e o Mundo?
A.J: Vejo Portugal com uma grande dificuldade em sair desta falta
de esperança, acho que o país está com falta de horizonte, acho que é um
sentimento que é generalizado. Começo a achar que os índices de felicidade em
Portugal (que, apesar de tudo, nunca
foram extraordinários comparativamente aos outros países da Europa) vão
continuar a baixar. Acho que temos de nos ajustar a viver com menos dinheiro, mas
não devemos baixar os braços e deixarmo-nos ficar num estado nostálgico perante
esta aparente ausência de horizonte. Quando perdermos essa vontade de querer
olhar mais adiante, aí sim acho que o futuro pode ser absolutamente negro.
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira no jornalismo?
A.J: Que procure outra carreira (risos). Acho que só vai para o
jornalismo quem tem, de facto, muita paixão seja pela rádio, pela televisão,
pelos jornais, pela Internet. Tem que haver uma verdadeira paixão para com os
princípios básicos desta profissão: o primeiro deles é o respeito por quem nos
ouve, por quem nos lê, por quem nos vê, porque eu sinto isso, diariamente com
as pessoas que saem das faculdades, com os estagiários que me apresentam aqui
para a rádio. Quem quiser vir para o jornalismo, tem que perceber exatamente
para onde vai, ter os pés bem assentes na terra e saber que nunca será rico,
que vai ter condições de trabalho sempre (ou muitas vezes) precárias, portanto
se puderem mais vale pensar noutra profissão.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito, até
agora, como jornalista?
A.J: É um balanço positivo. Eu costumo dizer aos meus amigos que
me pagam para curtir, mas sei que dizer isto assim pode parecer displicente, o
que quero dizer é que amo o que faço, porque eu comecei a trabalhar na rádio
aos 13 anos e continuo a ter o mesmo prazer.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda?
A.J: Gostava de percorrer o país, durante um mês, a
fazer reportagem… Tenho vários projetos e esse é um deles. Um dos primeiros
livros que o José Saramago escreveu chama-se “Viagem a Portugal” e eu li esse
livro há muitos anos e sempre tive esta ideia que era fazer em rádio aquele
livro ou seja pegar no livro e ir à procura daquelas terras que o José Saramago
descreve e fazer reportagens naquelas terras fazendo um paralelo entre a
realidade daquele encontro e a realidade em que se encontra o José Saramago.
Isso era uma coisa que eu gostava de fazer.ML
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