Olá. A próxima entrevista é com a atriz Sofia Reis. Desde muito cedo que se interessou pela representação tendo-se estreado como atriz com uma pequena participação na longa-metragem italiana "Sostiene Pereira" ("Afirma Pereira" (1996) de Roberto Faenza que foi filmada em Portugal e onde contracenou com Marcello Mastroianni da qual foi um trabalho que a marcou muito e a partir daí passou a acreditar que podia fazer cinema e desde aí desenvolveu um percurso que passa pelo teatro, pela televisão e pelo cinema tendo ganho em 2010 o Prémio Augusta na categoria de Melhor Atriz no Bragacine-Festival Internacional de Cinema Independente de Braga e recentemente protagonizou a curta-metragem "Vataça de Lascaris" de Miguel Vilhena que é também um documentário e uma banda-desenhada, onde interpretou a personagem com o mesmo nome. Esta entrevista foi feita por via email em Novembro passado.
M.L: Como é que surgiu o interesse pela representação?
S.R: Desde criança. Gostava de representar as histórias que me iam contando em pequena. Lembro-me de adorar fazer de Menina do Mar, a história de Sophia de Mello Breyner (Andresen). Lembro-me de pintar o chão do jardim da casa dos meus pais com giz de várias cores para parecer o fundo do mar. Para servir de cenário à história.
M.L: Fez teatro, cinema e televisão. Qual destes géneros que lhe dá mais gosto em fazer?
S.R: Gosto dos três. Exigem técnicas diferentes. No entanto, o teatro dá mais liberdade ao ator para mostrar o que vale. O ideal para mim é poder fazer um pouco de tudo. Embora seja uma apaixonada por cinema.
M.L: Qual foi o trabalho que a marcou, durante o seu percurso como atriz?
S.R: O filme "Afirma Pereira" (1996) de Roberto Faenza. Embora tenha tido uma participação muito pequena no filme tive a honra de poder estar na mesma cena que o ator Marcello Mastroianni. A dançar numa festa no tempo do salazarismo. A música desse filme é do Maestro Ennio Morricone de quem sou uma grande fã.
M.L: Recentemente protagonizou a curta-metragem “Vataça de Lascaris” de Miguel Vilhena, onde interpretou a personagem com o mesmo nome. Como correu este trabalho?
S.R: Correu muito bem e está agora em fase de montagem para estrear em 2012. Apaixonei-me desde o princípio pela história. Vataça de Lascaris foi uma mulher que existiu na realidade e que foi detentora da uma Vila e de um Castelo em Portugal (em Santiago do Cacém) e que teve um papel importantíssimo na diplomacia entre o nosso país e Espanha. O seu túmulo encontra-se atualmente na Sé de Coimbra.
M.L: Como é que surgiu este projeto?
S.R: Surgiu de um convite do realizador. O Miguel Vilhena andava na Internet à procura de uma atriz para desempenhar o papel da Vataça mais velha. Viu as minhas fotografias e que tinha formação como atriz e convidou-me.
M.L: Como é que fez a pesquisa para se preparar para o papel?
S.R: A minha base de pesquisa para a personagem foi em primeiro lugar o livro de Conceição Vilhena (tia do Miguel Vilhena) "Por Santiago do Cacém-Viajando na Divagação". Tem um capítulo em que fala só da Vataça e que também retrata a época em que ela viveu e os costumes e características de Santiago do Cacém na época medieval. Quem ela era. Como era vista pelos outros. Como as mulheres viviam e o que faziam naquela época. Depois, pesquisei tudo o que tinha a ver com a época medieval e sobre as personagens históricas como a Rainha Santa Isabel e D. Dinis com quem a Vataça se relacionava. Também estudei um pouco a dinastia Lascaris e bizantina da qual a Vataça tinha tanto orgulho em pertencer. Também tive um mini-workshop de espanhol para ter uma boa pronúncia. Ela falava espanhol. Nasceu em Espanha. E ainda tivemos aulas de dança medieval. Depois nas filmagens, foi "só" viver a vida da personagem e reagir no momento.
M.L: Como é que define a Vataça de Lascaris?
S.R: Vataça de Lascaris foi uma mulher muito poderosa na sociedade da época. No século XIV, tendo vindo para Portugal como aia da Rainha Santa Isabel e devido aos seus esforços diplomáticos entre os Reinos de Portugal, Aragão e Castela foram-lhe oferecidos muitos bens, terras e a Vila de Santiago do Cacém. Era uma mulher muito crente, supersticiosa, forte defensora dos direitos dos mais pobres e oprimidos e orgulhosa dos seus antepassados. Para além da forte amizade com D. Isabel deve ter levado uma vida solitária, mas também muito ocupada com as causas por ela defendidas.
M.L: Que expectativas tem em relação a este projeto?
S.R: Espero que o resultado final com a montagem terminada seja muito bom e que as pessoas gostem do filme. Que a curta-metragem e o documentário ajudem a divulgar a nossa história e que a Vataça não seja esquecida.
M.L: Qual foi o momento que a marcou, durante o seu percurso como atriz?
S.R: Não me queria repetir, mas marcou-me muito a minha participação em "Sostiene Pereira". Foi nessa altura que passei a acreditar que "podia fazer cinema".
M.L: Como vê atualmente o teatro e a ficção nacional?
S.R: Acho que já se está a produzir em mais quantidade e a qualidade vai aparecendo. O problema é que em Portugal (ao contrário dos restantes países da Europa) se continua a desvalorizar a cultura. Os apoios governamentais e privados continuam a ser insuficientes para as indústrias criativas. Aspetos que contribuem fortemente para o atraso global e estrutural do nosso país.
M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
S.R: Adorava! Um dos meus sonhos era participar numa longa-metragem internacional com um papel relevante!
M.L: Em 2010 ganhou o Prémio Augusta na categoria de Melhor Atriz no Bragacine-Festival Internacional de Cinema Independente de Braga. Como é que se sentiu ao ganhar o prémio?
S.R: Senti muito feliz e que todo o meu esforço e trabalho como atriz foi finalmente reconhecido.
M.L: Qual foi a personalidade da representação que a marcou, durante o seu percurso como atriz?
S.R: São várias as personalidades, por isso prefiro não nomear. Algumas das minhas atrizes favoritas são a Meryl Streep, a Julianne Moore e a Nicole Kidman.
M.L: Quais são os atores em Portugal com quem gostava de trabalhar no futuro?
S.R: Acho injusto nomear só alguns nomes podendo correr o risco de me esquecer de outros.
M.L: Está com quase 40 anos. Como é que se sente ao chegar a esta idade?
S.R: Sinto que agora mais do que nunca vou poder usufruir plenamente da minha vida.
M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
S.R: Que seja persistente, que procure sempre aprender e que não desista dos seus sonhos.
M.L: Que balanço faz da sua carreira?
S.R: Que tenho tido a sorte de participar em projetos muito interessantes nos quais não estava à espera de um dia vir a integrar. E que quem se esforça por perseguir os seus sonhos acaba sempre por conseguir de alguma maneira os concretizar.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
S.R: Como ainda não tenho datas concretas, não posso ainda divulgar. Mas posso dizer que são em cinema.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
S.R: Gostava de poder fazer mais peças de teatro clássicas e participar em mais longas-metragens. Adorava entrar num western e num filme de ficção científica! Ah e num filme musical! Sou fã de filmes musicais. Um dos meus filmes favoritos é o "Singin' in the Rain" (“Serenata à Chuva” (1952).
M.L: Se não fosse a Sofia Reis, qual era a atriz que gostava de ter sido?
S.R: Nenhuma outra.ML
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