terça-feira, 6 de outubro de 2015

Mário Lisboa entrevista... Elizabeth Bochmann

Filha da atriz Celia Williams e do músico Christopher Bochmann, o interesse pela representação surgiu naturalmente e nos últimos 11 anos tem desenvolvido um percurso promissor como atriz. Apaixonada pela sua arte e sedenta por novas experiências e oportunidades nesse aspeto, recentemente participou na longa-metragem de terror, "Inner Ghosts", de João Alves e está prevista para estrear em 2016, e co-protagoniza a peça "Black Comedy" de Peter Shaffer, encenada por Barbara Monteiro, e vai estar em cena entre 8 e 24 de Outubro no Estrela Hall em Lisboa. Esta entrevista foi feita no passado dia 5 de Setembro.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
E.B: Ambos os meus pais têm carreira nas artes (a minha mãe também é atriz, e o meu pai é músico), portanto, a partir de muito jovem, tive teatro e música à minha volta. Apesar de ser extremamente tímida, rapidamente descobri a alegria de me transformar noutras personagens e, como resultado, saí da casca.

M.L: Quais são as suas referências, enquanto atriz?
E.B: Creio que se pode aprender muito apenas fazendo. Eu comecei a atuar aos 12 anos, no teatro The Lisbon Players em Lisboa. Através desta experiência prática e observando os outros, acho que aprendi uma das lições mais valiosas. Aos 18 anos, fui estudar teatro na Universidade de Londres, que foi uma experiência fabulosa e adorei ter a oportunidade de aprender tanto sobre teatro e representação. Enquanto aprendi muito sobre técnicas que uso ainda agora, uma grande parte do que se ensinava eram coisas de que não gostei particularmente. Aprendi estudar as técnicas, ao ponto de descobrir o que funcionava melhor para mim. Ao longo dos anos, comecei a construir o meu próprio estilo, sendo este o que melhor se adequa a mim. Cada ator é individual, e penso que o mais importante é ser verdadeiro a si próprio, e isso cada um tem que descobrir a melhor maneira para si de o atingir.

M.L: Qual foi o trabalho que mais a marcou, até agora, durante o seu percurso como atriz?
E.B: É uma pergunta muito difícil de responder. Diferentes trabalhos têm-me marcado de maneiras diferentes, seja por causa do papel em si ou por causa da situação que me encontrava no momento da sua realização. Aos 16 anos, representei “Perdita” em “The Winter’s Tale” de (William) Shakespeare e nesse momento, foi o papel maior e mais importante que tinha alguma vez feito. Em Londres, estive numa peça que estreou a minha atuação na Inglaterra e como resultado, tive a sorte de ir para o Festival de Edimburgo em Agosto de 2010. E então veio uma série de produções depois da universidade, quando regressei para Lisboa - “Juliet” em “Romeo and Juliet”, um sonho meu desde pequena; “Relatively Speaking”, a minha primeira verdadeira comédia; “Até Amanhã!”, a minha estreia em língua portuguesa; “Eliza Doolittle” em “Pygmalion”, outro sonho; etc. Mais recentemente, estive envolvida no filme “Inner Ghosts”, que foi o meu primeiro trabalho numa longa-metragem. Sendo assim, eu não tenho um único trabalho que me tem marcado mais, todos eles têm sido extremamente importantes para mim e qualquer futuro trabalho também o será.

M.L: É filha da atriz Celia Williams e do músico Christopher Bochmann. Como vê o percurso que os seus pais têm desenvolvido até agora?
E.B: De certa forma, os meus pais foram a minha inspiração ao longo dos anos, uma vez que ambos têm trabalhado muito para chegar onde estão agora. Eles têm uma paixão pelas suas carreiras que é admirável, e acredito que é a razão pela qual chegaram aonde estão hoje.

M.L: Em 2014, protagonizou a peça “Pygmalion-Pigmalião” de George Bernard Shaw e encenada pela sua mãe, na qual inspirou o musical “My Fair Lady-Minha Linda Senhora”. Na sua opinião, acha que encontrou mais maturidade ao participar nesta peça em termos de texto, personagem e dimensão?
E.B: Cada vez mais, percebo que estou constantemente a desenvolver como atriz com cada trabalho que faço. Olho para trás e vejo trabalhos que fiz no passado e percebo que, se os repetisse agora, teriam, obviamente, maior maturidade em termos de interpretação do texto, de elaboração da personagem e de dimensões gerais de compreensão. Nesse sentido, sim, acredito que encontrei maior maturidade através da participação nesta peça, mas não necessariamente por causa da personagem ou a peça em si, mas porque vou aprendendo constantemente e vou desenvolvendo as minhas capacidades com cada peça que faço. Dito isto, representar a personagem de “Eliza Doolittle” foi um dos maiores desafios que tive até agora e trabalhei muito para ter a certeza de que estava a fazer justiça à maravilhosa personagem criada por George Bernard Shaw.

M.L: Como vê, atualmente, o teatro e o audiovisual (Cinema e Televisão), a nível global?
E.B: Acho que, infelizmente, as artes ainda são subvalorizadas como uma escolha de carreira e há uma enorme diferença entre salários e comportamento. Se tiver sucesso, é tratado como realeza e pago mais dinheiro para cada trabalho do que a maioria das pessoas pode sequer sonhar. Por outro lado, o artista que não tiver atingido esse nível de sucesso é pedido para trabalhar por quase nada, sendo que a sua paixão e o seu amor pelo trabalho é suposto valer como recompensa suficiente. Parece haver muito pouco no meio entre os dois extremos, o que torna muito difícil sustentar-se unicamente nesta carreira.

M.L: Estreou-se como atriz em 2004 com a peça “Twelfth Night-Noite de Reis” de William Shakespeare no Estrela Hall em Lisboa. Que balanço faz destes 11 anos de carreira?
E.B: Como já tenho explicado, aprendi muito ao longo dos anos através da prática, pondo as mãos na massa! Com certeza, haverá papéis que hoje em dia seria capaz de interpretar provavelmente com maior profundidade ou maturidade, mas nunca me arrependo de um único trabalho, porque cada um tem me ajudado a desenvolver e crescer como atriz e tornar-me o que sou hoje. Também não acredito que já atingi o meu melhor, vou continuar a aprender e crescer como atriz até ao dia em que me reformar, algo que espero nunca fazer!

M.L: Recentemente, participou na longa-metragem de terror, “Inner Ghosts”, de João Alves, escrita por Paulo Leite (que também produz) e conta também, por exemplo, com a participação da sua mãe. Como é que surgiu o convite para participar neste projeto?
E.B: Uma atriz amiga minha enviou-me no Facebook um link para o anúncio, uma vez que disse que estavam à procura de atores que falavam Inglês como língua-mãe, residentes em Lisboa. Escrevi-lhes um email e recebi um convite para tomar café com o Paulo (Leite) para falar do projeto. Uma coisa levou a outra, e foi-me oferecido o papel de Elsa.

M.L: Em “Inner Ghosts” interpreta Elsa, uma famosa artista gráfica que passou boa parte da sua vida a ver fantasmas e demónios e que agora tem que enfrentar uma entidade que a tem atormentado e se tornou demasiada violenta. Como é que se preparou para o papel no que diz respeito ao tema do sobrenatural?
E.B: É um tema difícil de preparar, porque faltam provas e ninguém sabe se existe ou não (só se pode acreditar ou não), mas fiz um pouco de pesquisa sobre o mundo sobrenatural e vi alguns documentários no YouTube, etc. A maior parte da preparação veio ao discutir as cenas do filme com os outros atores e vendo as opiniões diferentes que cada um tinha sobre o mundo sobrenatural. Quando se trata de coisas específicas, tais como a forma de reagir a fantasmas e demónios, teve mesmo que ser uma questão de deixar aparecer naturalmente a emoção ou reação ao fazer a cena. O exemplo mais memorável foi quando tive de gritar pela primeira vez, muito raramente tenho a oportunidade de gritar no dia-a-dia e, na realidade, nunca o tinha praticado. No primeiro take, pensei apenas, “vou deixar que o meu corpo reaja de forma natural". O grito que saiu foi incrível, eu não sabia que o tinha dentro de mim! É importante preparar o máximo possível, mas também é preciso deixar algumas coisas aparecerem naturalmente.

M.L: “Inner Ghosts” está prevista para estrear em 2016. Que expectativas têm em relação a este projeto?
E.B: Estou muito ansiosa para ver o filme! Realmente espero que seja um sucesso, não só para mim e para todos os envolvidos no filme, mas também para o cinema em Portugal e especificamente para este género. Portugal não é bem conhecido pela produção de filmes de terror, e seria fantástico se “Inner Ghosts” pudesse ser o primeiro de muitos mais projetos semelhantes.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
E.B: Estou prestes a começar os ensaios para uma peça com os The Lisbon Players (“Black Comedy” de Peter Shaffer). Além disso, tive que começar um trabalho fora do teatro por alguns meses, para ajudar a pagar as contas! Espero passar o próximo ano a alternar entre trabalho e novas experiências e oportunidades como atriz.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
E.B: Há tanta coisa que nunca fiz... Eu quero fazer tudo! Já me fizeram essa pergunta no passado e digo sempre a mesma coisa, não sei o que quero fazer, mas quando surgir algo que eu não tenha feito, então vai ser isso.ML

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