quinta-feira, 1 de dezembro de 2016

Mário Lisboa entrevista... Diana Barnabé

O interesse pela representação surgiu muito cedo, apesar da vontade de ser atriz ter surgido mais tarde, tendo-se estreado com a peça "Serra Justa" em 2008, e desde então tem-se revelado um talento muito promissor, com um percurso igualmente muito promissor e com muito para dar. Natural do Porto e uma grande apaixonada pelo teatro, é co-fundadora da companhia Carruagem-Tráfego de Ideias que foi fundada em 2014, e gostava no futuro de ser mãe. Esta entrevista foi feita no passado dia 17 de Novembro.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
D.B: O interesse pela representação surgiu a partir do momento em que comecei a brincar, como com todas as crianças que têm oportunidade para tal. O meu jogo preferido era o faz-de-conta e nele cabiam todas as coisas. A vontade de ser atriz surgiu mais tarde, quando percebi que o teatro era um lugar onde eu podia ser absoluta, onde encontrava ferramentas para me descobrir e questionar. Quando chegou a hora de decidir o que queria estudar, era sobre o teatro que eu tinha mais curiosidade e vontade de aprender coisas e, por isso, foi uma escolha natural.

M.L: De tudo o que tem feito até agora como atriz, há algum trabalho em particular que pode até considerar como o seu favorito?
D.B: O espetáculo “As Coisas Pelos Nomes”, da Carruagem-Tráfego de Ideias, não só pela equipa, pelas pessoas que reunimos, pelas coisas que descobrimos e dissemos, pelas memórias que recordámos e criámos mas, sobretudo, pelo momento em que a minha avó me agradeceu, de lágrimas nos olhos e com as mãos a tremer, por ter feito aquele espetáculo.

M.L: A sua atividade profissional também passa pela encenação, pela escrita, pela produção e pela formação. Tal como a representação, estas áreas são indissociáveis para si?
D.B: Não me posso considerar nem escritora, nem produtora. Todos os trabalhos que fiz nessas áreas deram-me um enorme prazer e uma aprendizagem imensa, no entanto, por respeito a todos aqueles que são brilhantes nessas áreas, não os assumo como parte da minha atividade profissional. A encenação, ou a direção se quisermos, tem sido sempre consequência dos projetos em que dou formação. E, respondendo à questão, os projetos e as escolas em que dou formação são trabalhos tão importantes e avassaladores, do ponto de vista do crescimento e da criação, como o meu trabalho como atriz. Quando dou formação, não procuro ensinar teatro, até porque eu ainda estou a aprender e sei muito pouco, mas procuro usar as ferramentas que tenho para trabalhar, com cada grupo, o desenvolvimento pessoal e relacional através da arte, para explorar o potencial único de cada pessoa e criar pequenos espaço de mudança e de revolução (e o teatro permite tudo isso).

M.L: É co-fundadora da companhia Carruagem-Tráfego de Ideias que existe desde 2014. Como olha para a evolução da Carruagem nos últimos 2 anos?
D.B: O que temos feito até agora é muito pouco e acho que ainda não fizemos nem vivemos o suficiente para nos afastarmos no tempo e podermos fazer essa análise. O único balanço que posso fazer é sobre as pessoas com quem trabalho (a Sara, o André, a Mafalda, o Luís, etc.), da forma como nos inspiramos e questionamos diariamente, sobre os valores que defendemos, sobre as coisas em que acreditamos, e essas sim, estão sempre a evoluir e a mudar. A Carruagem foi o lugar que criámos para fazermos o que nos faz felizes, mas também para lutarmos, a par de tantas outras companhias e colegas que admiramos, por condições que dignifiquem esta profissão, não só pelos atores, mas também pelos figurinistas, cenógrafos, designers, técnicos, produtores, etc.


M.L: É natural do Porto. Sendo portuense e exercendo a sua atividade profissional lá, Porto ainda hoje está de boa saúde artisticamente a seu ver?
D.B: Fico tão feliz com esta pergunta. Não só o Porto, todo o Norte. Respondo o seguinte: Erva Daninha, Marácula, Musgo, Rei Sem Roupa, Teatro do Bolhão, Teatro a Quatro, Teatro Municipal do Porto, Teatro Nacional São João, Coração nas Mãos, Umpor1, Teatro do Frio, Palmilha Dentada, Disdascália, Art’Imagem, Cabeças no Ar e Pés na Terra, Comédias do Minho, Teatro do Montemuro, e tantos nomes que ficam a faltar, não só no teatro mas também na música e no cinema.

M.L: Trabalha frequentemente com o público infantil. Que características têm encontrado nesse público específico e que considera especiais e diferenciam do público mais adulto?
D.B: As crianças são agentes de mudança. Como diria o Afonso Cruz: “O que farão os adultos se milhares de crianças saírem à rua para reclamar os sonhos que eles se esqueceram de continuar a sonhar, de pedir a justiça em que há muito deixaram de acreditar?”. As crianças reclamam e questionam e isso obriga-nos a regressar às nossas questões e a pormo-nos no lugar delas. Perguntem a uma criança de oito anos o que é que ela tem a dizer sobre o ataque de ontem a um hospital pediátrico em Alepo e perceberão que elas não podem, nem querem, ser infantilizadas. Elas querem um lugar que lhes dê voz, onde lhes deem material para pensarem e para se identificarem. As crianças são especiais porque, para além do entretenimento, querem, sobretudo, pensamento.

Diana Barnabé e Sara Barros Leitão no espetáculo infantil "Pega-Monstros" que é produzido pela Carruagem-Tráfego de Ideias
M.L: Considera-se como alguém que experimenta e arrisca, porque só assim se descobre o caminho para atravessar o coração das pessoas?
D.B: Bem, eu sei que escrevi algo parecido com isso, mas já não sei se concordo. Primeiro porque, ao ver espetáculos todas as semanas, vejo os meus colegas, esses sim, a experimentarem e a arriscarem em coisas maravilhosas e que são verdadeiras inspirações para mim. Sobre o caminho para atravessar o coração das pessoas, talvez não seja preciso arriscar ou experimentar. Talvez essa descoberta aconteça quando tentamos entender o outro, aceitá-lo e, nesse caminho, vamo-nos conhecendo também, e questionando, e falhando, e aprendendo.

M.L: Que balanço faz do percurso que tem desenvolvido até agora como atriz?
D.B: Esta pergunta devia ser guardada para profissionais como o Pedro Gil, a Rosinda Costa, a Sandra Faleiro, o Pedro Frias, o Nuno Lopes, o António Durães, a Luísa Cruz, a Maria do Céu Guerra, por exemplo.

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
D.B: Ser mãe.ML 

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