M.L: Recentemente, lançou a biografia “Champalimaud-O Construtor de Impérios” que escreveu juntamente com Filipe S. Fernandes e que retrata a vida de António Champalimaud. Como é que surgiu a oportunidade para escrever a biografia?
I.C: Surgiu através de um convite da editora Esfera dos Livros para fazermos a biografia de um empresário português, desafio que aceitamos. O nome de António Champalimaud impôs-se naturalmente, pois falecera recentemente deixando em testamento uma importante fundação e o legado de uma obra industrial ímpar em Portugal. Além disso, era uma personalidade polémica com uma vida apaixonante e recheada de peripécias. Há episódios que só por si dariam um livro inteiro como o Caso Sommer, a luta pela edificação da Siderurgia ou exílio no México e no Brasil, daí as 600 páginas do livro.
M.L: Acompanhava o trabalho dele, antes de se lançar neste projeto?
I.C: Como qualquer jornalista desta área acompanhava os principais desenvolvimentos dos seus negócios, mas nunca me cruzei com ele. O co-autor Filipe Fernandes que elaborava a lista dos mais ricos de Portugal para a revista Fortuna chegou a ir à casa de António Champalimaud, porque o empresário queria assegurar-se de que tinha toda a informação: se era para aparecer no ranking, então deveria surgir com todos os seus ativos.
M.L: Como é que fez a pesquisa para o projeto?
I.C: António Champalimaud não perdia tempo no limelight como ele dizia, mas sempre procurou dar informação sobre a evolução dos seus projetos e dos seus negócios. Por isso, existem centenas de artigos e entrevistas sobre António Champalimaud quer em Portugal quer no Brasil, onde viveu durante cerca de duas décadas. Consultamos milhares desses registos. A nossa investigação incluiu a pesquisa em vários arquivos que têm informação sobre a atividade empresarial de António Champalimaud como os arquivos da PIDE, Oliveira Salazar, Marcello Caetano, da Siderurgia Nacional que estão na Torre do Tombo, da Assembleia da República, da biblioteca do Banco de Portugal, entre outros. Fizemos também várias entrevistas com pessoas que cruzaram nas empresas e nos negócios com António Champalimaud e com alguns elementos da família Champalimaud.
M.L: Como foi trabalhar com Filipe S. Fernandes?
I.C: Conhecemo-nos na Exame em 1989, quando éramos dois jornalistas da revista que então estava a ser lançada e trabalhamos juntos, durante alguns anos. Em 2003, convidei-o para diretor-adjunto da Exame, pois sabia que era uma pessoa talentosa que em conjunto levaríamos este projeto a bom termo. Somos diferentes, claro, cada um terá as suas valências diferentes, mas considero que trabalhamos bem em equipa.
M.L: Como tem sido a reação do público à biografia?
I.C: Felizmente muito boa desde Maria Filomena Mónica que apresentou a obra até aos leitores e aos críticos. As reações que recebemos de pessoas que conviveram com António Champalimaud levam-nos a reforçar a convicção de que o seu retrato foi por nós fielmente reproduzido sobretudo o retrato psicológico que é o mais difícil de reconstruir em relação a uma pessoa tão polémica que era amada ou odiada.
M.L: Como vê o percurso de vida que António Champalimaud fez até à sua morte?
I.C: Como o de um grande empreendedor, o maior industrial português do século XX. O seu toque de Midas ficou demonstrado, quando depois de ser espoliado pelas nacionalizações, através do Brasil reconstruiu o seu grupo e tornou-se o homem mais rico de Portugal. Era um homem de ação que construiu uma grande obra. Por exemplo, em entrevista ao Jornal do Brasil disse: “Há empresários e ‘empresários’. Eu entendo que a empresários como eu o que conta é conceber, projetar e realizar para o futuro. O passado não conta. O que se passou comigo: construí o maior império industrial e empresarial do país, roubaram-mo todo, não me vi mais pobre nem mais rico, nem mais feliz nem mais infeliz. Eu me considero na mesma. A vontade de viver é a mesma”. Era um lutador.
M.L: Que balanço faz deste trabalho?
I.C: Foi um enorme esforço de duas pessoas, durante seis anos, mas que consideramos que valeu a pena quer pelo resultado, quer por ser um livro em que se perpetua a vida e obra de uma pessoa especial.
M.L: “Champalimaud-O Construtor de Impérios” é o segundo livro que escreve, depois de se ter estreado na escrita no ano passado com o livro “As Mulheres Normais Têm Qualquer Coisa de Excecional”. Como é que surgiu o interesse pela escrita?
I.C: O livro de pequenas biografias de cinco mulheres surgiu de um convite da Bertrand para editar com eles a que respondi apresentando o projeto de “As Mulheres Normais Têm Qualquer Coisa de Excecional”. A escrita é um apelo irrecusável para uma pessoa que se tornou jornalista, porque gostava de escrever. Só o prazer da escrita explica as noitadas, os fins-de-semana e os dias de férias a fio dedicados a estes projetos.
M.L: Desde 2003 que é a diretora da revista Exame da qual fez parte da equipa fundadora da revista em 1989. Que balanço faz destes 8 anos em que dirige a revista?
I.C: Considero que a minha tarefa primordial é fazer todos os meses, a melhor revista de negócios em Portugal. A Exame é a revista líder e de referência no segmento de economia e negócios. O que é notável é que mantém esta posição desde a sua fundação há mais de 22 anos. Este é o resultado do trabalho de todas as pessoas que lideraram a revista e que aqui trabalharam, durante este período. O balanço destes oito anos, enquanto diretora da Exame é muito gratificante: a revista foi refundada em 2003 regressando à periodicidade mensal com grande sucesso e resultados instantâneos e duradouros. Ainda recentemente, a Exame foi considerada a revista mensal (de todas as áreas) com maior índice de reputação entre os portugueses situando-se em 12.º lugar do ranking geral. Esta é uma das conclusões do estudo “Marktest Reputation Índex” da Marktest em que a EXAME surge como a publicação económica com o melhor índice de reputação (69,56) ficando à frente dos jornais diários de economia.
M.L: Como vê atualmente a Exame?
I.C: Como uma revista que ambiciona continuar a liderar o mercado e a constituir a referência para o nosso público-alvo (empresários e gestores de topo, profissionais libérias e empreendedores). Isso leva-nos diariamente a procurar a inovação e a criatividade, a não sermos complacentes com o sucesso, a desafiarmo-nos a fazer sempre melhor, a tentar surpreender os leitores pela positiva.
M.L: Como é que surgiu o interesse pela Comunicação Social?
I.C: Estava no terceiro ano de Direito, quando o jornal Semanário procurava estagiários para a secção de Economia dirigida por Álvaro de Mendonça. Comecei a colaborar e sacrifiquei grande parte das férias de Verão para trabalhar no jornal. Ao fim de cerca de oito meses tive a sorte de outra grande oportunidade surgir: Álvaro de Mendonça fora convidado para diretor de uma revista de economia e negócios que iria ser lançada e estava a constituir a sua equipa. Convidou-me a integrar esse núcleo que fundou a revista Exame. Foi um novo mundo que se abriu. Todos os dias conversava com pessoas diferentes, aprendia coisas novas e escrevia. Eu pensava verdadeiramente que era a pessoa mais sortuda do mundo, porque estava a fazer aquilo de que tanto gostava… e ainda me pagavam.
M.L: Dedicou praticamente a sua vida profissional à imprensa. Gostava de ter trabalhado em outros meios de comunicação como a televisão?
I.C: A televisão e a rádio são mundos vibrantes e muito apelativos. Gostaria de experimentar fazer um programa de televisão. Embora reconheça que o meu mundo em que me sinto mais confortável é o da imprensa escrita que permite maior reflexão e maior cuidado do que do imediatismo da televisão.
M.L: Qual foi o momento que a marcou, durante o seu percurso como jornalista?
I.C: Um desses momentos marcantes consta no livro “As Mulheres Normais Têm Qualquer Coisa de Excecional”. A longa entrevista com a piloto Elisabete Jacinto pelas suas aventuras apaixonantes e pelas lições de vida que o seu percurso encerra. Essa conversa proporcionou-se no âmbito da revista Executiva, um projeto que criei de raiz e que considero um marco na minha carreira, pois era uma revista inovadora e que muitas pessoas ainda recordam.
M.L: Também foi diretora da revista Cosmopolitan. Que recordações leva dessa experiência?
I.C: As melhores que possível. O ambiente e os desafios de trabalhar numa revista feminina são incríveis. Houve uma enorme descoberta de outros mundos que estão mais arredados do âmbito de uma revista dita masculina como é a Exame: falo de temas como a moda, a beleza, o comportamento. E trabalhar com os americanos da Hearst foi também muito enriquecedor em termos profissionais.
M.L: Como vê atualmente a Comunicação Social?
I.C: A comunicação social vive um momento de enormes desafios com muitas dificuldades e simultaneamente muitas oportunidades. São momentos como estes que moldam os contornos que assumirá no futuro e por isso são períodos interessantes.
M.L: Gostava de ter feito uma carreira internacional?
I.C: Não viraria as costas liminarmente se a oportunidade surgisse. Mas não lamento não ter tomado essa opção ativamente.
M.L: Este ano celebra 23 anos de carreira desde que começou como colaboradora da secção de Economia do jornal Semanário em 1988. Que balanço faz destes 23 anos?
I.C: Considero que é cedo para fazer balanços. Olhando para trás, diria que gostei do que fiz. E espero no futuro ao olhar para trás continuar a gostar do que fiz.
M.L: Qual foi a personalidade da Comunicação Social que a marcou, durante o seu percurso como jornalista?
I.C: Há várias. Álvaro de Mendonça, o primeiro diretor da Exame pelas oportunidades que me proporcionou e por ser um líder nato. Os brasileiros da Abril, Jaime Figuerola e Alberto Dines que formaram uma geração de jornalistas de revistas em que tive o privilégio de estar incluída. Fernanda Dias, Publisher da Impresa por saber imenso de revistas e pela ousadia de ter apostado numa jornalista de economia para dirigir uma revista feminina. Kim St. Claire Bodden da Hearst por me ter ensinado que o posicionamento de uma revista é um passaporte para o êxito. Carlos Cáceres Monteiro por ser uma referência no jornalismo e ao mesmo tempo tão humilde. E por apostar numa diretora de uma revista feminina para relançar a Exame. Francisco Pinto Balsemão pelo seu pioneirismo ao fundar o Expresso, a Exame ou a SIC, por exemplo e por ser uma referência no grupo Impresa e no jornalismo. Todos os amigos e excelentes profissionais que conheci graças a esta profissão: Maria, Filipe, Ana, Cíntia, Alexandra, Teresa, Rita.
M.L: Como vê atualmente Portugal e o Mundo?
I.C: Com os olhos de uma otimista esclarecida, outros dias de uma pessimista que apenas se considera realista.
M.L: Está com quase 50 anos. Como é que se sente ao chegar a esta idade?
I.C: Tenho 45 anos, não me sinto com 50 anos… Admito que me diga que o primeiro sinal de envelhecimento possa ser pensar que estes cinco anos fazem toda a diferença. Mas na verdade não vejo o que os 50, quando chegarem venham alterar.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
I.C: Continuar a fazer da Exame, a melhor revista de negócios. Continuar a evoluir e a fazer coisas novas. O que se proporcionar e o que vier a decidir que quero fazer.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
I.C: Há muitos livros para ler, muitos filmes para ver, muitas músicas para ouvir, muitos locais para conhecer. Falta-me fazer voluntariado e sentir que verdadeiramente estou a ajudar alguém que precise.
M.L: Se não fosse a Isabel Canha, qual era a jornalista ou escritora que gostava de ter sido?
I.C: Gosto de ser a Isabel Canha.ML
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