M.L: Como é que surgiu o interesse pela moda e pelo jornalismo?
F.B: Bem Mário, com os meus cerca de 17 anos concorri a um passatempo que se chamava “Seja Finalmente Uma Manequim” do programa “86-60-86” (RTP). Nessa altura, fiquei escolhida para as 10 finalistas de entre mais de 2500 candidatas. Dessas, cerca de 5 tiveram direito a “prémio” sendo que tecnicamente só a vencedora seria de fato premiada, mas na altura 5 raparigas foram escolhidas para ficar agenciadas: 4 para a Elite e eu para a Central Models. Tudo começou nessa altura pela mão da Mi e do Tó Romano que em mim decidiram apostar. Na altura eu já trabalhara em televisão como figurante e posteriormente como atriz, mas a moda era algo que me fascinava e então (como era de fato muito magra) aproveitei para tentar a minha sorte (que não foi muita, porque a concorrência era de fato feroz), ainda assim ainda cheguei a fazer bastantes trabalhos inclusive com manequins que eu na altura me limitava a admirar. Foi uma experiência giríssima. Guardo boas memórias! Mas… tanto a nível da representação, como da moda todo aquele universo levava demasiado de mim e como eu sou uma pessoa tímida (ainda que muito comunicativa) optei por abandonar todo o percurso que havia começado para me dedicar a uma outra grande paixão que tinha: a da escrita, pois todos aqueles holofotes da “fama” apontados para mim tinham-me feito perceber que o que eu gostava mesmo era de trabalhar nos bastidores do mundo artístico e não como protagonista e então em 1998 fiquei 2 anos enfiada em casa a escrever poesias e a repensar o que queria para a minha vida. Lembro-me de pensar: “Um dia, estas poesias vão ser transformadas em canções e vou ter Portugal a cantar o que sinto”. E assim foi: quando terminei uma obra a que chamei “Porto Fado” fiz chegar esse trabalho à Universal (antiga Polygram) e eles decidiram agendar uma reunião comigo no sentido de fazer de mim uma autora de letras. Depois as coisas foram acontecendo e eu fui escrevendo cada vez mais e para mais gente e para mais coisas: telenovelas, séries, publicidades, etc. O que escrevia passou a assumir-se como a minha atividade principal e desde então prometi a mim mesma que jamais deixaria de escrever. Entretanto, fui agente de artistas e o trabalho de produção de moda surgiu na sequência dessa atividade. Sempre que as minhas agenciadas eram chamadas para uma produção para uma revista, eu fazia questão de ser eu a produzir, pois não gostava do que lhes vestiam ou da forma como escolhiam os cenários e os penteados, etc. Achava sempre que nada daquilo tinha a ver com o perfil da pessoa que tinham frente-a-frente. E então, comecei eu a fazer todo esse trabalho e a adorar cada vez mais fazê-lo. Na verdade, o bichinho da moda tinha ficado comigo e então, tudo o que aprendi a nível de formação e toda a experiência que tive ficou-me retida na memória e começava nesse momento a despoletar. O resultado foi que as próprias revistas começaram a contactar-me e eu dizia sempre que não era produtora, que era agente, mas a certa altura aceitei o desafio lançado pela revista Corpo de Mulher na pessoa da sua diretora de então, a jornalista Sara Cunha Ferreira que de fato me fez mudar de ideias. Desde então (creio que já terão passado uns 5 anos) que sou de fato produtora de moda. Já o jornalismo surge na sequência da minha vontade de entrevistar as mulheres que produzia neste caso para a Corpo de Mulher. Na altura, a diretora deu-me essa oportunidade e desde aí também nunca mais parei de escrever artigos jornalísticos paralelamente às letras que sempre vou escrevendo.
M.L: Qual foi o trabalho que a marcou tanto como produtora de moda e como jornalista?
F.B: Bem, na verdade todos os trabalhos que faço marcam-me sempre de uma forma ou de outra, porque todo o processo de criação artística que envolvem (no caso da produção de moda e também de investigação no caso do jornalismo) levam bem mais de mim do que unicamente propriedade intelectual, pois levam também sentimento. Fico ligada a todos os trabalhos que executo ainda que no campo jornalístico não o possa manifestar e no campo da moda isso não transpareça para o grande público. Mas já tive alguns trabalhos e pessoas que me marcaram muito sim como é o caso do fotógrafo Daniel Pedrogam que começou o seu percurso profissional comigo. A história é muito curiosa e tem sido sobejamente falada na imprensa nacional. Esta é sem dúvida alguma a história mais marcante! O Daniel era até à poucos anos, o coveiro mais jovem de Lisboa. Nos tempos livres, lá ia fotografando os modelos possíveis que eram os gatos que habitavam os cemitérios, as campas, os jazigos e as velhotas e góticos que por lá passavam também. Certo dia, uma amiga minha que tem por hábito fazer de modelo para sessões de portfolio dos fotógrafos postou no Facebook, uma dessas sessões desta feita fotografada pelo Daniel. A ideia era gira e tal, mas na verdade eu focalizei-me mais no que vi e que de fato me impressionou: A capacidade artística que ele manifestava nas fotos que tirava nos cemitérios. A sensação que tive foi impressionante. Nunca tinha visto ninguém conseguir dar de tal forma alma a cenários tão mórbidos e tristes… Decido contacta-lo e desafia-lo para me fotografar, pois tinha em mente convida-lo para fazer comigo o seu primeiro trabalho profissional: um catálogo internacional de noivas para o Grupo Noiva que estaria disponível em cerca de 9 países do mundo! A sessão comigo correu às mil maravilhas e foi tempo depois de o levar para o terreno para ele treinar fotografar vestidos de noiva que em termos de luz são bastante difíceis de iluminar. Ao primeiro disparo, fundiram-se as lâmpadas, pois ele havia levado um gerador usado nas obras e que tinha demasiada força para as luzes. Foi uma estreia em grande estilo (risos). Depois disso, passei 3 meses a lutar pela confiança do Daniel no trabalho que ia fazer. Ele estava apavorado com a ideia e o meu cliente também já que eu insistia em alguém que nem portfolio tinha. Mas valeu a pena. O trabalho ficou fantástico e a imprensa publicou imensas das nossas fotos. Foi um trabalho sofrido, mas muito recompensador! E assim, o coveiro virava fotógrafo de moda pela mão da produtora de moda Fernanda Brito.
M.L: Além da moda e do jornalismo também teve experiências como atriz, apresentadora e escritora. Que recordações leva dessas experiências profissionais?
F.B: As melhores possíveis! Como atriz fiz várias participações (televisivas, não tive oportunidade de experimentar teatro e nem cinema) de onde destaco a minha participação na série “Médico de Família” (SIC), no “Ballet Rose” (RTP), no “Diário de Maria” (RTP), nos “Senhores Doutores” (SIC) e também na “TV Luzinha”, uma série infantil em que eu era atriz, mas também apresentadora. Nesse campo, essa foi a minha única experiência, mas que como tinha como target, as crianças e eu adoro crianças foi algo que me preencheu a 100%. Ainda assim e como disse anteriormente, eu gosto hoje muito mais do trabalho de bastidores. As pessoas não têm a noção do que é o universo infinito da produção, é um trabalho fascinante! Quanto à escrita, esta não está de todo morta muito pelo contrário, as revistas com quem colaboro mensalmente não deixam que isso aconteça. Os teus seguidores do blogue podem ler textos meus em todas as revistas Corpo de Mulher e também na revista Saúde Atual com as quais colaboro efetivamente e depois faço também vários outros trabalhos pontuais com várias outras publicações. Sugiro que visitem a minha página de site em www.fernandabrito.com ou a minha página no Facebook, onde podem de fato seguir todos os meus passos.
M.L: Como vê atualmente a Moda e a Comunicação Social em Portugal?
F.B: Vejo com muito bons olhos! Vejo com os olhos de quem ama apaixonadamente tudo aquilo que faz, por isso vejo tudo com um olhar muito viciado pelo orgulho de ter ao meu lado pessoas e profissionais cada vez mais fabulosos e de ter a oportunidade de trabalhar cada vez mais e melhor.
M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
F.B: Bem Mário, se eu disser que não vais achar muito esquisito, mas é a mais pura realidade. Sou muito terra-a-terra. Tenho a plena noção de que este é um meio altamente competitivo e se já é difícil alguém começar uma carreira seja de fotógrafo, maquilhador ou cabeleireiro no universo da moda em Portugal, quanto mais no estrangeiro…
M.L: Qual foi a personalidade que a marcou tanto como produtora de moda e como jornalista?
F.B: Como produtora, é muito difícil destacar alguém que me tenha marcado na medida em que são centenas as pessoas que já produzi e todas elas foram especiais à sua maneira, mas talvez a Fátima Preto. A Fátima é um vulcão a fotografar (a ser fotografada, entenda-se). É uma força da natureza e desde sempre foi a minha modelo preferida. Mesmo nos momentos mais difíceis, ela dava sempre tudo pelas fotos que fazia. Costumo chamar-lhe “A minha diva!”. Mas não quero deixar de referenciar que amei trabalhar com todas as centenas de figuras públicas e não públicas que já produzi até hoje. Cada uma foi especial à sua maneira. Em termos jornalísticos, foram já várias as pessoas que entrevistei e todas elas com histórias de vida fabulosas, mas talvez o Astro-filosofo José Prudêncio (www.joseprudencio.com), um filosofo dos astros que desenvolve um trabalho impressionante na área da astrologia aliando-a à filosofia. Um intelectual absolutamente apaixonante!
M.L: Recentemente fez 34 anos. Como é que se sente ao chegar a esta idade?
F.B: Sinto-me muito bem. A partir dos 30 notei uma grande diferença ao nível físico e emocional. As rugas e a celulite começaram a aparecer, mas consegui manter-me em boa forma física, porque a clínica de estética Body in Balance Centre em Cascais (que frequento desde os 25 anos) não deita os créditos em mãos alheias. Como qualquer mulher, preocupo-me com a minha imagem e como tal tento não descurar os cuidados de beleza e estéticos e se costuma dizer que em casa de ferreiro espeto de pau no meu caso quem me quer ver feliz pode convidar-me para ir às compras que eu adoro! Para mim por exemplo, uma tarde bem passada pode ser passada a escolher peças da nova coleção da Ana Sousa que tem sempre peças impressionantes e das quais eu sou uma fã confessa!
M.L: Que balanço faz da sua carreira?
F.B: Muito positivo! Agradeço a Deus e à minha família (sempre presente, mesmo nas minhas ausências) tudo aquilo que consegui até hoje e também ao meu namorado que é de fato uma peça-chave na minha vida. Como eu escrevi na letra das Non Stop que tanto sucesso teve em Portugal: “Ao Limite Eu Vou!”.
M.L: Quais são os seus próximos projetos?
F.B: Como freelancer que sou, vivo o meu futuro no dia-a-dia. Nunca sei bem o que vou fazer a seguir ao último projeto que dou como concluído. Nós profissionais liberais lutamos hoje para ter dinheiro na melhor das hipóteses no final do mês que vem, pois como sabe não temos ordenado fixo ao fim do mês. Se queremos subsídios temos de trabalhar mais. Sem horários e sem limites de esforço, assim é a nossa realidade e o nosso caminho.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
F.B: Bem… Isso agora é que é mais difícil de responder, mas pronto cá vai: Gostava de ser convidada para ter um espaço dedicado à moda num qualquer canal de televisão. Gostava de montar um verdadeiro Esquadrão da Moda em Versão Portuguesa que ajudasse os portugueses a ter uma melhor imagem e logo uma maior auto-estima, pois somos um povo que se lamenta muito, mas que pouco faz para mudar.
M.L: O que é que gostava que mudasse na sua vida?
F.B: A minha mortalidade e a de todas as pessoas que me rodeiam. A resposta pode parecer egocêntrica, mas se fala de uma mudança na minha vida era de fato o que eu mudava se pudesse. Mas é claro que se essa mudança se pudesse verificar com todas as pessoas do mundo, esse seria o meu sonho e o sonho comanda a vida.ML
Sem comentários:
Enviar um comentário