M.L: Quando surgiu o interesse pelo jornalismo?
P.P: Surgiu quando
ainda estava a estudar Direito, mas já tinha começado a trabalhar. Por
sinal, numa breve experiência na Atalanta Filmes, de Paulo Branco, em
1991. Nessa altura comecei a escrever no jornal da universidade e em jornais
locais. Entretanto, ofereceram-me um trabalho fixo na revista TV Guia, onde
acabei por ficar alguns anos. Apesar de não ver televisão, acabou por ser
uma boa experiência. Paralelamente, sempre colaborei com outros jornais:
Jornal de Letras, A Capital, Premiere, Máxima, GQ, etc.
José Vieira Mendes (Ex-Diretor da "Premiere") & Paulo Portugal |
M.L: Quais são as suas referências nessa área?
P.P: De jornalismo de
cinema? Cresci a ler a secção de cinema do Jornal Sete, entre os anos 80 e 90,
bem como a seguir a crítica de cinema que se fazia no Expresso. Entretanto
também o Público e o que se ir fazendo lá por fora.
M.L: Como jornalista, tem-se dedicado essencialmente
ao meio audiovisual nomeadamente o Cinema. O Cinema, a seu ver, ainda tem aquela
magia que, por exemplo, a televisão e os videojogos podem não ter o suficiente?
P.P: Terá, apesar do lado
industrial, acabar por se distanciar bastante daquilo que eu
considero cinema. Embora isso não seja necessariamente uma atividade
intelectual reservada a entendidos. Refiro-me apenas a um cinema que nos
espevite e seduza, mas não necessariamente pela qualidade dos efeitos
especiais... Os videojogos sempre me seduziram, sobretudo pela qualidade
narrativa de alguns e a sua capacidade de se aproximarem ao cinema. No entanto,
confesso, regresso sempre à minha base que é o cinema.
M.L: Ainda no que toca ao Cinema, houve alguma
entrevista em particular que, para si, tenha sido tanto marcante como difícil
de fazer?
P.P: Ir de Lisboa ao Porto
de propósito para entrevistar o Manoel de Oliveira na sua casa, por
ocasião dos seus 99 anos, foi um momento. Mas recordo sempre
quando entrevistei pela primeira vez o George Clooney, em Deauville, em
1998, por “Romance Perigoso”, do
(Steven) Soderbergh, em que nos sentamos numa mesinha a falar
descontraidamente. Porque ele é mesmo assim. Já entrevistei
muitos realizadores míticos e estrelas de cinema e cada um me marcou de
certa forma. A última entrevista que fiz foi à Nastassja Kinski no Festival de
Locarno. Acho até que foi uma das que mais me surpreendeu.
Nastassja Kinski & Paulo Portugal |
M.L: Fundou e dirigiu a extinta revista de cinema e
audiovisual, “Showbiz”, entre 2004/06. Que recordações guarda dessa
experiência?
P.P: Foi uma
experiência. Como foi a Voice, uma revista quinzenal de música e cinema e
como foram as Primeiras Imagens, uma revista mensal concorrente da Premiere. A
Showbiz pretendia ser uma publicação de muito baixo custo, praticamente
gratuita que lancei graças ao apoio de um pequeno editor. Mas sem o apoio
de distribuição tornou-se difícil chegar ao nosso mercado. Por
isso, morreu cedo demais.
M.L: É também o responsável pelo “Insider” que é um site
essencialmente dedicado ao cinema (http://www.insider.pt/). Como é que surgiu a ideia para criar o
“Insider” e também como olha para o percurso que este projeto tem desenvolvido
até agora?
P.P: O Insider faz parte daquela
teimosia em criar um órgão de comunicação dedicado ao cinema. Sobretudo numa
altura em que o jornalismo em papel sofre uma crise profunda com consequências
para a minha atividade de jornalista freelancer
nessa área. Como habitualmente tenho muito conteúdo, devido aos muitos festivais
que frequento, e poucos meios para escoar esse material, entendi que seria
oportuno aprender mais sobre o jornalismo online e fazer algo novo. No
entanto, o que existe no Insider está ainda muito longe daquilo que realmente
quero fazer nessa área.
M.L: Em Portugal, programas dedicados ao cinema como “Janela
Indiscreta” (RTP1) e “Cinemax Curtas” (RTP2) e tenho tido há já bastante tempo a
impressão de que a nossa Comunicação Social dá mais destaque a filmes e
acontecimentos cinematográficos que têm mais visibilidade. O Cinema devia ter
uma representação mais abrangente na Comunicação Social em termos de formação
de públicos?
P.P: A resposta é óbvia,
não é? Acho mesmo que se deveria ir mais longe e integrar no ensino básico
uma componente de formação do olhar para a coisa artística, não só do cinema,
mas de todas as artes. No fundo, ensinar as crianças a olhar para a arte e
sabê-la interpretar. Tenho a certeza de que, com o tempo, isso traria um
público bem mais interessado. Alguma (a grande parte) comunicação social
generalista segue apenas a lógica do mercado e destaca aquilo que é mais
abrangente, embora no caso do Curtas exista um esforço louvável de dignificar a
curta-metragem e até de dar a conhecer alguns nomes.
M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira
ingressar numa carreira na área do jornalismo?
P.P: Talvez pensar duas
vezes. Ou três. Isto porque o jornalismo atravessa um período de crise que tem
a ver com a transição do papel para o online, mas também a forma como grande
parte dos jornalistas são moldados. Acabam o seu curso e começam a carreira
de estagiários, e é esse exército de estagiários que alimenta hoje em
dia as redações acabando mais facilmente por espelhar uma lógica mainstream. Talvez o melhor conselho é
mesmo procurar estar familiarizado com os mais diversos tipos de jornalismo, e
as ferramentas disponíveis, embora sem nunca descurar o
nosso lado mais subjetivo.
M.L: Que balanço faz do percurso que tem desenvolvido
até agora como jornalista?
P.P: Tem sido um percurso
de luta constante. Sobretudo desde que sou freelancer, mas também onde tenho tido as minhas melhores
experiências. No entanto, desde há alguns anos para cá, a crise no setor tem
sido sempre em sinal contrário. É essa minha teimosia em querer fazer algo de
novo que me aguenta. Isso e o envolvimento com o cinema.
M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha
feito ainda nesta altura da sua vida?
P.P:
Possivelmente, gerir o meu órgão de comunicação de uma forma mais continuada, e
com os meios que permitam renovar-se e crescer. Penso também em escrever um livro
e até um documentário. Se calhar, com o tempo lá chegaremos.ML
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