sexta-feira, 4 de abril de 2014

Mário Lisboa entrevista... José Alves Fernandes

Olá. A próxima entrevista é com o ex-profissional da RTP José Alves Fernandes. Desde muito cedo que se interessou pelo audiovisual, e desenvolveu um percurso nessa área que passou, essencialmente, pela televisão, tendo trabalhado na RTP entre 1979 e 2010, onde exerceu, por exemplo, a função de realizador. Esta entrevista foi feita no passado dia 8 de Janeiro.

M.L: Quando surgiu o interesse pelo audiovisual?
J.A.F: Surgiu muito cedo! Fui para Angola em 1958 com 3 anos, mas quando vinha a Portugal e visitava os meus avós ficava vidrado no televisor lá de casa! Lembro-me de, no início dos anos 60, ver programas do Júlio Isidro com quem trabalhei há bem poucos anos na RTP! Toda aquela magia do pequeno ecrã sempre me fascinou, e sempre tive muita curiosidade de conhecer os bastidores. Já a rádio sempre me acompanhou desde os tempos de Angola, pois não havia televisão!

M.L: Quais foram as suas influências nesta área?
J.A.F: Todos os grandes profissionais da RTP (técnicos, realizadores, operadores de imagem, jornalistas) me influenciaram… Com eles cresci, convivi e aprendi muito do que sei em televisão. Recordo alguns: Carlos Alberto Henriques, Hélder Duarte, Luís Andrade, Fernando Pessa, Raúl Durão, Carlos Pinto Coelho, Judite Sousa, José Rodrigues dos Santos, Miguel Lemos, José Galvão, Augusto Rosa… A lista é infindável e que me desculpem todos os meus amigos da RTP, SIC e TVI e independentes que não mencionei.

M.L: Trabalhou na RTP entre 1979 e 2010. Que balanço faz do tempo em que trabalhou no canal?
J.A.F: Em 1979, entrei na RTP por concurso, e fiz o curso para Documentalista de Programas no Arquivo Audiovisual do Lumiar o que me deu as bases e conhecimentos futuros para trabalhar em televisão.

Em 1987, fiz o curso para Assistentes de Informação (Desporto, Informação Diária e Não Diária) o que me proporcionou participar em grandes programas: Futebol, Basquetebol, Andebol, Motocross, Golfe, Ténis, Atletismo, Fórmula 1, Ciclismo (3 Voltas a Portugal), “Remate”, “Rotações”, etc...

Em 1994, fiz o curso de Realizador de Informação (função que exerci até ao final de 2010). Realizei muitos programas e destaco: o “Caderno Diário”, diversos programas da RTP Internacional, “Jornal 2”, “Ponto-Por-Ponto” com o saudoso amigo Raúl Durão, o “Telejornal” (1992-2006), várias Emissões de Eleições (Presidenciais, Legislativas, Europeias), Eleições Gerais em Espanha em 1993, a cobertura da OSCE em Portugal, a inauguração da Ponte Vasco da Gama, a Expo98, a transição de Macau (Realização em direto de Macau), “Grande Entrevista”, “Grande Informação”, a inauguração do Porto 2001, “Debate da Nação”, RTP África (vários Programas), RTP Memória (vários programas).

Entrei com 23 anos e saí aos 55 e sou dos poucos que pode dizer que fiz aquilo que sempre quis com todo o prazer do mundo. Conheci, trabalhei, convivi e aprendi com os melhores profissionais de televisão em Portugal! Obrigado, RTP!

M.L: Em 2014, a RTP celebra 57 anos de existência. Como vê o percurso que o canal tem feito, desde a sua fundação até agora?
J.A.F: A RTP tem cumprido a sua missão de informar, formar e divertir os portugueses. Apesar de ter passado por muitos altos e baixos, espero que continue a ganhar espectadores não só em Portugal, mas também no resto do Mundo.

M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, durante o tempo em que trabalhou na RTP?
J.A.F: São tantos! Destaco dois programas: o primeiro foi uma “Grande Entrevista” Especial que gravei no hospital de Saragoça, onde a Judite Sousa entrevistou o alpinista João Garcia, antes de ser operado às graves queimaduras que sofreu no (Monte) Evereste. O segundo foi a cobertura em 1999 da transição de Macau para a China. Participar num evento daquela dimensão com todos aqueles profissionais da RTP, durante quase um mês longe de Portugal e com os resultados obtidos, marcam qualquer profissional de televisão!

M.L: Realizou, numa fase inicial, o talk-show diário “Há Conversa” que, atualmente, está em exibição na RTP Memória e apresentado por Joana Teles, Helena Ramos, Eládio Clímaco, Isabel Angelino e Maria João Gama. Que recordações guarda do tempo em que realizou o programa?
J.A.F: Muito boas recordações! Foi um grande desafio feito pelo Hugo Andrade, então diretor da (RTP) Memória. Era um pouco cansativo, pois por vezes tínhamos de gravar 3 ou 4 programas seguidos e éramos só 2 realizadores. Mas com aqueles apresentadores, convidados e as equipas da RTP que gravavam os programas, era sempre um prazer! Sem esquecer as excelentes apresentadoras de quem sou amigo, quero aqui destacar o prazer que foi trabalhar com um grande senhor da Televisão que é o Eládio Clímaco.

M.L: Como vê, atualmente, o audiovisual em Portugal?
J.A.F: Estou um pouco desiludido, pois agora faz-se televisão mais a pensar nos objetivos financeiros em vez de se focar no alvo principal: o espectador. Felizmente existem novas tecnologias de informação que nos permitem escolher o que queremos ver. O espectador é o realizador!

M.L: Qual o conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na área do audiovisual?
J.A.F: Que deve pensar muito bem! E só avançar se estiver 99% certo de que é nesta área que quer trabalhar!

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda?
J.A.F: Em televisão, gostava de realizar um concerto de música rock! Na rádio, gostava de ter um programa para partilhar os meus gostos musicais.

M.L: O que é que gostava que mudasse nesta altura da sua vida?
J.A.F: Agora que já me encontro na pré-reforma, gostava de viajar mais!ML

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