terça-feira, 17 de fevereiro de 2015

Mário Lisboa entrevista... Paulo Matos

Estreou-se na representação em 1978 com a peça "Woyzeck" no Teatro da Cornucópia, e desde aí tem desenvolvido um reputado percurso como ator que já conta com 37 anos de existência, na qual passa pelo teatro, pelo cinema e pela televisão (onde entrou em produções como "A Banqueira do Povo" (RTP), "Desencontros" (RTP), "Primeiro Amor" (RTP), "Polícias" (RTP), "Filhos do Vento" (RTP), "Os Lobos" (RTP), "Esquadra de Polícia" (RTP), "O Conde d'Abranhos" (RTP), "A Senhora das Águas" (RTP), "O Olhar da Serpente" (SIC), "Ilha dos Amores" (TVI), "Casos da Vida" (TVI), "Sentimentos" (TVI), "Redenção" (TVI) e "Bem-vindos a Beirais" (RTP). Além da representação, também é encenador, e, recentemente, participou na série de humor, "Ah Pois! Tá Bem", que foi exibida na TVI Ficção. Esta entrevista foi feita no passado dia 29 de Dezembro.

M.L: Quando surgiu o interesse pela representação?
P.M: Surgiu com a grande animação dos anos logo a seguir ao 25 de Abril. A vontade de intervir, de expressar, de comunicar, de criar e de provocar, era enorme. No final do meu liceu, achei que o Teatro era o lugar de confluência de todos esses desejos.

M.L: Quais são as suas influências, enquanto ator?
P.M: A minha maior influência, como formação em todos os sentidos da Arte e do Teatro, foi a escola de atores Jacques Lecoq que fiz durante dois anos em Paris. Foi aí que alicercei todas as minhas bases e pontos de partida para o que fui fazendo ao longo da minha carreira. Para além disso, os inúmeros criadores e espetáculos me marcaram profundamente, mas a lista seria exaustiva demais.

M.L: Faz teatro, cinema e televisão. Qual destes géneros que mais gosta de fazer?
P.M: Eu não tenho preferência. São distintos e todos fascinantes. Gosto de me relacionar com o público tanto como de me projetar numa objetiva. Adoro improvisar e reagir rápido e amo trabalhar o detalhe e o rigor de um grande texto. Gosto de comédia e de tragédia igualmente. Sou um verdadeiro camaleão como já me chamaram muitas vezes.

M.L: Qual foi o trabalho que mais o marcou, até agora, durante o seu percurso como ator?
P.M: É impossível escolher. São tantos já os trabalhos que me marcaram e deram prazer. Quase todos, aliás. Desde os textos clássicos até aos bonecos de comédia, passando pelos naturalistas das novelas ou pelos excêntricos e absurdos de teatros experimentais. Quanto mais passa o tempo mais me é difícil escolher…

M.L: Entre 2001 e 2002, participou na telenovela “A Senhora das Águas” que foi exibida na RTP, na qual interpretou os irmãos Simão e Jaime. Que recordações guarda desse trabalho?
P.M: Guardo as melhores recordações. Os dois gémeos eram opostos em quase todas as características e o desafio de lhes dar corpo foi imenso e de enorme interesse como ator. Quer no Simão, pela sua tristeza depressiva, viciado no jogo e não amado, quer no Jaime, um dos seres mais maléficos que tive oportunidade de fazer em televisão, torto de espírito, tanto quanto de corpo… Uma maravilha para qualquer ator que se preze.

M.L: Como vê, atualmente, o teatro e a ficção nacional?
P.M: Maravilhosos, cheios de vigor e de capacidade criativa. Tanto na ficção televisiva e no Cinema, quanto no Teatro e nas artes performativas. Estamos plenos de talentos e de jovens criativos. O que não acompanha e frusta muitas vezes é a falta de verbas mínimas que possam fazer frutificar e desenvolver aquilo que se vai fazendo de muito bom.

M.L: Em 2015, celebra 37 anos de carreira, desde que se estreou como ator com a peça “Woyzeck”, no Teatro da Cornucópia em 1978. Que balanço faz destes 37 anos?
P.M: Parecem-me várias (muitas…) vidas. Quando olho para tudo o que já fiz, parece-me ser impossível caber numa só vida… O balanço que faço é de enorme gratidão pelas oportunidades que fui tendo e pela forma como fui conseguindo vencer a maioria dos desafios a que fui confrontado. Toquei sempre muitos “instrumentos” e quero acreditar que em quase todos fui dando de mim o que pude com imensa alegria. O sucesso não me caberá nunca a mim medi-lo.

M.L: Além da representação, também é encenador. Em qual destas funções em que se sente melhor?
P.M: Sou fundamentalmente um ator. Na raiz, na origem, na motivação e no modo de olhar e criar. Por isso me fascina também encenar e dirigir outros atores, outros iguais (e diferentes…) de mim. Porque a massa do nosso trabalho é a vida, e o modo como a olhamos e a transformamos em Teatro é um trabalho de conjunto e de investimento sempre emocional. Dirigir, para mim, é um complemento de representar. Tal como representar é moldar-me a ser dirigido. No centro de tudo isto, o prazer, claro está.

M.L: Qual conselho que daria a alguém que queira ingressar numa carreira na representação?
P.M: Só deve vir para esta luta e para estas “aventuras dúplices da alma” quem sentir, sem sombra de dúvida, uma incontornável paixão interior por esse caminho. De outra forma, mais tarde ou mais cedo, a frustração irá instalar-se e a força anímica que deverá estar no centro da nossa criação, irá esgotar-se e morrer. Diziam os antigos: “O Teatro é como o mar, deita fora o que não presta”.

M.L: Quais são os seus próximos projetos?
P.M: Muitos, sempre, bons e variados. Uma parte não verá a luz do dia, como sempre, mas os que se concretizam valem bem a luta. Vou fazer comédias pelo País fora, encenar uma ópera no Coliseu dos Recreios, concluir o meu doutoramento na Faculdade de Letras de Lisboa, colaborar com a Santa Casa da Misericórdia em ações de Educação pela Arte, etc., e até… comprar um teatro e dirigir um canal de Televisão. Que loucura… Tantos projetos… Vamos ver o que sairá de tudo isto…

M.L: Qual é a coisa que gostava de fazer e não tenha feito ainda nesta altura da sua vida?
P.M: Todas as que tenho em projeto (as comédias, o doutoramento, o Espaço Mundial da Lusofonia, as óperas, etc.). Para além disso, tenho em mim todos os sonhos do Mundo.ML

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