quarta-feira, 25 de junho de 2014

Mário Lisboa entrevista... Adriana Moniz

Olá. A próxima entrevista é com a atriz Adriana Moniz. Desde muito cedo que se interessou pela representação, tendo-se estreado como atriz profissional em 2005 com a peça "A Casa da Bernarda Alba" no Teatro São Luiz, e desde aí tem desenvolvido um percurso que passa, essencialmente, pelo teatro e pelo cinema, e, recentemente, participou na peça "Noite de Guerra no Museu do Prado" de Rafael Alberti e com encenação de José Peixoto (que também participou), da qual também contou com a participação de atores como Jorge Silva, Elsa Valentim, Patrícia André, Carlos Malvarez e Miguel Raposo. Esta entrevista foi feita no passado dia 8 de Maio no Hotel Quality Inn no Porto.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
A.M: Desde muito pequena. A minha mãe tinha uma aluna que dizia que queria ser atriz e levou-me a ver a primeira peça que essa aluna fez, eu tinha 5 anos, e a partir daí fiquei completamente fascinada. Essa atriz é a Flávia Gusmão e estreei-me profissionalmente com ela.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto atriz?
A.M: Eu gosto muito de estudar e sempre que posso vou fazendo workshops e reciclando os meus conhecimentos e vou experimentando várias técnicas. A última técnica sobre a qual eu me debrucei foi a de Michael Chekhov, mas é uma ferramenta como outra qualquer. Não consigo definir as minhas influências, mas antes várias correntes que contribuem depois para as minhas ferramentas de trabalho.

M.L: Faz, essencialmente, teatro e cinema. Gostava de trabalhar mais em televisão?
A.M: Eu trabalhei bastante em televisão, durante um período, e é um trabalho diferente, muito exigente. Estou diferente, estou mais velha, tenho uma filha, e agora que fiz uma pausa e estive mais focada no teatro, gostava de voltar a fazer televisão.

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, até agora, durante o seu percurso como atriz?
A.M: Eu tenho que referir “A Casa da Bernarda Alba” no (Teatro) São Luiz em 2005, foi encenado pelo Diogo Infante e pela Ana Luísa Guimarães, e foi o meu primeiro espetáculo profissional. Eu tinha 18 anos e foi um processo muito rico com quem me identifiquei muito e aprendi imenso e contínuo a olhar para esta experiência com carinho e com muitas saudades.

M.L: Em 2010, participou na curta-metragem “Tejo” de Henrique Pina, da qual interpretou a personagem M. Que recordações guarda desse trabalho?
A.M: As melhores. Era um projeto sem dinheiro, o Francisco Batista (o guionista de “Tejo”) contactou-me para saber se eu estaria interessada em participar, ele enviou-me o guião e adorei. Acho que há muito poucas pessoas a escrever bom cinema e a escrever boas curtas-metragens e eu fiquei logo fascinada. Eles são maravilhosos, têm uma capacidade de trabalho incrível, a rodagem decorreu maravilhosamente, não houve problemas, gostei muito de trabalhar com o Filipe Duarte, a equipa toda era incrível, e eu acho o resultado final maravilhoso. Eu adoro essa curta-metragem.

M.L: “Tejo” foi feita sem dinheiro e também contou com as participações de Miguel Seabra, Ana Bustorff e Rosa do Canto. Como vê esta generosidade do elenco em geral em participar nesta curta-metragem sem remuneração?
A.M: Na nossa vida, enquanto atores, há muitas coisas que nós temos que fazer como todas as pessoas, porque estamos a trabalhar, temos que viver, e como qualquer pessoa temos que pôr comida na mesa, mas há uma parte que nós nunca podemos abdicar que é o nosso prazer, enquanto artistas, a nossa vontade de fazer coisas boas, coisas com que nos identifiquemos, e muitas vezes não temos tantas oportunidades de o fazer na nossa vida profissional. É cada vez mais difícil manter sempre associadas a questão dos ganhos materiais com os ganhos artísticos, e nesta experiência nós ganhamos muito artisticamente e pessoalmente.

M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção nacional?
A.M: Acho que estamos aproximar de um momento em que vai ser preciso reformular muitas coisas que têm feito e perceber o que é que vai acontecer. Não há subsídios, não há Ministério da Cultura, e eu acho que nós temos que pensar muito bem no caminho que estamos a tentar traçar com o teatro.

A ficção televisiva, salvo honrosas exceções, tem um formato mais de entretenimento do que um formato de qualidade.

M.L: Gostava de fazer uma carreira internacional?
A.M: Quando era mais pequena gostava, mas agora não. Obviamente, há pessoas com quem gostava de trabalhar como o (Pedro) Almodóvar, o (Quentin) Tarantino ou o Woody Allen, mas ter uma carreira internacional não é uma das minhas prioridades.

M.L: Em 2015, celebra 10 anos de carreira, desde que se estreou como atriz profissional com a peça “A Casa da Bernarda Alba”, no Teatro São Luiz em 2005. Que balanço faz destes 10 anos?
A.M: Não sei fazer balanços. Estou feliz, acho que aprendi muito, quero continuar aprender cada vez mais e espero poder continuar a trabalhar.

M.L: Qual o conselho que daria, nesta altura, a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
A.M: Estudar ao longo do tempo, construir uma auto-confiança quase blindada (é uma coisa extremamente importante para se conseguir sobreviver neste meio), e nunca perder a tentativa de fazer sempre o melhor em cada trabalho.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
A.M: Em termos profissionais, eu gostava de fazer uma longa-metragem, que nunca fiz em 10 anos de carreira.ML

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