sexta-feira, 27 de junho de 2014

Mário Lisboa entrevista... Irina Gomes

Olá. A próxima entrevista é com a guionista Irina Gomes. Desde muito cedo que se interessou pela escrita, tendo-se iniciado como jornalista em 1994, e estreou-se no guionismo em 2004 com a telenovela "Ninguém como Tu" (TVI, (2005), e desde aí tem desenvolvido um percurso como guionista que passa, essencialmente, pela televisão (onde também escreveu produções como "Tempo de Viver" (TVI), "Resistirei" (SIC), "Espírito Indomável" (TVI) e "Morangos com Açúcar" (TVI), e, atualmente, vive em Inglaterra. Esta entrevista foi feita no passado dia 27 de Maio.

M.L: Quando surgiu o interesse pela escrita?
I.G: Desde sempre. Na 3ª classe escrevi uma peça de teatro. Na adolescência também, além de alguns poemas em papéis soltos. Comecei pelo jornalismo em 1994, sem nunca imaginar vir parar ao argumento, em 2004, onde me sinto como peixe na água.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto guionista?
I.G: Acima de tudo o mundo real. As histórias que vivo, que me rodeiam e que rodeiam quem está à minha volta. Desde os amigos à senhora do supermercado e/ou ao casal que janta a meu lado no restaurante. Leio também sobre tudo um pouco. Quem escreve tem a obrigação de ter os horizontes abertos e “ver Mundo”.

M.L: Trabalha, essencialmente, na televisão. Gostava de trabalhar em outras áreas como, por exemplo, o cinema?
I.G: O meu trabalho de televisão é mais vasto, mas conto já com alguns trabalhos como ghost writer. Confesso que o cinema seria uma experiência, mas almejo mais a escrita de livros da minha autoria.

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, durante o seu percurso como guionista?
I.G: O trabalho que mais me marcou foi sem dúvida o “Espírito Indomável” (TVI) que escrevi com a Mafalda Ferreira, a Andreia Vicente e a Cláudia Marques, sob a batuta da Sandra Santos. Foi uma história complexa, mas muito bem intricada, que me deu muitíssimo gozo escrever.

M.L: Em 2005, escreveu, juntamente com Rui Vilhena, Raquel Oliveira e George C. Martins, a telenovela “Ninguém como Tu” que foi exibida na TVI. Que recordações guarda desse trabalho?
I.G: Foi a minha primeira experiência como argumentista. Foram 11 meses de escrita muito intensa onde aprendi muita coisa e descobri que tinha muito mais capacidades para a área do que alguma vez pensara. Foi sem dúvida uma surpresa. Apaixonei-me pelo argumento.

M.L: Como vê, atualmente, a ficção nacional?
I.G: Do pouco que tenho acompanhado e, embora saiba que a Troika também chegou à ficção nacional, acho que é importante ousar. É preciso, à semelhança da ficção americana, por exemplo, ter novas histórias, testando novos modelos e novas formas de as abordar. Se queremos que o público seja ainda mais exigente temos de o levar a isso. Quem se habitua às séries americanas, por exemplo, sabe disso. 

M.L: Desde o passado dia 16 de Maio que vive em Inglaterra. O que a levou a querer deixar Portugal e iniciar uma nova fase da sua vida?
I.G: Esta decisão já estava tomada há muito tempo e só não se realizou mais cedo por motivos pessoais. O meu marido veio trabalhar e, obviamente, que a família ter-se-ia de reunir, mais cedo ou mais tarde. A situação em Portugal, infelizmente, empurra-nos para estas tomadas de decisão, mas encaro esta fase como uma aventura. Como outra maneira de abrir os meus horizontes e poder levar isso também para a minha escrita.

M.L: Nestes últimos tempos, que diferenças é que encontrou, até agora, entre Portugal e Inglaterra?
I.G: Muitas. Em Inglaterra a sociedade é deveras organizada. O verdadeiro by the book, enquanto que em Portugal, somos especialistas “no desenrasca”. No que diz respeito à área da televisão a produção é fantástica. Há programas tão simples como desenhar para o colega de equipa adivinhar. Coisas extremamente simples que com uma boa produção e um apresentador desenvolto, funcionam lindamente. Os anúncios publicitários são também, para quem gosta de os ver, um verdadeiro elixir de criatividade. Obviamente que isto também é reflexo de um país com mais poder financeiro que o nosso e que tem uma multiculturalidade imensa.

M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na área do guionismo?
I.G: É importante que quem queira ser guionista/argumentista tenha noção de que não escreve para si mesmo e que não tenha a presunção de que apenas a sua visão do mundo é válida.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem feito, até agora, como guionista?
I.G: Faz em Outubro deste ano dez anos que comecei a escrever o “Ninguém como Tu”. A cada projeto novo dou toda a energia, como se fosse o primeiro, e cada vez mais tenho a certeza de que nasci, entre outras coisas, também para fazer isto.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
I.G: Tanta coisa… mas gostava de escrever algo que desperte a nossa consciência para as inevitabilidades da vida, para o facto de não as controlarmos, mas controlarmos a maneira como reagimos a tudo o que nos acontece. No Mundo que temos hoje urge usar todas as técnicas que temos para passar mensagens e deixar de lado as histórias antigas.ML

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