M.L: Quando surgiu o interesse pelas artes em geral?
L.P: Muito miúda. Eu comecei inicialmente
pela dança e depois da dança descobri também, exatamente quando estava na
dança, o prazer dos figurinos, porque as cores e os materiais me fascinavam, e
então fui fazer um curso de Moda. Terminei o meu curso de Moda e ganhei um
estágio, que na época era atribuído pelo ICEP aos melhores alunos, e fui para
Paris estagiar, onde me espacializei em figurinos. Mas as artes cénicas desde
cedo começaram a falar mais alto, eu via muito teatro, lia muitas peças e logo
que regressei de Paris, ainda muito jovem fui fazer o meu primeiro curso de
teatro na Seiva Trupe e comecei a trabalhar.
M.L: Quais são as suas referências, enquanto
encenadora/cenógrafa/figurinista?
L.P: Eu acumulo as três
áreas nas minhas criações, nos últimos 10 anos levo à cena duas criações novas
por ano. Fui diretora do Teatro Municipal de Matosinhos Constantino Nery,
durante 8 anos, e aí quase sempre, com exceção de duas peças, eu assinava a
cenografia e os figurinos. Os figurinos continuam a ser uma outra paixão e
depois normalmente quando penso num novo espetáculo, tenho já muito definido na
minha cabeça o que é que quero do ponto de vista do espaço cénico e dos
figurinos. Na maior parte das vezes, não sinto a necessidade de recorrer a
alguém. Eu não me considero cenógrafa, embora assine a cenografia das minhas
peças, eu gosto de criar ambientes, digo que sou uma criadora de atmosferas,
pois não sou formada em cenografia. Eu sou formada em figurinos, tenho Mestrado
em Encenação, sou doutoranda em Estudos Teatrais e performativos.
M.L: Como encenadora e como figurinista, houve algum
trabalho em particular em que sentiu que mexeu muito consigo em termos gerais?
L.P: O “Breviário Gota
d’Água”. Acho que foi a peça que mais mexeu comigo talvez também por questões
afetivas, porque a “Medeia” de
Eurípedes continua a ser a peça da minha vida, e é uma problemática que tenho
vindo a refletir e a trabalhar ao longo dos anos. É um tema transversal a todos
os séculos, volta e meia lemos nos jornais histórias de Medeias, quantas
mulheres continuam a matar os seus filhos por vingança ou por amor? Estas
Medeias do século XXI não são diferentes da Medeia que foi escrita há 2500
anos, por Eurípedes.
M.L: Foi figurinista da
longa-metragem “Alice” (2005) de Marco Martins e protagonizada por Nuno Lopes e
Beatriz Batarda. Tendo em conta que era sobre um homem desesperado em procurar
a sua filha desaparecida, identificou-se com aquele desespero, quando leu o
guião escrito pelo próprio Martins?
L.P: Acho que é inevitável não nos colocarmos
no lugar daquela mãe e daquele pai. A minha relação profissional com Marco
Martins já tinha uns anos, porque eu trabalhei muito com ele em cinema de
publicidade, e quando decidiu fazer este filme convidou-me para eu a assinar o
guarda-roupa, o Marco Martins enviou-me o texto muito antes de começar a
rodagem, foi muito perturbador, muito duro, porque foi inspirado numa história
real que infelizmente todos conhecemos, a história do Rui Pedro. Foi um filme
maravilhoso e que arrecadou vários prémios. Para mim foi um privilégio
colaborar no filme.
M.L: Foi diretora do Teatro
Municipal de Matosinhos Constantino Nery, durante 8 anos. Que recordações
guarda dessa experiência em particular?
L.P: Muito boas recordações. Primeiro foi no teatro da terra onde
eu nasci, tive o privilégio de o inaugurar a convite do saudoso Dr. Guilherme
Pinto que era o Presidente da Câmara Municipal de Matosinhos. Criámos públicos,
com criação artística própria e uma programação regular e agressiva, colocámos
o teatro Constantino Nery no panorama cultural nacional. São muitas
recordações, amigos que se fizeram, que acontecem em processos de criação
artística, dos artistas que acolhemos, e do público. Mas há uma altura em que
há que partir para outros voos e eu queria muito abrir a minha companhia, era
um sonho muito antigo, portanto era o tempo de eu concretizá-lo e estou muito
feliz com isso.
M.L: É natural de Matosinhos e tem desenvolvido o seu
percurso principalmente no Norte. A seu ver, o Norte está hoje em dia mais vivo
e mais jovem a nível artístico?
L.P: Sim, está. O Porto
sempre foi muito rico a nível artístico. Teve sempre muitos criadores, muitos
amantes da cultura, desde os fazedores aos que assistem. O Porto é uma cidade
de gente culta, de gente com vontade de aprender.
M.L: Sendo também professora, qual conselho que daria
a um/a aspirante a uma carreira artística?
L.P: Eu acho que as
pessoas têm que lutar por aquilo que querem fazer. É difícil, é muito duro. Na
criação artística, temos que ter uma estrutura emocional forte, porque é uma
vida incerta. Mas é um espaço em que as pessoas se tiverem vontade, se forem
rigorosas, se estudarem muito, se lerem muito, se observarem muito e se
acreditarem, conseguem.
M.L: Que balanço faz destas últimas duas décadas de
trabalho artístico que tem desenvolvido até agora?
L.P: É um balanço
positivo. Eu sou uma pessoa muito agradecida, porque faço o que gosto. Dou
aulas de Teatro e faço teatro. Sou grata por isso.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda nesta altura da sua vida?
L.P: Acho que ainda me falta fazer tudo, porque há
tanta coisa que eu gostaria de fazer.ML
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